Pintou um clima

Mudanças climáticas cobram a revisão de várias convicções do setor plástico
Mudanças climáticas cobram a revisão de várias convicções do setor plástico

A petroquímica Orbia recorreu, ao final de maio, à alegação de força maior para a parada momentânea de sua planta de cerca de 450.000 t/a de PVC, em Altamira, México. A produção foi sustada por escassez de água imposta por seca.

Tal como a estiagem sem respiro no México, a Índia penava ao fim de maio sob 50ºC. Por sua vez, o consenso entre meteorologistas prevê desde janeiro o risco de irada temporada de furacões (1/6 a 30/11) nos EUA este ano e sua rota cruza os estados do Texas e Louisiana, ambos compondo a fatia do leão das plantas petroquímicas do país. No Brasil, a possibilidade de bis do martírio da seca (agosto a janeiro) do rio Amazonas em 2023, suscita na praça falatório sobre importações preventivas de resinas por transformadores da Zona Franca. Por fim, a enchente no Rio Grande do Sul destacou o Brasil entre os países mais sujeitos à ira do clima.

A seca em Manaus, tempestades superlativas em outubro último em Santa Catarina e a calamidade da cheia em maio no Rio Grande do Sul forçam o setor plástico a rever certas convicções. Entre elas, a noção sobre a formação de estoques quando feita por transformadores em áreas no rumo das cheias. Nesses casos, estoque mantido passa de capital imobilizado a investimento valorizado. Na mesma pegada, entra para as cogitações prioritárias a ida de plantas em zonas de risco para locais mais seguros, assim como a obtenção de seguro dos ativos contra ardis do tempo.

Uma análise detida é exigida pelo cotejo entre as mudanças climáticas e o aumento das já altíssimas taxas de importação de químicos, como poliolefinas, reivindicado pela indústria nacional. A gênese do pedido de muleta tarifária é a assumida falta de competitividade local para duelar com o mega excedente mundial. Em síntese, o Brasil não forma preços internacionais e sua petroquímica ficou obsoleta em escala, tecnologia, rota de processo (nafta) e custos operacionais versus a nova geração de plantas integradas upstream de classe mundial. Para agravar os senões domésticos, note-se que, para diversos polímeros e grades, a oferta interna foi superada pela demanda, lacuna preenchida pelas importações.

O advento das mudanças climáticas instaura a probabilidade de mais paradas por força maior do polo de Triunfo, cuja localidade o torna o complexo petroquímico mais exposto às ranzinzices do tempo no país – outro risco para a indústria transformadora contornável apenas pelo acesso às importações a custos não proibitivos.

O torniquete protecionista também é repudiado no outro lado do balcão, como ilustra Luiz Ribas Junior, gestor de mercado internacional da Associação Brasileira das Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos. Ele bradou na mídia que um possível tarifaço geraria um desequilíbrio competitivo para a produção de componentes no Brasil. “Teremos mais um aumento de custo, que será repassado para o produtor de calçados, gerando um efeito negativo de competitividade para toda a cadeia produtiva”, diz. Tem mais: “As importações são vitais para qualquer política industrial que busque sofisticar a produção nacional, ampliando a sua inserção internacional. As elevações tarifárias propostas poderiam aumentar significativamente os custos de produção, comprometendo a qualidade e competitividade de nossos produtos”.

No pano de fundo, emana a impressão de que os critérios técnicos proclamados pelo governo para fundamentar suas decisões de comércio exterior têm um pé na cozinha do mandonismo. Como explicar, por exemplo, que PVC, de produção interna há bom tempo insuficiente, tenha importações dos EUA e México sobretaxadas sem pausa há mais de 30 anos? •

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