PP vivencia um momento agridoce na China. De um lado, o país chegou, após anos seguidos de investimentos, à autossuficiência na poliolefina, autonomia confirmada por fontes infindáveis mesmo com o governo de Pequim avesso a especificar em números a atual capacidade instalada. Do outro ângulo, uma encruzilhada está à espreita, como demonstra recente análise de John Richardson, blogueiro fera em petroquímica asiática do portal Icis. Nos idos de 1990, ele rememora, China e o resto do mundo dito emergente consumiam 1 kg/ a de PP per capita. Corte para 2022: o indicador chinês fechou o período em 22 kg contra mirrados 5 kg dos países subdesenvolvidos. Em frente: a demanda gerada no ano passado por 1,45 bilhão de chineses rondou a marca de 34,6 milhões de toneladas, em contraste com um contingente de 5.6 bilhões de pessoas no III Mundo respondendo por demanda da resina da ordem de 27, 6 milhões de toneladas.
PP galgou o estrelato na China à sombra das sucessivas reformas econômicas que içaram o país à linha de frente da manufatura e comércio global. Outra mão na roda: os estímulos fiscais concedidos à larga ao empresariado local pelo governo chinês, em particular para amortecer os baques de crises financeiras internacionais, como a de 2008. Mesmo assim, com renda anual per capita de US$ 13.000, situa Richardson, a China permanece um país definido como pobre pelos padrões do I Mundo. Além do mais, hoje em dia pouco resta daquele dourado período de crescimento médio anual da China na casa de dois dígitos. Foi um dos grandes motivadores, ao lado do petróleo a US$100 o barril, dos ciclos de expansão (ainda em andamento) de poliolefinas nos EUA, à sombra do gás natural mais em conta do planeta.
À parte os atuais calafrios da economia global e dos tremores de terra em bancos da Europa e EUA, perrengues como a mega crise imobiliária e incertezas pandêmicas hoje tolhem o ímpeto da economia chinesa a ponto de o governo limitar a 5% sua previsão de avanço do PIB para este ano. A propósito, Desmond Shum, financista bilionário de Hong Kong e autor do livro “Roleta Vermelha” (editora Alta Cult), leitura obrigatória sobre os nada exemplares bastidores do milagre econômico da China, pondera com sarcasmo que o Partido Comunista é quem fixa o desempenho do PIB e, por métodos que só Deus sabe, sempre acerta na mosca o percentual de crescimento até nas casas decimais.
Para este ano, retoma o fio John Richardson, analistas em peso cantam a pedra de alta de 6% no mercado chinês de PP, índice correspondente a um acréscimo de 2,1 milhões de toneladas da poliolefina. Para o período de 2023 a 2040, o banco de dados do Icis antevê expansão anual da demanda per capita da resina na faixa de 3% até 2040. Mas alguns poréns balançam os alicerces dos cálculos. Entre eles, Richardson distingue o movimento de transferência de fábricas de manufaturados exportáveis da China para países de menor custo de mão de obra e inseridos na cadeia global de suprimentos, como México, Vietnã, Bangladesh, Coreia do Sul, Índia e Indonésia. Outros tornados no percurso da China provêm da pressão ambientalista antiplásticos virgens em produtos de uso único (20-25% do consumo mundial de PP e 2/3 do de PE) e do deslocamento de plantas na China para os países de origem de suas companhias controladoras estrangeiras (reshoring). Provérbio chinês: se você não mudar a direção, terminará exatamente onde partiu.