Na capital de São Paulo, a cobrança das sacolas de saída de caixa é permitida, sem cunho obrigatório. Mas apenas as grandes redes de supermercados e alguns estabelecimentos menores não só em tamanho, mas em sensibilidade comercial- cobram as sacolinhas dos clientes na saída do caixa, uma forma de penalizá-los por comprarem em suas lojas.
Em 2007, quando os ditos “ambientalistas” atacaram as sacolinhas, o setor supermercadista foi o primeiro a sair em defesa delas. Criou então a Frente Parlamentar em Defesa das Sacolas Plásticas. Passado algum tempo, perceberam que seria vantajoso aderir à corrente contra a embalagem e, assim, obter maior lucro.
Óbvio: trata-se de puro greenwash, a chamada ecolavagem cerebral. Com a venda das sacolas plásticas, os supermercadistas transferem ao consumidor um custo já embutido nos preços das mercadorias comercializadas. Ao cobrarem pela sacola, ela deixa de ser material para uso e consumo e passa a ser mercadoria de venda, obtendo crédito de ICMS referente a esta transação. Ou seja, os supermercadistas ganham duplamente com a cobrança.
A cadeia do plástico depara com extrema dificuldade para informar veicular dados, matérias científicas, estatísticas e resultado de pesquisas sobre a questão das sacolas. Por que? Simples: tudo isso vai contra o interesse de um dos setores que mais anúncios veiculam nas mídias.
Seja nas esferas municipal, estadual ou federal, o poder público tem o encargo de cuidar de assuntos muito mais relevantes que a cobrança da sacola. Como todas as embalagens, as sacolas plásticas estão no bojo da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Não há por que se pinçar um item específico e querer dar a ele um tratamento diferenciado. Quando alguém faz isso, fica a impressão de estarmos diante de algo muito grave e a ser observado com muita atenção.
A prefeitura paulistana preconiza que as sacolas devem ser fabricadas em duas cores, para facilitar a triagem dos resíduos domésticos orgânicos e recicláveis, visando seu encaminhamento correto às usinas de reciclagem. Ora, como desejar algum esforço da população em fazer esta separação e deixar que cobrem pelo meio (a sacola) de atingir este objetivo? Esse sistema pode vir a funcionar desde que as sacolas sejam distribuídas conforme a compra e não cobradas.
João Dória, recém eleito prefeito de São Paulo, é empresário bem sucedido e não terá dificuldade para entender que o poder público deve ser um facilitador da reciclagem. Também ficará logo ciente de que 82% da população da sua cidade posicionam-se contra a cobrança das sacolinhas e que 90% a reutilizam, evitando a compra de sacos de lixo, estes inacessíveis à grande maioria dos consumidores. O interesse do consumidor deve estar acima do único desejo do setor do comércio nesse caso – apenas aumentar seus lucros.•
Gino Paulucci Junior é diretor da indústria Polimáquinas e presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Acessórios para a Indústria de Plásticos da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas.
1 Comentário
Tratar um item específico como o grande vilão realmente não é a forma mais correta, devemos trabalhar em parceria com todos os setores para que haja soluções mais coerentes e eficientes, os que deveriam legislar pelo bem comum, infelizmente ainda legislam para benefício de poucos.