O aumento da prática de atividades físicas pelo brasileiro, movido pelo culto à saúde e ao bem-estar e melhoria de renda da população, são os fatores por trás da expansão do consumo de isotônicos, bebida constituída por água, sais minerais e carboidrato para repor líquidos e eletrólitos perdidos durante a transpiração. O produto, também chamado de repositor hidroeletrolítico, é quase em sua totalidade envasado em garrafas PET, com pequeno volume vendido em latinhas. De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e Bebidas Não Alcoólicas (Abir), foram consumidos 109 milhões de litros de bebidas esportivas no país em 2012, alta de 2,9% sobre 106 milhões de litros no exercício anterior. Em 2010, o movimento foi de 97 milhões de litros.
O azul dos resultados também tinge os valores. Pelos cálculos da Abir, o faturamento do setor de isotônicos em 2012 bateu R$ 685 milhões, salto de 8,6% versus R$ 630 milhões em 2011. O preço por litro saiu de R$ 5,44 para R$ 5,73 na mesma base de comparação. Na lupa de fontes da indústria, o potencial para contínuo desenvolvimento do segmento faz salivar. O consumo per capita de bebidas esportivas no Brasil ronda 0,56 litro/ano enquanto, para se ter uma ideia, o de refrigerantes beira 90 litros/ano.
Contudo, segundo Adalberto Viviani, diretor presidente da consultoria Concept, essa comparação não é coerente. Apesar de ambos (isotônicos e refrigerantes) serem ingeridos em ocasiões lúdicas, as bebidas esportivas têm relação direta com a atividade física ou, no mínimo, com a tentativa de reduzir a perda de líquidos sob temperaturas muito elevadas, explica o consultor. “O isotônico não se mistura, crianças não bebem, não existem drinks com ele, não é base para sucos nem é comprado em baladas. É um produto com fim específico e reconhecido pelos consumidores”, estabelece.
Aliás, em nenhum lugar do mundo o mercado de repositores hidroeletrolíticos chegou ao ponto máximo, pois ainda existem muitos usuários entrantes, encaixa Viviani. “Em economias maduras, a expansão tem comportamento mais lento, mas consistente, na faixa de 2% a 4% ao ano”, ele situa. Em contraste, o avanço é acentuado em países em desenvolvimento, chegando a 12% por exercício. O impulso para esse desempenho, segundo o especialista, está calcado em três pilares. A primeira alavanca é o incremento da renda da população. Em segundo, coloca, desponta a prática de atividades esportivas, como a corrida, com foco em relações sociais. Por fim, aparece a disputa entre fabricantes por esse mercado, o que leva à pulverização da distribuição do produto.
Nos próximos anos, entretanto, as taxas de crescimento provavelmente serão mais modestas devido ao endividamento da classe C, projeta Viviani. Porém, em 2016 acontecerão as Olimpíadas no Rio de Janeiro, megaevento com potencial para rebater essa atual desaceleração. “Com o clima esportivo tomando conta do país, é possível prever crescimento médio anual de 5%”, admite o consultor. Para corresponder a essa torcida, os isotônicos precisam manter seu perfil exclusivo e de nicho. “Se as marcas ampliarem o foco, terão de encarar muitos concorrentes e perderão mercados onde estão consolidadas”, condiciona o expert.
No Brasil, por sinal, fabricantes de isotônicos investem forte em marketing e, de acordo com Viviani, em nada deixam a desejar em termos de estratégias de comunicação em comparação ao que é feito no exterior. Pelo acompanhamento da Concept, as principais marcas comercializadas aqui são Gatorade, da PepsiCo, Powerade e i9, da Coca-Cola, Ironage, do Grupo Petrópolis, Marathon, da GlobalBev, e Energil Sport, da Ultrapan. Há ainda outros produtos de distribuição regional ou marcas próprias, ele completa.
Líder absoluto com 70% de participação no mercado, Gatorade desembarcou no Brasil em 1988. No momento, seu maior consumidor são os Estados Unidos, onde o isotônico foi criado em 1965, informa Tiago Pinto, diretor das marcas de hidratação da PepsiCo. Em 2005, a bebida abandonou a garrafa de vidro e adotou de forma permanente o modelo de plástico. “A embalagem de PET favorece o consumo durante a prática de atividades físicas”, ele justifica. Embora não divulgue suas taxas de crescimento de Gatorade, o grupo aposta no impulso do culto à saúde e melhora da renda nacional para expansão da demanda da bebida por aqui.
Fazendo coro com Viviani, o executivo da PepsiCo constata grande espaço em aberto para a penetração dos isotônicos no mercado brasileiro. “Esse produto está longe do ponto de saturação e há oportunidades em diversos esportes”, pontua. Além disso, ele sublinha, o consumidor está cada vez mais familiarizado com a categoria. “Ele entende que a performance física está intimamente ligada à ingestão de isotônicos”, assevera. No país, Gatorade é fornecido nos sabores tangerina, limão, maracujá, laranja, morango-maracujá, frutas cítricas e uva em frascos de 500ml. O isotônico de tangerina e limão é também envasado em embalagem de 1litro, enquanto os sabores de tangerina e morango-maracujá são ainda encontrados em 350ml. Após anos de estudos com a Seleção Brasileira, a grife lançou em maio a fórmula do craque, com exclusividade para o mercado nacional nos sabores framboesa e manga, conclui o diretor da PepsiCo.
Em meio à peleja com grupos líderes e multinacionais, Marathon está entre as três marcas da categoria mais lembradas pelo consumidor, comemora Renata Barreto, diretora de marketing da fabricante brasileira GlobalBev. Pelos cálculos da empresa, o mercado de bebidas esportivas no Brasil aumentou à taxa anual média de 13% nos últimos cinco exercícios. A melhoria do poder aquisitivo da população, nota Renata, fez toda diferença no desempenho do setor. Há alguns anos, a classe C não tinha acesso aos isotônicos. Além, do mais, não eram vistos como item de primeira necessidade. “Com o aumento da renda, essa faixa da população passou a consumir o produto e a entender os benefícios da hidratação durante a atividade física”, ela comenta.
A GlobalBev adquiriu a marca Marathon em 2006 da AmBev. “O nome já estava consolidado e tinha muita sinergia com nossa estratégia de distribuir produtos que ofereçam prazer e bem-estar”, afiança a diretora. Hoje, Marathon tem uma linha de base com quatro sabores (tangerina, limão, uva e maracujá), mas a empresa já planeja o lançamento do quinto para o verão.
Como competir nesse mercado não é fácil, Marathon busca permanecer como referencial de qualidade na mente dos consumidores. “Nossa proposta de valor é oferecer um produto com atributos similares aos dos concorrentes, mas por um preço mais acessível”, afirma Renata. A embalagem é outro artifício usado para chamar a atenção na gôndola. “Marathon possui tampa sport lock em todos os sabores, algo muito valorizado pois facilita o consumo durante a prática esportiva”, ela explica. Além disso, a aparência do frasco é clean para melhor visualização do líquido, algo que, para a executiva, é característica importante na briga pela preferência.
As garrafas de Marathon são sopradas em operação in house. “Temos uma parceria de longo prazo com a Lorenpet no fornecimento de pré-formas e o sopro é feito dentro da fábrica por ser um modelo mais econômico”, ela arremata.
Consultada, a Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet) disse apenas que o segmento de isotônicos é de fato um mercado em ascensão, com índice de crescimento que superou 45% nos últimos três anos. A entidade alegou que, por ser um reduto pulverizado e com diversas marcas atuando em território nacional, não poderia levantar dados concretos sobre a participação e expansão do poliéster no setor. A M&G, maior produtora de PET no país, e o Grupo Petrópolis, fabricante de Ironage, não responderam aos pedidos de entrevista feitos por Plásticos em Revista. •
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