Quanto mais quente, melhor

O clima ideal para o polo de ventiladores em Catanduva, o maior do país, abre sol para os componentes injetados

Estripulia divina ou praga rogada pelas mudanças climáticas, o calor recorde dos últimos anos tem atropelado a frieza da economia brasileira e impulsionado a compra de equipamentos para refrescar os ambientes. Por essas e outras, o ar refrigerado hoje degusta uma penetração que lhe tirou a conotação de requinte para poucos e, na banda dos bolsos menos forrados, os ventiladores passaram a ser vistos até como elementos chave da decoração por consumidores mais dispostos a pagar pela qualidade e recursos que aumentam o valor agregado desses eletroportáteis. No tórrido interior paulista, essas boas novas inspiram o polo de ventiladores de Catanduva, o maior no gênero do país, e um transformador de peso em peças técnicas injetadas de plástico que, aliás, deram um passa fora nas metálicas. “Estima-se que Catanduva represente mais de 50% da produção nacional de ventiladores”, atesta Fábio Rinaldo Manzano, secretário de desenvolvimento do município a cerca de 400 km da capital paulista. “Ainda é grande o espaço para nossas indústrias crescerem, tendo em vista as temperaturas bastante elevadas e o alto preço dos aparelhos de ar condicionado, assim como a limitação de seu uso em locais fechados e o alto consumo de energia elétrica”.

Ao lado da chegada de empresas do setor metalúrgico, o polo de ventiladores começou a tomar corpo em Catanduva na década de 1960, assinala Manzano. “Hoje temos quatro grandes indústrias desses aparelhos na cidade, fabricantes também de produtos como espremedores de frutas, liquidificadores, fogões, fornos, exaustores e chapas”. Para o secretário de desenvolvimento, o clima quente da região, a oferta de distritos industriais pelo poder público, a vocação para a metalurgia e a disponibilidade de centros de capacitação de mão de obra ajudaram a materializar o polo. “A partir de 2017, a prefeitura também passou a oferecer benefícios fiscais a empresários que implantem negócios em Catanduva ou que invistam na sua expansão”, ele acentua. “E no ano passado foi revogada a lei municipal que restringia o funcionamento de empresas a horários específicos, incentivando a livre concorrência”.

A recessão iniciada em 2015 não poupou o polo de ventiladores, mas não lhe infligiu queimaduras de terceiro grau. “Apesar de contribuir para dificuldades do setor, não houve a interrupção por completo das atividades das empresas”, analisa Manzano. Em paralelo, nota, a crise ensejou ajustes, em especial quanto ao número de funcionários, e levou à terceirização de várias etapas da produção no polo, voltado com primazia para o mercado interno.

Aumento de marcas
“Apesar do calor, a economia andou de lado nos últimos três anos e ainda caminha a passos curtos”, pondera Luis Fernando de Jesus, gestor comercial da Loren Sid, indústria na ativa desde 1969 e mais antiga do polo catanduvense. “De 10 anos para cá, houve um aumento significativo de novas marcas no segmento de ventilação, elevando assim a oferta de aparelhos”. Para este ano, o executivo espera que a realização de reformas pelo governo Bolsonaro provoque reflexos positivos a curto e médio prazo no mercado.

A Loren Sid opera um parque de 39 injetoras e, no passado, elas processaram na faixa de 2.000 toneladas, situa Jesus, incluindo no rol poliamidas, poliolefinas, poliestireno e copolímero de acrilonitrila butadieno estireno (ABS). Entre os avanços recentes nos ventiladores da empresa, para acertar o passo com consumidores agora mais exigentes, o executivo ressalta o aprimoramento dos motores e do design e, em alguns modelos, a adoção de hélices de seis pás. O ventilador mais vendido em 2018, ele distingue, foi o modelo Tufão 60 cm 150W. “O principal motivo é a durabilidade do aparelho”, atribui o gestor comercial. “Além do mais, esses ventiladores possuem alta vazão, rotação e força e seus motores, fabricados internamente, contam com protetor térmico que lhes permite trabalhar sob temperaturas de verão nas regiões mais quentes do país”.

Na vitrine da Venti-Delta, a mais nova das grandes indústrias do polo de Catanduva, em cena desde 1992, o campeão de vendas é o ventilador Lunik. “É um modelo totalmente de plástico, com design premiado, um ano de garantia e certificado com selo Procel A, garantia de máxima eficiência com mínimo dispêndio de energia”, descreve o diretor comercial Thiago Trefliglio. “Hoje em dia, consumo de eletricidade e design são os primeiros requisitos para os ventiladores que lançamos, pois o consumidor está ligado em novas tendências e quer decorar a casa com um produto diferente; não está mais atrás apenas de vento”.

Mas embora queira baixar a conta de luz, nota Trefiglio, o público desconhece o assunto a fundo. “Isso atrapalha o desempenho de quem fabrica ventilador com eficiência energética, pois, infelizmente, o comprador atenta mais para o preço do aparelho do que para o gasto com energia”. Para o diretor, apenas 10% dos consumidores adquirem o ventilador por ser econômico ou portar o selo Procel A. A mídia deveria preencher essa lacuna de informação, ele considera.
Na selfie atual de sua infra fabril, a Venti-Delta conta com 25 injetoras e consumiu na faixa de 10 t/mês de resinas no ano passado, estima Trefiglio. “As perspectivas são boas para este ano, mas o governo precisa desburocratizar o ambiente de negócios, diminuir impostos para gerar emprego e o principal: investir na construção civil”.

Pegando em cheio

PP e PA mandam ver no polo de Catanduva

pegando em cheio

Polipropileno (PP) é o polímero campeão em gabinetes de ventiladores. “Ele tem avançado sobre o metal por permitir uma customização mais barata e fácil, ajustando-se às necessidades dos transformadores e seus clientes”, interpreta Thiago Gomes Shinzato, líder do segmento eletrodomésticos/PP da Braskem, único produtor da poliolefina no país. “Desse modo, PP viabiliza produtos mais leves e resistentes à corrosão”. Na injeção de grades frontais de ventiladores, exemplifica o executivo, PP contribui para o aumento da eficiência, ao permitir que o vento seja direcionado e, em decorrência, intensifica a ventilação dispensando ajustes nas hélices ou na potência do aparelho. Entre os grades da série Maxio® mais afinados com componentes injetados de ventiladores, Shinzato se aferra ao homopolímero nucleado de índice médio de fluidez H 202C. “Além de aumentar a produtividade da injetora, reduz o peso das peças e o consumo energético no processo”, ele justifica.

Os bastidores dos ventiladores são a praia das poliamidas (PA), pois adequam-se aos esforços mecânicos sofridos pelo eletroportátil, prolongando assim a sua vida útil, explicam Aurelio Mosca e Alexandre Pastro, respectivamente diretores de vendas e marketing da componedora Krisoll. “Entre os componentes, figuram hélices e pás de modelos industriais, buchas, componentes de fixação e montagem, carcaças e suportes de motores, botões e sistemas de acionamento”, eles ilustram, acrescendo que, em geral, tratam-se de peças de PA 6.6 com e sem carga ou aditivação, a depender da aplicação. Em relação ao portfólio da Krisoll acenado para peças de ventiladores, Mosca e Pastro destacam compostos reforçados e coloridos para itens como botões e sistemas de acionamento; materiais com 30% de fibra para hélices e pás e aplicações em contato com calor, caso de componentes de motores, são o alvo de compostos com não revelado aditivo de proteção térmica.

A Krisoll se esforça por estreitar laços com o polo de ventiladores de Catanduva, onde já fornece materiais como PA 6 e 6.6 não reforçados e PA 6.6 branca para botões dos aparelhos. “No entanto, algumas empresas dali importam o produto acabado da China, o que diminuiu nossas vendas de forma considerável”.

Nos últimos anos tem crescido em peças de ventiladores, tal como em todos os segmentos de PA, o uso, em especial em compostos, de resina reciclada, observam os dois diretores. A preferência não é reza no altar da sustentabilidade, eles esclarecem, mas fruto da escassez que encareceu PA 6.6 virgem perante outros materiais, efeito da escassez mundial do ingrediente adiponitrila surgida em 2018. No polo de Catanduva, explicam Mosca e Pastro, o grosso das aplicações vai para PA 6.6 com fibra de vidro, composto de preço onerado pela insuficiente produção internacional do polímero, ensejando a migração dos transformadores para alternativas como os reciclados. “Como a Krisoll focaliza materiais prime, não contemplamos por ora crescimento significativo nas vendas para Catanduva, mas continuamos atentos a aplicações em que podemos oferecer algum diferencial ao cliente”.

Única produtora de PA 6.6 no país e componedora desse polímero e de PA 6, a Solvay mantém o polo de Catanduva na carteira de clientes. “As poliamidas são empregadas com dois enfoques, em especial: peças estruturais e componentes elétricos”, delimita Emy Yanagizawa, diretora comercial de performance polyamides do grupo belga para as Américas. “Na linha com demanda estrutural destaca-se a base de motor dos ventiladores, que requer estabilidade dimensional sob temperaturas elevadas e resistência à tração e rigidez superiores mesmo em ambientes de alta umidade, um quadro que pende para a aplicação de PA 6.6 termoestabilizada e com 30-50% de fibra de vidro”. Engrenagens e buchas de vedação, insere Emy, são componentes de ventiladores cativos de PA 6.6, mérito de níveis de resistência mecânica e ao desgaste inalcançáveis por PA 6.

Entre as joias da coroa dos grades da Solvay,a executiva indica o material Technyl A118 V50 Black para peças estruturais de ventiladores e, para engrenagens, a pedida é Technyl Star A205F. “Provê excelente acabamento superficial e processabilidade em moldes de injeção de múltiplas cavidades”.

Na raia de PA 6, a Lanxess, produtora do polímero na Alemanha e componedora no Brasil, também manda ver em Catanduva. “Este mercado utilizava basicamente PA 6.6 com fibra de vidro, mas devido aos altos custos da resina causado pela escassez mundial sem término a curto prazo do insumo adiponitrila, levou os usuários a alternativas, das quais a melhor é PA, dadas as suas propriedades mecânicas similares e seu acabamento, processabilidade e resistência superiores às de PA 6.6 ¨, sustenta Anderson Maróstica, gerente de desenvolvimento de aplicações e serviços técnicos da unidade de negócios de polímeros de alta performance da Lanxess no Brasil. Além do mais, completa, paradas de manutenção em várias das principais polimerizações de PA 6.6 no mundo estão programadas para este ano e 2020. “Portanto, a oferta global de PA 6.6 continuará apertada e encarecida”, emenda Maróstica. “Fornecemos grades de PA 6 Easy Flow, com teores de 50% (Durethan BKV50H2.0EF) e 30% ((Durethan BKV30) de fibra de vidro, para deslocar PA 6.6 reforçada de componentes de ventiladores como grades e suportes de paredes”, ele ilustra. Os compostos Easy Flow, completa Maróstica, permitem o trabalho sob temperaturas de processo inferiores às requeridas pelos tipos convencionais de PA 6, além de acenarem com redução do ciclo de injeção e primor no acabamento. Outra bala de prata da Lanxess para o despejo de PA 6.6 vingar nos ventiladores é o serviço técnico HiAnt. Abrange a seleção de materiais, construção funcional e design de componentes e o emprego de ferramentas virtuais. “Por exemplo, um programa de simulação para projetar as peças com os plásticos corretos e design aperfeiçoado”, coloca o especialista.

a cor do ventoA cor do vento

Concentrados ajudam a mudar a imagem dos ventiladores e energizar os impulsos da compra

“Hoje em dia, os ventiladores apresentam design diferenciado, recurso que aumenta a eficiência no desempenho do aparelho e confere mais harmonia à decoração”, percebe Roberto Herrero, coordenador do laboratório de cores da Cromex, turbo nacional em masterbatches. “As cores branca e preta convencionais e a combinação de azul com branco aparentam passar por saturação, pois os consumidores voltam-se para peças de personalidade, coloridas, para casar com a decoração, ou ventiladores de design mais clássico, para ambientes neutros”.

Entre as alternativas da palheta da Cromex para o repaginado visual dos ventiladores, Herrero pinça a diferenciação proporcionada por cores fortes, capazes de valorizar o eletroportátil. “Por exemplo, soluções de pretos tonalizados com maior intensidade, conhecidos no mercado como deep black ou black piano”.

Há quem associe de imediato ventiladores de plástico ao apelo do preço em conta, afunilando, em teoria, o espaço para aplicação de recursos valorizadores como cores mais exclusivas ou tonalidades e efeitos de cunho especial. Herrero não compra de todo este argumento. “Além de refrescar mantendo a umidade do ar e sem gasto excessivo de energia, o ventilador hoje é ofertado nos mais variados modelos, permitindo ao consumidor selecionar aquele da cor que lhe agrade e capaz de atender suas necessidades”, considera o técnico. “Por sinal, o ventilador de plástico é o tipo preferido para quem mora em locais de tempo muito úmido ou perto de praia”.

Wagner Catrasta, gerente comercial da Termocolor, endossa que os ventiladores não cabem mais nas vestes de eletrodoméstico sem glamour. “Essa tendência de cores inusuais veio valorizar e inovar o produto, tirando-o dos limites do branco e preto padrões”, concorda o executivo. “Outro fator determinante foi a mudança do conceito de cozinha tradicional para espaço gourmet, onde produtos que vão de utensílios domésticos a ventiladores ganharam a conotação mais nobre de objetos de decoração”.

Rotoline estreia em ventiladores

rotoline
Ventilador da Rotoline: para máquinas de rotomoldagem e indústrias em geral.

Ventiladores guardam associação de bate pronto com peças injetadas. Mas a Rotoline, fabricante de máquinas de rotomoldagem, quebra este paradigma com uma investida que inova o seu portfólio: o lançamento de ventiladores rotomoldados concebidos para o resfriamento em linhas de produção. “Nossa missão é difundir a rotomoldagem no mercado e mostrar que o processo pode ser aplicado em diferentes áreas”, explica a gerente comercial Kadidia Umar. “Desse modo, optamos por desenvolver um produto rotomoldado para uso em nosso campo, resfriando moldes de linhas de rotomoldagem, e na indústria em geral”.

Como a vocação da Rotoline não é produzir peças rotomoldadas, Kadidia informa que o corpo dos novos ventiladores é fornecido pela sua cliente Tecnotri. “O sistema de aspersão é um projeto nosso e o pedestal, motores e hélices são adquiridos de diversos fornecedores”. A montagem final, inclusos os componentes elétricos, é realizada na sede da Rotoline, em Chapecó (SC) e a executiva acrescenta que o ventilador está sendo incorporado às suas máquinas de rotomoldagem.

O leve e robusto ventilador com estrutura de polietileno rotomoldado disputa espaço com o similar de metal, versão dominante nos parques fabris. Entre os diferenciais do lançamento, Kadidia distingue a maior vazão de ar com o mesmo consumo energético de modelos concorrentes de igual potência. “Também é resistente à corrosão e pesa menos que os ventiladores de metal”. A gerente comercial destaca ainda a disponibilidade de três opções de acionamento: sem dispositivo de partida (tomada), com partida direta (tomada+botão) e por inversor de frequência. “O cliente ainda pode escolher entre a alternativa do motor trifásico com partida direta ou monofosásico com inversor de frequência”, acena a Kadidia. “É uma solução para muitas indústrias sem instalação elétrica trifásica, um fator que lhes limita a compra de equipamentos”.

Branco e preto ainda povoam boa parte da vitrine dos ventiladores, nota Catrasta. No entanto, nota, nas entrelinhas dessa participação destacam-se tonalidades diferenciadas como o black piano, hoje em evidência no fornecimento de masters da Termocolor para peças do eletroportátil, tal como efeitos perolados em ouro e prata e cores sólidas a exemplo de vermelho, amarelo, azul e laranja. “Além disso, hoje o mercado inclina-se por utilizar mais de uma cor no mesmo aparelho, além de incorporar novas tecnologias, como entrada USB para carregar celular e pontos para refil de repelentes”, ele observa.

Roberto Castilho, diretor comercial para masters na América do Sul da componedora A.Schulman, concorda com a corrente que enxerga o ocaso de branco e preto em ventiladores. “Hoje em dia, procura-se atrair o comprador com outras cores opacas e efeitos especiais, a exemplo do perolado, ou metálicos como prata, caso do nosso master Polybatch 70100, para as peças de polipropileno reforçado de ventiladores”, ele percebe.
Ventiladores de teto também compõem um nicho de maior valor agregado e, embora dominados por partes metálicas com pintura epóxi, embutem oportunidades para masterbatches, vislumbra José Fernandes, diretor da Cromaster. “Nesse caso, os caminhos são as peças plásticas complementares para concentrados especiais e o desafio de desenvolver componentes injetados com resina capazes de substituir os tradicionais metálicos com a mesma tonalidade e brilho, mediante incorporação de soluções de efeitos como perolados e metalizado aos masters”.

Na esfera dos ventiladores cativos do plástico, Fernandes acha que, por serem cores de fácil harmonização, branco, preto e cinza ainda têm sobrevida no eletroportátil. “Em paralelo”, reconhece, “tomou corpo no ramo a criação de uma linha mais jovem, cuja grade de cores correspondesse à demanda e, dentro dessa nova perspectiva, vermelhos, rosas, laranjas, verdes e azuis iniciaram o ingresso neste mercado, ajudando a compor ambientes com suas nuances de tons contemplando ventiladores de coluna, parede e mesa”. •

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