Devotos da lei da aerodinâmica reiteram que, com asas pequenas, corpo pesado e a ação da gravidade, besouro não poderia voar. Mas ele voa. O choque de realidade pode ser transposto para o balanço deste ano das máquinas básicas e periféricos nacionais para transformar plástico. Pela lógica vigente para bens de capital, num ambiente carregado por inflação no topo, Selic de dois dígitos e crédito na retranca e carestia, a clientela evaporaria. No entanto, as vendas deslancharam sob pressão de uma ficha que enfim caiu: sem atualização tecnológica, nem pensar em produzir melhor e mais em conta. Este foco dá o tom da entrevista a seguir de Amilton Mainard, presidente da Câmara Setorial de Máquinas, Equipamentos e Periféricos para a indústria do Plástico (CSMAIP), integrante da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas (Abimaq).
Segundo projeções divulgadas suas, em 2021 as vendas dos equipamentos agrupados na CSMAIP cresceram 12%. Qual o saldo do movimento em 2022 e quais as perspectivas para este ano? Por quais motivos?
De fato, a pandemia acelerou a produção de máquinas para transformação de plásticos no Brasil. Esse efeito se repetiu em 2022, quando tivemos praticamente os mesmos 12% de aumento na produção e esses números não deverão ser diferentes em 2023. Temos a expectativa de fechar o ano com aumento por volta dos 13%. Um dos pilares desse crescimento foi a feira Plástico Brasil, em março último, pois alavancou o mercado. Novas tecnologias, a entrada cada vez mais forte da produção inteligente (indústria 4.0), eficiência energética e serviços de excelência são alguns dos fatores que ajudam a explicar essa tendência positiva em vigor desde 2019.
2023 fecha marcado por inflação, carestia, juros altos, poder aquisitivo tolhido e crédito escasso e caro. Qual o impacto desse quadro sobre demanda por máquinas básicas para plástico este ano?
Pesquisas realizadas há alguns anos pela ABIMAQ junto a associados apontam que o setor de máquinas e equipamentos (BK) em geral, não somente plástico, compra, em cerca de 76% das transações, usando recursos financeiros próprios. O custo extorsivo do capital nos levou a esse cenário. A inflação nacional não teve impacto direto em nossos resultados, mas, sim, ele é impactado pela inflação global por conta de insumos e componentes que importamos, embora esses preços internacionais também tenham se acomodado um pouco este ano. Outro fator do aquecimento é o grande avanço do agronegócio e da construção civil. Apesar da demonização do plástico, ele continua fundamental em muitas áreas. Também pesou a favor uma certa estabilidade do câmbio que aumentou a nossa participação no mercado latino-americano. Boa parte do nosso crescimento se deve ao aumento considerável das exportações.
Devido à economia mundial retraída e super oferta global de resinas virgens o preço dos reciclados no Brasil tem ficado mais alto ou equiparado aos preços dos plásticos de primeiro uso. Qual o efeito dessa situação sobre a demanda interna por máquinas para reciclagem este ano?
De fato, a oferta de resinas virgens aumento nesse ano, mas ainda não o suficiente para impedir o crescimento dos reciclados no Brasil. Preço é fator importante, mas não o mais importante. Muito se fala em sustentabilidade e as conclamações nesse sentido são cada vez mais apoiadas por campanhas privadas e políticas públicas, sobre temas como conscientização para o uso e descarte correto, ESG e economia circular. Esse mercado não para de crescer. Há também uma inclusão social muito grande nesse movimento.
Cresceram as importações de aço asiático este ano. Esta alta influi ou não em prol da redução de custos para a construção de máquinas brasileiras para plástico no período atual?
Aço é insumo importante na formulação dos custos de máquinas. O aumento visível da entrada do metal, vindo principalmente da Ásia, ajudou a estabilizar o preço no mercado interno. No entanto, há um movimento para aumentar a alíquota do imposto de importação desse produto, que, se efetivado, vai impactar diretamente os preços de nossas máquinas além de piorar o Custo Brasil, pois teremos um aumento em cadeia. Isso vai na contramão do que precisamos. Queremos mais liberdade e menos protecionismo. Imagina se essa moda pega e vai para outros insumos como os polímeros? Desastre total.
Estudo com 45 nações da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) lista o Brasil como o 4º país com menor percentual de matriculados no ensino técnico-profissionalizante. De que adianta o transformador investir em máquina atualizada sem ter quem a opere a contento?
Confesso que não conheço esse estudo da OCDE em detalhes, mas sei das dificuldades que todos os setores da indústria, em geral, estão passando pela falta de mão-de-obra especializada em diversas áreas. A Abimaq tem um departamento de tecnologia avançada que vem construindo pontes com outras entidades, como Senai, CNI, universidades e o próprio governo, com o objeto de encontrar caminhos e soluções para esse grave problema. Em nosso setor, tanto no segmento de máquinas quanto no dos transformadores, não tem sido diferente. A busca incessante pela qualidade e produtividade a custos menores necessita muito de uma mão-de-obra consistente. O esforço hoje é para manter o que temos e, quando possível, incrementar.
HDB – Fazer a diferença é uma arte
“A taxa de desemprego caiu de 9,7% para 8,7% este ano, indicando forte desempenho industrial, o PIB deve crescer 3% e a Selic, hoje em 12,25%, nos leva a crer em ligeira queda no ano que vem”. Herbert Buschle, presidente da HDB, representação de máquinas como injetoras alemãs Dr.Boy e linhas de injeção-sopro da chinesa Exacta digere estes indicadores da conjuntura para justificar o recuo em suas vendas este ano, após um 2022 excepcional, e a cautelosa expectativa de empate em 2024 com o exercício que se encerra.
Nos últimos 15 anos, a HDB contabiliza mais de 90 máquinas de injeção-sopro colocadas no mercado, além de 190 moldes para este processo. Entre os feitos realizados nesse ínterim com a parceira Exacta, ele destaca a substituição de componentes por contratipos alemães de melhor qualidade, a adequação dos equipamentos à regulação de segurança NR 12, o desenvolvimento de um software 100% brasileiro e o envolvimento da equipe da HDB desde o estágio embrionário dos projetos ao try out definitivo e com treinamento no chão de fábrica do cliente. “Daí porque muitos transformadores optam por células fechadas à base de nossas máquinas, moldes e periféricos”, assinala o dirigente. No embalo, ele ressalta como vantagens da tecnologia de injeção-sopro sobre o tradicional sopro por extrusão contínua as velocidades superiores, dispensa de operador, zero aparas e abertura do gargalo com precisão na faixa de ± 0.1.
No campo da injeção convencional das linhas Dr. Boy, Buschle comenta que a marca esteve há bom tempo abandonada no Brasil e o foco imediato da HDB é reconquistar a clientela local incutindo confiança nas parcerias propostas. O mostruário da Dr. Boy abrange máquinas de 63 a 1.250 Kn de força de fechamento e, no momento, a HDB fixa sua mira nas linhas de 100 a 500 Kn. Buschle vê espaço para a Dr.Boy nesta faixa ultra concorrida do mercado de injetoras com base em vantagens desses equipamentos a exemplo da área menor ocupada, economia energética, largos vãos entre colunas, interface homem/máquina simplificada e a opção das injetoras híbridas, com estrador, dosagem e injeção elétricos. A propósito, complementa o agente, a Dr. Boy carimbou este ano com um lançamento de status verde: uma injetora que trabalha com corrente contínua para fábricas movidas a energia solar.
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