Com a crise, muitos jovens não conseguem trabalho em indústrias porque elas exigem experiência dos candidatos. Ao ingressar no seu primeiro emprego em transformadoras de plástico, a nova geração vê nele, a princípio, uma forma de ter seu ganha pão, mas sem a expectativa de formar uma carreira dentro da empresa. Seu objetivo é ganhar dinheiro no momento, sem pensar no seu futuro ali.
Com o passar do tempo, esses novos operadores de máquinas se adaptam ao trabalho, mas, sem o aprimoramento necessário, perdem espaço para os colegas mais qualificados. A política de cargos e salários rege que você tenha a oportunidade de crescer profissionalmente, mas esta ascensão advém de trabalho duro e formação adequada, o que requer tempo para acumular experiência.
Hoje em dia, o jovem acha menos estafante e cansativo um trabalho informal do que ficar preso numa fábrica operando máquina. Eu ingressei neste posto em 2005. Desde então, eu não enxergo, no geral, maiores mudanças nos requisitos em termos de escolaridade para alguém exercer a função de operador de máquinas. Tanto antes como agora, exige-se a conclusão do ensino médio. Em paralelo, houve sim, nesses 12 anos, um grandioso avanço tecnológico em máquinas e matérias-primas, levando transformadoras e seus operadores a recorrerem a cursos técnicos para acompanhar a evolução. No rastro dela, os empregadores criaram métodos de medir a produtividade, exigindo assim que todos os operadores seguissem diversas planilhas, calculando a produção horária e seu grau de eficiência.
Apesar da escassez de informação disponível em 2005, os operadores buscavam se especializar de alguma forma. Hoje em dia, o quadro se inverteu. Alguns encargos do trabalho são caracterizados por grande demanda de informação para executá-los, mas o operador não demonstra tanto interesse em se profissionalizar nesse sentido. Em determinados casos, pude notar que o jovem operador não se interessa pelo trabalho de manufatura em si, no chão de fábrica, com uma visão de ganhos mais rápidos e melhores em outras atividades.
Com o avanço das tecnologias digitais, os jovens perdem o interesse de se qualificar em indústrias transformadoras, optando por ambientes como bancos, escritórios e afins, devido à expectativa de maior remuneração. É justo por isso que a indústria não deve deixar complicar ainda mais esse cenário. Ou seja, para existir uma indústria transformadora e rentável (para todas as partes), deve haver um investimento no jovem, para capacitá-lo a atuar com excelência no ramo.
Em meus 12 anos de ativa, o salto aferido na produtividade e o endurecimento da concorrência competitiva impuseram a todos os setores produtivos o desenvolvimento de métodos e soluções para diminuir custos de fabricação. Face a essa nova realidade, as indústrias deveriam investir em cursos preparatórios para seus operadores, acenando com incentivos como transporte, alimentação e até uma espécie de bônus por eles frequentarem as aulas e prêmio extra ao concluir o estudo. Vale o mesmo para a concessão de bolsas de estudo e bonificações para sugestões aprovadas para melhorar a produtividade.
Também seria pertinente investir em ferramentas de comunicação, como campanhas de conscientização, para fazer o jovem enxergar nas indústrias transformadoras algo inovador em seu currículo. O plástico está presente em toda a nossa vida cotidiana, mas o jovem não enxerga isso; é preciso alguma ação da indústria para atraí-lo e convencê-lo de que trabalhar em fábrica é prazeroso e produtivo.
São poucas as indústrias que investem em seus operadores. No geral, elas preferem adquirir as novas tecnologias e afins, mantendo o operador apenas com o conhecimento básico da sua função. Nesse quadro, quem consegue sobressair por suas habilidades naturais, apesar do preparo a desejar, permanece na empresa. Mas aquele colega que já não se dá tão bem com as inovações acaba descartado e substituído. Acho que, com isso, vários futuros preparadores de máquinas perdem o interesse por se aprofundarem em novas técnicas e, assim, trazer mais benefícios ao processo em si. Esses jovens talentos acabam procurando outro emprego que lhes dê acesso a mais informações e, com isso, a ganhos maiores. •
Valdecir Gonçales Flores é Líder de Produção/Preparador de Máquinas Injetoras da Skylux – Iluminação e Segurança Eletrônica.