Rogério Mani
Presidente da Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Plásticas Flexíveis (Abief), CEO da transformadora Epema e sócio da recicladora Deink Brasil
¨Se me perguntar qual o maior problema que tenho na fábrica vou responder de bate pronto que é GENTE.
Vários fatores contribuem para que tenhamos esse apagão de mão de obra, preponderantemente no caso dos mais jovens. Estamos em um momento bastante complicado, em que as novas máquinas e equipamentos requerem cada vez mais pessoal mais jovem e gabaritado na questão da tecnologia da informação.
Perdemos o interesse dessa geração na faixa entre 18 e 30 anos. Uma geração que não tem responsabilidades, não se preocupa em estudar ou trabalhar e sonha que ficará rico com rede social e por aí vai. Por outro lado, encontramos o assistencialismo, que deve existir onde realmente é extremamente necessário. O que hoje vemos são benefícios indiscriminados que cria a cultura da inação – ‘Trabalhar para quê? Ter que cumprir horário? Responder para chefe? Tenho uma ajuda do governo e se precisar faço um bico’.
Hoje em dia, os jovens de melhor qualificação não têm paciência de ganhar experiência e seguir plano de carreira. São imediatistas e trocam muito rapidamente de emprego. Em nossa empresa lidamos com este mesmo problema comum às demais de outros segmentos. Estamos procurando atrair mão de obra na faixa dos 40 anos em diante, dando muita preferência a mulheres, pois são mais caprichosas, faltam menos, se preocupam com a família e dão muito valor à renda para melhoria da condição social da família. O pessoal mais jovem não quer compromissos.
Estamos buscando, a duras penas, reter os talentos que aparecem, mas não está fácil. Esse cenário não mudará rapidamente; haverá um processo longo pela frente e teremos de ser muito criativos para atravessá-lo. Não há uma solução mágica, até porque o problema é global”.
Ricardo Mason
Diretor da distribuidora Fortymil e recicladora/componedora Plastimil
“Infelizmente, a política assistencialista deste governo, somada ao baixo índice de desemprego e a falsa expectativa da geração mais jovem de ‘fácil enriquecimento’ através das novas profissões digitais – a exemplo de youtubers, tiktokers e creators etc,- têm trazido grande dor de cabeça ao RH das empresas em geral. Essa enxaqueca ocorre, em especial, no quesito do preenchimento de vagas em aberto para atender a necessidade de mão de obra, seja básica ou especializada, das linhas de produção da nossa indústria plástica.
Não existe receita de bolo para lidar com tal desafio, mas muita resiliência, diversificação e até engenhosidade por parte dos RHs em geral. No Grupo Fortymil Plastimil temos adotados diversas novas práticas na busca por gente apta aos nossos desafios fabris. Muitas dessas condutas foram aprendidas com empresas do nosso segmento, bem como de outras indústrias. Abrangem desde ativação de networking comerciais e de grupos de RH, programas de indicação e uso de ferramentas como Linkedin e FB até o sistema boca a boca, ofertas em outros Estados, contratação de carros de som, avisos em igrejas, grupos de amigos e de amigos de amigos e muito mais. Isso sem contar o básico de agências de emprego, prefeituras e até contratação de empresas especializadas em head hunting. Nenhuma dessa alternativas tem garantia de sucesso. No fim, muita inspiração, transpiração e trabalho em equipe para superar o desafio”.
Paolo De Filippis
Diretor presidente da Wortex
“O governo tem fortalecido os programas de transferência de renda às classes pobres. Num primeiro momento, este assistencialismo é importante para muitas pessoas. Entretanto, não é exigida nenhuma contrapartida de quem recebe o auxílio e isso coloca em xeque a busca de um emprego que venha a se igualar ao benefício recebido.
No passado, em torno de 1980, houve um processo de desabastecimento de mão de obra na área metalúrgica devido a uma economia decadente. Ou seja, os trabalhadores da indústria metal mecânica, decidiram mudar de profissão, principalmente fazendo bicos para cobrir o orçamento familiar, e nunca mais voltaram ao emprego original. Outro agravante a ser pautado: a falta de escolas técnicas para treinamento em qualquer tipo de atividade industrial ou comercial, para que o nível salarial pudesse aumentar.
Lógico que Isso afeta todo o mercado de trabalho.
Como sugestão para evitar essa perda de mão de obra de baixa renda, a Wortex, minha empresa, criou com outros empresários um programa de assistencialismo. Em suma, cuidávamos de crianças de 5 a 14 anos, oferecendo creche, escola e alimentação desde que o recipiente (pai ou mãe ou o casal) atendesse cursos de profissionalização e estivesse empregado ou em busca de colocação. Mas, como ocorre em todos esses programas, o resultado foi negativo e desistimos da empreitada”.
Gilberto Martinelli
Diretor das unidades de Salto (SP) e Cabo de Santo Agostinho (PE) da Sulbras.
“Os programas de transferência de renda têm impacto em todos os setores e podem influenciar, de fato, o recrutamento e retenção de pessoas, em especial em termos de mão de obra direta, que está na base da operação. Hoje em dia, a mão de obra tem sido um grande desafio para as indústrias e, no caso da Sulbras, minha empresa, programas de transferência talvez não representem um impacto maior. Afinal, temos atrativos que colocam em vantagem a empregabilidade perante as ações de assistencialismo, favorecendo na questão de captação e retenção de pessoas. Contudo,num mercado competitivo e exigente esses obstáculos se fazem presentes.
Vejo nesse quadro uma grande oportunidade para que as empresas desenvolvam seus colaboradores em consonância com o propósito organizacional. A implementação de programas de desenvolvimento, que qualifiquem e ofereçam oportunidades de crescimento profissional não só contribuem para a retenção, mas promove o desenvolvimento da mão de obra que fortalece tanto a organização quanto a cultura e economia do país”.
Jane Campos
Diretora geral da Radici para a América do Sul
“O assistencialismo sem proposta de desenvolvimento de empregos é problema grave e a mão de obra da nova geração adere a ideias diferentes e se conforma em viver com pouco. Para manter esses colaboradores, fomos obrigados na Radici, minha empresa, a mudar nosso ‘mindset’ (mentalidade). Nossa rotatividade de pessoal estava realmente alta e perder capital humano é correr risco de qualidade.
O que fizemos e estamos mantendo é investir em treinamento de qualificação, de auto conhecimento e liderança. Com isso os jovens recrutados estão motivados. Também sabemos que, por qualifica-los demais, podemos perdê-los para outras empresas se não tivermos um departamento de RH ativo e planejamento de carreira definido. Melhoramos também os benefícios que abrangem as famílias (grande fator de decisão para mudança de emprego) e as envolvemos mais em atividades cotidianas como gincanas. A intenção é fazer com que todos se sintam parte da empresa.
Resumindo, a forma de manter um colaborador nem sempre é o dinheiro e sim o ambiente de trabalho, os benefícios e as oportunidades. Com isso melhoramos inclusive a avaliação de ambiente – nossa média é de 89%.”
Alceu Lorenzon
Diretor da transformadora e recicladora Alcaplas
“Os programas sociais do governo federal precisam ser revistos com a máxima urgência! Hoje, a maioria das empresas – a indústria de materiais plásticos, em especial- sofre impactos de produção e vendas em consequência deste assistencialismo. Algumas indústrias têm até dificuldades de manter as atividades em plena carga por falta de mão de obra. Enquanto empresas oferecem milhares de vagas de trabalho, vemos milhares de trabalhadores que não buscam trabalho formal para continuar recebendo os benefícios do Estado.
Lógico que, em muitos casos, o programa social deve ser preservado e até mesmo ampliar o valor dos benefícios concedidos.Contudo, vemos que grande parte dos beneficiados poderia estar atuando como trabalhadores; preferem ficar fora do emprego formal para receber ajuda facilitada do governo sem ter que oferecer nenhuma contrapartida, mesmo que fosse para prestar serviços sociais ou serviço público por uma semana a cada mês.
Esta situação está virando um ciclo vicioso porque os trabalhadores preferem o trabalho informal, sem compromisso de cumprir expediente diário. Afinal, sabem que têm uma renda garantida no final do mês.
Outra preocupação é, que sem trabalho formal, esses milhares de beneficiários não estão contribuindo para a previdência social. No entanto, seus direitos de assistência social e aposentadoria por idade estão assegurados. Com isto, em breve veremos a previdência social colapsando, sem condições de manter os benefícios da aposentadoria”.
Fernando Esteves
Diretor de desenvolvimento da Injequaly
“Com o passar do tempo, sentimos diretamente o impacto das medidas de assistencialismo no gerenciamento de mão de obra, tanto no chão de fábrica, onde a grande maioria é um pessoal mais jovem e normalmente está no primeiro emprego, quanto no time mais velho, alojado em posições gerenciais e de liderança.
Essa cultura de assistencialismo. implantada nos últimos anos, está gerando um desinteresse da nova geração por começar sua carreira cedo, alinhada com uma cultura de fragilidade e direitos. Nossas fábricas entenderam que essa é a nova realidade da juventude e, por ora, estamos trabalhando em duas vertentes: na contratação de mão de obra – buscando uma faixa etária entre 28 e 35 anos, pessoa com um pouco mais de experiência de vida e que acaba perdendo um pouco desse ideal ideológico utópico . Por outro lado, tentamos reter aqueles que achamos que têm potencial para crescer. Para esses, a empresa investe em pagamento de curso e treinamento externo e interno. Como dizia Henry Ford, o grande pai da indústria automobilística, ‘pior do que treinar um funcionário e ver ele sair é não treinar e ver ele ficar”.
Ricardo Prado
CEO da Piovan South America
“Programas de transferência de renda sem a devida contrapartida de aprendizado profissionalizante criam somente dependência perpétua, sem resolver o problema do Brasil que é dar condições de vida digna a todos. No caso específico da nossa indústria de plásticos ou de equipamentos para plásticos, o impacto na escassez de mão de obra varia de acordo com a região.
Em regiões como o sudeste, julgo haver um impacto menor, pois a amplitude destes programas também é restrita, devido ao nível de vida local. Já em regiões com maior pobreza, com certeza o impacto é maior.
O que está acontecendo é uma automatização da indústria, como único meio de sobrevivência através do aumento de competitividade. Neste contexto, as empresas ficam cada vez menos dependentes de mão de obra para trabalhos básicos que é aquela atividade justamente com maior incidência de auxílios providos por programas sociais.
O desafio atual pode parecer ser o objeto da pergunta, mas ele é bem mais complexo, passando pela preparação escolar e conceitual, hoje de baixa qualidade e pela cada vez mais baixa taxa de natalidade. Por isso, a única saída possível para a indústria é automatizar a manufatura. Afinal, em alguns anos a situação deverá ficar bem mais crítica em relação à disponibilidade de mão de obra direta”.
Fernando Oliveira
Presidente do Grupo Krona
“Para o Grupo Krona, é importante reconhecer que os programas de transferência de renda têm um papel relevante na redução da vulnerabilidade social e no aumento do poder de consumo de milhões de brasileiros. Entretanto, no cenário de recrutamento e manutenção de pessoal para a produção, essas políticas podem afetar a disponibilidade e o perfil dos trabalhadores.
Na indústria plástica, onde a demanda por mão de obra qualificada é constante, temos enfrentado o desafio de atrair e reter profissionais, especialmente em posições que exigem uma dedicação operacional.
O Grupo Krona, ciente desse contexto, adota uma abordagem que vai além da remuneração direta, investindo num ambiente de trabalho motivador e na valorização do desenvolvimento pessoal e profissional. A empresa oferece oportunidades de capacitação, planos de carreira e benefícios que visam não só atrair, mas engajar os funcionários.
Além disso, temos fortalecido programas internos de qualidade de vida e suporte social para aumentar o senso de pertencimento e alinhamento com os valores do grupo. Um exemplo é o Programa de Geração de Ideia (PGI), iniciado em 2023 e com premiação aos colaboradores que tiveram selecionadas e implementadas suas sugestões de melhorias no funcionamento da empresa.
Enxergamos o colaborador não apenas como parte da nossa força de trabalho, mas como um parceiro na construção de um futuro sólido, em que ele cresce junto com a companhia”.
Carlos Henrique Massarotto
Vice-presidente de operações da Plastek do Brasil
“O desafio de contratar e reter mão obra qualificada, em especial pessoal mais técnico, é uma constante no nosso ramo de atividade. Continuará assim por anos ou décadas, a menos que a questão da educação e formação de talentos no Brasil seja realmente tratada de outra forma.
No entanto, as medidas assistencialistas mais intensas do governo acabam tornando essa questão ainda mais crítica. Afinal, sempre há aqueles que preferem usufruir esta política a se formarem e tentarem construir uma carreira profissional numa boa organização. É mais fácil ou, pelo menos, parece ser mais fácil.
Mas trata-se de visão míope, muito curta, pois esta alternativa não garante o futuro a ninguém. Quem tiver a capacidade de enxergar mais longe, decerto entenderá, cedo ou tarde, que o mercado privilegiará os melhores e os mais capacitados. E assim tem de ser mesmo.
Na Plastek, minha empresa, estamos apelando cada vez mais para a formação interna da mão de obra, seja através do investimento em menores aprendizes que mostrarem interesse e capacidade de crescimento ou através de parcerias com instituições de ensino técnico aqui na nossa região. Para aqueles que se enquadram no programa de menores aprendizes e estudam em período integral, não possuindo muito tempo para os estágios, incentivamos que cumpram as horas de aprendizado na empresa durante o período de suas férias escolares. Prece ser uma alternativa bem frutífera.
Por sua vez, as parcerias ou convênios com instituições de ensino estão estimulando vários funcionários que querem estudar e crescer a expor este desejo e. dentro de um programa interno de elegibilidade, a companhia acaba subsidiando cursos de formação técnica para eles. Nosso departamento de RH vem recebendo solicitações de funcionários cientes do programa e interessados em participar dele.
Assim, temos visto que, naturalmente, os funcionários melhores e mais empenhados aparecem. Isso não significa que conseguiremos retê-los depois, pois que não há vínculo formalizado, mas, pelo menos, entendemos que estamos despertando o interesse de gente boa em fazer carreira conosco”.
Luiz Claudio Raimundo
Diretor industrial & supply chain da Vitopel do Brasil
“A questão do aumento das medidas de assistencialismo tem um impacto real de curto prazo e estrutural de longo prazo na economia, em especial na indústria plástica que tem como principais mercados as embalagens de alimentos. Por um lado, a maior disponibilidade de recursos na população de baixa renda aumenta artificialmente o consumo e demanda de bens de giro rápido e baixo valor agregado. Do outro, vemos um efeito estrutural no baixo engajamento e interesse da mão de obra pouco qualificada em manter-se empregada, optando por empregos de curta duração e mais interessada em receber o assistencialismo via seguro-desemprego.
Na Vitopel, minha empresa, o quadro de trabalhadores é notadamente mais qualificado. Não temos passado, portanto, pelos efeitos acima citados relativos ao pessoal de menor preparo, porém os sentimos quando precisamos contratar temporários e ou mão de obra de construção civil para projetos específicos”.
Taliane Batista do Carmo Klüppel
Diretora de Gente & Gestão da Finepack
“Os programas de transferência de renda do governo têm modificado a dinâmica de recrutamento e retenção de trabalhadores na indústria plástica. Com uma base financeira mínima assegurada, muitos trabalhadores sentem menos urgência em aceitar vagas em setores com salários iniciais mais baixos, o que tem gerado desafios para as empresas preencherem posições operacionais. Este novo contexto exige que as empresas repensem as estratégias de atração de talentos e se adaptem para ficar mais atrativas no mercado de trabalho.
Não sentimos os impactos desses desafios na Finepack, minha empresa. Ao longo dos anos, temos investido em melhores condições de trabalho e programas de capacitação e desenvolvimento profissional. Ao oferecer benefícios diferenciados e oportunidades de crescimento, conseguimos elevar o engajamento e a satisfação dos colaboradores, o que favorece a retenção e a formação de equipes mais qualificadas e comprometidas. Assim, conseguimos manter a produtividade e minimizar a rotatividade, mesmo em um cenário de maior apoio assistencialista”.
Hugo Camisotti
Presidente da Atomplast
“O impacto dessa situação não é positivo para nossa operação. Estamos enfrentando uma grande dificuldade em encontrar mão de obra com interesse real em desenvolver uma carreira sólida. Muitas vezes, essa oportunidade é preterida em favor do seguro-desemprego e percebemos que a preocupação inicial dos candidatos tende a ser focada nos benefícios que irão receber, sem priorizar o compromisso com a excelência no trabalho. Esse cenário, impulsionado pelas medidas de assistencialismo, tem nos levado a investir cada vez mais em automação, em especial para substituir funções que exigem menor especialização.
Para mitigar um pouco mais esse impacto negativo, buscamos criar um ambiente de trabalho positivo e agradável, que incentiva o crescimento profissional. Investimos continuamente em treinamentos, atualizando os colaboradores para que estejam em sintonia com a evolução tecnológica, promovendo assim uma equipe mais capacitada e alinhada com os desafios atuais”.
Felipe Ávila
Gerente industrial da transformadora Raízes do Grupo Vibrapack
“Os impactos dos auxílios disponibilizados pelo governo têm sido devastadores para a indústria como um todo. Na indústria plástica, que ainda depende de mão de obra de baixa remuneração para a operação, os impactos são visíveis e os desafios ficam cada vez maiores. O choque dos programas de transferência de renda na indústria plástica é multifacetado e depende de diversos fatores, incluindo o valor dos benefícios, as condições do mercado de trabalho e as estratégias das empresas para atrair e reter trabalhadores. Os índices que analisamos diariamente ligados a essa questão, como absenteísmo e turn over, têm crescido nos últimos anos. De certa forma, para essa parcela da mão de obra não especializada não existe mais uma pressão para aceitar os empregos de remuneração mais baixa. O auxílio dos programas sociais possibilita às pessoas completarem sua renda com trabalho informal, quando necessário. O que gera, apesar de todos os ônus da atividade ilegal, uma certa flexibilidade hoje bem vista, principalmente pelos jovens”.