PVC: mercado na expectativa de volta por cima

O vento ensaia soprar a favor da demanda interna do vinil
PVC: Brasil está deixando de exportar regularmente o polímero.
PVC: Brasil está deixando de exportar regularmente o polímero.

De janeiro a julho último, a venda de materiais de construção caiu 2,6% versus o mesmo período em 2022. O recuo chegou a 3,7% no acumulado de 12 meses até julho deste ano. Mas estes indicadores da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat) tiveram um respiro em julho com aumento de 0,5% no faturamento perante o saldo do mesmo mês no período anterior, a primeira subida na receita aferida desde agosto de 2021, resultado que injeta ânimo nas expectativas de aquecimento da demanda, calibradas pela retomada de obras públicas interrompidas, do programa Minha Casa, Minha Vida e do Plano de Aceleração do Crescimento. Aliados a esse cenário os sinais de ciclo de declínio da Selic afrouxando as taxas e a aprovação de crédito imobiliário, o ar começa a ficar mais respirável para a cadeia de PVC. Afinal, a construção civil mobilizou 62% do mercado interno do vinil (633.000 t) em 2022, aponta a primeira edição do completo relatório anual sobre o desempenho do mercado brasileiro do polímero, levantamento encomendado à consultoria MaxiQuim pelo Instituto Brasileiro do PVC (IBPVC). Entre outros dados de interesse o estudo mostra que o consumo aparente da resina (1.024 milhão de t) fechou 2022 abaixo do patamar de 2017 e, no terreno das importações, os desembarques em 2021 (571.000 t) e 2022 (330.000 t) superaram a capacidade no país de 300.000 t/a da Unipar, que forma com a Braskem o rol dos produtores locais de PVC. A conjuntura perturbadora do mercado e diversos números do bem-vindo relatório do IBPVC são comentados na entrevista a seguir por Ruy Feuerschuette Neto, diretor comercial da transformadora paranaense de PVC Plastilit.

A produção brasileira de PVC virgem fechou 2022 com 722.000 toneladas, ou 130.000 a menos que cinco anos atrás, e o consumo aparente foi de 1.024 milhão de toneladas, o segundo pior resultado desde 2016. Quais as justificativas para esse desempenho frustrante e o que esperar deste ano?

Os principais fatores que contribuíram para o baixo desempenho no consumo de PVC, foram inflação e taxa de juros altas e por 2022 ser ano eleitoral. Não acredito que o consumo deste ano seja maior em relação ao ano passado, pois a economia não demonstra que melhorou o suficiente para elevar o consumo de PVC ainda no período atual. As ações que o governo está tomando, como a retomada do Programa Minha Casa Minha Vida e a taxa de juros com viés de baixa, entre outros fatores, tudo isso só irá refletir em consumo maior de PVC em 2024.

Ruy Cesar Feuerschuette Neto: reação no consumo de PVC deve aflorar em 2024.
Ruy Cesar Feuerschuette Neto: reação no consumo de PVC deve aflorar em 2024.

Ganhos com aluguéis hoje perdem para os ganhos do mesmo capital proporcionados pelo mercado financeiro. Este fator tende a pesar daqui por diante para esfriar a construção/compra de imóveis residenciais, deixando o negócio decisivo para o segmento de tubos prediais cada vez mais concentrado no reduto de reformas de moradias?

Não vejo a situação como preocupante. Entendo que neste momento outros investimentos estão mais atrativos em relação ao mercado imobiliário. Vejo isso como um evento momentâneo e, em algum momento, a locação se tornará o investimento mais atrativo. Com a tendência da queda dos juros, tanto os aluguéis quanto as construções tendem a voltar a ser um investimento melhor, além de investimento além de mais seguros que o mercado financeiro.

A Argentina estrebucha sob hiperinflação e recessão, dois venenos para a construção civil, e tem capacidade instalada para 210.000 t/a de PVC. Mesmo assim, o Brasil importou muito mais PVC da Colômbia (190.000 t) que da Argentina (30.000 t) em 2022, mesma situação notada em 2021. Por que, pelo visto, vale mais a pena trazer PVC da Colômbia que da Argentina?

Aqui na Plastilit não temos recebido ofertas para importarmos PVC da Argentina, apenas da Colômbia. Talvez a falta de oferta da Argentina justifique a diferença dos volume vendidos ao Brasil pelos dois países.

O Brasil exportava 135.000 toneladas de PVC em 2016 e, após quedas seguidas, fechou 2022 com embarques de 28.000. Por que o país caminha, pelo visto, para praticamente zerar suas exportações do vinil?

São grandes, com certeza, os desafios para competir com players globais. Nossa carga tributária e encargos sociais altos, somados a fretes marítimos cada vez maiores dificultam a competitividade da petroquímica nacional. Outro fator a considerar: a demanda interna por PVC foi muito elevada de 2018 a 2021, daí a diminuição nas exportações.

Infraestrutura: retomada de obras públicas paradas anima cadeia de PVC.
Infraestrutura: retomada de obras públicas paradas anima cadeia de PVC.

A capacidade nominal de PVC virgem no Brasil é de 1.009 milhão de t/a, volume aferido antes do desastre geológico de Maceió que avariou o potencial produtivo da Braskem. Como a capacidade dela foi e continua abalada, como mostram seus números de produção, a situação justificaria uma reavaliação da capacidade nacional do vinil em prol de uma noção mais próxima da realidade?

Sim, com certeza é necessária uma atualização da capacidade de produção de PVC da Braskem, para que o mercado tenha confiabilidade na informação do volume que ela possa disponibilizar para cada transformador. Muitas vezes, o transformador decide importar PVC em função da falta de informação sobre a resina disponível no mercado interno.

Em 2022, o Brasil importou 330.000 toneladas de PVC e. em 2021, 521.000 – maior volume trazido desde 2016. À margem dos altos e baixos da economia brasileira, os planejadores devem considerar plausível a suposição de que as importações superem a capacidade doméstica de PVC num horizonte de até 10 anos?

Se a demanda local aumentar e os produtores locais não disponibilizarem o volume necessário para suprir o mercado, a importação de resina de PVC pode aumentar, sim.

A capacidade global de PVC, atestam consultores, vai pular de 60 milhões de t/a para 72 milhões em quatro anos, puxada por investimentos na Índia, China e EUA. Essas ampliações devem abalar, até 2027, a fatia atual de 58% da Colômbia (capacidade de 420.000 t/a) nas importações brasileiras de PVC?

Se a Colômbia acompanhar os níveis de preço do mercado global, acredito que não, pois temos algumas vantagens em importar PVC desse país, como transit time e benefícios fiscais.

Desde 1994 o Brasil renova quinquenalmente os direitos antidumping para PVC dos EUA e México. A seu ver, o mercado internacional da resina continua com as mesmas condições de 29 atrás, quando foi decretado o antidumping brasileiro pela primeira vez? Faz sentido esta manutenção perene da sobretaxa para importações?

Não, acreditamos que os percentuais do direito antidumping precisam ser reavaliados ano a ano, para se mostrarem mais coerentes e ajustados com a economia brasileira, observando demanda interna versus ofertas.

Motivos como a falta de matérias-primas competitivas impede a expansão da capacidade brasileira de PVC virgem. Como vê, então, a possibilidade de PVC importado responder cada vez mais pelo grosso da produção anual de tubos necessária para as obras do plano de universalização do saneamento básico no Brasil?

O mercado sempre irá procurar ofertas de PVC com preço competitivo. Se a oferta local não estiver satisfatória, é natural que o volume de PVC  importado seja cada vez maior.

Com base no desempenho do primeiro semestre, qual a sua expectativa para produção interna e importações brasileiras de PVC no exercício deste ano versus 2022?

O primeiro trimestre esteve aquecido, depois o movimento arrefeceu. Historicamente, o segundo semestre se caracteriza por maior crescimento, portanto estimamos que ele faça o mercado  aumentar em volume no exercício atual em relação a 2022. A propósito, estimo que a quantidade de PVC importado este ano seja até menor que o saldo do ano passado, pois até o momento não apareceu qualquer fator relevante para justificar uma visão oposta.

 

IBPVC

Os grilhões dos juros altos e inflação

Alexandre de Castro, presidente do Instituto Brasileiro do PVC (IBPVC), optou por responder por meio da abrangente pensata abaixo as perguntas específicas enviadas primeiro a ele por Plásticos em Revista (respondidas depois pelo dirigente da Plastilit) sobre o desempenho do setor no ano passado e suas perspectivas imediatas, com base no estudo encomendado pela entidade à consultoria MaxiQuim.

Alexandre de Castro: dificuldades de financiamento imobiliário tolhem a cadeia do PVC.
Alexandre de Castro: dificuldades de financiamento imobiliário tolhem a cadeia do PVC.

“Primeiramente, é importante ressaltar que publicar o primeiro relatório do Instituto Brasileiro do PVC (IBPVC) é um marco. Era um pedido dos associados e do mercado em geral. Através da parceria com a Maxiquim, pudemos passar a acompanhar o setor mais de perto, no intuito de sermos a referência que buscamos quando o assunto é PVC. Também cabe frisar que o relatório não entra no detalhe especifico de um ou outro associado, mas olha as tendências dos segmentos e setores ligados ao PVC de maneira mais geral.

Em relação ao consumo, percebemos uma estabilidade na demanda dos últimos anos, tirando o segundo semestre de 2020 e o exercício de 2021. Ambos os períodos configuram um ponto fora da curva, pois impactado pela pandemia. Foi quando tivemos um aumento de consumo de itens ligados à construção civil e de outros setores vinculados ao vinil, como a área médica.  Quem pode, ficou em casa e pequenas reformas foram impulsionadas por esse fator, além de parte do orçamento das famílias ter sido direcionado também à busca de maior bem estar doméstico. À medida em que a vida foi voltando ao normal, os estoques na cadeia, que haviam subido, foram consumidos e ajustando 2022 para volumes similares ao do período anterior. E agora, o que vem segurando o consumo é a combinação de juros altos com inflação. Isso desestimula, não somente o consumo das famílias, mas traz desafios para o setor da construção com maiores dificuldades em financiamento e novos empreendimentos.”

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