Por volta do início deste século, a componedora Cromex, do grupo Itap, era a referência nacional de profissionalismo em masterbatches. O grau de qualificação de seu pessoal destoava tanto da média no ramo que, à certa altura, funcionários prata da casa começaram a deixar a empresa, fosse porque eram cobiçados por indústrias concorrentes e por petroquímicas, fosse por comichão para montar negócios próprios. João Daniel e José Fernandes Basílio Filho formavam entre os melhores da Cromex que pediram as contas para ganhar a vida com sua empresa. Foi esta a bandeirada da largada para a paulistana Cromaster que, em 25 anos de pé no fundo, muito contribuiu para agregar valor e conhecimento em formulações fora da vala comum no Brasil, uma jornada empreendida pelos sócios Daniel e Fernandes, a postos nas respectivas diretorias industrial e comercial, e cujo vigor permanente é ilustrado pela partida este ano da primeira unidade filial, em Minas Gerais. Na entrevista a seguir, José Fernandes revisita a aventura da Cromaster, iniciada em 1999.
Qual a motivação para você e João Daniel, egressos da Cromex, constituirem a Cromaster em 1999, quando o reduto de masters em São Paulo já lotava de competidores?
O sonho do negócio próprio falou mais alto em certa etapa de nossas vidas. O João Daniel havia retornado de Portugal, onde participou por dois anos da implementação da Cromitap Portugal, braço da Cromex para entrar no mercado comum europeu. Foi uma experiência fundamental para ele dominar o know how da partida da fábrica da Cromaster, uma estrutura pequena, com três funcionários operacionais e o João fazendo praticamente de tudo. Minha entrada na Cromaster ocorreu no final de 2002, quando me desliguei da Cromex. A convite do João, nos tornamos sócios em um mercado que conhecíamos e, mais que isso. sabíamos exatamente o que poderíamos fazer. Segui então com ele, para desenvolver a área comercial e com a ajuda dos colaboradores, clientes e fornecedores, chegamos aos 25 anos de uma ótima jornada.
Cromaster partiu com quantas extrusoras e produzindo quantas t/mês? Como é o atual parque de máquinas e ele totaliza qual capacidade instalada?
Até 2003, a Cromaster ocupava área de 200 m² com um efetivo de três pequenas linhas de produção prioritária de concentrados coloridos, nossa maior vocação até hoje. A capacidade girava em torno de 20 t/mês. Hoje estamos instalados numa área de 3.500 m² e a capacidade produtiva anda ao redor 800 t/mês. Ao longo de nossa trajetória, fomos agregando masters pretos, brancos, aitivos e líquidos. No momento, dispomos de 11 linhas de produção, entre extrusoras dupla e monorrosca, misturadores contínuos (continuous mixers) e equipamentos montados internamente que dispersam os pigmentos por atrito e, a seguir, aglutinam os componentes das fórmulas.
Quais as explicações para a expansão e resiliência da Cromaster num mercado abarrotado de competidores?
Acredito piamente que a maior competência da Cromaster sempre foi tratar o mercado em geral com muita seriedade. Entendemos nossa capacidade técnica e em quais nichos temos condições de militar com plena eficiência. As equipes comercial e técnica/fabril foram preparadas para focar o cumprimento dos objetivos traçados pela direção da companhia.
Quais os desenvolvimentos e investimentos marcantes nos 25 anos da Cromaster?
A grande virada foi quando começamos a focar segmentos em que poderíamos utilizar melhor nossas competências, sempre antenados no mercado de coloridos tailor made, além de sensibilizar a equipe para esse foco. Fomos adaptando os equipamentos à medida em que crescíamos de forma sustentável e agregávamos mais clientes à carteira. Por extensão, produtos novos entraram no portfólio por se mostrarem necessários para que pudéssemos prestar atendimento completo.
Por quais motivos a Cromaster optou por crescer sem montar filiais em locais incentivados ou que sediavam clientes distantes de sua sede?
Na verdade, já contamos com uma subsidiária, a Cromaster Filial MG, aberta há três anos em Cambuí, ao sul de Minas. Devido a fatores como as consequências da pandemia, tivemos um atraso na liberação da operação que, enfim, começou este ano. O objetivo dessa nova unidade será produzir alguns materiais considerados um pouco mais ‘commodities’ para atender o mercado mineiro e aqueles nas proximidades, como os estados do Rio de Janeiro e Espirito Santo, além da região central do Brasil.
Quanto à associação ou compra de outras empresas, algumas oportunidades e consultas ocorreram ao longo dos últimos anos, porém, nunca houve interesse efetivo da Cromaster nessa direção.
Por que a Cromaster nunca se interessou em vender seus produtos também por distribuidor nem se interessou em representar no Brasil masters do exterior não produzidos pela empresa?
Já falei sobre isso. Resposta: devido aos objetivos traçados e o foco determinado em ser um ótimo produtor de soluções tailor made. Nunca olhamos muitos para materiais commodities como ponto importante em nosso negócio, apenas complementar. As empresas de distribuição normalmente são preparadas e com interesse em produtos de volumes de alto giro de prateleira. Em masterbatch, os itens que normalmente preenchem este quesito de distribuição são os concentrados brancos, pretos e alguns aditivos; são linhas de produtos que não fazem muito parte do nosso foco.
Quantos clientes ativos e regulares tem hoje em carteira e quantas cores estão padronizadas e disponíveis no seu portfólio?
A Cromaster tem uma carteira superior a 3.000 clientes cadastrados, dos quais em torno de 1.000 compradores frequentes. O portfólio é bastante diversificado em virtude da nossa proposta de trabalho sob encomenda. O catálogo reúne mais de 6.000 cores desenvolvidas e disponíveis para os clientes. Se for preciso, podemos entregar numa embalagem de 25 kg o material que ele escolher. Na média mensal, damos conta de cerca de 1.200 ordens de produção. Nosso laboratório desenvolve mensalmente algo mais de 240 cores e produtos para o atendimento individualizado e para complementar o banco de soluções abrangendo todos os polímeros que o mercado busque, sejam virgens ou reciclados.
Quais os pontos altos em termos de novos equipamentos e TI na Cromaster?
No período 2023/2024, renovamos praticamente todas as linhas aglutinadoras e agora preparamos mais um equipamento tipo continuous mixer, para aumentar a produção de masters coloridos. Ainda no plano recente, adquirimos outra extrusora dupla rosca, voltada em especial para beneficiar plásticos de engenharia e para ajudar a suportar o aumento de produção na filial em Minas durante 2025.Quanto aos recursos para aprimorar a gestão e automação dos processos, destaco entre os investimentos nos últimos anos um sistema ERP (Enterprise Resource Planning) totalmente integrado. Facilita a gestão dos recursos de matéria-prima e conecta informações de áreas como vendas, qualidade, produção e técnico-comercial, resultando numa comunicação mais fluida, detalhada e precisa entre os setores. Também copramos e implantamos este ano Controladores Lógicos Programáveis (CLP) para monitorar com exatidão os parâmetros produtivos e padronizar os processos, favorecendo a consistência na qualidade das nossas soluções.
Hoje em dia, o setor plástico pena com a carência de pessoal especializado e com a aversão a trabalhar em indústria demonstrada pelos novos talentos. Como a Cromaster lida com esse problema?
Investindo pesado na formação e desenvolvimento contínuo dos colaboradores. Faz parte da nossa cultura treinar pessoas internamente para ocupar cargos com maiores demandas técnicas, o que contribui para manter a equipe motivada e engajada. Por exemplo, muitos dos atuais gestores, técnicos especializados e profissionais da área comercial começaram na Cromaster como jovens aprendizes ou estagiários. Isso nos permite moldar e valorizar o desenvolvimento profissional de acordo com as necessidades específicas da empresa, além de atrair novos talentos e reter gente qualificada.
Como a automação dos processos redimensionou, nos últimos 10 anos, o efetivo de operadores da empresa?
Em 2015 tínhamos em torno de 30 % a mais de integrantes em nossas linhas de produção. Hoje, com uma operação mais sistematizada e equipamentos muito mais apropriados, conseguimos produzir um volume bem acima do registrado 10 anos atrás.
A disputa no mercado interno com concentrados vindos da Zona Franca preocupa a Cromaster?
Olhamos para esses movimentos com muita atenção, mas nosso foco-chave está voltado para soluções a pedido. Não atuamos com essa ênfase no mercado de masters commodities, produtos considerados complementares em nosso portfólio. Esses concentrados convencionais se beneficiam muito com os privilégios fiscais e alfandegários desfrutados pelas empresas que utilizam Manaus como porta de entrada de matéria-prima importada e para produção local incentivada. Na verdade, as empresas de Manaus fornecem produtos para componedores menores distribuírem ou revenderem no restante do país. Vejo na Zona Franca uma grande oportunidade para empresas focadas em concentrados padronizados e produzidos em grandes volumes. Nesse segmento, portanto, outras grandes componedoras irão buscar competitividade em Manaus, até mesmo para garantir participação num mercado tão competitivo.
Ainda em relação a importações, as complicações no comércio Ásia-Brasil devido às guerrilhas no canal de Suez tem afetado este ano o suprimento de matérias-primas para a Cromaster?
Importamos vários insumos, como pigmentos, da Ásia. Nesses caos, para minimizar o problema de despacho e demora no transporte, ampliamos nossos estoques de matérias-primas e mudamos a frequências dos embarques para suportar esse aumento na armazenagem.
Encurtar o lead time para aprovação de cores virou obsessão entre os componedores qualificados. Qual a receita da Cromaster?
Implantamos um banco de dados, de aproximadamente 6.000 cores para consulta imediata. Através dele, os clientes já enxergam a cor na resina aplicada, agilizando muito a decisão da escolha da cor. Também estamos implementando, ainda para este ano, um espectrofotômetro manual que permitirá ao nosso representante identificar produtos desse banco de dados mediante leitura virtual da peça do cliente e in loco na fábrica dele. Não será mais preciso ir depois até a Cromaster para saber da tramitação do pedido, pois já teremos desenvolvido a solução em vista. Mesmo com esse banco de cores que propicia um lead time praticamente imediato para obtenção de produtos de cunho exclusivo, a Cromaster ainda desenvolve 40 novas cores com lead time de cinco dias úteis para atender clientes mal sucedidos na procura das soluções desejadas no banco de dados.