Resinas commodities: Brasil importou 2 milhões de toneladas no 1º semestre

Aumento nas internações ocorreu em todos os termoplásticos
Resinas commodities: Brasil importou 2.25 milhões de toneladas no 1º semestre

Como era de se esperar, a coligação de revezes domésticos e internacionais desembocaram num aumento maiúsculo das importações brasileiras de resinas no primeiro semestre. Com base em indicadores oficiais, a acurácia do rastreio da equipe de assuntos de comércio exterior da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) desnuda uma conjuntura turvada pela capacidade interna insuficiente e não competitiva, avarias da enchente em maio no Rio Grande do Sul, câmbio alvoroçado e, bode na sala irremovível desde 2021, o excedente global de PP, PE, PVC e estirênicos.

No viveiro das poliolefinas, as importações de PP no primeiro semestre fecharam em 366.098 toneladas versus 241.012 no período precedente. As três principais origens do polímero desembarcado aqui de janeiro a junho foram a Arábia Saudita, com 102.185 toneladas (60.560 no mesmo período em 2023); China, com 68.762 (16.202 no mesmo período em 2023) e Argentina, com 45.419 toneladas). O salto nos embarques asiáticos reflete a arqui noticiada autossuficiência produtiva que tornou a China grande exportadora regular de PP (em especial homopolímeros) e o consequente reposicionamento de produtores da resina que eram grandes fornecedores seus, caso de petroquímicas do Oriente Médio (Arábia Saudita, p.ex.), passando a diversificar seus canais de desova no exterior para atenuar o baque do encolhimento das compras chinesas.

A engorda das importações também pegou PEs. No cercado de PEAD, elas alcançaram 362.053 toneladas na primeira metade de 2024 contra 208.499 nos seis meses iniciais de 2023. No mesmo comparativo, PEBD e PEBDL totalizaram internações de 296.319 toneladas entre janeiro e junho perante 228.661, saldo influenciado há bom tempo pela insatisfatória capacidade doméstica de PEBD nos polos de Camaçari e Triunfo. Em grande parte, as importações de PEBDL também estão embutidas nas de copolímeros de etileno e alfa-olefina. No pente-fino da Abiquim, esses desembarques no primeiro semestre somaram 392.795 toneladas, bem acima das 258.916 registradas na mesma época em 2023. Em seu monitoramento das principais origens das importações brasileiras de PE, a Abiquim insere no bojo os volumes trazidos de polietileno tereftalato (PET). Por este prisma, o trio dos nossos maiores fornecedores internacionais de PE entre janeiro e junho foram os EUA, com 785.410 toneladas (466.492 no mesmo período em 2023); Argentina, com 90.280 (101.198 no mesmo período em 2023) e Canadá, com 75.017 toneladas (55.028 no mesmo período em 2023).

O Brasil ostenta capacidade nominal de 1 milhão de t/a de PET e o consumo interno oscila de 50% a 60% desse total, a depender do analista, e as exportações do polímero jamais atingiram um nível que ensejasse um nível de ocupação aceitável das duas plantas no país. Mesmo com a sobra local do poliéster, o Brasil importou 72.925 toneladas no primeiro semestre, acima das 55.071 aferidas nos mesmos meses no ano passado.

O cenário para PVC segue na mão oposta ao de PET. Desde 2018, quando a capacidade nominal da Braskem (710.000 t/a) foi mutilada pelo desastre geológico em Maceió assumido perla empresa, o Brasil tem se avantajado como dependente do vinil internacional. De janeiro a junho último, as importações de PVC acumularam 294.513 toneladas, quantidade equiparável à capacidade nominal de 300.000 t/a da Unipar, o segundo produtor brasileiro do polímero. Em 2023, aliás, foram internadas no Brasil 203.175 toneladas durante o semestre inicial. Na varredura da Abiquim, a Colômbia (planta de 420.000 t/a da Orbia/Wavin) manteve a liderança nas importações brasileiras do vinil com 121.866 toneladas no primeiro semestre (83.679 no mesmo período em 2023), seguida pelos EUA, com 71.112 (50.260 no mesmo período em 2023) e Argentina (Unipar), com 26.904 toneladas (19.939) no mesmo período em 2023).

O Brasil importa regularmente estireno, devido em especial ao suprimento necessário para a planta de PS da Innova na Zona Franca rodar. Por sua vez, embora o país disponha de capacidade nominal de PS acima da demanda interna, tem importado o polímero em razão das finanças esmigalhadas minando a produção de estireno e PS da petroquímica Unigel, que pediu recuperação extrajudicial no início do ano e divulgou prejuízo em 2023 de R$ 2,3 bilhões, com queima de caixa de R$ 452 milhões e resultado operacional negativo de R$1,6 bilhão. Por seu turno, a cheia de maio no Rio Grande do Sul paralisou a central da Braskem no polo de Triunfo, afetando o abastecimento de eteno e benzeno para a produção local de dicloroetano (EDC), estireno e PS da Innova. Por essas e outras, o Brasil importou no primeiro semestre 15.460 toneladas de estireno e 59.184 de PS versus 86.551 toneladas do monômero e 41.728 do polímero na metade inicial de 2023.

Argentina, EUA e China

O Mercosul entrou este ano em nevoeiro existencial, desprestigiado às claras por Javier Milei, presidente da Argentina. Essa perspectiva joga novas luzes sobre os mais recentes indicadores das importações brasileiras de resinas commodities do país vizinho. Na raia das poliolefinas, o Brasil internou no primeiro semestre 45.419 toneladas de PP (23.749 no mesmo período em 2023); 30.893 de PEAD (35.455 no mesmo período em 2023); 21.178 de PEBD e PEBDL (21.752 no mesmo período em 2023) e 35.856 de copolímeros de etileno e alfa-olefina (42.068 no mesmo período em 2023). Em PVC, vieram da Argentina 26.904 toneladas de janeiro a junho (19.939 no mesmo período em 2023) e, quanto a PET, 2.353 toneladas no mesmo semestre (1.924 no mesmo período em 2023).

Logística e preços imbatíveis da rota do gás natural explicam a supremacia dos EUA no ringue dos exportadores de poliolefinas para o Brasil. No primeiro, desembarcam desta origem 270.340 toneladas de PEAD (125.137 no mesmo período em 2023); 208.469 de PEBD e PEBDL (160.621 no mesmo período em 2023); 305.870 de copolímeros de etileno e alfa-olefina (180.180 no mesmo período em 2023) e 7.418 de PP (12.379 no mesmo período em 2023). No tocante a PET, as importações brasileiras fecharam em 731 toneladas de janeiro a junho último versus 553 na primeira metade do ano passado.

A China encabeça os investimentos petroquímicos remanescentes do terminado superciclo mundial de expansões no setor, vigente de 1992 a 2021. Ásia e Europa dominam as remessas de resinas chinesas. No entanto, África e América ganham aos poucos estatura nessas exportações porque a China urge diversificar os canais de desova para seus crescentes excedentes de resinas, sob estímulo também do governo de Pequim, em sua estratégia de buscar no comércio exterior um respiro para a vacilante economia interna desde a quebra do setor imobiliário. Uma pedra no sapato dessa tática: o encarecimento e demora maior dos fretes Ásia/ Europa e Brasil, devido à substituição da conflituosa rota do mar Vermelho pela do Cabo da Boa Esperança, na África.
A cruza desses fatores ajuda a explicar os motivos pelos quais o Brasil importou da China, no primeiro semestre, apenas 68.762 toneladas de PP (16.202 no mesmo período em 2023); 2.856 de PEAD (1.989 no mesmo período em 2023); 137 de PEBD e PEBDL (560 no mesmo período em 2023) e 24 de copolímeros de etileno e alfa-olefina (98 no mesmo período em 2023). Foram bem maiores as importações brasileiras de PET chinês: no primeiro semestre entraram 11.998 toneladas perante 4.844 nos mesmos meses no exercício anterior.

Portos incentivados

Foi, em especial, após a primeira onda da pandemia, em 2020, que ganhou visibilidade a romaria de transformadores capitalizados para instalar plantas filiais na Zona Franca, à sombra dos benefícios fiscais e internações de poliolefinas pelo porto livre de Manaus. No primeiro semestre, as importações brasileiras pelo estado do Amazonas acusaram 71.455 toneladas de PP (55.454 no mesmo período em 2023);103.896 de PEAD (65.648 no mesmo período em 2023); 150.228 de PEBD e PEBDL (128.296 no mesmo período em 2023) e 159.041 toneladas de copolímeros de etileno e alfa-olefinas (85.569 no mesmo período em 2023). Em PET, foram desembarcadas 1.221 toneladas entre janeiro e junho último contra 774 nos seis meses iniciais do ano passado.
As importações de PP foram bem mais corpulentas pelos portos também incentivados de Santa Catarina. No primeiro semestre, entraram 199.653 toneladas versus 117.885 no mesmo período em 2023. Em PEAD, foram internadas por ali 145.504 toneladas entre janeiro e junho passado, bem acima das 81.275 aferidas na metade inicial do exercício precedente. Por seu turno, as importações brasileiras de PEBD e PEBDL por Santa Catarina somaram 68.038 toneladas no primeiro semestre (45.019 no mesmo período em 2023) e 143.72 foi o volume trazido de copolímeros de etileno e alfa-olefina (113.638 no mesmo período em 2023). Corte para PET: entraram pelos portos catarinenses 20.641 toneladas nos seis meses iniciais de 2024 e 21.263 no mesmo semestre em 2023.

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