A norte-americana Bemis tem protagonizado uma série de investidas e lançamentos que têm mudado – para melhor – o perfil do setor e das próprias embalagens plásticas no Brasil. O poderio de sua subsidiária, em P&D e capitalização é quase um capítulo à parte num mar de transformadores de fôlego discutível para cruzar a atual zona de turbulência na demanda. Com mais de 25 anos de estrada, Luiz Henrique Duarte assume o posto de Diretor de Marketing e Novos Negócios da empresa no Brasil. Engenheiro químico com MBA em Marketing, Duarte ressalta nesta entrevista que a empresa continua antenada nas oportunidades para turbinar o negócio tanto pelas próprias forças como limpando a área mediante a compra de competidores locais – ativos aliás hoje apetitosos para quem pensa em dólar.
PR – O seu cargo, Diretor de Marketing e Novos Negócios, praticamente inexiste no organograma das indústrias brasileiras de embalagens plásticas. Como interpreta esta ausência generalizada do seu cargo no setor?
Duarte – Desde 2013, alteramos nosso modo de trabalho na área de marketing no Brasil, de forma a alinhar com o padrão da Bemis de outras regiões. Esse modelo tem trazido muitos benefícios do ponto de vista estratégico. Faz muito sentido para a Bemis ter esta área por conta de seu amplo portfólio – atende muitos segmentos de mercados em flexíveis, rígidos, cartuchos, tubos laminados e rótulos. A priorização de projetos se concentra nesta área, levando a um alinhamento e gerenciamento de portfólio coerentes com a realidade de cada mercado. De forma geral, marketing é uma área que trabalha estrategicamente ligada à de vendas e pesquisa e inovação. Então não só as indústrias de embalagem, mas todas as empresas deveriam trabalhar com uma estrutura assim.
PR – Nos EUA, a Bemis adquiriu este ano a transformadora Steripack, forte em flexíveis esterilizados para produtos médico-hospitalares. Trata-se de um mercado inexpressivo no Brasil. Como vê a possibilidade de introduzir a curto prazo essa tecnologia de flexíveis esterilizados por aqui?
Duarte – Esta aquisição reforça o posicionamento da Bemis global como líder no fornecimento para a área médico-hospitalar. Para o Brasil, de fato, este mercado hoje é pequeno, mas a Steripack também atua no setor farmacêutico, então podemos fazer um intercâmbio interessante de tecnologias e soluções e oferecê-las ao mercado nacional.
PR – A Bemis é forte consumidora de polipropileno biorientado (BOPP). No Brasil, o reduto desse filme commodity acusa superoferta e descapitalização devido à recessão e capacidade excedente. Com base nisso e no fato de os ativos nacionais estarem baratos em dólar, como enxerga a hipótese de a Bemis fortalecer seu poderio comprando uma planta de BOPP no Brasil?
Duarte – A Bemis está em fase de consolidação dos negócios da Emplal, fabricante de embalagens rígidas adquirida ao final de 2015. A Bemis está sempre atenta às oportunidades de negócios que tenham sinergia com seu portfólio e estejam alinhadas à sua estratégia global.
PR – Como a Bemis está remanejando e entrosando a operação adquirida da Emplal com suas atividades de embalagens rígidas e descartáveis?
Duarte – O fato de a Bemis comprar a Emplal cinco anos após a aquisição da Huhtamaki deixa claro seu interesse neste reduto de embalagens. Trouxemos para dentro de casa mais capacidade produtiva, novos equipamentos e tecnologia. Além disso, ampliamos a carteira com clientes antes atendidos somente pela Emplal. Uma sinergia que começa a beneficiar a operação é o aumento do volume de compra de matérias-primas. Quanto à marca, a exemplo do que ocorreu em 2014, quando todas as marcas mundiais foram consolidadas como Bemis, o mesmo acontecerá com o portfólio da Emplal.
PR – A Bemis cresceu no Brasil através de aquisições de concorrentes, a exemplo de Itap, Huhtamaki e Emplal. Na conjuntura atual, o caminho mais atraente para a Bemis, uma múlti capitalizada, expandir no Brasil é comprar rivais baratos em dólar ou esperar eles caírem fora por anemia financeira?
Duarte – Trabalhamos com equilíbrio entre o crescimento orgânico e a expansão por aquisições. Estamos em processo de consolidação da Emplal. Portanto, o momento é de administrar o portfólio para garantir o melhor resultado.
PR – Quais os seus exemplos de soluções concebidas nos EUA pelo Bemis Innovation Center ainda inéditas no mercado brasileiro de embalagens e que teriam condições de ganhar produção no Brasil a curto prazo, mesmo sob a crise atual?
Duarte – O mercado americano está inspirando o Brasil a investir no conceito de tampa e fundo. Assim, o produto Soltíssimo (Sadia) virou uma referência nesse tipo de conceito e na tecnologia da tampa resselável, não só para alimentos fatiados, mas para aplicação em produtos como snacks, biscoitos, pães de forma e carnes processadas. O envase com atmosfera modificada aliado a uma estrutura de alta barreira pode garantir um shelf life estendido para produtos que não necessitem de refrigeração. Por uma questão de sigilo industrial, não podemos citar as tecnologias que estão em migração dos EUA para cá.
PR – Bemis desfruta no Brasil de sólida imagem de excelência em marketing, construída com base na praxe no ramo de embalagens: certificações top da qualidade na produção e prêmios dados às suas soluções. Como enxerga as possibilidades de pensar fora desse quadrado, partindo para ações de marketing incomuns em embalagens plásticas no Brasil?
Duarte – A Bemis está sempre em busca de soluções inovadoras. Para 2016, estamos com um planejamento de comunicação focado em conhecimento e reconhecimento de marca. Este é o momento de reforçar a marca Bemis, até mesmo para dissipar algumas dúvidas com relação às empresas que adquirimos nos últimos anos. Como iniciativa inédita vamos reforçar nossa atuação junto à imprensa e às nossas redes sociais (Facebook e Linkedin). •