Por muitos anos, a alemã Coperion foi sinônimo de última palavra em extrusoras de compostos e masters. Mas desde que se instaurou, na indústria plástica mundial, a obrigação de acertar o passo com os mandamentos da economia circular, a Coperion abriu o leque de seu mostruário, a ponto de ele hoje abrigar soluções em equipamentos para redutos como reciclagem química, reciclagem mecânica de filmes multimaterial e de PET é até suprimir o mau cheiro de resíduos pós-consumo. Na entrevista a seguir, integrante da série “Vamos falar de Reciclagem Química?”, organizada pela divisão de de plásticos e elastômeros da associação de fabricantes alemães de máquinas para as indústrias (VDMA), Jochen Schofer, chefe de vendas da unidade de negócios na área de reciclagem da Coperion, comenta a necessidade de interação entre as rotas de recuperação física e química de polímeros e a atuação da empresa nessas tecnologias que ele enxerga como vasos comunicantes.
Qual a contribuição da reciclagem química para a economia circular?
Em princípio, é grande a contribuição, mas só funciona de forma adequada em conjunto com a reciclagem mecânica e se a reciclagem química for aceita em escala mundial, além dos limites da Alemanha e Europa. Porém, em várias partes do mundo ainda persistem sistemas fragmentados de coleta e armazenagem de resíduos ou então lugares onde sequer existem alternativas para gerar um fluxo de sucata plástica de envergadura suficiente para viabilizar sua reciclagem. No momento, um número crescente de grandes corporações múltis embarca no trem da reciclagem química. A expectativa é que elas colaborem de modo considerável para implementar a infraestrutura requerida por essa tecnologia em todas as áreas do planeta.
O potencial da reciclagem química é gigantesco e os resultados até aqui obtidos são promissores, embora trate-se de tecnologia ainda na infância, enquanto a reciclagem mecânica já está estabelecida. O potencial da rota química decorre da impossibilidade demonstrada por muitos plásticos de produção crescente de serem recuperados pelo processo mecânico. Por exemplo, no setor de construção, pense na alta quantidade de plásticos misturados, resultantes da demolição de uma casa. Vale o mesmo para os resíduos plásticos provenientes da indústria automobilística. É por aí a contribuição da reciclagem química à economia circular.
Em quais áreas a reciclagem química supera a mecânica?
Sua maior vantagem é a reciclagem de qualquer tipo de plástico, compósitos inclusive, dispensando um fluxo de resíduos monomaterial como requer a reciclagem mecânica, a exemplo de apenas PE ou só PP. Mas o pré-requisito para viabilizar economicamente a reciclagem química é a disponibilidade de um fluxo de resíduos em grande volume. Já estão em projeto plantas de reciclagem química na faixa de 25 t/h.
Entre as reciclagens química e mecânica, para qual deles a Coperion se inclina?
Como um fabricante de máquinas. Nossa meta é prestar o melhor apoio à indústria plástica seu rumo para a economia circular. Já desenvolvemos soluções para ambas as reciclagens, sejam ricas ou pobres suas etapas prévias de separação do refugo, e até contribuímos para outros processos de recuperação de polímeros. Por exemplo, um método à base de solventes pelo qual dois polímeros diferentes entre si são apartados um do outro e o solvente acaba submetido à degasagem na extrusora. Mas o ponto-chave do argumento é se você carrega no uso da energia na triagem prévia dos resíduos ou, na reciclagem química, na fase final do processamento do óleo de qualidade obtido dos monômeros resultantes da decomposição dos polímeros pós-consumo. Pois quanto pior o material que sai do reator, mais processamento ele vai exigir. Trata-se de outro enfoque da eficiência econômica da tecnologia e a de reciclagem química é de uso intensivo de energia. Daí a importância da atenção nas etapas precedentes da reciclagem química em altas escalas. Para plantas menores, também pode fazer sentido econômico investir na melhora do padrão do óleo processado.
Quais os principais desafios?
Como a Coperion figura entre os pioneiros em tecnologias de processamento de resinas virgens, temos modificado nossa gama de inovações em equipamentos de modo a cobrir também o segmento de reciclagem, cuja operação envolve tópicos como materiais contaminados ou de elevados índices de umidade. Por exemplo, desenvolvemos para a reciclagem química um método que possibilita a degasagem confiável de cloretos diretamente na extrusora.
O problema do lixo plástico será mesmo solucionado pela economia circular?
As reciclagens mecânica e química não são balas de prata, embora suas contribuições para sanar a questão do lixo plástico sejam relevantes, mas muito mais precisa ser feito. Acima de tudo, o design de produtos deve evitar a fabricação e uso de plásticos de baixa reciclabilidade. Quanto mais esse tipo de material entrar no mercado, mais ele periga ser queimado em vez de reciclado. Este deveria ser o nosso primeiro objetivo em prol de uma economia circular funcional.