Os números falam – e como falam grosso. Sacos e sacolas fecharam 2021 com desabamento de 22,9% no volume de vendas e, reação em cadeia, foram a principal causa da baixa de 11,9% no consumo de polietileno de alta densidade (PEAD) em embalagens plásticas flexíveis, atestam os indicadores oficiais (ver em Visor, à pág. 6). “O volume de sacolas/sacos vem caindo nos últimos anos em função da pressão injusta de projetos de lei por parte de ambientalistas e até fomentada por materiais sucedâneos”, atribui Rogério Mani, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Plásticas Flexíveis (Abief). E o clima promete piorar. “A onda de proibições do uso de sacolas descartáveis é mundial e acabará chegando ao Brasil”, prevê Luiz Fernando do Valle Sverzut, diretor da Hece, nº1 no Brasil em equipamentos de corte e solda de embalagens como sacolas.
Sverzut deixa claro que banir as sacolas descartáveis embute um revés para a saúde pública e o desenvolvimento sustentável. Conforme argumenta, são mais higiênicas que a sacola retornável e a caixa de papelão e seu uso transcende a função original, o transporte do check out aos lares, servindo ainda para acondicionar um monte de itens no cotidiano doméstico. “Os maiores compradores de sacolinhas são os supermercados e podem perder receitas com a proibição delas”, pressupõe o dirigente da Hece. “Afinal, os clientes não gastariam além do mínimo necessário, pois teriam dificuldades para transportar quantidades excessivas, caso de quem leva compras de ônibus”. Sverzut insere que um veto à sacola camiseta flagelaria a arrecadação, emprego e investimentos da sua cadeia produtiva. “De outro lado, o incentivo ao descarte correto, reúso e reciclagem das sacolas tem potencial para incrementar a transformação de resíduos pós-consumo”, ele complementa.
“A Abief está revisando a norma técnica para sacolas, rumo à permissão para emprego de conteúdo reciclado nelas”, adianta Rogério Mani. “Também esperamos incentivar o reúso das sacolas trabalhando, em paralelo, na conscientização ambiental. “Para ele, a cadeia plástica deve partir para ações concretas, como uma campanha isenta que ‘converse’ em linha direta com o consumidor. “Mas para isso precisamos de muitos recursos”. Conforme salienta, petroquímica e transformação configuram um setor de receita aproximada de R$ 200 bilhões, capitalizado portanto o suficiente e não pode se eximir de financiar esta causa. Além do mais, reitera, suas empresas não devem continuar voltadas para assinar em separado projetos de comunicação desse tipo. “Acreditamos numa campanha sem assinaturas e cujo único protagonista seja o plástico”.
2021 foi o melhor dos 60 anos de ativa da Hece, distingue Luis Sverzut. Em São Carlos, interior paulista, a produção superou em 60% o saldo anterior, com 211 máquinas, das quais 16 (14 em 2020) específicas para sacolas, categoria representativa de apenas 7,5% da receita da empresa. “Mais da metade dessas linhas é destinada à produção de sacolas contendo resina reciclada”.
No mostruário da Hece, atuante também em termoformadoras, consta uma família de equipamentos para corte de filmes plásticos, de alumínio e papel. Até o momento, a hipótese de banimentos da sacola de polietileno invadirem municípios e estados não inspira ajustes no portfólio da empresa. “Tempos atrás estudamos a possibilidade de entrar em máquinas para fabricar copos de papel, mas a ideia não vingou”, conta Sverzut. “Linhas para corte e solda de sacolas de papel diferem bastante dos modelos para sacolas plásticas, mas não posso afirmar que um dia não as construiremos”. •
Pesquisa de opinião
O governo tem fortalecido os programas de transferência de renda às classes pobres. Como essas medidas de assistencialismo impactam no recrutamento e manutenção de pessoal para produção na indústria plástica? E como sua empresa lida com estes desafios?