O jogo de forças por trás do excedente global de resinas

Incógnitas atropelam as certezas nas previsões sobre o fim da super oferta
Petroquímica na China: plano quinquenal 2026-2030 pode reformular aprovação de projetos por critérios ambientais.
Petroquímica na China: plano quinquenal 2026-2030 pode reformular aprovação de projetos por critérios ambientais.

Devido ao seu papel predominante na condução da demanda global de petroquímicos e polímeros, a China é o fator-chave para um exercício de começo do ano tornado típico no setor plástico desde o fim do superciclo de investimentos (1992-2021). A pergunta da hora para os universitários é: afinal, quando o excedente global de resinas deve terminar? Em chutometria calibrada por pura intuição, John Richardson, analista do site Icis, prevê o fim da retração daqui a dois ou três anos, ele situou em artigo postado em 11/02. Ele justifica a previsão com base em movimentos de racionalização de capacidades e cancelamentos ou atrasos de projetos, ações ditadas pela lógica da ultra necessária diluição da sobra de resinas para consequente reabilitação dos spreads. No entanto, admite o consultor, sua pouco fundamentada projeção de término do calvário petroquímico em poucos anos também pode se esfarelar na hipótese de os referidos cancelamentos, atrasos e produções desativadas acontecerem de roldão, de uma hora para outra, e bem antes do que ele antevê. “Além do mais, tensões comerciais ascendentes (nota: alusão extensiva a Trump) ameaçam a habilidade da China para exportar materiais sobrantes para ajudar a cobrir a meta de fortalecer o PIB do país”, aponta Richardson.

Retomando o fio de sua projeção de fim do excedente a médio prazo, Richardson comenta que este tipo de futurologia, mesmo quando embebida mais nos instintos que nas equações, deve se ater aos seguintes senões da realidade:

  • Por que fechar plantas, adiar ou sustar projetos em 2-3 anos se a retomada pode acontecer mais cedo?
  • Custos ambientais e trabalhistas complicam decisões de desligar fábricas de vez, nota Richardson. As companhias dependem, nesses tempos de  baixa rentabilidade, de fundos robustos e específicos para esta finalidade.
  • Considerações específicas para a conjuntura da China:

# Corre no mercado, assinala o analista do site Icis, que alguns crackers e plantas downstream da China rodam há mais de 20 anos, alimentando a especulação de que uma ansiada onda de racionalização de capacidades se cinja apenas a estas unidades antigas, menores e não competitivas.

# Há relatos não formalizados, repassa Richardson, de que a China cogita fechar plantas base carvão, por razões ambientais e de custos. Mas não se sabe ao certo quais e quantas fábricas estariam nesta lista de contagem regressiva.  Consta, por sinal, que modernas fábricas adeptas da rota carboquímica-olefinas podem estar menos sujeitas ao risco de fechamento que veteranas unidades de PVC baseada no processo do carvão.

# Incógnita no ar colocada por Richardson: até que ponto a limitada capacidade de geração de matérias-primas por refinarias chinesas tem condições de acompanhar o crescimento das atividades petroquímicas? Segundo o analista, a China já decidiu frear a ampliação de sua capacidade de refino a partir de 2028, devido à escalada da sua produção de carros elétricos, evidenciando menor consumo de petróleo na mobilidade urbana e mais disponibilidade dessa fonte de energia para a cadeia petroquímica chinesa.

# No decorrer deste ano, insere Richardson, a China abre mais detalhes do seu plano quinquenal 2026-2030, com tópicos como ações para reduzir emissões de carbono. Como essa política deverá impactar na aprovação de projetos petroquímicos locais?

China à parte, Richardson apimenta o caldo de incertezas quanto ao fim do excedente de resinas indagando qual deverá ser o papel de regulamentações e ações de governos para preservar as hoje prostradas petroquímicas da Europa e Coreia do Sul? No arremate, o analista do site Icis reitera: “orgulho e paixão pelo negócio podem levar companhias a adiar ou evitar por completo a adoção de decisões duras e complexas (nota: a exemplo de desativar plantas). Como avaliar e lidar com acurácia os fatores humanos colhidos nessas situações”.

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