O potencial resiste ao mau tempo

2019 foi mais um ano duro para o setor plástico, mas o otimismo permanece enquadrado

No saldo acumulado de janeiro a dezembro de 2019 versus o mesmo período em 2018, o setor industrial amargou queda de 1,1% na produção, após modesta reanimada de 2,5% em 2017 e 1% em 2018, divulgou à entrada de fevereiro o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O grupamento dos produtos de plástico acusou recuo de -1,6%, a reboque da pífia performance aferida em bens intermediários (-2,2%), duráveis (2%) e semiduráveis e não duráveis (0,9%).

O pente-fino do IBGE aguou as projeções ventiladas em janeiro pelo baronato do empresariado nacional, de velas astrais içadas com a baixa das taxas de inflação e Selic e com a melhoria pontual do consumo das famílias com altos índices de endividamento, mérito do artifício imediatista da liberação, anunciada pelo governo na segunda metade de 2019, dos recursos do fundo PIS-PASEP e do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Para 2020, o esporte da futurologia econômica tromba com visões de continuidade da calmaria na indústria e geração de emprego, tendo ao fundo o governo sem caixa e a incerteza para investimentos. E há as conturbações fora do Brasil – desde a quebra da Argentina à estagnação europeia e redução do crescimento da China, situação pretejada desde fevereiro pelo advento do coronavírus, com sequelas imediatas na economia global.
É este o sistema nervoso central que selará o destino este ano da cadeia plástica brasileira. Na radiografia preliminar da MaxiQuim, o consumo aparente de resinas commodities recuou -0,4% no país em 2019. Na entrevista a seguir, Solange Stumpf e Marta Loss Drummond, respectivamente sócia e analista da consultoria, dissecam a palidez do último balanço e citam razões básicas para o setor plástico começar a reagir à prostração em 2020 – se o inesperado não meter o bedelho.

Em quais pontos e por quais razões os resultados do setor plástico em 2019 destoaram das suas previsões feitas no início do ano passado?
No início de 2019, nossas expectativas eram de um aumento de 4% no consumo aparente de resinas frente a 2018, acima do previsto para o PIB na época, de 2,3%. Além do PIB não ter crescido dentro do esperado, houve uma redução de estoques no ano passado, por conta dos ajustes nas expectativas sobre o mercado, que andavam altas no segundo semestre de 2018. As resinas nas quais apostávamos que teriam bom desempenho eram polipropileno (PP) e PVC. A primeira já vinha numa trajetória ascendente, impulsionada pelo setor automotivo, Quanto a PVC, depositávamos esperanças numa recuperação da construção civil, dando uma guinada no mercado de base fraca do vinil. Para polietilenos (PE) também antevíamos um aumento do consumo, impelidos pelos setores de alimentos, cosméticos, higiene pessoal e limpeza. No entanto, quando virada a página de 2019, constatamos leve queda no consumo de termoplásticos, pois o aguardado reerguimento da construção civil não aconteceu e o setor automotivo se acomodou. Os segmentos de consumo não duráveis também não cresceram conforme se previa, refletindo o desempenho da economia como um todo.

Como avalia o impacto do desastre geológico em Maceió sobre a produção e preços internos de PVC em 2019?
Nossa estimativa é que a produção nacional de PVC tenha caído cerca de 20% em 2019, ocasionada basicamente pelos problemas em Alagoas que paralisaram a mineração de sal-gema pela Braskem e afetaram sua capacidade do vinil, alojada no mesmo Estado e na Bahia. Parte desta lacuna foi suprida pelas importações do polímero, que cresceram mais de 50% no ano. Pelo mesmo motivo, PVC foi a resina de vendas externas brasileiras mais afetadas, como uma queda de 31%. Mesmo assim, as vendas internas com certeza foram impactadas pela falta de produto local, o que ajuda a explicar a redução de 6,7% no consumo aparente de PVC.

No tocante aos preços do vinil, aumentaram 6% em Reais em 2019, perante a média observada em 2018. Na mesma base de comparação, os preços de PEs e PP declinaram, respectivamente, 11% e 3%. A alta de preços de PVC tem, basicamente, menos a ver com a restrição na oferta de produto local do que com a valorização do dólar ao longo do ano passado, situação que afeta direto os preços das importações que, por conseguinte, contaminam os preços domésticos. A situação em Alagoas é crítica e deve permanecer indefinida por algum tempo. No momento, porém, o mercado brasileiro não está desabastecido de resina.

PET e PS padecem há muitos anos no Brasil de um agudo excedente sem ter como ser atenuado com exportações, devido à super oferta mundial e preços brasileiros pouco competitivos. Além disso, ambas as resinas sofrem com o repúdio da economia circular a descartáveis e embalagens de uso único. Se isso continuar, como os produtores de PS e PET poderão viabilizar suas operações?
Entre as possibilidades, consta investir em novas aplicações ou embalagens de maior valor agregado, como as inteligentes, e atuar junto com os clientes para desenvolver o que o mercado está demandando. Acreditamos que PS é mais afetado que PET, por estar presente em descartáveis cada vez mais bombardeados pela sociedade, como copos, canudos, pratos e talheres (ver seção Visor à pág. 6).

Já PET deve ser menos prejudicado, pois ganhou recentemente espaço em outras aplicações, como embalagens termoformadas ou frascos de produtos como sucos, e não criticados de modo tão intenso como a garrafinha de água. Além disso, PET reciclado grau alimentício tem sido cada vez mais utilizado nas embalagens de bebidas e alimentos, o que alivia a pressão ambiental sobre o poliéster.

Analistas apostam na estabilização do dólar na faixa de R$ 4,00 em 2020. Esta cotação deve ou não arrefecer as importações brasileiras de PE e PP este ano?
Com o dólar alto, obviamente as importações são menos atraentes, mas também temos que analisar os preços dos fornecedores internacionais. Se estiverem baixos, é possível que, mesmo com o dólar caro, as importações sejam competitivas. Foi o que aconteceu em 2019, quando os preços para exportação de PE dos EUA caíram entre 20% e 30% na comparação com 2018 e as importações brasileiras da poliolefina aumentaram 7% em 2019. Para 2020, estão previstas novas reduções de 15% a 20% nos preços internacionais (em dólar) dos polietilenos.

Já os preços de PP da Ásia, principal referência para a resina no Brasil, caíram na faixa de 15% em 2019 e uma queda dessa magnitude também é esperada para 2020. No ano passado, as importações brasileiras de PP aumentaram 8%. Portanto, pode-se esperar que as importações de poliolefinas se mantenham competitivas em 2020, considerando-se o câmbio no patamar atual.

À sombra de juros e inflação baixos, tímido recuo no desemprego e discreta recuperação do consumo, o governo confia em aumento de 2% a 2,5% do PIB este ano, mesmo ainda sem impulso relevante de investimentos na produção. Como estes indicadores influem na previsão da MaxiQuim para o consumo aparente de resinas em 2020 versus 2019? Qual a expectativa para este ano? Justificar.

Nossa expectativa é de um crescimento de 3% no consumo aparente de resinas termoplásticas em 2020. Nessas primeiras semanas do ano, observamos que o mercado está otimista. É fato que em janeiro de 2019 também havia um otimismo, mas era mais voltado a atuação do novo governo, expectativa de implantação de medidas, que demoraram a serem concretizadas, o que acabou impactando negativamente na economia. Para 2020, acreditamos que esse otimismo seja mais concreto, relacionado ao mercado efetivamente. Economicamente, o país está melhor, as pessoas estão com um pouco mais de disponibilidade de dinheiro, houve o resgate do FGTS e há menos pessoas desempregadas. Mesmo que muito seja emprego informal, temos sim mais dinheiro circulando, um gasto maior pelo consumidor final e isso é o motor da indústria de plásticos. Setores de bens duráveis devem se recuperar, como o automotivo e a construção civil (maior crescimento esperado no segundo semestre), impactando positivamente resinas como PP e PVC.

Na torcida pra sair do pause

A esperança é de que a política econômica cure a anemia da demanda de resinas

na torcida pra sair do pause

“No início de 2019 o mercado estava mais otimista, à espera de mudanças e melhoria do

cenário competitivo, por conta da implementação de reformas como a previdenciária, tributária e administrativa”, exemplifica José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast). Mas ao longo do ano passado, ele assinala, os resultados foram tímidos e a morosidade ditou o rito de tramitação das reformas estruturais. Não deu outra. O mercado manteve a praxe de cruzar o ano depreciando as expectativas de crescimento do PIB, partindo de 2,5% para abaixo de 1% no quarto trimestre, situa Roriz. “No plano geral da produção industrial, a redução das projeções foi até pior, pois o país saiu de 2018 com uma expectativa de 3% de crescimento e fechou 2019 com retração de -1,1% na manufatura”, descreve o dirigente. “Como os artefatos plásticos têm lugar em quase todos os segmentos industriais, o desempenho frustrante deles refletiu-se na estagnação (0,1%) da indústria de transformação de resinas”.

Pela fita métrica da Abiplast, 2019 fechou com produção de transformados plásticos de 6,1 milhões de toneladas, volume -1,6% abaixo do resultado de 2018. Como subreferências, a entidade cita o recuo de -2,6% na produção dos laminados no ano passado e, do lado animador, o aumento de 2,2% na fabricação de embalagens e de 5% na de acessórios para a construção civil face aos indicadores de 2018. Na esfera da balança comercial, 2019 manteve o habitual saldo desfavorável ao Brasil. Mesmo com o dólar na nuvens, as importações de artefatos plásticos atingiram 771.000 toneladas, enquanto as exportações ficaram em 281.000, desaguando no consumo aparente de 6,6 milhões de toneladas ou -1,2% diante do saldo de 2018. Os valores reais da produção e faturamento do setor caíram -1,1% em 2019 frente ao ano passado.

Cisne de vinil
No jargão financeiro, cisne negro é um imprevisto chocante e influente. No balanço de 2019 do setor plástico, o cisne negro chama-se PVC, devido ao desastre geológico em Alagoas, que paralisou em maio passado a mineração local de sal-gema, insumo-chave para a cadeia soda cloro. “A interrupção atingiu toda a capacidade de PVC da Braskem (a maior do país), compreendida pela fábrica de 460.000 t/a em Alagoas e a de 250.000 na Bahia”, assinala Roriz. A solução de curto prazo tomada pela empresa, prossegue o dirigente, foi trazer dos EUA dicloroetano (EDC, componente da produção de PVC) e complementar sua desfalcada oferta interna do polímero com importações de resina colombiana. “Os desembarques de PVC passaram do volume médio de 85.000 t/a para 283.000 em 2019 e, especificamente entre julho e outubro, aferiu-se um aumento de quase 8.000 toneladas no volume médio de resina remetida da Colômbia”, destaca Roriz, não enxergando no preço interno de PVC no ano passado movimentos atípicos em relação ao mercado global.

Analistas apostam na estabilização do dólar este ano na faixa de R$ 4,00. Roriz comenta que o dólar caro e sujeito a sobressaltos afeta negativamente as compras do transformador, sejam as matérias-primas locais ou de fora. “As resinas são precificadas aqui considerando-se os custos de internação do produto importado, tornando assim o nível da taxa cambial pouco relevante para frear ou estimular as compras externas delas”, sustenta o presidente da Abiplast. “Portanto, continuaremos a verificar o mesmo nível de importações frente ao consumo doméstico de termoplásticos”.

Roriz comenta que, pelas suas sondagens, o empresariado do plástico está otimista com as perspectivas, pavimentadas por inflação e juros baixos, para produção, vendas, investimento e contratação de pessoal este ano. “É esperada uma recuperação de 2% a 2,5% do PIB sobre uma base baixa, com o respaldo das contas públicas fora da zona do desastre e desde que as demais reformas para reduzir o Custo Brasil sejam realizadas”. No mais, ele ressalta que as previsões para o ano devem atentar também para o cenário político e econômico da América Latina, as tensões no Oriente Médio e desdobramentos da guerra comercial EUA x China. Se tudo correr nos conformes, a Abiplast põe fé em aumento de 1,5% na produção e de 2% no saldo do consumo aparente de transformados este ano, a cavalo do PIB 2% maior.

Mudanças de hábitos
Ensaios de vento a favor também são captados pela Braskem, único produtor de poliolefinas no país e o maior dos dois de PVC. Fábio Santos, diretor de estratégia de produto, comunicação e serviços, justifica o pensamento positivo para 2020 com a taxa Selic diminuta, recuo no desemprego, gradual aumento no consumo das famílias e, fator estabilizador do dólar, a primeira fase de apaziguamento da guerra comercial EUA x China. O cenário otimista bafeja PVC, em particular, ele distingue, devido à adrenalina dos juros baixos, crédito facilitado e fluxo de investimentos injetada na veia da construção civil. Em paralelo, ele sente chão firme este ano para suas poliolefinas no agronegócio em frentes de bens duráveis, como os setores automotivo e de eletrodomésticos.

Ao olhar 2019 pelo retrovisor, Santos constata crescimento ao redor de 3% na demanda brasileira de PE sobre o saldo de 2018. “Aplicações na Infraestrutura e bens duráveis, como tubos, geossintéticos e agrofilmes se saíram bem, em contraste com o desempenho mais fraco de sacolas e bobinas picotadas, coating e filmes industriais, devido a mudanças de hábitos de consumo e preocupações com a sustentabilidade”. Na esfera de PP, Santos fixa em 2% o avanço da demanda interna no ano passado, mérito em particular dos segmentos de nãotecido e eletrodomésticos. Do lado das performances a desejar, ele aponta o recuo de PP em tampas de garrafas como as de refrigerantes e água mineral, espaço cedido para polietileno de alta densidade (PEAD).

Instigada pela superoferta internacional, as importações brasileiras de poliolefinas continuaram a sobressair em 2019, mesmo com o fator inibidor do dólar na faixa de R$ 4,00. “Os preços domésticos acompanham as tendências internacionais, uma lógica inalterável pelo câmbio”, pondera o diretor da Braskem, acrescentando que as importações dependerão mais da disponibilidade de material nos centros produtores de custo competitivo, caso da petroquímica norte-americana . “No Brasil, a volatilidade tem maior influência na participação das importações no mercado interno, pois há um componente de risco na decisão de comprar resinas do exterior”. Segundo divulgados indicadores relativos ao Brasil em 2019 das consultorias Platts e Icis, PP e PEAD apresentaram, respectivamente, preço interno médio de US$ 1.165/t e US$ 1.623/t perante preço médio internacional de US$ 828 e US$ 977.

Na seara de PVC, a Braskem se desdobra para prover segurança à população dos bairros de Maceió prejudicados pelo desastre ecológico e para restabelecer a normalidade de sua atividade produtiva, deixa claro Alexandre de Castro, diretor comercial de vinílicos. Conforme repassa, a extração de sal-gema na região está paralisada desde a primeira metade de 2019, de modo que o fechamento, anunciado pela empresa, de 15 de seus 36 poços de mineração locais não afeta diretamente sua operação do vinil. “Importamos EDC para produzir PVC, ajustamos nossa política de estoques e, em caráter pontual, trouxemos resina do exterior para reforçar a garantia de suprimento do mercado”. Castro frisa que os preços domésticos de PVC são balizados por referências internacionais e sua formação não foi afetada pelo desastre ecológico (ver também seção Sensor à pág. 20). Castro arremata assegurando que sua operação de PVC volta à regularidade este ano, com emprego de sal-gema adquirido de terceiros para bombear o complexo alagoano de soda/cloro da Braskem.

Caminho sem volta
Importadora independente, a Place Resinas estourou champanhe na virada do ano. “Prevíamos aumento em torno de 15% nas transações com PE e PP e crescemos 23% em volume e 18% no faturamento sobre os resultados de 2018”, comemora o diretor comercial Cleber Motta. “A petroquímica brasileira focou muito em exportações das duas poliolefinas no ano passado, criando uma situação contraditória ao impulsionar assim as importações de PE e PP, que acabaram ofertados aqui em condições mais acessíveis”.

Motta discorda do cordão de analistas que enxerga o dólar assentado na faixa de R$ 4,00 este ano. Ele argumenta que o câmbio ainda cruza um terreno minado pela tensão no Oriente Médio, guerra comercial EUA x China e o abusivo e crescente excedente norte-americano de PE obtido pela rota do gás natural mais barato do planeta. “À margem da cotação cambial, as importações continuarão, até mesmo como meio de regular o preço interno, também afetado pelo dólar. É um caminho sem volta”.

Pela régua da consultoria MaxiQuim, as importações de poliestireno (PS) em 2019 pularam 52% sobre o saldo de 2018, apesar da superoferta interna e dólar caro. Motta aposta na continuidade desses desembarques até dezembro. “A economia voltou a crescer no ano passado, favorecendo campos de PS como a construção civil e a China, maior consumidor mundial da resina, baixou seu pique de crescimento, abrindo espaço para ofertas mais frequentes do polímero internacional em outros mercados, como o Brasil,o que se repetirá este ano”.

Conexão estireno
Marcelo Natal, diretor comercial para estirênicos da produtora Unigel, tem outra leitura do salto das importações de PS no ano passado. “A partir do segundo semestre de 2019, a desaceleração global reduziu a procura por estireno e, para agravar o quadro, novas capacidades do monômero partiram na China e o estireno exportado pelos EUA foi barrado do mercado chinês pela guerra comercial entre os dois países”, argumenta o executivo. “A soma desses fatores resultou no excedente do monômero norte-americano pressionando a oferta internacional de PS, com erosão das margens dos seus produtores”.

Mesmo confrontado com a engorda dos desembarques de PS, Natal sublinha que, em 2019, a produção nacional da resina superou o registro anterior. “O mercado interno também cresceu acima da expectativa inicial de 2% e as exportações da resina aumentaram mais de 15% sobre as remessas de 2018”. Um alento para PS veio de um indicador da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletrônicos (Eletros): a produção do setor de linha branca (inclusos refrigeradores, de uso intenso de PS) pulou 7,8% em 2019 em relação a 2018.

“Apesar dos desafios nacionais e do pouco incentivo para o incremento da produção industrial, os índices macroeconômicos do Brasil foram bem positivos em 2019, a exemplo da taxa básica de juros e inflação baixas e da geração de um milhão de empregos formais”, pondera Natal. “Daí o nosso otimismo com a economia nacional e a expansão do consumo aparente de PS este ano”.

Reinaldo Kröger, vice-presidente da Innova, também produtora de PS, segue a mesma trilha. “Houve avanços na política econômica em 2019 e eles estão na base das projeções vigentes para 2020”, sintetiza. No início do ano passado, ele rememora, o mercado trabalhava com uma perspectiva otimista, gerada pelo novo governo. “Logo adiante, observou-se uma velocidade de reação bem abaixo da esperada e o consumo de PS foi impactado por essa dinâmica de mercado”. Kröger pondera que o pensamento estratégico de uma petroquímica mira sempre o longo prazo. “Uma empresa de capital intensivo precisa pautar investimentos à parte dos humores do mercado”.

Melhor que o esperado
Graças ao crescimento no ano passado, o mercado brasileiro de PET grau garrafa voltou ao patamar de 2017, percebem Luis Henrique Faria Bittencourt e João Nave, respectivamente gerente de vendas de ácido tereftálico purificado (PTA) e PET e coordenador de inteligência de mercado da produtora PQS. “Pelos dados preliminares, o consumo interno da resina em 2019 aumentou em volume ao redor de 10% sobre 2018, bem acima das nossas expectativas em janeiro do ano passado”, assinalam os dois executivos, lembrando que 2018 foi uma parada dura, em razão da greve dos caminhoneiros e troca do controle acionário das duas indústrias produtoras de PET no país, PQS e Indorama. Na garupa da melhora da economia, eles antevêm para este ano um consumo de PET acima de leve do projetado crescimento do PIB. “Nossos clientes operam com ociosidade e, havendo demanda, sua produção subirá sem depender de grandes investimentos na capacidade”, atestam Bittencourt e Nave.

São boas novas também para os produtores locais de PET, hoje às voltas com capacidade total de 1 milhão de t/a. Bittencourt e Nave sustentam que as vendas internas e externas livram as duas fábricas do poliéster de rodarem com ocupação insatisfatória. No plano do comércio exterior, eles asseguram, as exportações brasileiras de PET aumentaram 12% no ano passado, apesar de adversidades como a recessão na Venezuela e Argentina. Na PQS, contam Bittencourt e Nave, “trabalhamos muito para deslocar da América do Sul a concorrência asiática, a despeito dos altos custos produtivos, trabalhistas e energéticos do Brasil”.

Zorra fiscal
Embora as importações de poliolefinas tenham sido uma pedra no sapato, os agentes autorizados de resinas viraram a página de 2019 com vendas totais de 398.500 toneladas, volume 5,5% acima do resultado anterior, compara Laercio Gonçalves, presidente da Associação Brasileira dos Distribuidores de Resinas Plásticas e Afins (Adirplast). “Era o resultado esperado, pois não cogitávamos qualquer mudança significativa na política econômica ou no mercado de polímeros”, ele justifica. Do movimento total aferido, ele atribui 239.000 toneladas a PE: 99.000 a PP e 56.000 a PS.

Gonçalves fecha com o consenso do setor plástico de que as reformas estruturais acalentadas pelo governo são a rede de sustentação do crescimento do mercado de termoplásticos. Gonçalves distingue, em especial, a urgência da reforma tributária, pois não há como a distribuição expandir de modo significativo no atual labirinto fiscal. Antes da crise em 2015, a distribuição chegou a comercializar 500.000 t/a. O mercado não evolui a contento há muitos anos, nota o presidente da Adirplast, acrescentando que qualquer ação do governo para melhorar o ambiente de negócios é bem-vinda. “Com isso, é possível que os distribuidores tenham este ano um desempenho melhor que o de 2019. É difícil arriscar um percentual, mas temos capacidade e estrutura para nossas vendas crescerem a um índice equivalente ao triplo do avanço do PIB”.

Obra em progresso

Unipar mergulha na busca de competitividade e eficiência

Unipar Maurício Russomano
Russomanno: prospecção de oportunidades de investimento.

Maurício Parolin Russomanno abriu em janeiro sua gestão como presidente da Unipar, produtora de PVC, soda/cloro e derivados no Brasil e Argentina, alardeando planos de aquisições e projetos dentro e fora do Brasil. Focado em ampliar as vendas e a competitividade, o dirigente não esmiúça as intenções de investimentos, mas deixa claro que estão fora de cogitação ingressos no beneficiamento do polímero vinílico e na sua transformação. Russomanno exemplifica como referência dos planos afagados a investida upstream na cadeia produtiva na joint venture de R$ 620 milhões com a AES Tietê num projeto de 155 megawatts de energia eólica na Bahia. Ciente das escalas bem maiores e custos produtivos bem menores nos EUA e China, ele se diz aberto a estudar hipóteses de movimentos como incorporar ativos da Unipar aos de concorrentes formadores de preços internacionais.

No Brasil, a Unipar opera uma capacidade nominal de 300.000 t/a de PVC remanescente de 1956 e contemplada recentemente com investimentos em modernização. Na Argentina, o complexo de 240.000 t/a da resina em Bahia Blanca roda desde 1986, quando era controlado pela empresa fundadora local Indústrias Patagonicas (Indupa). Russomanno reconhece carecer de escala e custos para emparelhar com produtores do vinil como os dos EUA, empoleirados no eteno obtido pela rota do gás natural mais barato do planeta, sem falar em gastos de eletricidade muito inferiores aos do Brasi (fator vital na eletrointensiva cadeia soda/cloro). Apesar dessa vulnerabilidade, Russomano informa que 30% da sua produção binacional de PVC foi exportada em 2019, inclusive para destinos afastados do Cone Sul, como África e Ásia.

No balanço do consumo aparente de PVC em 2019, o desastre geológico em Maceió que afeta desde maio passado a mineração de sal-gema e a produção do vinil pela Braskem (nº1 do Brasil em PVC), explica o salto maiúsculo das importações do polímero no ano passado. Esta pendência no suprimento doméstico da resina, o governo Bolsonaro propenso a abrir a economia e, em 2021, o fim do último quinquênio de vigência da sobretaxa de dumping renovada desde 1994 para PVC dos EUA e México, levam Russomano a reagir com ações para afiar a competitividade da Unipar, também preocupada com o impacto do excedente mundial sobre as margens do seu negócio de soda cáustica. A possibilidade de a Unipar ampliar sua capacidade brasileira de PVC é remota, pois depende do eteno fornecido somente pela rival Braskem.

Além dos recursos colocados na melhoria do parque fabril da Unipar, Russomanno volta-se para aumentar a eficiência mediante o incremento das sinergias entre equipes técnicas e comerciais e entre os efetivos das três fábricas. Duas delas estão em São Paulo, Cubatão (soda cáustica, cloro e derivados) e Santo André (PVC, soda/cloro e derivados) e o trio se completa com o complexo argentino (PVC, soda, cloro e derivados). Ele ilustra a flexibilidade operacional com a possibilidade de, se necessário, remeter dicloroetano (EDC, insumo de PVC) complementar de Bahia Blanca para suportar a produção do polímero vinílico no Brasil – ou vice versa. A propósito, para gerar PVC no Brasil, a Unipar dispõe de 406.000 t/a de capacidade de EDC em Santo André. A divisão Unipar Carbocloro (soda, cloro e derivados de cloro) tem potencial para gerar 140.000 t/a em Cubatão e a operação de PVC na Argentina dispõe de capacidade de 431.000 t/a de EDC.

Retomando o fio do término em 2021 do antidumping para PVC dos EUA e México e da idealizada abertura comercial do governo Bolsonaro, Russomanno afirma nada ter a objetar se a indústria química/petroquímica brasileira, dependente primordialmente da rota nafta, mais cara que a do gás, for contemplada com condições de custos similares às desfrutadas pela concorrência internacional, a exemplo dos gastos de eletricidade e gás natural. Por esta linha de raciocínio, a questão da ultra renovada sobretaxa brasileira contra dumping (preço de exportação inferior ao praticado para o produto similar nas vendas para o seu mercado interno) de PVC norte-americano e mexicano se entrelaça às fraquezas estruturais da petroquímica nacional.

Russomanno não abre o volume de sua produção de PVC no Brasil em 2019. Na Argentina, ele informa que a operação não sofreu com a interrupção do suprimento de eteno pela única fonte do insumo no país, o complexo industrial da Dow em Bahia Blanca, paralisado grande parte do ano por incêndio e explosão de um reator. “Contornamos o problema importando eteno e EDC”. Ainda no âmbito de 2019, o presidente da Unipar estima em 970.000 toneladas o mercado brasileiro de PVC em suspensão e em 47.000 toneladas o da resina em emulsão. “O total representa 2,3% do mercado global”, situa Russomanno. Para 2020, o dirigente pressente dias melhores para o consumo interno da resina, nas pegadas do discreto otimismo manifestado em janeiro pela construção civil. “Outra oportunidade que visualizamos é o novo marco regulatório do saneamento básico, a ser analisado até março pelo Senado e propondo maior participação da gestão privada do serviço nos municípios”, destaca Russomanno. Com isso, ele percebe uma tendência de demanda crescente por cloro e PVC para tratamento e condução de redes de esgoto nos próximos 10 anos. No Brasil, arremata o presidente da Unipar, perto de 35 milhões de pessoas, não têm acesso à água potável; quase 100 milhões carecem do serviço de coleta de esgoto e banheiros estão ausentes de cerca de 1,6 milhão de moradias. •

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