Pesquisa é desenvolvimento

Pipeline repleto de projetos garante fluxo constante de lançamentos da Braskem para plasticultura
Mulching: projeto do Centro de Engenharia em Plasticultura monitora resíduos do filme descartados ao final da safra.
Mulching: projeto do Centro de Engenharia em Plasticultura monitora resíduos do filme descartados ao final da safra.

Tal como uma planta não brota da noite para o dia, a maturação do reduto dos agrofilmes não aconteceu num estalar de dedos, mas após anos a fio de persistente catequese dos produtores rurais por figuras de proa da cadeia plástica – entre elas a Braskem, único produtor de poliolefinas do país. Daí porque Ana Paiva, líder do segmento de plasticultura da empresa, destoa dos analistas que se surpreendem, como se fosse um fenômeno repentino, com a musculatura atingida pela demanda de filmes para o cultivo protegido, segmento que hoje é o terceiro maior mercado de plásticos flexíveis do Brasil. “Toda nova tecnologia tem uma curva de adoção pelo mercado, caso das soluções plásticas no campo”, ela assinala. “No agronegócio, essa curva pode ser bem longa, considerando que, entre o primeiro contato do agricultor com a solução plástica até quando ele se sentir confortável para adotá-la em grande escala, pode levar um tempo considerável.”

Ana cita, a propósito, um case da Braskem no agronegócio em que transcorreram 10 anos do lançamento da solução ao convencimento do produtor rural dos benefícios acenados. “No entanto, em razão do potencial do campo para motivar o desenvolvimento de aplicações de plástico, não enxergamos este tempo como um problema”, ela pondera. “Precisamos apenas nos adaptar à situação, de modo que tenhamos um robusto pipeline de projetos, com constantes lançamentos de soluções, para contarmos com um fluxo contínuo de geração de resultados”.

Entre as pedras no caminho da ascensão dos agrofilmes no país, consta a concorrência movida por produtos motivados apenas a preço. Segundo observadores de plantão, considerando que uma parcela expressiva de lavradores (em particular hortifruticultores) prima por baixa escala e acesso difícil a financiamentos, sua preferência recai pela compra de filmes bons de preço mas de qualidade nem tanto, o que complica a oferta na praça de películas cujo valor reflete o alto padrão necessário ao cultivo. Ana Paiva tem outro enfoque sobre esse dilema. “No geral, os filmes têm impacto econômico muito pequeno entre as aplicações no campo, por isso discordo que preço seja um entrave à sua expansão no Brasil”. Ela ilustra o argumento salientando que o preço do silo bolsa mais comercializado equivale a 1% do valor do milho hoje em vigor no Mato Grosso. “Nas estufas, o plástico representa apenas 8% do custo total da estrutura”.

Com foco centrado na performance, Leandro Fiorin, coordenador de engenharia de aplicação da Braskem, enaltece a resistência química dos agrofilmes de polietileno (PE), atributo fundamental para a exposição prolongada do produto a defensivos com teores crescentes de ingredientes agressivos, como enxofre e cloro. “Nas situações com a presença de outros componentes químicos, torna-se necessário incorporar aos filmes, via masterbatch, estabilizantes UV específicos para proteger o polímero nessa aplicação”.

Debruçado sobre o portfólio de PEs da Braskem, Fiorin distingue, para extrusão de agrofilmes, o grade da resina linear (PEBDL) LF07020/21AF, mérito da ótima combinação de propriedades mecânicas e processabilidade, mesmos atributos estendidos pelo executivo a dois tipos de PEBDL base metaloceno (PEBDLm): os grades Proxess 1509 XP e Proxess 1809 PL14. A propósito, Fiorin indica soluções como PEBDLm para agrofilmes sujeitos a extremos climáticos, como ventos e chuvas mais intensos, por contemplarem as películas com desempenho mecânico superior. “Para filmes de grandes diâmetros, recomendamos dois grades de baixa densidade (PEBD) – TX7001 e TX7003-, pois proporcionam excelente estabilidade do balão, assegurando assim espessura e propriedades uniformes às películas”. Dentro do espectro do agronegócio mas fora da raia dos filmes para cultivo protegido, Fiorin encaixa a recente homologação da resina de PEAD HT 4219, concebida para tubos de irrigação de parede fina, a exemplo de espessuras de até 6 mm.

Para acelerar a captura de resultados de P&D no campo, a Braskem firmou parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) visando a constituição, em 2022, do Centro de Engenharia em Plasticultura. Sediado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e com verba anual acima de R$1.6 milhão, o CEP agrupa cerca de 100 pesquisadores e estudantes. “Hoje em dia, eles se dedicam a 14 projetos, entre inovações disruptivas, soluções para diversas cultivos e iniciativas de sustentabilidade”, expõe Ana Paiva. Como exemplo, ela encaixa o projeto de sensoriamento remoto (coleta e análise de dados de uma área obtidos de plataformas remotas, como satélites e drones) para identificar áreas que utilizam a plasticultura no manejo. “A solução emprega o aprendizado das máquinas para identificar o material plástico em questão com precisão perto de 100%”, sublinha a especialista. A inspiração para pesquisa veio do mulching, pois este filme de revestimento do solo precisa ser trocado a cada nova safra, o que gera resíduo na área do cultivo. “Desse modo, o estudo contribui para o controle do uso do filme”, esclarece Ana. “Afinal, os dados conseguem identificar os padrões de aplicação e apontar as regiões que exigirão mais ações de circularidade sobre os resíduos descartados”. •

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