Sustentabilidade: postura da indústria ameaça futuro do plástico
A indústria de polímeros periga entrar na linha de tiro se teimar em agir feito sonâmbula na era do desenvolvimento sustentável, alerta John Richardson em seu blog no respeitado portal britânico Icis, referência no monitoramento da petroquímica. Conforme assinala o analista, hoje em dia o mercado recicla 86% da produção global de aço, 75% de alumínio e 40% de vidro, configurando média de 67% e bem superior às taxas de recuperação de termoplásticos.
Como referência, ele solta projeções do Icis para a segunda resina mais reciclada, polietileno de alta densidade. Os cálculos indicam que a fatia da reciclagem mundial da poliolefina deve passar da casa atual de 4% para 7% em 2030. Se a reciclagem de PEAD atingisse 33,5%, metade da média detida pelos referidos materiais alternativos, teoriza o blogueiro, o cenário mundial da resina virgem acusaria em 2030 produção 108 milhões de toneladas inferior aos níveis dimensionados para o período entre 2018 e 2025, uma subtração que decerto sacudiria os alicerces do mercado planetário de PEAD, pressupõe o blogueiro, inquieto com o que considera sonambulismo da petroquímica diante de um futuro pautado pela economia circular.
“Alguns dos meus contatos no setor plástico consideram as crescentes pressões ambientalistas uma onda passageira e que a ira de legisladores e grande público contra lixo plástico nos oceanos e rivais não deve durar”, ele coloca em seu blog. “Outra corrente julga que a ofensiva deve suavizar quando indústrias de produtos finais e varejistas perceberem não haver como aumentar as taxas de reciclagem sem destruir as propriedades originalmente requeridas para os polímeros no uso em produtos acabados”.
Acontece que os tempos são outros, emenda o blogueiro, ilustrando com a ruptura já causada nas comunicações pelos aplicativos em pouco tempo de vida na praça. Da mesma forma, ele antevê, a pressão pública e legisferante deverá impulsionar avanços notáveis na reciclagem de plásticos, com óbvios efeitos colaterais no negócio da matéria-prima virgem. “Ainda ignoramos qual será solução tecnológica para esse quadro, mas a pressão dos adeptos da sustentabilidade não vai esmorecer e pode se intensificar. Essa questão da poluição ambiental tem de ser resolvida pela indústria de polímeros”. A advertência de Richardson cai como luva na corrente conjuntura brasileira.
Na edição de 27 de outubro último do Jornal da Band, noticiário nacional da TV Bandeirantes, foi exibida em horário nobre reportagem sobre o risco para a saúde humana contido na ingestão de micropartes de plásticos pelas vias dos produtos transformados e consumo de animais, como peixes, com refugo pós-consumo de resinas em seu organismo. Como reforço ao argumento, uma empresária deu depoimento sustentando que plástico algum entra em sua casa. A matéria do Jornal da Band não abriu espaço para a cadeia do plástico apresentar seu ponto de vista e, fazendo jus à atitude de sonâmbulo vislumbrada pelo blogueiro John Richardson, ela também não exigiu da emissora o seu merecido direito de resposta ao ataque sofrido.
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2 Comentários
Bom dia!
Impressionante que a cadeia do plástico, veja ano a ano a imagem do plástico ser degradada e massacrada por leigos e até mesmo pessoas bem intencionadas porém com pouco esclarecimento sobre a importância dos materiais plásticos na vida moderna e na garantia da saúde e da vida em diversos setores como alimentício, hospitalar, automotivo etc etc….
O direito de resposta deve ser exigido. Como podemos pressionar mais o setor a se posicionar?
Esta empresária de certo não tem celular correto? Já que não deixa plástico entrar em sua casa…
Também não tem móveis, já que possuem peças plásticas, não tem eletroeletrônicos, coloca seu lixo diretamente na lixeira com contaminação pra sua família e os coletores de lixo além do cheiro insuportável que deve exalar na sua residência quando o manuseio do lixo…. Enfim falta muita verdade nos discursos e nas ações tanto dos formadores de opinião, quanto do próprio setor como alertado na matéria.
Abraço
Como sair deste ataque promovido por militantes ambientalistas e leigos sobre o material plástico?
Bem suprir a ignorância da sociedade é uma tarefa árdua, afinal a indústria desde da petrolífera até a transformadora e usuária de plástico não trabalha harmonicamente para desfazer este ataque frequente.
O canudinho, por exemplo, de papel ou madeira ou metal ou vidro também apresenta problemas, mas ninguém fala sobre isto. O papel por si só não conseguiria ser usado pois é um material higroscópico e amoleceria quando usado, para que se use seria preciso aplicar alguma resina impermeabilizante, parafina ou plástica ou silicone. A madeira enfrentaria sério problemas de contaminação nas suas fibras e portanto teria que ser descartada para não criar problemas de saúde. O vidro e o metal necessitariam ser lavados, mas alguém já fez o cálculo do custo que lavar estes materiais teria? Quanta água limpa e tratada seria necessário para isto. Lavar também implica em usar tipos de agentes detergentes que também poluem.
Mas o que a cadeia produtiva pode fazer efetivamente e não faz? Criar Programas de apoio às Cooperativas de Catadores de Resíduos plásticos para reuso na indústria, associar-se a centros de pesquisa nas universidades para desenvolver agentes que destroem os plásticos…Mas tudo isto tem que ser comunicado ao mercado. A diferença da pata para a galinha é que a segunda alardeia que botou o ovo. Isto tem que ser feito, é preciso ação. Quanto à empresária da reportagem, ela está equivocada, pois a espuma do colchão dela, ou das poltronas, da TV, do liquidificador…são feitos em plástico.