“Eu sou do tempo em que fumaça de fábrica era sinal de progresso”, afirma o compositor Toquinho, hoje na curva dos 74 anos. Pois no século passado, uma fábrica de resinas não simbolizava apenas desenvolvimento, mas um investimento tão bem visto e estratégico para o Brasil a ponto de, na largada da petroquímica nacional, o governo figurar como sócio de produtoras de polímeros, ombro a ombro com o capital estrangeiro e o empresariado local.
Vida que segue e tudo indica que, daqui para frente, os investidores terão de suar sangue para convencer a sociedade de que uma nova unidade petroquímica contribuirá para o bem estar e felicidade geral. Uma amostra dessa parada dura é a noticiada sanha de ativistas ambientalistas nos EUA contra a construção de um complexo petroquímico do grupo taiwanês Formosa Plastics no Estado da Louisiana. Sua magnitude já aflora na cifra engatilhada – a bagatela de US$ 9.4 bilhões.
A Formosa pretende erguer, na localidade de Saint James Parish, um conjunto de unidades de polietileno, polipropileno e monoetileno glicol, acenando com a abertura da ordem 1.200 empregos diretos. A contenda com os ativistas já guindou para a Justiça, mas, seja como for, o fato é que eles já deixaram claro estar se lixando para aqueles argumentos com que investidores na petroquímica conseguiam no passado luz verde no ato para projetos de plantas – a geração de trabalho, riqueza e evolução tecnológica. Segundo a mídia, os ativistas na Louisiana enxergam no cogitado complexo industrial um poluidor do meio ambiente e nocivo para saúde pública das comunidades em seu entorno. Dois ambientalistas, por sinal, foram acusados de aterrorizar lobistas da Formosa ao largar tambores de pellets de resinas diante da casa deles, crime punível nos EUA com 15 anos de cana brava.
Ainda não se sabe o fim da novela. No entanto, o belicismo crescente desse ativismo na mídia não especializada, em regra apoiadora, prenuncia a possibilidade de órgãos oficiais de proteção ambiental esquadrinharem com mais severidade e meticulosidade os planos de investimentos petroquímicos que lhe caiam nas mãos de agora em diante.
Grande parte desse salseiro poderia ser evitado se o setor plástico mundial soubesse comunicar a inestimável contribuição do material para a qualidade de vida e que o descarte incorreto não é culpa dele, mas de um consumidor insensível à educação ambiental. A cadeia brasileira do plástico não destoa dessa inépcia global para apresentar seus argumentos. Enquanto isso, ecoxiitas e empresas de materiais alternativos, caso da produtora de papel Suzano (ex-acionista de petroquímicas), deitam e rolam posando na mídia de vestais da sustentabilidade, clamando pela substituição do plástico. Para variar, a indústria plástica não dá um pio para replicar e, como diz o ditado, quem cala consente.
Tem mais: brand owners que são parceiros de carteirinha dos plásticos caçam a simpatia da opinião pública trombeteando lançamentos de embalagens cuja auréola verde é ilustrada pela redução da quantidade de plástico utilizada. Mudar de material, nem pensar.
Um exemplo saído do forno é a forma como a Nestlé enaltece em release a sustentabilidade da nova embalagem do seu cereal infantil Mucilon. “A embalagem de sachê em monomaterial (disponível no formato sachê de 180g) é a primeira da linha Mucilon a utilizar essa tecnologia que contribui para uma melhor reciclabilidade da embalagem e faz parte da Iniciativa RE da Nestlé, que tem como uma de suas principais metas ter 100% das embalagens recicláveis ou reutilizáveis até 2025. Além disso, essa mudança do sachê proporcionará em um ano a retirada de mais de 280 toneladas de plástico, diminuindo o impacto negativo no meio ambiente”. Em suma, a empresa sequer informa às claras qual o material do sachê monocamada, não abre a resina que o viabilizou e ainda taxa o plástico de carrasco da natureza ao fim do texto. Com amigos desse tipo, o setor plástico não precisa de inimigos.
A indústria do plástico precisa, com urgência, persuadir a sociedade de que é peça chave da economia circular e não opositora dela. A perdurar o atual estado de coisas, tende a ficar cada vez mais para trás a percepção de que fábrica petroquímica é sinônimo de confiança no futuro.