O jogo é de conjunto

Novo presidente da Abief clama por maior engajamento dos transformadores

Rogério Mani é uma ave rara entre os transformadores de plásticos por saber há décadas como vestir dois chapéus: o de industrial e o de representante de classe. Presidente da transformadora paulista Epema, ele foi o mais jovem presidente nos 42 anos de trajetória da Associação Brasileira das indústrias de Embalagens Plásticas Flexíveis (Abief), ao administrar a entidade de 2005 a 2009. E volta agora a assumir o leme, com mandato delimitado para o biênio 2019-2021. Em sua selfie, a Abief é o megafone do maior mercado de poliolefinas, as resinas mais consumidas e, apenas uma delas, polietileno, tem 2/3 de suas vendas mundiais decididas por embalagens de uso único, com predomínio do tipo flexível. Mani já exercia o posto de quarto vice-presidente da última gestão da Abief e chega ao topo num momento convulsionado para o setor, hoje sob o fogo cruzado da pressão ambientalista da economia circular, de uma demanda interna que ainda patina e do incontornável avanço no país de pontos cruciais para o futuro do setor plástico como um todo, casos da adesão gradativa aos ditames da Indústria 4.0 e do alastramento do e-commerce de produtos finais de rápido consumo (alimentos, cosméticos etc.). Na entrevista a seguir, Mani comenta sobre esta zona de turbulências e os planos macro de sua segunda gestão da Abief.

rogerio mani
Mani: Abief caminha para união com Abiplast.

Apesar da ofensiva ambientalista contra embalagens flexíveis, nenhuma gestão da Abief até hoje saiu em defesa do setor perante a opinião pública. Sua intenção é manter ou não este mutismo?
Essas ações começaram com os ataques às sacolas plásticas em 2006. Na ocasião, eu presidia a Abief e começamos um trabalho de conscientização e disseminação de informações, mantido aliás na gestão seguinte da entidade. Hoje em dia, reconhecemos um problema nessa ofensiva ambientalista e o estamos encarando de frente. Mas não com discursos marqueteiros e, sim, buscando soluções concretas capazes de mudar a percepção do plástico pela sociedade. Estão em andamento programas muito importantes envolvendo a cadeia do material, a exemplo da rede de cooperação que, pela primeira vez, reúne todos os elos das frentes produtiva e do pós-consumo. A melhora da imagem do plástico depende de uma ação conjunta e ninguém ou nenhuma entidade será bem sucedido nesta jornada com atuação individual.

A Abief tem hoje 104 associados e o universo de transformação de flexíveis, segundo analistas, abriga mais de 800 empresas. Como pretende atrair mais filiados, de modo a realmente representar a maioria do empresariado do setor?
Conscientizando os transformadores sobre a necessidade de participarem mais ativamente da Abief. Precisamos aumentar os fóruns de discussões para buscar mais eficiência, produtividade, qualificação da mão de obra e conexão em tempo real com os acontecimentos globais. A Indústria 4.0 veio para ficar.

Você exerceu a presidência da Abief entre 2004 e 2008 e agora reassume o comando. Quais as principais mudanças notadas entre as duas gestões no perfil da indústria e em suas preocupações e aspirações?
As mudanças são inquestionáveis. A globalização, por exemplo, veio e ficou. As empresas precisam se profissionalizar, os investimentos em novas tecnologias se tornaram maiores e mais constantes de 2008 para cá. Além do mais, em contraste com o período da minha primeira gestão, as barreiras comerciais tendem hoje a cair e a oferta de resinas ganha viés de alta. Por isso e por tudo já exposto, minha missão à frente da Abief será um grande desafio. De imediato, vai aqui uma sugestão aos transformadores: vamos nos unir e nos engajar nos grandes debates.

A Abiplast tem filiados da Abief na diretoria e no conselho. Porque é conveniente manter a Abief como entidade à parte em lugar de integrá-la à Abiplast, na roupagem de, por exemplo, uma divisão de embalagens flexíveis?
Muito pertinente esta pergunta. Na realidade, entre diretores e conselheiros, temos oito transformadores de flexíveis na Abiplast. Se voltarmos no tempo, um movimento para unir Abiplast e Abief foi esboçado na minha primeira gestão. Eram outros tempos e ele não decolou. Sem dúvida, a Abiplast hoje é o porta-voz da transformação do plástico, o que em nada diminui a relevância da Abief e o futuro passa por esta consolidação de representações e a adesão a este movimento já é sinalizada pelas empresas. Neste primeiro momento, continuaremos trabalhando em estreita cooperação com a Abiplast, procurando nos ajustar às novas demandas da indústria, do mercado e da sociedade. Mas reitero que nossa meta é o fortalecimento dos transformadores como um todo, com base na transparência inerente à governança corporativa (compliance).

O que sua gestão pretende oferecer ao setor de embalagens flexíveis que seus antecessores não proporcionaram?
Como já foi dito, novas demandas exigem novas atitudes. O mundo mudou e precisamos nos adequar. Como? Primeiro, munindo os associados do maior volume possível de informações. Também precisamos que eles interajam com a Abief. Como? Sugerindo e solicitando projetos e ações. A intenção é garantir que o transformador receba o que precisa no momento, respeitando os limites técnicos e financeiros da entidade. Percebo uma vontade represada entre os transformadores de participar mais ativamente da associação e é por este caminho que pretendo motivá-los.

Até hoje não se tem a menor ideia do parque fabril de embalagens flexíveis, não se sabe a quantidade, vida útil e nível de atualização das extrusoras, impressoras, laminadoras, metalizadoras, linhas de corte e solda etc. Não se sabe o estágio de automação e informatização do chão de fábrica do setor. São informações vitais para a Abief. Esse desconhecimento continua na sua gestão?
É fundamental dispor dessas informações. Está na hora, por exemplo, de nos unirmos à Associação Brasileira da Indústria de Máquinas (Abimaq) para buscar uma atualização de dados sobre o parque fabril. Talvez nos assustemos com os resultados, mas será muito importante tê-los para nortearmos as decisões. Tratam-se de indicadores importantes não só para o transformador de flexíveis, mas para o fabricante de máquinas e equipamentos. Por sinal, este modelo de parceria pode ser replicado com outras entidades, conforme nossa necessidade e sinergia.

Qual o plano concreto que sua gestão pretende implantar para evitar o surgimento de projetos de lei proibindo embalagens flexíveis de uso único, na trilha de banimentos similares internacionais ?
O único caminho para minimizar os projetos de leis é o do diálogo constante e incansável com os legisladores. A Abiplast atua nesse sentido em várias frentes e, como haverá uma cooperação entre as duas entidades, vamos mostrar juntos todo o trabalho que está sendo feito em relação a essa situação de risco para embalagens flexíveis de uso único. Aliás, aproveito a deixa para convidar os transformadores a buscarem mais informações sobre todas as iniciativas e propostas existentes em prol da nossa indústria. E insisto: para fazermos muito mais precisamos do engajamento de todos e todos devem se empenhar em favor da valorização do plástico. •

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