Muito antes do conceito 4.0 entrar na berlinda, um de seus mandamentos favoritos – menos é mais – já ressoava na indústria como sinônimo de inteligência na produção, por economizar custos e simplificar processos. A transformadora e recicladora Alcaplas deve boa parte de seu crescimento à sua receptividade a tecnologias e métodos que limam gorduras e deixam a manufatura em linha reta. Seu gesto mais recente nesta direção ainda engatinha na reciclagem no Brasil: saem da fábrica, em Xanxerê (SC), os modelos tradicionais para aglomerar e secar filmes poliolefínicos pós-consumo lavados. Entram em cena equipamentos para secagem por compactação e compressão (sistema squeezer) dotados também de pré-extrusão. Com qualidade premium, o material peletizado obtido segue para as extrusoras de reciclagem, economizando energia e eliminando do processo a movimentação do material, os silos para armazenagem dos filmes moídos e lavados e aglutinadores convencionais para compactação, com o material sendo transportado então direto para a extrusão. Nesta entrevista, Alceu Lorenzon, presidente da Alcaplas, detalha as vantagens desse avanço ao estilo menos é mais.
Como conheceu a tecnologia squeezer de aglomeração com pré-extrusão?
Começamos a operar com esses equipamentos em 2020. São utilizados para secar as sucatas de filmes submetidas ao processo de lavagem. À época, essa tecnologia foi considerada grande avanço, pois possibilitou diminuir o uso dos aglutinadores demandantes de muita mão de obra, manutenção e elevado consumo de energia. No entanto, a aquisição desta linha não nos satisfez de todo três anos atrás. Daí porque continuamos a busca de equipamentos que, além de compactar e secar os resíduos de filmes, pudessem deixar, ao mesmo tempo, este material pré extrusado, em forma de pastilhas. Um processo efetuado num único equipamento, para diminuir custos, trabalho, movimentação, gasto de eletricidade e menor degradação dos materiais processados. Em meados de 2022 descobrimos um equipamento em desenvolvimento na China que parecia atender nossos anseios. Fechamos a compra, recebemos o modelo no primeiro trimestre deste ano, ele foi ativado em março e, resumindo, já encomendamos mais duas linhas de maior capacidade. Aumentaremos assim em pelo menos 30% a capacidade de reciclagem a Alcaplas até o final do ano.
Pode descrever o processo de forma essencial?
O equipamento é instalado ao final da linha de moagem e lavagem dos filmes de PE ou PP. O material passa por uma rosca direcional que atua com pressão bem elevada, o suficiente para espremer o plástico a tal ponto que elimina a umidade. Antes de sair da máquina, o material é pré-extrusado em sistema similar ao do corte na cabeça e acaba peletizado em forma de pastilhas de aproximadamente 1cm e sem resquício de umidade, garantindo ótima qualidade visual. Afinal, acusou menos degradação que no sistema de aglutinação.
Quais as principais diferenças do seu equipamento em relação aos concorrentes no mercado?
Existem modelos semelhantes conhecidos como espremex (em, inglês, o verbo to squeeze significa comprimir), já em uso em alguns recicladores, porém demandam alguns periféricos ao equipamento principal. Outros, por sua vez, requerem aglutinadores no final do processo para garantir 100% a eliminação de umidade. Determinadas linhas também precisam de mão de obra para evitar a geração de borras na saída do material; são equipamentos que não eliminam totalmente a umidade nem efetuam a pré extrusão com corte na cabeça e peletização.
Com qual tipo específico de resíduo pós-consumo este equipamento trabalha?
Apenas filmes pós-consumo de PP e PE, refugo que é triturado e lavado. O equipamento não trabalha com sucatas limpas e secas, pois demanda entrada de resíduos molhados acompanhados por entrada constante de agua junto com os resíduos. Ele opera de forma ajustável, portanto nos permite regular quesitos tipo velocidade, temperatura e granulometria conforme a necessidade do processo. Conta com resistências de aquecimento no cabeçote e na saída.
Como é realizado o processo tradicional para compactar e aglomerar os resíduos plásticos? Quais as suas desvantagens que ele apresenta perante este novo método?
No modelo convencional, após a trituração e lavagem, os materiais passam por lavadoras e secadoras centrífugas para eliminar o excesso de água. Seguem então para a etapa de aglutinação, onde a oscilação em tópicos da qualidade final do material é muito relativa à operação, pois depende da agilidade e conhecimento técnico de cada operador. As variações podem referir-se à volumetria, degradação, umidade e produtividade, fatores influentes, como desvantagens, no resultado final. Ainda no modelo convencional o consumo de energia é elevado, pois são necessários equipamentos com grandes motores para chegar no resultado almejado. Com a instalação do squeezer com pré- extrusão essas variações foram mitigadas, pois o equipamento proporciona linearidade na produção e perfil mais uniforme dos produtos, com significativa economia energética e de mão de obra, por eliminar a necessidade dos vários equipamentos utilizados no sistema tradicional. Quanto aos quesitos da manutenção e ajustes de ferramental, as diferenças entre as duas tecnologias são ainda mais evidentes, pois o novo equipamento opera sem depender das constantes trocas de facas dos aglutinadores.
Quais as vantagens de processamento e qualidade final com base no fornecimento do pellet já pronto por este novo equipamento?
As vantagens são inúmeras. Por exemplo, do ponto de vista de segurança, muitos riscos do processo desaparecem. Em termos de qualidade, os ganhos são mais impressionantes, pois além de uniformidade, os materiais com presença de voláteis são reduzidos ou eliminados no processo pela pressão que esse equipamento compacto aplica para secagem – aliás, ele também conta com aquecimento para a granulação.