Roteiro estável para filmes este ano

Balanço deste semestre não deve destoar da expansão no primeiro, confia a Abief
Roteiro estável para filmes este ano

Apesar do dólar injuriado, petróleo volátil e a tragédia climática no Rio Grande do Sul, o consumo aparente de embalagens plásticas flexíveis virou o primeiro semestre com salto ao redor de 8%. A expectativa é de bis para os seis meses finais, pressupõe a radiografia de janeiro a junho captada  no setor pela consultoria MaxiQuim, em relatório encomendado pela Associação Brasileira da Indústria  de Embalagens Plásticas Flexíveis (Abief). “A perspectiva é de que o ano siga no mesmo patamar de consumo com tendência de aumento, direcionado pela sazonalidade do segundo semestre, mas especialmente pelo crescente poder de compra das famílias em função do cenário de melhora da situação financeira delas e do mercado aquecido. No entanto, a inflação de alimentos – que registrou queda em julho – é o que pode frear esse cenário, caso volte a ficar pressionada nos próximos meses”, condiciona o estudo. Uma dedução certeira, como ilustra a conjuntura do terceiro trimestre. O cenário confronta um jogo de forças. Uma delas é o encarecimento dos bens de consumo essencial – em particular alimentos (maior mercado de flexíveis) – acionado pelo câmbio e oferta reduzida com surto de queimadas e ondas de calor em regiões cruciais do agronegócio. Do lado positivo, pesa a intensa transferência de recursos para a população de baixa renda, via programas assistenciais  e significativa queda no desemprego. No pano de fundo da indústria de flexíveis, pulsam preocupações como o nível médio de 30% de ociosidade aferido nos últimos exercícios e a medição da competitividade do setor deformada pela romaria incessante de fábricas filiais para locais incentivados. Destaque para as de filmes commodities (por enquanto) na Zona Franca, a cargo de transformadores capitalizados, em regra do Sudeste, atrás de refrigério tributário e importação mais em conta de matérias-primas pelo porto livre de Manaus.

Rogério Mani: extrusão deve crescer bem mais que a conversão de filmes em Manaus.
Rogério Mani: extrusão deve crescer bem mais que a conversão de filmes em Manaus.

Na entrevista a seguir, Rogério Mani, presidente da Abief, avalia a conjuntura com profundidade.

As importações brasileiras de poliolefinas totalizaram no primeiro semestre o recorde de 1.315 milhão de toneladas, segundo o relatório da Abief. Fora a enchente em maio no Rio Grande do Sul, quais as razões desse volume inédito de internações?
O recorde foi devido ao cenário de preços internacionais mais baixos e perspectivas de aumentos no mercado local. Isso fez com que a cadeia de transformação se abastecesse em níveis maiores, antecipando compras em muitos casos.

No primeiro semestre, a produção nacional de flexíveis atingiu 1.133 milhão de toneladas. Isso equivale a qual taxa de ocupação da capacidade instalada de flexíveis no período? Esse nível de ocupação está na média dos últimos três anos?
Equivale a um nível operacional de cerca de 70%. O acompanhamento do nível operacional começou em 2022 e tem ficado nessa média desde então.

Relatorio ABIEF 1S24 7
Fonte: MaxiQuim/Abief

No Brasil, de quatro a cinco grupos transformadores respondem por mais de 70% da produção e vendas de flexíveis de poliolefinas. A significativa expansão deles com plantas em locais incentivados (destaque para Manaus), já influi ou não tarda a influir na redução de concorrentes de menor porte em locais com poucos ou sem incentivos? Quais saídas sugere para a sobrevida dessas empresas?
Não concordo que 70% da produção de flexíveis estejam nas mãos de cinco empresas. Além do Brasil contar com dimensões continentais e de haver muita diversificação de embalagens, nem todas as empresas atuam nos mesmos segmentos. Lógico que há uma tendência, como em qualquer economia global, de as maiores empresas crescerem e escalarem mais rapidamente que as demais.

Sobre as regiões incentivadas, esta é uma realidade em nosso país que distorce muito a competitividade. Manaus é, logicamente, um atrativo importante, mas também tem seus problemas – nem tudo são flores. Acredito que alguns segmentos podem ser mais impactados pelos maiores concorrentes que se estruturaram para estar na zonas incentivadas. Porém, temos muitas empresas no Brasil, de pequeno e médio porte, que conseguem atender as demandas que os grandes não conseguem. Ou seja, há espaço para todos e se, a economia ajudar, todas as empresas voltarão a recompor suas margens e volumes de vendas.

Relatorio ABIEF 1S24 8
Fonte: MaxiQuim/Abief

Entre São Paulo, maior centro econômico do Brasil, e Manaus, apogeu dos benefícios fiscais, qual acha que deve ser a preferência hoje de um capitalizado transformador de flexíveis para colocar uma nova planta filial?
São Paulo é o maior centro consumidor do Brasil e, como sabemos, a maioria das empresas que está em Manaus é oriunda de São Paulo. Também não são todos os tipos de produção que justificam uma planta em Manaus, que sofre com carência de mão de obra, logística cara e um sistema tributário que requer muito controle e assertividade. Creio que quem está produzindo flexíveis em Manaus vai continuar investindo por lá com a produção de filmes e, se necessário, submetendo-os à etapa da conversão (laminação, por exemplo) nos demais centros no restante do país. Portanto, a tendência em Manaus é de mais investimentos na extrusão e muito pouco em conversão.

Relatorio ABIEF 1S24 10
Fonte: MaxiQuim/Abief

No histórico mostrado no relatório da Abief, desde o primeiro semestre de 2022, a indústria brasileira de flexíveis acusa baixa evolução na produção e consumo aparente Como explica este avanço inexpressivo? E por que a produção de flexíveis de PEAD praticamente estagnou desde a metade inicial de 2022?
2022 e 2023 foram anos com queda e leve aumento, respectivamente, na produção industrial do Brasil. Além disso, a base de comparação ficou alta, pois no período da pandemia houve crescimento expressivo no consumo de flexíveis. Outro ponto se refere à otimização de processos com foco na redução de espessura dos filmes e, em decorrência, no peso das embalagens. Porém, o mercado quantificado em unidades vem crescendo em linha com a economia.

2022 foi um exercício de baixo crescimento no varejo, inclusive com alguns meses de queda. O varejo é um indicador importante para o consumo de sacolas e sacos de PEAD.

Importante ressaltar que nossos números são baseados em peso e, como informado acima, houve um aumento significativo de unidades vendidas com peso menor. Infelizmente, ainda não conseguimos mensurar os números em unidades produzidas.

Relatorio ABIEF 1S24 11

Relatorio ABIEF 1S24 12
Fonte: MaxiQuim/Abief

Qual foi a parcela reciclada do consumo interno de flexíveis  no primeiro semestre? E como avalia as possibilidades de incrementar a presença de PP ou PE reciclados em flexíveis no país diante da resina virgem mais acessível e disponível devido à super oferta mundial?
Cerca de 4%. Essa participação deve aumentar neste último semestre, pois percebeu-se uma leve recuperação da demanda por resina reciclada a partir do segundo trimestre, reação que pode aumentar até o final do ano. Apesar do cenário global de resina virgem mais acessível, questões como a alta dos fretes marítimos e problemas de oferta nos EUA têm reduzido essa vantagem.

Relatorio ABIEF 1S24 15
Fonte: MaxiQuim/Abief
Relatorio ABIEF 1S24 14
Fonte: MaxiQuim/Abief

No relatório da Abief, agrofilmes já pegam o terceiro lugar entre os mercados por demanda. Isso reflete mais o vigor do agronegócio ou o menor ímpeto de crescimento da demanda de flexíveis para bebidas e sacaria industrial, os segmentos mais próximos de agrofilmes no ranking?
Reflete a importância do agro no consumo de flexíveis, por sinal crescente quando consideramos aplicações como plasticultura e geomembranas. Alimentos e bebidas, quando os olhamos como um único segmento, permanece o principal mercado de consumo de flexíveis. Cabe frisar que a envergadura da plasticultura ainda é pequena no Brasil, mas começa a sinalizar crescimento constante. Ou seja, um reduto que demandará flexíveis cada vez mais.

Relatorio ABIEF 1S24 16
Fonte: MaxiQuim/Abief

Mesmo discretas, as exportações brasileiras de flexíveis apresentaram no primeiro semestre deste ano o pior saldo desde o mesmo período em 2022, enquanto as também discretas importações de flexíveis apresentaram a maior alta no mesmo comparativo. Qual a sua interpretação desse quadro?
Mostra o mesmo cenário de importações das resinas. Ou seja, a grande oferta global percorre também a cadeia de transformados que tem maior disponibilidade de produtos para exportação e o Brasil é um dos destinos. Vale destacar que o Brasil nunca foi um grande exportador de embalagens e, em  flexíveis, a balança pende muito mais para importações de filmes como os de BOPP e BOPET.

Compartilhe esta notícia:

Deixe um comentário