Fio condutor para uma compreensão entre suprimento, demanda e ocorrências pontuais, o spread (diferença entre preço do produto e o de sua/s matéria-primas) entre os preços médios de PEs CFR da China, maior importador mundial de polímeros, e os custos de nafta do Japão CFR abriu 2024 em baixa recorde, pela medição da consultoria Icis. De 5 a 26 de janeiro último, o spread em questão atingiu US$ 250, o pior aferido desde 1993 e cujo topo até hoje aconteceu em 1995, com a cotação de US$ 719. Em artigo no site da Icis, o blogueiro John Richardson explica que o spread chinês é baseada nos preços médios de PEAD para injeção e os dos grades de PEBD e PEBDL para filmes. Para o período 1993-2021, época de ouro para a petroquímica mundial, os calculadores da consultoria londrina fixam em US$ 532 o spread obtido a partir da média dos preços entre os três tipos de PE da China CFR perante a nafta japonesa CFR, indicador que desaba a US$ 286 quando transposto para a quadra 2026-2030.
A queda em espiral desse spread, assinala Richardson, reflete a mais profunda e prolongada reviravolta sofrida pela petroquímica global, em partilhar a asiática, de PP e PE. Pelo andar da conjuntura atual, pondera o analista, a hipótese de uma plena recuperação se concretizaria se os spreads de PEAD para injeção e PEBD e PEBDL para filmes subissem, respectivamente, 138%, 55% e 91%. Em suma, subida na média de 86% para o spread dos PEs retornar ao patamar inesquecível de 1993-2021.
Onda de fechamentos
Acontece que um barranco chamado China desabou, paralisou e bagunçou a estrada do mercado mundial de químicos em geral. Pois de janeiro 2022 até o momento, nota Richardson, o impacto do estouro da bolha imobiliária chinesa persiste, piorado pela zilionária falência da empreiteira Evergrande, assim como a perda de confiança para consumir e envelhecimento da sua população, a piora da saúde pública e previdência social e, para não alongar os abacaxis, a incerteza política e econômica do governo de Pequim prejudicando a globalização ao dificultar as exportações do país e ao estimular movimentos de reshoring (realocação de fábricas de locais como a China para perto de grandes mercados, caso do México e Índia).
Para Richardson, a petroquímica global, extasiada com os ganhos embolsados entre 1993 e 2021, não se deu conta da degradação da China e continua até hoje a expandir sua capacidade de poliolefinas para atender uma demanda agora mirrada, da ordem de 1-3% ao ano, em contraste com a faixa de 6-8% ao ano registrada nos tempos idos das vacas gordas do PIB chinês. Por extensão, para o negócio sair da UTI atual, cálculos da Icis atestam que, entre 2024 e 2030, a capacidade global deve operar em 75% para PEAD; 78% para PEBD e 80% no caso de PEBDL. A propósito, o blogueiro salienta que, entre as capacidades que despontam na Ásia e EUA até 2030, sobressai o esforço da China em atingir plena autossuficiência em poliolefinas e a estratégia de titãs do petróleo do Oriente Médio, caso da Saudi Aramco (forte investidor em petroquímica na China). A companhia saudita está empenhada em proteger seu combustível de fonte fóssil, alvo da transição para a energia limpa, através de tecnologias que colocam o petróleo cru em linha direta com a produção de derivados. Por essas e outras, Richardson antevê uma onda de fechamento de capacidades menos competitivas de PP e PE na Europa e Ásia, junto com a América do Norte as regiões que determinam os rumos do mercado petroquímico mundial.
Oriente Médio acuado
Harrison não está sozinho em sua percepção sobre desequilíbrio entre oferta e demanda, letal para a rentabilidade do negócio mundial de poliolefinas. James Wilson, analista sênior para petroquímica da Icis, comenta em artigo distribuído à mídia que a China, importador nº1 global de químicos, respondeu por 75% dos acrescimentos de capacidades de olefinas e aromáticos entre 2000 e 2024. Essas ampliações e a economia interna fraca resultaram em recuo de 20% nas importações chinesas de derivados de eteno nos nove primeiros meses de 2023 versus mesmo período em 2022. O maior baque desse declínio, ele diz, tem recaído sobre os produtores asiáticos, desde 2021 às voltas com prejuízos nas operações de crackers e, por tabela, com número recorde de plantas paradas por largos prazos. Suas exportações para China, assinala Wilson, caíram mais de 1/3. Em contraste, as exportações norte-americanas de materiais como PE cresceram nos nove meses iniciais de 2023, resultado interpretado por analistas com o esforço de ampliar ao máximo a taxa de ocupação das capacidades nos EUA para proteger suas margens de lucro assombradas pelo tímido aumento da demanda doméstica.
“Como aumentar a participação de mercado sob super oferta global será uma questão estratégica para as petroquímicas do Oriente Médio nos próximos anos”, enuncia Wilson em sua pensata. Para apimentar a linha de raciocínio, ele insere que um contingente de produtores da região programa investimentos de vulto em produtos químicos para a segunda metade da década atual. São empreendimentos, assinala, que visam garantir o emprego de petróleo e produtos resultantes do seu refino num planeta de consumo do combustível abaixo do pico mundial, pois a caminho da mutação para energia renovável, e daí a inclinação das petrolíferas do Oriente Médio em prol da produção interna de materiais exportáveis de maior valor agregado. “Altas somas estão sendo aplicadas em complexos para gerar químicos direto do petróleo cru”, ele distingue. No arremate, Wilson pressupõe que esses mega aportes de recursos perturbarão os produtores de poliolefinas às voltas com altos custos na Europa e Ásia e não integrados no petróleo e gás. “Eles não têm razões para esperar um ambiente operacional favorável para materializar um futuro previsível”.
A América do Sul, de participação irrisória no mercado mundial de resinas, sem influência nos preços petroquímicos e moradia de plantas obsoletas em porte, custos e tecnologia, não é mencionada nem no rodapé das avaliações de Richardson e Wilson sobre a conturbada conjuntura global de PE.