A recessão literalmente sangra a saúde pública. A rede nacional de hemocentros controlados pelo governo tem funcionado com custos defasados em, pelo menos, 35%, calcula Dante Langhi, diretor da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH) e coordenador da hemorrede do Estado de São Paulo. “A situação é de insolvência iminente e estamos alertando a sociedade e as autoridades para esse risco de desabastecimento de sangue para os hospitais da rede pública”, ele avisa. Conforme reiterou no fechamento desta edição, ainda não há notícia de paralisia, em decorrência de lacuna no fornecimento de sangue e hemocomponentes, na prestação de serviços na área nacional da saúde.Mas a ameaça pulsa na veia do panorama.
A carência de glóbulos vermelhos no caixa dos hemocentros repercute de bate pronto na aplicação de PVC que melhor comprova sua atoxicidade e liame com a Medicina: as bolsas de sangue. Langhi escancara o drama do momento. “Apenas o Estado de São Paulo recebe em torno de um milhão de doações de sangue ao ano, enquanto o cômputo para o país inteiro deve ficar entre quatro e seis milhões de doações no mesmo período”, situa o diretor da ABHH. Para agravar a chaga aberta, Langhi assinala que a valorização de 40% do dólar frente ao real este ano também deixa mais anêmica a verba disponível para os hemocentros devido à sua dependência de um punhado de insumos importados. Como referências, o médico destaca determinados reagentes para laboratórios de hemoterapia e, apesar da existência de similar nacional, as bolsas de sangue. Langhi não pormenoriza participações, mas sustenta que grande parte das bolsas adquiridas pelo sistema público de saúde é importada. “Isso não traduz qualidade a desejar para o produto nacional”, ele sublinha. “Trata-se do resultado do processo de validação técnica cujos critérios variam conforme o hemocentro”.
As importações representam cerca de 25% do mercado brasileiro de bolsas de sangue e os hemocentros públicos respondem por volta de 70% do consumo do recipiente vinílico, projeta André Ali Mere, presidente executivo da JP Indústria Farmacêutica S/A, sediada em Ribeirão Preto (SP) e vitrine das bolsas brasileiras. “O produto fabricado no país pode suprir, à perfeição, a necessidade dos hemocentros públicos e bancos de sangue privados”, sustenta o dirigente. “Já há alguns anos as bolsas nacionais oferecem qualidade e quantidade compatível com a demanda doméstica”.
Mere sente no dia a dia os efeitos da carência de recursos para os hemocentros públicos. “No momento, o maior problema se refere ao atraso nos pagamentos”, considera. Para aliviar o descompasso entre a verba disponível e a demanda dos hemocentros públicos, Mere sugere uma mudança capaz, a seu ver, de baixar o preço unitário da bolsa de coleta de sangue. “Os órgãos poderiam buscar uma segregação dos contratos de fornecimento de bolsas dos contratos de comodato dos equipamentos (a Agência Nacional de Vigilância Sanitária especifica centrífuga refrigerada, extrator automático e dispositivo de conexão estéril); isso poderia reduzir os preços de aquisição da bolsa nas licitações”.
Nº1 em PVC no Brasil, a Braskem informa desconhecer o consumo do vinil em bolsas de sangue nacionais em razão da incipiência desse mercado. •