Justo quando as revoluções gêmeas da inteligência artificial e biotecnologia prenunciavam, para pasmo e euforia geral, o alcance rápido de meios para prolongar a vida humana e detectar no organismo problemas de saúde ainda no nascedouro, eis que explode o coronavírus sem aviso prévio dos algoritmos interligados à medicina e bioquímica. Virtude ou pecado, conforme o analista, a diversidade de mercados e aplicações descarrega sobre a indústria do plástico toda a angústia e ansiedade do mundo vagando no nevoeiro da pandemia e, após seu controle, tateando no escuro da recessão.
Com o barril abaixo de US$ 30 e o planeta encharcado de petróleo, questiona-se agora a sobrevida da geopolítica da petroquímica até hoje em vigor, balizada pelas importações chinesas e as resinas descendentes do óleo e gás mais baratos da praça, cortesia da rota norte-americana do xisto. Afinal, a crise mundial e as avarias na produção e consumo domésticos baixarão o invejável torque do PIB e consumo da China. Por sua vez, a retração da demanda, alto desemprego e a perda de competitividade dos preços da rota do xisto pegam no contrapé o ciclo nos EUA de expansões na sua desmedida capacidade de polietileno, o termoplástico mais consumido no universo e hoje atolado em excedente mundial caótico. O Brasil nunca formou preços na petroquímica global e, sob recessão pós-quarentena no país e dólar hipertenso na casa de R$ 5 (até o fechamento desta edição), manda a lógica que as resinas domésticas não sejam atazanadas por importações concorrentes, além do que nossas exportações devem empalidecer em volume e margens, por força da sobra recorde de polímeros mundo afora. Retomando o fio da China, o impacto da sua parada na cadeia global de suprimentos já inspira debates sobre meios para reduzir a dependência de muitos países de insumos e componentes em sua esmagadora maioria vindos de fabricantes chineses.
O coronavírus e a tesourada nos custos sempre engrossada em tempos de crise também devem fortalecer na cadeia plástica a inclinação por contatos e transações virtuais em detrimento de encontros presenciais. Na mesma trilha, redutos da transformação superlotados de transformadores de baixo fôlego financeiro e sem diferenciais tecnológicos tendem a se abrir à consolidação de empresas.
Mas não há desgraceira sem respiros positivos. Por exemplo, a pandemia tirou os setores fármaco e médico-hospitalar dos grotões para a suíte dos mercados vips do plástico no Brasil, como indicam as produções aquecidas de embalagens de medicamentos e desinfetantes e o clima tornado propício para investimentos na oferta nacional de artigos médico hospitalares de nãotecido. No mais, o coronavírus teve o condão ímpar de brecar a injusta nazificação do plástico pelo irracionalismo ambientalista, tornando a sociedade bem mais ciente da importância dos descartáveis e embalagens do material para a saúde pública e alimentação. Uma merecida restauração do status do material, também solidificada pela espontânea conduta de petroquímicas, transformadores, componedores e distribuidores doando recursos, mão de obra e produtos para ajudar no combate à pandemia. Um exemplo viralizador. •