Claudia Savioli
Diretora da Polymark Embalagens
“O impacto do aumento das alíquotas de importação se deu, no Brasil, por alguns fatores como a estrutura da indústria nacional; o interesse e a demanda por produtos afetados e a própria capacidade de competir das empresas locais.
Precisamos proteger a indústria local, incentivando a produção interna. No entanto, sempre somos mais custosos do que lá fora. Necessitamos de alternativas que minimizem os impactos de impostos sobre nossas indústrias, mudanças trabalhistas que melhorem o relacionamento entre empregador e empregado, investimento em vias de transporte e apoio de recursos.
A decisão do governo de subir as tarifas irá, com certeza, resultar no encarecimento dos produtos essenciais num momento em que os consumidores estão enfrentando dificuldades econômicas. Isso poderá levar, sim, a uma queda na popularidade política e aumento de inflação.
O equilíbrio da oferta e demanda é essencial. Cabe ao governo tomar medidas que maximizem os benefícios e minimizem os custos para a sociedade, bem como evitar uma uma guerra intercomercial de empresas concorrentes sem as mesmas condições fiscais, por exemplo”.
Paulo Engler
Diretor executivo da Associação Brasileira das indústrias de Produtos de Higiene, Limpeza e Saneantes de Uso Doméstico e de Uso Profissional (Abipla) e do Sindicato Nacional das Indústrias de Produtos de Limpeza e Afins (Sipla)
“A Abipla entende que a discussão sobre as alíquotas de importação de matérias-primas é complexa e deve considerar diferentes aspectos econômicos e sociais. Por um lado, a elevação de tarifas pode ser vista por alguns segmentos como uma medida para estimular a produção nacional da indústria, algo positivo para o setor químico nacional, desde que atrelado a uma política que estimule a categoria. Por outro lado, é inegável que essa mudança impacta os custos de fabricação e distribuição de setores como o de produtos de limpeza, podendo resultar no aumento dos preços ao consumidor final.
Os produtos de limpeza são essenciais para a saúde pública, contribuindo significativamente para a prevenção de doenças e qualidade de vida da população. Nosso setor tem trabalhado continuamente para oferecer soluções acessíveis e de qualidade, mesmo diante de desafios econômicos, como o aumento de custos de produção e oscilações de mercado.
Vale lembrar que, em 2024, os preços de produtos de limpeza apresentaram queda, enquanto outros itens de consumo subiram, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (os preços de produtos de limpeza recuaram 3.06% até setembro último, enquanto a inflação geral, pelo mesmo indicador, foi de 4.09%). Contudo, aumentos adicionais nos custos de insumos podem limitar a capacidade da indústria de manter essa tendência de estabilização ou redução de preços. Isso fatalmente levará a uma queda no consumo e comprometerá a saúde da população.
A Abipla reforça que qualquer mudança tributária deve ser acompanhada de um diálogo aberto e construtivo entre governo e setor produtivo, para que se alcance um equilíbrio que preserve a saúde econômica das indústrias e o acesso da população a produtos essenciais. Temos que analisar as consequências a curto, médio e longo prazos. No momento, entendemos que uma alta de impostos de importação de químicos trará poucos benefícios e custará muito à sociedade brasileira”.
Cassio Tucunduva
Presidente da Associação Nacional de Comerciantes de Material de Construção (Anamaco)
“Essa decisão do governo de aumentar a alíquota do imposto de importação de PVC de 12,6% para 20% está gerando grande preocupação no setor da construção civil. Isto porque PVC é utilizado numa variedade de produtos essenciais para o setor, como tubos, conexões, revestimento de cabos elétricos, forros, portas e esquadrias. Esse aumento pode levar a uma elevação significativa nos preços dos materiais de construção, o que pode afetar negativamente a competitividade das empresas do setor e, em consequência, a economia como um todo. Além disso, o aumento pode desacelerar projetos de construção, gerando incertezas nos planos de negócios das empresas. É importante que o governo reavalie esta decisão e considere as consequências a longo prazo para o setor da construção civil e a economia brasileira”.
Adriano Ticianelli Birle
Economista da plataforma de dados GEP Costdrivers
“A decisão da Câmara de Comércio Exterior (Camex) que atendeu ao pleito da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) e elevou temporariamente as tarifas de importação incidentes sobre 29 produtos químicos, incluindo as principais resinas plásticas, visa dar competitividade aos produtores brasileiros dessas matérias-primas que têm dificuldade em concorrer com a resina estrangeira. A decisão por essa medida considerou que os preços internacionais, que se encontram abaixo dos valores vistos no ano passado e não têm grandes aumentos previstos para os próximos meses, poderiam impedir uma elevação muito significativa dos custos das matérias-primas do setor plástico no mercado brasileiro neste momento.
No entanto, vemos que a elevação das tarifas ocorre, de modo concomitante, a um movimento de forte desvalorização da moeda brasileira frente ao dólar, o que, por si só, já provoca um encarecimento dos produtos importados. Portanto, podemos dizer que, neste segundo semestre de 2024, temos um duplo choque atingindo preço das matérias-primas plásticas: o aumento das alíquotas, que eleva o preço final das resinas importadas e dá, aos produtores nacionais, margem para reajustar preços, e o choque cambial, que encarece todos os importados, também possibilitando reajustes por parte das indústrias nacionais. O timing da medida é, portanto, inoportuno, pois já vinham ocorrendo aumentos de preços domésticos mesmo sem as mudanças tarifárias.
Esse duplo choque, apesar de benéfico para os produtores brasileiros dos químicos e resinas virgens atingidos pelo aumento de impostos, está gerando um grande impacto negativo para a cadeia produtiva da indústria plástica, com alta probabilidade de que os aumentos de custos sejam transmitidos aos produtos finais nos próximos meses”.
James Francisco de Andrade Tavares
Diretor geral da distribuidora SM Resinas Brasil
“Em si, a decisão de aumentar as alíquotas de importação de resinas plásticas e químicos não tem uma influência direta na popularidade do governo, porque grande parte da população não acompanha este tipo de acontecimento e não tem um conhecimento amplo dos seus efeitos. Acredito, sem fazer juízo de valor, que o governo adotou a decisão de aumentar a alíquota porque a visão dominante entre os seus atuais gestores é a de que pode gerar um efeito positivo na economia preservando empresas, empregos etc. Trata-se de um modelo de gestão que não preza pela economia aberta e está em linha com o que sempre defendeu, o que na minha opinião não funciona no médio / longo prazo e tem muitos riscos no curto prazo.
Do ponto de vista técnico, a decisão do governo de elevar as alíquotas de importação de resinas plásticas e químicos, tal como qualquer aumento em outros produtos, pode ter forte impacto na economia. Está claro que haverá incremento de custos para as indústrias que subirão os preços dos produtos finais. Preços finais mais altos geram inflação que afeta toda a população, em especial a mais pobre. Empresas com custos mais altos são menos competitivas e não conseguem competir a nível internacional.
A combinação desses fatores gera impactos sociais, pois o preço mais alto de produtos básicos afeta a renda disponível das famílias, o que decerto aumenta o descontentamento e reduz a confiança no governo. Com todos esses efeitos, fica difícil traçar um prognóstico positivo para a economia e para a popularidade do governo”.
Claudio Zanão
Presidente executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi)
“O aumento das alíquotas de importação de insumos como resinas plásticas e químicas pode ter reflexos no custo de produção e, por consequência, no preço final dos alimentos presentes na cesta Abimapi. Reforçamos a importância de manter um diálogo constante entre governo, setor produtivo e demais partes interessadas, com o objetivo de equilibrar medidas econômicas e garantir o acesso da população a produtos essenciais, preservando a competitividade da indústria e atendendo às demandas da sociedade”.
Cleber Sabonaro
Gerente de Economia e Inteligência Competitiva da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia)
“As resinas plásticas são matérias-primas fundamentais na fabricação de embalagens de produtos de largo consumo pela população brasileira, dentre os quais alimentos, bebidas, produtos de higiene pessoal, limpeza e medicamentos. O forte aumento das tarifas de importação desses insumos, em média de 12,6% para 20,0%, eleva os custos de produção e os preços desses bens essenciais, impactando diretamente no orçamento e no bem-estar das famílias.
As embalagens plásticas são o principal tipo utilizado para proteger os alimentos e respondem, em média, por 15% do custo de produção, podendo superar 20% nos casos dos produtos da cesta básica.
A Abia expressou preocupação com o aumento das alíquotas de importação de resinas plásticas, alertando para o impacto inflacionário nos preços dos alimentos. A associação argumenta que a medida compromete a competitividade da indústria alimentícia e onera o consumidor, em especial as camadas mais vulneráveis da sociedade. Importante lembrar que mais de 70% da população brasileira ocupada no mercado de trabalho tem renda de até dois salários-mínimos (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua/PNAD-IBGE) e tem nos alimentos seu principal item de custo de vida, 25% do total (Índice nacional de Preços ao Consumidor/INPC-IBGE).
A intenção de proteger a indústria nacional de resinas da concorrência de um determinado país, por meio de um mecanismo de elevação tarifária, não se mostra como a alternativa mais adequada. Afinal, atinge todos os demais países que exportam resinas para o Brasil, bem como prejudica a competitividade do setor industrial brasileiro, além de impactar negativamente o custo de vida da população.
Portanto, é fundamental que o governo reavalie essas medidas, buscando soluções mais equilibradas”.
Erasmo Fraccalvieri
Fundador e presidente da consultoria EF Desenvolvimento
“Não acredito que o governo esteja vendo desta forma. Não sou analista político nem tenho formação em economia. Porém, tenho vivência de mercado e algumas pós-graduações acumuladas nestes 20 anos, relacionadas à economia e tecnologia. Precisamos, antes de mais nada, compreender o cenário atual que impacta na alta demanda de bens não duráveis. O mercado de alimentos, bebidas, produtos de higiene e fármacos está num patamar diferenciado quando comparado a outros setores do varejo. Para resinas e filmes é onde está o ‘grosso’, digamos assim. Enquanto o volume de vendas em supermercados bate recordes, o setor de automóveis vende 35% a menos do que em 2014. Qual a razão para isso? O cenário atual é único. É a primeira vez que setores do varejo caminham desalinhados. Antes da pandemia, os diferentes índices do varejo caminhavam na mesma direção, em maior ou menor grau, quando a renda do brasileiro era afetada. Hoje isto mudou radicalmente. Até janeiro de 2020, a variação acumulada de 12 meses dos setores seguia numa mesma direção. de acordo com os ventos da economia.
Com a pandemia, os auxílios e os impactos do confinamento, os hábitos mudaram de forma radical e vimos uma alteração significativa na dinâmica dos setores.
Após o fim dos auxílios emergenciais, em dezembro de 2020, o brasileiro entrou numa espiral de endividamento. Segundo a Serasa, de dezembro de 2020 até setembro de 2024 houve a geração de 11.1 milhões de novos inadimplentes. Hoje, 44,9% da população adulta apresentam restrições de crédito.
O curioso é que o desemprego começou a cair fortemente e a renda real subia de modo consistente a partir de 2022. Um fato importante que todo transformador e convertedor deveriam acompanhar: a demanda de resinas, filmes, rótulos e embalagens flexíveis está atrelada à renda real da população. Perceba no gráfico abaixo a correlação entre o volume acumulado de vendas com a renda real do brasileiro.
O motivo é simples, o ganho de poder de compra da população permite o maior consumo em supermercados e farmácias e vice-versa. Dessa forma, a inadimplência do consumidor tem ajudado o consumo no varejo supermercadista. A falta de crédito do brasileiro limitou o consumo de bens de maior valor agregado (duráveis e alguns semiduráveis). Automóveis, móveis e até alguns itens de vestuário viram sua atividade encolher desde a pandemia, enquanto o setor de supermercados e farmácias prosperam.
O que isso tem a ver com a pergunta? Tudo. Não se trata de inflação, trata-se de demanda. O brasileiro vive com pleno emprego e renda crescente, porém encontra-se sem crédito. Aumentou a dificuldade de aquisição de bens com maior valor agregado. Houve um fluxo maciço de consumo nos bens não duráveis, a indústria de transformação e de conversão não pode reclamar de demanda e, sim, de excesso de oferta. O custo final da embalagem nos produtos finais de gôndola é imperceptível à população em geral. Por isso, creio que seja possível a aprovação, pelo governo, destes aumentos de alíquotas de importação de resinas. Os interesses políticos falam mais altos neste momento. Só tem um porém: a renda já dá sinais de arrefecimento. É aí que veremos os problemas aparecerem”.