Altas pontuais nas cotações, movidas por saltos repentinos na demanda ou por produção sustada por força maior ou injúrias climáticas, não aliviam as perspectivas imediatas para a produção global de polietileno (PE) e polipropileno (PP). Em essência, o drama é pincelado pelo terceiro ciclo de expansão em curso na petroquímica norte-americana, pela China rumo à autossuficiência em poliolefinas e pelo espaço das resinas 0 km que vai sendo desfalcado pela escalada dos reciclados. A propósito, lembra em relatório de fevereiro Paul Hodges, CEO da consultoria suíça New Normal, 1/4 da demanda mundial de PP e 2/3 da de PE, ambos virgens , são canalizados para um setor visto por ele na reta da substituição sem volta: os artefatos descartáveis.
“A demanda mundial de PE prevista para este ano anda em 120 milhões de toneladas, com taxa de ocupação na média de 79% e excedente de capacidade na faixa de 26 milhões de toneladas”, expõe o consultor. Para PP, completa, vale a mesma taxa de ocupação com demanda global projetada em 110 milhões de toneladas no exercício atual e excedente de capacidade empoleirado em 21 milhões de toneladas”.
Hodges deixa claro que o pepino não brotou da noite para o dia e não foi por falta de aviso que os números rolam ladeira abaixo. De 2005 a 2022, ele cita em seu relatório, as importações chinesas de PE desabaram em 5.6 milhões de toneladas. Entre 2020 e 2022, elas recuaram 29%. “A autonomia da China em PE subiu de 51% em 2020 para 64% no ano passado e não vai parar por aí”, ele atesta. Em PP, a independência foi alcançada. “A autonomia era de 67% em 2009 e hoje chega a 94%.
Um raro consenso entre analistas da petroquímica: não existe mercado no mundo capaz de compensar a perda da China para as exportações de poliolefinas. Com a Europa tirada por Putin da produção petroquímica mundial, os EUA, mesmo com sua resiliência econômica às altas taxas básicas de juros, deparam com um batráquio penoso de engolir nas vestes da sua nova rodada de expansões em PE, desde sempre ativadas pelo gás natural barato. “A saída clássica de parar plantas para apaziguar o excedente da resina não é aconselhável por causa da integração delas, em geral, com refinarias de petróleo e produção de gás natural”, comenta o analista. “Ocorre que os preços do gás nos EUA se acercam de um nível recorde de baixa. De modo que não seria surpresa se unidades de PE menos integradas começarem a ratear no país, dada a carência de lucros upstream para compensar a perda com petroquímicos”.