PET não escapa da sina do excedente mundial, generalizada entre as resinas commodities e causa de uma superoferta ruinosa para a rentabilidade do poliéster virgem e para a competitividade do reciclado. No Brasil, apesar desses pesares globais, o momento da cadeia PET irradia, como suas embalagens, brilho e transparência nos dividendos. Do lado da resina virgem, o gap entre capacidade e demanda internas respira mais leve sob baixa progressiva. Quanto a PET reciclado, o mercado torce impaciente pela aprovação de lei obrigando o uso de plástico recuperado em produtos acabados e, sinal de fundamentos sólidos, o mercado financeiro bate à porta de PET reciclado grau alimentício, ilustra o fundo asiático Capital Circulate investindo em parceria nesse segmento com o brasileiro eB Capital, controlador das recicladoras Global PET e Green PCR (ver à página 24). Na entrevista a seguir, os meandros das conquistas e do empenho do setor em comprover sua sustentabilidade são destrinchados por Auri Marçon, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet).
Ao entrar em vigor em 2010, a Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) fixava até 2014 para o fim dos lixões municipais. Em 2015, o Congresso prorrogou o cumprimento da norma até o final de 2020. Municípios com até 50.000 habitantes pelo Censo de 2010 que elaboraram plano de gestão de resíduos sólidos e definiram tarifas para esse serviço tiveram prazo maior, até 2 de agosto de 2024. Como nada mudou, então os lixões no Brasil são perenes?
Essa sequência de postergações é escandalosa, um verdadeiro descaso do poder público com a ausência de coleta seletiva e centros de triagem. Esses serviços, se implantados, promoveriam o resgate de materiais recicláveis e, em consequência, melhores condições para a destinação do lixo urbano. São grandes barreiras para a evolução da reciclagem dos plásticos de maneira geral. Para PET, essa condição é imprescindível, pois já atingimos altos níveis – mais de 55% – de resgate de garrafas descartadas e fica muito difícil fazer esse índice evoluir sem um sistema de coleta robusto e triagem do material pós-consumo.
A implantação da PNRS tem deixado lacunas?
A parte que eu mais gosto dessa lei é a que menciona que a ‘responsabilidade é compartilhada’. Mas muitos se esquecem que ela precisa ser ‘implementada de forma individualizada e encadeada’. Nos últimos anos, a judicialização levou as partes (sociedade civil, poder público e setores empresariais) a agirem no ataque e na defesa. Desse modo, a união de esforços quase não teve efeito, exceto em casos isolados, sem grande abrangência ou efeito nos volumes coletados.
Do seu lado, a Abipet precisa continuar se empenhando em manter o fluxo do material coletado, desenvolvendo aplicações e tecnologia para que a produção e a demanda continuem em alta. Somos um setor industrial; é isso que sabemos fazer e essa é a nossa missão. Continuamos a pressionar o governo e instituições a investirem em coleta seletiva e centros de triagem, mas não adianta pensar que temos capacidade para entrar nesses temas com profundidade.
Em paralelo, investimos em estudos para jogar luz técnica sobre o debate da gestão dos resíduos sólidos urbanos no Brasil. Nesse sentido, o nosso conhecido Censo da Reciclagem atualiza o setor de PET e o poder público sobre os gargalos na recuperação nacional do polímero e sugere medidas aprimoradoras, como a criação de sistemas municipais de coleta seletiva. Com este mesmo foco no aprofundamento de dados, introduzimos este ano o estudo Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) de PET para subsidiar a opinião pública com informações científicas auxiliadoras na decisão sobre a melhor opção de embalagem do ponto de vista ambiental.
A cadeia recicladora de PET (e demais plásticos) ganha ou perde com o grosso da coleta a cargo de catadores autônomos e o comércio informal em alto grau de sucateiros?
Mais de 90% do PET pós-consumo reciclado é proveniente de coletas alternativas, ou seja, realizadas por catadores, sucateiros e cooperativas. Os associados da ABIPET entendem que não devemos fazer restrição a qualquer dessas organizações de coleta. Sistemas híbridos (coleta pública e empresas de triagem e cooperativas) podem ser o caminho para uma solução eficaz, considerando as características socioeconômicas e logísticas do Brasil.
Um modelo em linha com o perfil do Brasil deveria contemplar pelo menos duas alternativas de coleta dita robusta para solução do lixo urbano:
*Sistemas de Coleta Seletiva (recicláveis e compostáveis): com centros de triagem próximos dos aterros, de preferência coordenados por cooperativas.
*Sistema de Coleta Tradicional: com centros de triagem automatizados nas etapas básicas e cooperativas na separação fina só para os recicláveis.
Como estabelecer a conveniência de cada sistema?
As cidades de grande adensamento populacional e com condições financeiras equilibradas deveriam considerar sistemas de triagem automatizados. Afinal, movimentam grandes volumes e o trajeto da coleta precisa ser mais eficiente, deixando que a separação seja feita dentro das áreas coordenadas pelas empresas de limpeza da região. Já cidades menores poderiam organizar/educar a população para a coleta seletiva e incumbir cooperativas da triagem fina dos materiais. Ambos os modelos gerariam renda e melhor organização para os catadores e, óbvio, aumentariam a quantidade de resíduos à disposição dos recicladores/indústria.
Não temos uma opinião consolidada sobre o denominado Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) a ser prestado a catadores e outros agentes ou organizações, conforme aventado em projetos de lei (PLs). Se esse pagamento for considerado assistencialismo, a sociedade como um todo vai pagar a conta. Por outro lado, se pensarmos que poderia ser parte do resgate da cidadania e do emprego, então poderia ser incluído nas regras trabalhistas existentes.
Quais as propostas da ABIPET para uma lei obrigando o uso de plásticos pós-consumo reciclados (como PET PCR ) em produtos transformados ficar em linha com a realidade brasileira?
A obrigatoriedade para uso do conteúdo reciclado é válida para impulsionar alguns materiais com baixo índice de reciclagem e para acelerar a disseminação dos conceitos de circularidade. PET dispensa mais ações nesse sentido, pois já adotou essa prática há pelo menos duas décadas. Cerca de 30% de todo o PET reciclado já é destinado ao uso em novas garrafas (reciclagem bottle to bottle/BTB ou grau alimentício) e outras aplicações muito nobres, o que oferece opções do que conhecemos como ‘up cycle’– o uso em artigos valorizados e de longa de vida útil. Somadas, essas aplicações totalizaram em 360.000 toneladas de PET PCR em 2021.
Pelo que conhecemos, a grande maioria dos PLs sobre uso de teores de reciclados é de baixa qualidade quando se fala em soluções sustentáveis. Em geral, as propostas são inviáveis sob os tópicos técnico, econômico e/ou ambiental. Buscam soluções parciais, sem contemplar a exequibilidade sobre um ou mais dos três quesitos mencionados. Em alguns casos, esses PLs são frutos de pressões lobistas tentando impor soluções que inviabilizem os materiais concorrentes. Há também projetos comprovantes da ignorância de legisladores que procuram reagir a redutos eleitoreiros, crendo em mitos criados pelas redes sociais e descrendo de uma ciência estruturante.
Exemplo típico de ideia de implantação impossível: o PL 2425/22. Embora vise criar regras para promover a circularidade dos plásticos, acaba versando sobre inclusão social e pagamentos por serviços ambientais de catadores, cooperativas etc. Até aí, a proposta mereceria créditos, principalmente se estendesse essa dita circularidade a outros materiais que poderiam ajudar na renda dos catadores. O problema é quando o PL tenta definir a substituição dos plásticos por materiais ainda indisponíveis na ótica da industrialização e do consumo dos cidadãos. Assim, a pretensão de substituir os plásticos tradicionais por biodegradáveis mostra completo desconhecimento das regras sanitárias para proteção de alimentos e bebidas e acaba esquecendo (propositalmente ou não) que materiais biodegradáveis dependem de compostagem para decompor. E aqui cabe uma pergunta: quantas prefeituras têm usinas de compostagem em seus aterros? Resposta: apenas 1,34% das 5.570 cidades brasileiras ‘declaram’ ter compostagem, mas decerto possuem cobertura inferior a 1% das residências. Ou seja, o referido PL se assemelha a uma Torre de Babel, sem chance de se tornar exequível. Sinceramente, o Brasil mereceria algo mais sério, estruturado e factível.
A Abipet acredita que o Decreto do Plásticos, em elaboração pelo Ministério do Meio Ambiente, pode trazer avanços à reciclagem. Os primeiros rascunhos indicam a possibilidade de incluir metas de conteúdo reciclado e parecem considerar objetivos e cronogramas factíveis – ao menos para a cadeia do PET.
A União Europeia regulamentou recentemente a determinação ambientalista da venda de garrafas PET com as tampas enlaçadas nos gargalos, o que incomoda consumidores na ingestão da bebida. A Abipet percebe nessa norma algum mérito ou conveniência para coleta e reciclagem da embalagem?
De fato, este é um assunto polêmico entre as empresas do setor, com prós e contras. Para os recicladores, essa solução muda muito pouco as operações no Brasil. Hoje, os diferentes materiais de uma embalagem PET (corpo PET, rótulo BOPP e tampa PE) já são separados nos processos de reciclagem, até mesmo nos básicos. Não causam grandes distúrbios aos recicladores, desde que dimensionados corretamente, seguindo as Diretrizes para Reciclabilidade da Embalagem PET (informação em breve disponível no site da Abipet), que visam melhorar a eficiência dessa separação.
Do ponto de vista econômico, essa exigência aumenta um pouco o custo de uma embalagem ao consumidor. Afinal as tampas laçadas (tethered caps) são mais caras, além de não proporcionar grandes vantagens à reciclagem. Muitas vezes, o reciclador de PET acaba arcando com custos adicionais, pois compra o fardo como constituído de resina poliéster, mas também contém os outros materiais da tampa e que não têm o mesmo valor de mercado.
É consenso mundial que a pigmentação de garrafas/frascos de PET, em especial nas cores escuras, dificulta sua reciclagem mecânica. Entre brand owners há quem defenda a substituição da cor por embalagem transparente e há quem defenda a permanência dela pelo atrativo de marketing. A seu ver, a reciclagem química de PET é a solução para driblar o entrave da pigmentação?
Vamos esclarecer um ponto importante para o bom entendimento das práticas que viabilizam a reciclagem de uma embalagem. Garrafas PET de todas as cores são recicláveis e, de fato, são recicladas. O que muda é o valor comercial, a depender das cores escolhidas. Ou seja, é uma questão de preço ou, se preferirem, de custo e benefício.
Tanto faz se o processo de reciclagem é químico ou mecânico. O recipiente transparente é o preferido e o que atinge o maior valor de comercialização. PET PCR incolor com qualidade para ser usado em embalagens alimentícias está sendo vendido a um patamar 20% acima do valor da resina virgem. Nem sempre foi assim, mas a carência de coleta pública eficiente está levando à uma disputa pelo material reciclado.
Voltando ao colorido e tendo em vista as diferentes aplicações do PET reciclado, julgo que sempre haverá uma destinação capaz de absorver certa quantidade de embalagens coloridas. Por exemplo, cores opacas ou escuras podem ser usadas para têxteis, pois a maioria dos carpetes e forrações automotivas são cinzas ou pretas. Mesmo embalagens de lácteos, que são brancas ou contêm uma camada interna escura em determinados modelos, podem se tornar matéria-prima para massa plástica ou asfalto ou resina insaturada para aplicações em termofixos como para-choques de veículos pesados.
Somadas, todas as aplicações para embalagens de PET coloridas não chegam a 2,5% do total comercializado no Brasil. Ou seja, não há motivo para investir tempo em soluções a segmentos que contenham esse material.
Vale lembrar que, na questão cores, o fabricante da embalagem tem pouca ou nenhuma influência. Todas as determinações para o projeto da embalagem vêm do brand owner. Por fim, desconheço processo químico que viabilize economicamente e em escala industrial a reciclagem de embalagens coloridas eliminando os pigmentos.
Em quais condições e circunstâncias a reciclagem química corresponde às expectativas hoje não atendidas pela reciclagem mecânica (convencional ou BTB) de PET?
Esclarecimentos técnicos detalhados para responder essa questão tomariam algumas páginas e, portanto, simplificarei alguns pontos.
A única forma viável, técnica e economicamente, de se reciclar PET pós-consumo por via química é utilizando uma planta de PET virgem, pois evitaria um enorme CAPEX (investimentos em bens de capital) para tal instalação. Ou seja, bastam cuidados iniciais na preparação da matéria-prima (em linha com regras da Anvisa) e os flakes reciclados poderiam ser inseridos nos mesmos reatores usados para a produção de resina virgem. Aliás esse é um processo comum no mundo todo, inclusive no Brasil.
Os processos atuais de reciclagem mecânica (BTB) são mais que suficientes para garantir a qualidade em nível alimentício. Permitem que plantas modulares possam ser instaladas em diversas regiões do país, evitando custos logísticos em grandes distâncias para transportar as garrafas coletadas. Já a planta de reciclagem química precisa de grandes quantidades para abastecer um processo de grande escala. Nas duas vias, o resultado é o mesmo e atinge padrões similares ao da resina poliéster fabricada com 100% de matérias-primas virgens (ácido tereftálico purificado/ PTA+ monoetileglicol/MEG).
Abipet introduziu este ano uma avaliação, inédita no gênero no Brasil, sobre o virtuoso ciclo de vida (ACV) de embalagens PET para alimentos líquidos. Como a entidade pretende disseminar a fundo as comprovações técnicas do estudo junto a potenciais interessados, em regra desinformados, de baixa propensão à leitura e ultra receptivos a ataques ao plástico de alto teor emocional e carentes de fundamentos científicos? Será um trabalho hercúleo e representa nosso maior desafio A Abipet escolheu se fundamentar na credibilidade de um estudo com informações reais em todas as etapas do processo ‘do berço ao túmulo’, trabalho coordenado por ela e realizado pelos melhores cientistas e especialistas disponíveis no Brasil, integrantes inclusive das maiores empresas atuantes no setor de PET. A montagem da ACV teve participação ativa da Associação Brasileira da Indústria de Refrigerantes e Bebidas Não Alcoólicas (ABIR) e da Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (ABIOVE).
As equipes do Centro de Tecnologia de Embalagens, do Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL/CETEA), ligado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, construíram um Inventário do Ciclo de Vida das Embalagens PET. Isso possibilitou uma precisa comparação com outras embalagens em estudo conduzido pela empresa ACV Brasil. O trabalho contemplou todos os elos da cadeia produtiva, distribuição e comercialização dessas embalagens, através da colaboração das principais empresas que atuam no setor de alimentos líquidos no Brasil, além de fabricantes de resinas PET, produtores de embalagens, envasadores e distribuidores, com foco em água mineral, refrigerantes e óleo comestível.
A capacidade brasileira de PET virgem (1 milhão de t/a) cobre com muita folga a demanda interna (650-700.000 t/a), evidenciando espaço mínimo para importações. Então, por que o segmento produtor da resina reivindicou, através da Abiquim, aumento de 12,6% para 20% na alíquota de importação, concedido pelo governo em 18/9?
Essa resposta serve para diversos produtos químicos, cujas plantas só conseguem operar num determinado nível de ocupação, quer seja por questões econômicas ou até de segurança. Muitas delas não podem ser ligadas e desligadas, pois isso seria prejuízo na certa e traria grandes riscos à operação, tais como paradas definitivas por quebra de equipamentos ou acidentes mais graves.
Dito isso, vamos aos fatos que, historicamente, ocorrem no Brasil. Listo a seguir alguns elos da cadeia de valor que precisamos considerar nessa questão: monopólio do petróleo/nafta, concentração do craqueamento para obtenção de matérias-primas químicas intermediárias, produção de resina PET, produção de embalagens, envase e distribuição e varejo.
A união de todos na busca por um mesmo objetivo é quase impossível e ninguém quer perder. Não existindo políticas públicas eficazes, com longevidade apropriada para o setor e que propiciem investimentos minimamente rentáveis a estes elos, não haverá estabilidade duradoura que garanta razoável competitividade e bom nível de atendimento da demanda nacional, viável ao consumidor.
Ao contrário, o que ocorre hoje é uma guerra de narrativas tentando beneficiar cada elo da cadeia. Ao longo dos anos, isso tem abalado a indústria do PET, ora prejudicando transformadores ora fabricantes de resina, incluindo os recicladores. Cabe aí investigar melhor como essa diferença tarifária afeta os demais elos, visto que, nos extremos dessa cadeia de valor (petróleo/nafta, envase, distribuição e varejo), encontramos um enorme poder de mobilização que pode estar enfraquecendo os elos mais frágeis e reduzindo ainda mais a competitividade do país!
No meu entender, as embalagens plásticas pesam pouquíssimo no preço final de um produto. Aliás, elas são as mais baratas. Se substituídas por outros materiais nos segmentos de líquidos, os produtos envasados poderiam, sim, gerar impacto na inflação.
Como o censo de reciclagem referente ao ano passado ainda não foi divulgado, poderia dar uma prévia do consumo de PET virgem e da produção/consumo de PET reciclado em 2023 versus 2022 e expectativas para este ano?
A demanda brasileira de PET virgem em 2023 atingiu a marca de 720.000 toneladas. Segundo nossas estimativas, foram somadas mais 165.000 toneladas de PET PCR grau alimentício para atender à procura do mercado de embalagens, o que totalizou de cerca de 885.000 toneladas.
Vamos iniciar o Censo da Reciclagem no final de 2024, para começarmos 2025 com dados atualizados sobre a reciclagem de PET. Nossas previsões são de que, em 2023, o mercado de PET PCR ficou estável. Se, por um lado, houve redução no consumo do reciclado em mercados como têxtil e químico, o bom desempenho de mercados como água e refrigerantes, com conteúdo reciclado, acabou compensando.
Já para 2024, a expectativa é de crescimento de aproximadamente 5% em volume no reciclado e 8% na resina virgem. A explicação para isso é a implantação de diversos projetos (outros estão em curso) de substituição de outros materiais de embalagem pelo PET, elevando o consumo das duas alternativas, virgem e reciclado. O fenômeno El Niño, que alterou as condições climáticas, com temperaturas altas e clima seco, propiciou maior volume de consumo per capita.
Do lado da tecnologia, a combinação do avanço em desenvolvimentos da resina, injeção da pré-forma e sopro da garrafa acarretou a redução do peso médio das embalagens (23% nos últimos sete anos) e aumento da produtividade. Isso possibilitou crescimento de quase 60% no número de garrafas PET nos supermercados no mesmo período.
Outra boa notícia: parte desse incremento aconteceu tendo PET PCR como matéria-prima. É a prova de que muitos projetos de embalagens e lançamentos de produtos estão seguindo as tendências de uso de conteúdo reciclado em sua fabricação.
Fato notório no Brasil: brand owners ditos sustentáveis de nascença condicionam prioritariamente preço menor para adquirir reciclado em vez do superofertado PET virgem. Daí a relutância deles em divulgar o uso da resina recuperada em suas embalagens, pois trocam o material por virgem ao sabor das condições de preço. Qual a visão da Abipet sobre essa postura dúbia da indústria de produtos finais?
As práticas comerciais são as mesmas em quase todos os setores quando se fala em termoplásticos e não há como esperar algo diferente para PET PCR. Muitas empresas estão pagando um preço no material reciclado, em média 20% superior ao material virgem, isso ocorre há mais de um ano. Ou seja, a lei da oferta e demanda esclarece perfeitamente esse caso, onde a carência de coleta feita de forma abrangente e robusta limita a disponibilidade do material pós-consumo e o preço sobe.
Cada empresa, em seus respectivos segmentos, tem seu limite para esse preço. Alguns segmentos usuários do PET PCR não têm obrigações legais para uso de reciclado e, portanto, podem interromper o consumo e voltar à resina virgem em caso de distorções elevadas de preço.
No exterior, é um sucesso o sistema de devolução da garrafa PET vazia pelo consumidor em postos de devolução voluntária e em troca ele recebe dinheiro, desconto ou, como no Oriente Médio, viagem gratuita de ônibus. Por que esse esquema de reembolso até hoje não deslanchou no Brasil?
Em minha modesta opinião, esses modelos funcionam em países de alto IDH (índice de desenvolvimento humano). Ainda assim, servem apenas como orientações para conscientização da população e marketing, não gerando grandes volumes de coleta. De forma ilustrativa, em alguns casos em que tivemos acesso aos valores pagos pelas devoluções em máquinas conhecidas como ‘reverse machines’, o prêmio pago pelas devoluções, convertido em US$/Kg, era superior ao quilo pago pela matéria-prima virgem ou reciclada no mesmo país. Ou seja, não há base econômica e o objetivo é a publicidade do varejo, incluindo aí o display embutido nessas máquinas. Resumindo, é uma forma de marketing que alguma empresa está subsidiando.
Nos últimos anos, a China expandiu a capacidade de PET e caminha célere para a autossuficiência produtiva na resina. Vai então exportar cada vez mais o polímero, inclusive devido à sua crise econômica. Por seu turno, os países que suprem a China até ela ficar independente na resina terão de desovar suas remessas em outros mercados, para tentar compensar a perda do grande cliente. Isso significa aumento na superoferta mundial de PET virgem e consequente viés de baixa em seus preços. Diante disso, como ficará a competitividade comercial de PET PCR?
De modo geral, a expansão da capacidade asiática de PET já acontece há décadas, com plantas gigantescas em Taipei, Índia e China. Trata-se de estratégia desses países para obterem segurança no abastecimento interno e/ou aproveitar sinergia em cadeias industriais integradas, como já acontece em países do Oriente Médio, atuando também em cadeias de derivados químicos.
Muitas vezes esquecemos que o investimento que trouxe sobrecapacidade acaba, com o passar do tempo, preenchido pelo aumento da demanda interna desses países.
Precisamos lembrar que o viés de mercado pode ser de baixa ou de alta. Mas no caso de possíveis quedas de preço devido aos excedentes mundiais, isso já ocorre e pode, sim, afetar o mercado de PET PCR. As resinas commodities para materiais de embalagem seguem ‘fórmula-price’, método que considera referências de preços das matérias-primas virgem e reciclada. A estrutura de custos de PET PCR é determinada por coleta, separação etc. Difere da estrutura baseada na rota dos petroquímicos como PET virgem. Desse modo, o preço do reciclado pode ser afetado tanto positiva como negativamente em relação ao momento dos derivados do petróleo. Esse tipo de precificação é regra de mercado e, muitas vezes, são necessárias políticas públicas, tarifárias e não tarifárias, para garantir a continuidade das operações. O mundo inteiro adota estratégias de controle dos seus mercados e o Brasil não pode deixar de atuar nesse sentido.•