Sempre há o que melhorar
Menina dos olhos da plasticultura, o silo bolsa de polietileno (PE) tem chão a vencer para ser louvado da mesma forma do lado de dentro da porteira. Na noite de 28 de junho último, o Jornal da Band (vídeo Band Jornalismo no YouTube) pôs no ar reportagem sobre o mega déficit nacional de armazenagem de grãos, calculado em 63 milhões de toneladas, lacuna encarecedora do frete e ruinosa para a lucratividade dos produtores rurais desprovidos de caras estruturas de metal ou concreto para estocar, secar e limpar o grão. Uma saída aventada na reportagem para o agricultor sem galpão estático ficar menos dependente dos instáveis custos de frete e refém das baixas nos preços internacionais das commodities, por não ter como armazenar no aguardo de cotações melhores, seria o silo bolsa. Entrevistado pela Band, Clóvis Antônio Werlang, diretor presidente do conglomerado agropecuário gaúcho Grupo Werlang, atestou que silo bolsa é solução barata, mas não ideal, por durar pouco, não permitir reúso nem transmitir segurança, pela possibilidade de ser furado por chuva de pedra, galhos e bichos. “É um quebra galho”, ele definiu na gravação, que ilustrou sua fala mostrando um silo bolsa esburacado no campo, com grãos vazados da abertura.
Plásticos em Revista foi atrás do cerealista para aclarar seu ponto de vista. “Uso silo bolsa há mais de cinco anos como solução provisória de estocagem”, assinalou Werlang, ressaltando total interesse em colaborar com o setor plástico em prol da melhora do produto. “Trata-se de uma boa alternativa para se armazenar grãos com rapidez e com viabilidade econômica, pois o transporte no período da safra é muito caro. Desse modo, possibilita ao agricultor uma solução barata para estocar a produção e escoá-la após a etapa final da colheita, com frete mais em conta”. Para o dirigente do grupo sediado em Ibirubá, noroeste gaúcho, armazenamento ideal é com silos com aeração automática e computadorizada, controlável pelo PC ou celular. O sistema consiste em promover, com ventiladores, a passagem de baixa vazão de ar natural ou resfriado através da massa de grãos, para baixar e uniformizar a temperatura do estoque, prevenir a migração de umidade e, a depender das condições climáticas e da vazão de ar, proporcionar sua secagem ou reumedecimento.
Retomando o fio do silo bolsa, Werlang o vê como opção emergencial e de duração aceitável, “mais de seis meses”, considerando-se um ambiente sem intempéries e risco de queda de galhos, e estando fora do alcance de insetos, roedores ou até cavalos e cachorros. “Quem opta por silo bolsa sabe que precisa colocá-lo em lugar de poucas árvores e com proteção contra animais”. O cerealista apoia melhorias na qualidade do silo bolsa, a exemplo de maior espessura ou aditivação com repelente de bichos, mas desde que o preço do produto não suba.
“Os danos causados no silo bolsa por animais e eventos climáticos são verdadeiros e frequentes”, endossa Irineu Lorini, pesquisador da unidade de soja da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Conforme observa, o foco da estatal em relação a estudos com o silo bolsa até hoje não cobriu a apontada resistência a desejar, cingindo-se à preservação da qualidade do grão ali estocado. Para o analista, o silo bolsa é uma solução emergencial, provisória e descartável. “Tem um único uso e vida útil de até 10 meses sem ser aberto, estocando de 180 a 200 toneladas em cerca de 60 m de comprimento por 5 a 6 m de largura”. Lorini reconhece os méritos do silo bolsa como recurso contingencial, sem condições de escantear a estocagem usual. A intensidade do seu uso no Brasil também varia ao sabor das condições de mercado, ele comenta. “Por exemplo, na safra passada ele foi muito usado no Paraná e Mato Grosso do Sul”, ele repassa. “Mas a demanda caiu muito na safra seguinte, devido ao rápido escoamento da soja para exportação, para aproveitar o momento de bons preços internacionais, abrindo assim espaço nos galpões estáticos nos dois Estados para o armazenamento a seguir do milho safrinha”. O cultivo do milho safrinha transcorre em regra de janeiro a abril, após a colheita da chamada soja precoce, no Centro-Oeste, São Paulo e Paraná. “Quando não se tem armazéns suficientes para acolher a safra, o silo bolsa cumpre papel importante para desafogar este recebimento no processo de escoamento, realizado ao longo de alguns meses dos grãos vindos do campo”.
Na Argentina, nota o pesquisador, o uiso do silo bolsa é mais constante, tanto pelas peculiaridades do agronegócio vizinho como pela sua preferência por investir no armazenamento em plástico do que em galpões de alvenaria ou silos metálicos. “Os padrões de desempenho e espessura são os mesmos aqui e lá”. Lorini também desconhece norma técnica para a qualidade do silo bolsa do Brasil. “Aliás, ele está fora do sistema de certificação de unidades armazenadoras a cargo do Ministério da Agricultura”, observa.
“A padronização por normas técnicas constitui prática saudável de mercado e estabelece padrões mínimos de desempenho, garantindo a qualidade do silo bolsa para o agricultor”, julga Marcial Cesar Vieira, engenheiro de aplicação do segmento de geossintéticos de filmes agrícolas da Braskem, única produtora de PE no país. Conforme argumenta, silo bolsa é uma alternativa de estocagem de grãos cada vez mais utilizada e servida pela Braskem com grades para todos os requisitos. “Algumas avarias ocorridas no produto podem decorrer de uso indevido ou, em determinados casos, à inobservância de cuidados inerentes à armazenagem, tais como evitar o estiramento no enchimento do silo bolsa além do recomendado pelo fabricante; impedir o derramamento de grãos fora dele, o que pode atrair roedores, e não coloca-lo perto de árvores grandes”, ilustra o técnico.
O primeiro passo para lustrar o status do silo bolsa seria conscientizar o meio rural de que sua vida útil, dimensionada em meses pelos entrevistados, pode alcançar de dois a três anos, defende Roberto Castilho, gerente comercial para o Brasil e Argentina da componedora norte-americana A.Schulman. “Basta considerarmos a situação na Argentina, onde essa solução de estocagem é adotada com intensidade”, ele coloca. “Mas o agricultor precisa tomar cuidados para não prejudicar a duração do silo bolsa, sua resistência não depende apenas da estrutura e aditivação adequadas”.
Desde que o agricultor faça sua parte em prol do uso eficiente do silo bolsa, condiciona Castilho, sua vida útil de dois a três anos é assegurada, no plano geral, por espessura de 200 a 250 micra e pelo emprego, na camada externa, de dióxido de titânio resistente às intempéries acrescido de estabilizador UV, resultando em concentrados capazes de ampliar a reflexão da luz e de reduzir a temperatura interna. “É o caso dos nossos masters Polybatch 8360 UV e Polywhite 60 PUV. Por sinal, a ótima resistência a pesticidas deste último também pesa para estender a duração do silo bolsa”. A parede interna, completa o especialista, deve ser reservada ao pigmento preto livre de enxofre, com partícula de 19 nm e resistente a eventos climáticos, condições que ele assevera cumpridas pelo master Polyblak 1423. No arremate, Castilho engrossa a corrente apoiadora de norma técnica para adubar a imagem do silo bolsa no campo. “Seria uma iniciativa muito positiva da cadeia do produto e, se vingar, gostaríamos de participar”. •
Deixe um comentário
Você precisa fazer o login para publicar um comentário.