A fé cega na economia circular tomou de assalto toda a cadeia plástica, até mesmo os nichos não questionados pela opinião pública sobre sua devoção aos mandamentos da sustentabilidade. Mas da porta para dentro do setor plástico, são outros quinhentos. Por exemplo, embora o impacto de pigmentos na pegada de carbono seja irrelevante, isso não livra seus fabricantes de volta e meia serem indagados pelo mercado a respeito deste desempenho.
Pigmentos e mastebatches são irmãos siameses e indústrias químicas e de concentrados, instigadas pelas exigências de virtudes sustentáveis para seus produtos, hoje se debruçam sobre a possibilidade de auxiliares como os corantes contidos nos masters influírem para aumentar o ciclo de vida de artefatos plásticos. Na mesma toada, as empresas divulgam que pigmentos de melhor dispersão contribuem para reduzir a economia energética nas linhas de transformação e que pigmentos de alta estabilidade ajudam a ampliar a durabilidade dos produtos acabados.
Tendências em cores também são respingadas pela economia circular no circuito global dos masters. E algumas delas pisam no calo dessa indústria, caso das juras trombeteadas por brand owners do naipe da Coca-Cola e Unilever de banir cores de suas garrafas e frascos, em prol da reciclagem simplificada da embalagem transparente. Em resposta, laboratórios de pigmentos já acenam com versões de cores claríssimas para os masters não dificultarem a reciclagem dos recipientes pós-consumo. A reciclagem também faz grassar entre componedores mundo afora a percepção de que negócios de futuro são o desenvolvimento de concentrados de cores tendo resina reciclada como veículo ou masters de aditivos talhados para melhorar a performance final dos polímeros para segundo uso.
A indústria brasileira de masters, como mostram nesta edição as entrevistas de vários formadores de opinião, está imersa de corpo e alma nessas tendências e em caminhos sem volta, como o alastramento da automação nas fábricas e o embarque em materiais de vanguarda. Uma referência é o grafeno, nanomaterial de recente produção nacional, excepcionais propriedades mecânicas e de barreira e de condutividade térmica e elétrica, já ofertado na praça nas vestes de masters desenvolvidos no Brasil.
Em meio a tanto alvoroço, o perfil do setor nacional de masters opera com bases consolidadas. Com múltis em pé de igualdade com grandes componedores domésticos formando na ala de competidores mais perenes e um formigueiro de indústrias menores, reduto que sempre foi de expressiva mortalidade de novos entrantes.
Na segunda metade do século passado, primórdios da indústria brasileira de masters, a proliferação de competidores de menor porte era explicável pela baixa barreira de entrada no ramo, pela substituição de importações e pelo desbravamento de mercados para os masters, nas pegadas das aplicações que iam sendo embolsadas pelos plásticos. Corte para o cotidiano atual praticamente inexistem aplicações do plástico inéditas no país e, na contramão do passado, quando a praxe era a empresa evoluir ao sabor da demanda, hoje é mandatório para os componedores crescerem com intensidade e o quanto antes. É o que prescreve a necessidade de capital substancial para uma indústria conseguir de mão de obra e maquinário qualificados para corresponder às novas tendências e para atingir economia de escala. O meritório começo do setor é página virada, uma embaçada foto em preto e branco. Nada a ver com a indústria que agora ferve na troca rápida de valores nos bastidores das cores. •