Quando a reciclagem entrega os pontos

Jorge Lakatos lança máquina econômica de coleta de garrafa PET e lata pós-consumo

Após 43 anos à frente da Eletro-Forming, ás nacional em termoformadoras na ativa desde 1972, Jorge Lakatos resolveu pendurar as chuteiras. Mas como está para nascer quem tire o faro de um empreendedor, ele achou um hobby afluente da sua criatividade: montou um protótipo de máquina de venda reversa, destinada à coleta de latas e garrafas PET para reciclagem, contemplando quem a alimenta com vouchers de pontos conversíveis em descontos ou promoções. Lakatos lançou sua sacada em agosto pelo You Tube. Equipamentos desse tipo, por sinal, já estão no cotidiano do I Mundo e, no Brasil, se busca abrir caminho para eles no comércio ou locais de trânsito intenso de pessoas, tipo supermercados e estações de metrô. Por exemplo, desde 2016 a startup nacional Triciclo Soluções Sustentáveis colocou 34 unidades de sua Retorna Machine, a maioria em São Paulo e, corpos atrás, em Manaus, Recife e Rio. Os ganhos vêm do aluguel da máquina importada ao dono do ponto e da venda do refugo coletado a recicladores. A Triciclo não quis falar a Plásticos em Revista sobre sua operação nem confirmar o intento de nacionalizar o equipamento, tanto pela demanda aquecida como pela armadilha cambial. Neste sentido, Jorge Lakatos demonstra na entrevista a seguir já ter pensado adiante, indicando que a industrialização do seu invento caminha a passos largos e que sua noção de aposentadoria não é bem ficar de pernas pro ar.

Jorge Lakatos e sua maquina de venda reversa
Lakatos e sua máquina de venda reversa: meta de preço de venda na faixa de R$25.000

No You Tube, vídeos mostram máquinas como a sua em ação na Alemanha e no Brasil, como o modelo Recopet BR. Como seu invento difere desses precedentes, também adeptos do sistema de tickets de pontos e descontos?
Pelo visto no YouTube, o equipamento da Recopet tira os rótulos de garrafas PET e emite tickets. Não consegui compreender se amassa ou não as embalagens. Segundo entendi, não creio que aceite todos os tamanhos de garrafas. O meu desenvolvimento vai aceitar latas de 220 ml a 1.000 ml e garrafas PET, desde 200 ml até 3.200 ml. Contabiliza com quantidades de pontos a garrafa grande, garrafa pequena e lata. Rejeita garrafas com água, vidro ou objetos menores que uma lata de 220 ml. Perfura as garrafas tampadas para facilitar sua prensagem em fardos remetidos à reciclagem. Minha máquina não retira os rótulos, pois, como as tampas, são de polipropileno (PP) e facilmente separáveis após lavagem e produção dos flakes. Afinal, sua densidade é inferior à de PET e, portanto, basta imergir na água que PP flutuará, enquanto PET irá para o fundo. Minha máquina, por sinal, enquadra-se na norma de segurança NR 12.

Qual a capacidade de cada contentor da sua máquina?
É um modelo pequeno e econômico. Possui dois contentores: de 240 litros para PET e 120 litros para latas. As tampas podem ser amassadas junto e, por isso, a máquina perfura as garrafas para não ficarem com ar preso dentro e, depois de amassadas, voltarem a expandir pela pressão do ar.

Qual a indústria designada para a montagem da sua máquina e qual o seu preço?
Ainda estamos na fase de protótipos. Será feita outra versão, melhorada até dezembro. A montagem está sendo negociada com empresas do ramo de máquinas e ainda não foi decidido qual a escolhida, embora as conversações estejam adiantadas. A meta de preço de venda final será de cerca de R$ 25.000. O segundo protótipo será instalado, em caráter experimental, em algum condomínio grande. A proposta dessa máquina é ser econômica o suficiente para poder ser colocada em escolas, clubes, shoppings, supermercados menores ou condomínios maiores. A intenção é fazer o usuário ir a algum comércio para obter o desconto, além de o equipamento funcionar como outdoor da empresa onde opera. As máquinas existentes no Brasil são muito maiores e se justificam apenas em hipermercados e pontos de grande movimento como estações de trem por exemplo. É neste feitio que a startup Triciclo Soluções Sustentáveis, por exemplo, atua com sua Retorna Machine, uma modalidade de operação diferente da que estamos pensando.

Já que a máquina de venda reversa trata-se de um equipamento já consolidado na praça, qual a sua explicação para a sua popularização tão tímida no Brasil, um dos 10 maiores mercados globais consumidores de PET, refrigerantes e água mineral?
Estas máquinas são populares em mercados onde funcionam com rigor leis similares a regulamentação da nossa Política Nacional de Resíduos Sólidos, a exemplo dos países nórdicos, Nova Zelândia, Austrália, Inglaterra, Alemanha e mesmo os EUA. Nestes casos, as empresas são obrigadas a demonstrar a destinação das embalagens de bebidas. As garrafas retornáveis também requerem depósito em sua compra, devolvido ao consumidor quando o vasilhame entra numa máquina específica para recipientes retornáveis. Na América dos Sul, eu soube que Argentina e Chile são os países com maiores contingentes de máquinas de venda reversa instaladas, totalizando cerca de 1.000 linhas em operação.

Uma das indústrias mais empenhadas em fortalecer seu compromisso como desenvolvimento sustentável é a dos fabricantes de produtos de higiene pessoal e beleza, reduto dominado por frascos soprados de PEAD e com alguma participação de PET. Como avalia a possibilidade de montar um modelo dessa máquina específico para recolher e amassar frascos desses materiais para uso em lojas de cosméticos, investimento bancado por grifes desse setor chegadas ao ecomarketing e economia circular?
Espero que este meu equipamento seja o primeira da família e, aliás, ele pode aceitar ou não frascos diferentes de bebidas. Pretendo desenvolver versões para trabalho com vidro, caixa cartonada e, por que não?, embalagens de cosméticos. Para separar estes frascos de PEAD seria preciso incorporar à máquina um leitor de código de barras para identificar o produto, o que já está sendo estudado. •

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