Único termoplástico recuperado permitido para uso em embalagens em contato direto com alimentos, PET reciclado grau alimentício encara, no campo dos recipientes termoformados, uma momentânea resistência cultural à sua arrancada no Brasil. “O material ainda enfrenta preconceito quanto a sua presença em embalagens por parte dos grandes compradores delas”, constata Gustavo Guglielmi Piazza, diretor da catarinense SanPet, transformadora de laminados de PET reciclado grau alimentício para termoformagem. “A maioria dos setores de compras dessas empresas carece de conhecimentos sobre esta resina recuperada e baliza suas aquisições por fatores como os custos dos termoformados moldados com ela perante a alternativa incorreta da embalagem de PET reciclado convencional, não homologado para contato com alimentos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)”. Desse modo, arremata o laminador, “boa parte dessas embalagens não certificadas acaba nos supermercados, acondicionando produtos alimentícios fora das normas técnicas”. Procurada por Plásticos em Revista, a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) não quis se manifestar.
Os fabricantes de laminados de PET reciclado grau alimentício devem ser certificados pela Anvisa para produzí-los, caso da SanPet, qualificada pela agência em 2018. “Em sua grande maioria, os recicladores que fornecem o PET para segundo uso (flakes) não precisam desse credenciamento, pois cabe ao laminador munido da necessária tecnologia de descontaminação tornar este reciclado apropriado para contato direto com alimentos”, assinala Piazza.
Ele ilustra a lacuna na informação do setor com o comportamento generalizado entre grandes redes varejistas. “São estabelecimentos que já utilizam embalagens de alimentos termoformadas com PET reciclado sem grau alimentício, produzidas a partir de laminados de fornecedores não credenciados pela Anvisa”, expõe Piazza. “O procedimento correto seria o varejista pedir ao termoformador a documentação que prova a certificação da agência para a matéria-prima reciclada na embalagem para alimentos”. Piazza estende, também no plano geral, a mesma carência de conhecimentos a setores de compras de indústrias de embalagens termoformadas. “Eles deveriam fechar a negociação dos laminados somente depois de exigir o comprovante de que o produto de PET reciclado grau alimentício está certificado pela Anvisa”, ele reitera. “Muitos termoformadores atendem com excelência esse mercado, mas seus clientes tendem a comprar embalagens de PET reciclado grau alimentício apenas se as grandes redes varejistas que eles suprem solicitarem o material certificado”.
Hoje em dia, expõe Piazza, alimentos como ovos, bolos, salgados, frios, frutas, verduras e produtos de panificação já são acondicionados em potes e caixas termoformadas de PET virgem ou reciclado grau alimentício. Uma frente promissora, ele aponta, é a oferta em supermercados de muitas frutas a granel, sujeitas a contaminações. “Essa praxe persiste, apesar de haver uma campanha apoiando o embalamento, para evitar o manuseio anti-higiênico desses alimentos”, nota o diretor da SanPet.
A catequese começa a dar certo
Munida em 2018 da certificação da Anvisa para seus flakes de PET grau alimentício, a recicladora gaúcha Sulpet procura desde então catequisar termoformadores sobre a relevância do uso do material em embalagens de alimentos. “Houve algum crescimento nas vendas, mas insatisfatório, pois muitas indústrias permanecem empregando o PET reciclado convencional, por ser mais barato”, avalia do diretor Décio Boschetti. “A perspectiva para este ano é boa, por causa do nosso credenciamento e pelo fato de o setor alimentício não ser tão afetado pela recessão, pois envolve produtos essenciais”.
Na selfie atual da conjuntura, Boschetti constata que, nas negociações com transformadores, o fator custo ainda se sobrepõe ao apelo ambiental. “A maioria se preocupa apenas com preço, mas já se nota uma mudança gradual nas empresas maiores, ao buscarem o flake certificado movidas, em especial, pela exigência de seus clientes, hoje mais antenados na sustentabilidade, inclusive por gerar valor para suas marcas ”, ressalta o reciclador. “Até por obrigação legal, o apelo ambiental caminha para ser mais importante nas transações que o custo do reciclado”.
Em regra, varejistas e fornecedores de alimentos envasados em potes e caixas termoformados com PET reciclado grau alimentício não divulgam a presença do material nos recipientes. “Pode ser por desinformação ou incerteza da origem do material reciclado que, nesta aplicação, precisa da certificação da Anvisa”, atesta Boschetti. “Muitas vezes as embalagens contêm PET reciclado não certificado, daí porque não se informa seu uso”. Para o diretor da Sulpet, os órgãos reguladores precisam intensificar a fiscalização de laminadores e termoformadores atuantes no segmento.
Outra barreira na rota do PET reciclado grau alimentício, distingue Piazza, é a dificuldade de grandes compradores das embalagens termoformadas com o material em aceitar que sua qualidade não se iguala à oferecida por PET virgem e que elas são algo mais caras que recipientes similares produzidos com o poliéster reciclado convencional, proibido pela Anvisa para contato direto com alimentos. “Hoje em dia, PET virgem é a mais importante referência de consumo e custo para o nosso mercado, mas espero para breve a mesma mudança ocorrida na indústria papeleira”, confia o dirigente. “Apesar do custo de produção acima do papel virgem, o tipo reciclado tem toda a sua oferta absorvida, um caso de diferença de preços superada pela conscientização ambiental”. Pela carteira de pedidos da Sanpet, Piazza julga que termoformadores menores e médios são os clientes que mais apostam no PET reciclado grau alimentício.
Ao cruzar os dados da nova edição do Censo da Reciclagem da Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet), Piazza conclui que, das 311.000 toneladas do poliéster pós-consumo recuperadas no país em 2019, o reduto de laminadores/ termoformadores consumiu cerca de 17% ou 52.000 toneladas. Desse total, PET reciclado grau alimentício respondeu por 11%, ou 5.800 toneladas. O diretor da SanPet calcula em 5.500 t/mês a capacidade brasileira para laminar este reciclado requintado, na qual sua empresa comparece com potencial estimado em 7.000 t/a.
Apesar da economia grogue com o corona, Piazza espera fechar o ano no nível de vendas de 2019. “Alguns segmentos de alimentos estão com produção acelerada, movidos pelo aumento do consumo doméstico, pois mais pessoas estão se alimentado em casa”, ele argumenta. “Outro ponto a favor dos termoformados de PET (virgem ou reciclado) é a virada na imagem do plástico descartável, passando de vilão a aliado da saúde pública ao evitar o risco de propagação do vírus com seu uso único”.
Cada um no seu quadrado
Não tem pra ninguém: plástico recuperado em embalagens de alimentos é PET reciclado grau alimentício, determina a Anvisa
Seja por comunicação falha ou por motivos como sua presença relativamente nova no mercado, a cadeia de PET reciclado grau alimentício, desde recicladores a canais do varejo e seus fornecedores, revela significativo desconhecimento sobre a regulamentação da saúde pública sobre o uso de resinas de segundo uso em embalagens de alimentos. A condição de PET reciclado grau alimentício como único plástico recuperado admitido para esta aplicação e a abrangência das resoluções relativas ao material são detalhadas nesta entrevista concedida pela Gerência Geral de Alimentos e a Gerência Geral de Fiscalização Sanitária da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
PET reciclado grau alimentício (food grade) é o único plástico recuperado admitido pela Anvisa para contato direto com alimentos ou há espaço para o PET reciclado convencional?
Somente o PET pós-consumo reciclado de grau alimentício (PET-PCR grau alimentício) pode ser utilizado na elaboração de embalagens em contato direto com os alimentos, desde que previamente aprovado ou registrado pela Anvisa, conforme o caso.
PET-PCR grau alimentício é o PET obtido após um processo de reciclagem e descontaminação do PET pós-consumo, PET de descarte industrial ou PET reciclado. O processo de reciclagem e descontaminação consiste numa tecnologia de reciclagem física ou química com alta eficiência de descontaminação, que tenha sido demonstrada por procedimento de validação normalizado (challenge test ou equivalente). Por isso, o processo requer a autorização da Anvisa mediante o registro da resina e do artigo precursor ou embalagem final.
A primeira etapa de regularização de embalagens elaboradas com PET-PCR grau alimentício é o registro da resina de acordo com a Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) n. 20, de 26 de março de 2008. Este registro prévio à comercialização é obrigatório. Além disso, o artigo precursor ou a embalagem de PET-PCR grau alimentício elaborados com resina previamente aprovada devem ser registrados perante a Anvisa antes da sua comercialização.
Pente-fino tecnológico
“A afirmação da Anvisa relativa à exclusividade do PET reciclado para contato com alimento está correta”, endossa Auri Marçon, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet). “Cabe complementar que existe ainda regulação referente ao uso em camadas ou multicamadas, cujo processo de fabricação, desde que aprovado pela agência, também pode permitir o uso do poliéster reciclado”. O dirigente ressalta, a propósito, a disponibilidade de tecnologias de renome mundial para gerar PET reciclado grau alimentício. Por exemplo, as soluções da Kreyenborg, Gneuss, Krones e Polymetrix. “Elas podem realizar descontaminações nas diversas etapas do processo, qualificando as empresas detentoras dessas metodologias a submetê-las à avaliação da Anvisa”. Marçon afirma não contar com os dados oficiais da agência sobre o número de empresas habilitadas a fornecer PET grau alimentício. “No entanto, somando-se produtores de matéria-prima e/ou integrados (reciclam e/ou descontaminam e aplicam na fabricação de um produto acabado de alto nível) identificamos, no mínimo, 12 plantas homologadas pela Anvisa, das quais oito associadas à Abipet”.
Qual a posição da Anvisa a respeito do envase de alimentos em embalagens termoformadas com duas camadas de PET virgem nas extremidades e uma de PET reciclado convencional entre elas?
A camada intermediária deve ser fabricada em PET pós-consumo reciclado de grau alimentício que tenha passado por processo de descontaminação aprovado pela Anvisa ou comprovando-se que a camada externa de PET virgem funciona como barreira funcional. A única previsão de uso de PET reciclado “convencional” em camadas intermediárias de materiais multicamada em contato com alimentos é regulamentada pela Portaria n. 987, de 08 de dezembro de 1998. Este regulamento permite o uso de camada de PET reciclado na camada intermediária, desde que não tenha contato direto com alimento, sendo separado por uma camada de PET virgem com espessura mínima de 25 micra e sua aplicação seja o acondicionamento de bebidas não alcóolicas carbonatadas.
A permissão da Anvisa para uso de PET reciclado grau alimentício em embalagens abrange qualquer tipo de alimento, seja in natura ou industrializados?
Todos os materiais destinados ao contato com alimentos devem atender aos regulamentos da Anvisa. Isso inclui as embalagens e equipamentos destinados a conter os alimentos desde sua fabricação à entrega ao consumidor e, ainda, aqueles utilizados durante a elaboração, fracionamento, armazenamento, comercialização e consumo. Ou seja, tanto as embalagens destinadas a conter alimentos in natura quanto as destinadas a alimentos industrializados e até mesmo recipientes descartáveis, caso de copos, pratos, bandejas, potinhos e embalagens para pizza.
A permissão de uso de PET reciclado grau alimentício em materiais em contato com alimentos é regulamentada pela Resolução RDC n. 20/2008. Este regulamento aplica-se a materiais em contato com produtos industrializados e em contato com alimentos. Durante a análise do processo de registro de embalagens de PET pós-consumo reciclado de grau alimentício pela Anvisa, são verificadas as condições de uso pretendidas para o material em questão. As embalagens finais devem ser destinadas ao acondicionamento dos alimentos especificados na autorização ou registro concedidos pela agência e para condições definidas nesta documentação.
Vitrines portáteis
PET reciclado grau alimentício abre caminho sem volta em recipientes termoformados
Focada na termoformagem de blisters e embalagens de ovos, comida oriental e folhas, legumes e verduras, a Alupet cresce desde 2015 na invejável média anual de 20%, situa o diretor Rino Kurata. “Ao final de 2018, PET reciclado grau alimentício encareceu a ponto de seu valor aproximar-se da resina virgem”, ele nota. “Isso nos forçou a enxugar as margens ao máximo para manter uma expansão sustentável no trabalho com essa matéria-prima, uma situação de alta de preços em vigor até agosto passado, passando então a um lento declínio”. Quanto ao PET reciclado convencional, o dirigente comenta que, apesar do preço inferior ao do flake grau alimentício, seu espaço vem se restringindo a embalagens que exigem a certificação da Anvisa para uso em contato direto com alimentos. “Portanto, não concorrem entre si”.
A procura por termoformados de PET reciclado grau alimentício tem avançado na garupa da sustentabilidade, mas o corona brecou a ascensão. “Tivemos uma retração este ano menor que a de outros setores de embalagens, devido à alta demanda por delivery, mas mesmo assim as vendas recuaram e retomadas fortes só devem ocorrer com o vírus sob controle e com a volta da confiança do público para consumir fora de casa”. Apesar desses percalços, pondera Kurata, à medida em que despontem novas tecnologias de lavagem e descontaminação, PET reciclado grau alimentício entrará cada vez mais no radar da indústria de transformação.
Meio a meio
Nos idos de 2008, ele rememora, a procura pelas embalagens da Alupet era impelida em 70% pelo preço e em 30% pela sustentabilidade. “Hoje em dia, a proporção é equivalente; o preço do reciclado ainda conta muito perante o de PET virgem, mas a influência da questão ambiental ganhou corpo na negociação”, ele acentua. “Hoje em dia, as redes varejistas estão mais cientes de sua responsabilidade no reuso de embalagens recicláveis, uma postura que deve aumentar por conta da pressão vinda da nova geração de consumidores engajados na proteção ambiental”. No passado, ele enfatiza, quando PET reciclado grau alimentício era novo na praça e não havia exigência rígida dos órgãos reguladores, os compradores de embalagens de alimentos não cobravam dos termoformadores a certificação da Anvisa para o material, cuidado hoje adotado pela grande maioria antes de fechar a compra. “Os poucos transformadores, em geral menores, que ainda não usam a matéria-prima reciclada certificada para embalagens de alimentos. Recomendamos que o façam na medida em que a fiscalização da Anvisa se intensifique”, antevê Kurata.
Um sinal dessa tendência, ele aponta, é a exigência colocada por empresas da União Europeia para que as embalagens das frutas brasileiras que elas importam tragam a identificação R-PET. “Ou seja, preferem o reciclado à resina virgem”. Kurata acrescenta que, de catadores a transformadores, a cadeia nacional tem sido prejudicada pela importação de embalagens de PET reciclado para frutas de origens como Espanha, China, Egito e Turquia. “Entram isentas de tarifas de importação de modo a ajudar a promover a exportação das frutas daqui”, reclama o dirigente, ignorando qualquer medida para contestar esta prática.
Reciclado na clausura
O câmbio foi o pivô do desembarque da transformadora Galvanotek no PET reciclado. “Utilizávamos resina virgem em todos os produtos, exceto em itens da linha de plantio”, conta a analista de qualidade Micheli Persch. “Ao final de 2016 e início de 2017 o dólar supervalorizou-se frente ao real e, em decorrência, a resina virgem encareceu nos obrigando a avaliar a alternativa do reciclado”. Foi assim, ela completa, que a empresa homologou junto à Anvisa a sua solução multicamada. “Consta de duas camadas de PET virgem nas extremidades e uma da resina reciclada convencional enclausurada no centro, com total garantia de segurança dos alimentos acondicionados em nossas embalagens termoformadas”, explica Micheli, encaixando que o desenvolvimento reduziu para 40% o consumo de PET virgem na produção da empresa. “No ano passado, mesmo com a superoferta deixando mais atraente o preço da resina virgem, baixamos para 20% nosso consumo do material, conciliando competitividade econômica com apoio ao desenvolvimento sustentável”.
Micheli constata no mercado um preconceito em relação ao material reciclado que, a seu ver, é fruto da desinformação. “Poucos sabem ser possível purificar e reutilizar o PET pós-consumo na mesma aplicação inicial”, ela assinala, supondo que o desconhecimento talvez tenha a ver com a reduzida quantidade de transformadores munidos da mesma tecnologia da Galvanotek.
Preço ainda é o fator-chave na decisão de compra da embalagem multicamada da empresa, seguido por critérios de qualidade e segurança alimentar, enfileira Micheli. “Mas nossos clientes optam por pagar mais caro pela garantia de receberem produtos seguros e de alto padrão”, frisa a analista. “ “Além do mais, mesmo ainda em ritmo pouco acelerado, o mercado está mudando e já é possível distinguir um público que compra tendo em mente o apelo ambiental. Por sinal, atendemos grandes marcas que se movimentam nesse sentido, em sintonia com consumidores que cada vez mais escolhem os produtos por critérios sustentáveis”.
Receio infundado
Claudia Sequeira, diretora executiva da termoformadora Alfapack, comemora o salto de 55% nas vendas dos últimos três anos de suas embalagens contendo PET reciclado grau alimentício. Afinal, o ponto de partida era um cenário de grande resistência dos clientes a comprar esses recipientes. “Alegavam receio de que, por se tratar de material reciclado, o alimento não ficasse livre de contaminações e nós tínhamos de convencê-lo da segurança da nossa embalagem, moldada com laminado de fornecedor credenciado pela Anvisa, a SanPet”.
Apesar da maior receptividade do mercado ao PET reciclado grau alimentício, Claudia concorda que, em geral, fornecedores de alimentos e varejistas ainda preferem omitir da embalagem a informação de que sua matéria-prima é um plástico recuperado. “Acho que o cliente teme que seu produto não seja bem visto, por ser embalado em resina reciclada”, ela supõe. “Quando orçamos uma embalagem e oferecemos a versão em PET reciclado grau alimentício, ainda encontramos certa relutância do comprador, por envolver material recuperado”. Para virar essa página, considera a diretora, “é preciso difundir mais a segurança proporcionada ao conteúdo envasado pelo PET reciclado grau alimentício e seus benefícios ao meio ambiente”. Do lado positivo, Claudia reconhece que seus clientes vêm solicitando a certificação da matéria-prima concedida a laminadores pela Anvisa e, nas decisões de compra das embalagens de PET reciclado grau alimentício, o preço ainda é o fator-chave mas o apelo da sustentabilidade é cada vez mais levado em conta.
Mercado em expansão
“A maioria dos clientes hoje solicita as certificações da Anvisa para PET grau alimentício”, concorda Edison Peraro, diretor da termoformadora Peraro. “Ou seja, o comprador da embalagem fiscaliza sua adequação ao uso em alimentos ao exigir do fornecedor a documentação do credenciamento da Anvisa”. Outra boa nova, ele enxerga, é o aumento de laminadoras de PET certificadas pela agência regulatória. “Isso significa que compradores da embalagem e consumidores de alimentos estão cobrando maior cumprimento das normas de fabricação pelos transformadores”.
Na calculadora de Peraro, suas vendas de embalagens de PET reciclado grau alimentício subiram ao redor de 50% no último triênio. “É um saldo bastante satisfatório, devido não só ao aumento da demanda, mas da quantidade de novos produtos acondicionados neste material”.
Oportunidade desperdiçada
Marcos Roberto Ramon Batista, CEO da termoformadora Dolly Plásticos deixa claro que a escalada de PET reciclado grau alimentício está escrita nas estrelas. “A expansão está garantida e o desafio agora é conscientizar sobre quem produz e quem consome o alimento, o que não deve demorar com o mundo hoje voltado para questões ambientais”.
Mas ainda há óleo na pista. Batista comenta ainda ser grande o número de embalagens de alimentos produzidas com PET reciclado convencional, não homologado pela Anvisa. “Muitas empresas pequenas operam focadas apenas nas margens de lucro, sem atentar para os riscos dessa embalagem que ofertam”, observa o CEO, acrescentando que um número muito pequeno de clientes reivindica do transformador da embalagem a certificação de PET reciclado grau alimentício. “Acredito na mudança desse comportamento a curto prazo e fazemos nossa parte no processo trabalhando com laminador credenciado pela Anvisa”. Em paralelo, Batista reconhece que varejistas e fornecedores de alimentos desperdiçam uma oportunidade de realçar seu apoio à economia circular ao não informar na embalagem que a matéria-prima é PET reciclado grau alimentício. “A desinformação e descomprometimento levam algumas empresas a omitir o material empregado, sob temor de rejeição do consumidor final”, considera o dirigente. “É preciso conscientizar o público de que estas embalagens são adequadas ao envase de alimentos e que seu fornecedor está aliado à sustentabilidade”.
Apesar desses entraves, Batista não tem do que se queixar. De 2017 ao final de 2019, suas vendas de embalagens termoformadas de PET reciclado grau alimentício expandiram ao redor de 115%. “Um resultado ótimo e começamos 2020 muito bem, pois a pandemia impulsiona um crescimento atípico com a disseminação dos serviços de delivery, uma mudança nos hábitos de consumo que deve continuar quando a situação se normalizar”.