Pra quê tanta pressa?

Nova onda de crackers de eteno de baixo carbono prolongará excedente global de poliolefinas
Nova onda de crackers de eteno de baixo carbono prolongará excedente global de poliolefinas

Na petroquímica, pelo visto, bate boca não ganha queda de braço ambiental. Ativistas fazem fila na mídia, barras dos tribunais e reuniões de acionistas para espernear contra fontes fósseis e plásticos de uso único. Pois tal como se esse berreiro e o excedente global de resinas inexistissem, petroleiras com genes petroquímicos hoje mergulham em projetos ampliadores da oferta de energia de origem não renovável e derivados, entre eles eteno e poliolefinas. Transparece, portanto, a disposição dessas empresas, que se dizem verdes desde criancinha, de sugar até o talo a rentabilidade de um negócio fadado por ambientalistas à extinção, mas, como se diz na Bahia, pra quê tanta pressa, meu rei?

Aos fatos: petroquímicos são uma boia de salvação para petroleiras e refinarias se refugiarem da queda no consumo global de gasolina, causada pela eletrificação do transporte. Na prática, é complicado delimitar uma noção concreta do impacto dessa premissa nos balanços do setor petrolífero porque, no passado, esses cálculos eram feitos a partir dos PIBs e hoje se põe também na balança a geopolítica, demografia, sustentabilidade etc. Exemplo: nº1 em carro elétrico, a China se esforça por ajustar refinarias para transformar maiores quantidades de petróleo em petroquímicos, materiais de maior valor agregado, decisão explicada também pela determinação de reduzir a dependência de importações e aumentar a segurança do suprimento local de insumos em clima de tensão política e comercial.

Já a Arábia Saudita quer evitar deixar barris no chão enquanto cai o uso mundial da gasolina. Melhor redirecionar o óleo para petroquímicos. A propósito, a consultoria McKinsey calcula que, no plano global, as refinarias hoje rodam a 85% sua capacidade de processamento, índice antevisto para baixar à faixa de 70% na década atual. Entra na salada um tempero verde: a preocupação de petroleiras de minimizar a emissão de dióxido de carbono na atmosfera na transformação do óleo cru direta em químicos, sem geração de combustível. Entre as tecnologias nessa reta, a McKinsey realça a do cracker de fluido catalítico, comercializada desde 2019 e já em ação na refinaria da chinesa Hengli Petrochemical, integrada a capacidades como 1.5 milhão de t/a de eteno.

Rastreio recente da consultoria Icis lista os seguintes projetos de eteno integrantes da nova onda de crackers de baixo carbono. Investimentos agendados para partir em 2026: Basf, 1 milhão de t/a na China; CP Chem e Qatar Energy, 2.8 milhões de t/a nos EUA; Borouge, com 1.5 milhão de t/a nos Emirados Árabes Unidos, e Saudi Aramco, 1.8 milhão de t/a na Coréia do Sul. Com partida em 2027: Saudi Aramco e Total Energy, 1.7 milhão de t/a na Arábia Saudita e, na China, os projetos da Cnooc e Shell, de1.6 milhão de t/a, e da Saudi Aramco, Norinco e Paijin Xincheng, de 1.5 milhão de t/a. Em 2028: Sabic e Fujian Petrochemical Industrial Group, 1.5 milhão de t/a na China, e Ras Laffan Petrochemicals, 2.1 milhões de t/a no Qatar. Em 2029: Dow, 1.8 milhão de t/a no Canadá.

De volta às fontes fósseis, a Arábia Saudita, maior exportador mundial de petróleo bruto, trombeteia pelo grupo de mídia Nikkei Asia a estratégia de aplicar mais de US$ 100 bilhões para assumir o terceiro lugar, após EUA e Rússia, na produção mundial de gás de xisto. O pivô da meta são as reservas estimadas em 229 trilhões de pés cúbicos de gás no campo de Jafurah, a ser produzido a partir de 2025. O artigo postado por Nikkei Asia acrescenta que o gás de xisto saudita “será utilizado para geração de energia doméstica e outros fins”. Fins é palavra sob medida para deixar ao sabor da imaginação dos leitores, em especial do setor plástico.

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