A capacidade global de PE deve subir 12% até 2027-2028 e 22% até 2032-2033, rezam indicadores da consultoria londrina Argus Media digeridos em artigo postado em 24/9 no site Plastics News. Reflexo lógico desses saltos, insere a mesma projeção, as taxas operacionais mundiais devem cair para 76-78% em 2028-2029 e, passado esse período, o surto de mais capacidades de PE, concentrado na América do Norte e Ásia, tende então a arrefecer, de modo que em 2033 a petroquímica de PE rodará com níveis de ocupação entre 80% e 85%.
O analista de marketing Terry Glass é o autor desses percentuais resultantes de elucubrações aritméticas, mas seus alicerces na realidade não foram explicitados na matéria em Plástics News. sem alicerces. A propósito, o último super ciclo de investimentos (1992-2021) da petroquímica mundial também foi azeitado por projeções econométricas mas carentes de racionalismo e embasamento histórico, fazendo jus ao ditado judaico “os homens planejam e Deus cai na risada”. Na prática, constatam consultores como Paul Hodges, CEO da New Normal, os estrategistas do super ciclo passado acreditaram em duendes como o barril de petróleo perenizado em US$100 e o crescimento eterno de dois dígitos do PIB chinês. Deu no que está dando.
À margem de pesos presentes e ausentes na balança, Terry Glass realça no artigo postado em Plastics News um preceito da lógica da lei da oferta e da procura. Petroquímicas hoje engasgadas com o mega excedente mundial de PE estão fazendo a triagem de plantas que podem não seguir competitivas a longo prazo, alterando assim suas estratégias regionais e diminuindo sua vulnerabilidade à hiper oferta do polímero. A permanência a longo prazo da visão de capacidades ampliadas de PE, pondera o porta-voz da Argus Media, é uma das principais razões para petroquímicas hoje revisarem projetos de investimentos, em particular devido aos custos baixos de matéria-prima (gás natural) na América do Norte e Oriente Médio.
Essa opção pela freada nos planos de expansão ainda não é consensual no setor global de PE. Petroquímicas com plantas na Europa, de energia cara e economia alquebrada desde a guerra Rússia x Ucrânia, andam mesmo propensas a racionalizar suas unidades ultrapassadas e não integradas upstream no continente. Exemplo na contramão: dois países fora dos preferidos por investidores em petroquímicos, Casaquistão e Tartaristão, na Ásia Central, prometem na mídia estrear em PE em poucos anos, com plantas hoje em obras, de classe mundial e agregadas ao gás natural de refinarias estatais. Por sua vez, experts como John Richardson, blogueiro do portal Icis, volta e meia atentam para a marcha rápida da China rumo à autossuficiência produtiva em PE a curto prazo, tal como ocorreu há dois anos em PP.
Fatores opostos desse naipe levam Tery Glass a titubear, como demonstra a reportagem de Plastics News, quanto à eficácia do idealizado corte na capacidade mundial de PE, acenado em particular para a Europa, de modo que o setor global venha a rodar à certa altura com saudável nível de 88% de ocupação. A pedra no caminho dessa reta chama-se China. Para Glass, se o país, na sua estagnada economia atual, crescer doravante 5-6% ao ano, o consequente aumento no consumo internacional de PE se refletirá em acréscimo de 1-2% nas taxas operacionais globais da resina nos próximos cinco anos. Segundo a matéria postada em Plastics News, a Argus, consultoria de Glass, não crê que mudanças no mercado chinês afetem significativamente o patamar de operação mundial de PE. O que significa, traduz o analista, que os produtores da poliolefina precisão ajustar ao sabor da demanda suas táticas regionais e, nesse quadro, parcerias e saídas de players de cena podem contribuir para o setor de PE administrar os perrengues da superoferta.
Em podcast recente no portal Icis, o consultor Paul Hodges, trouxe à baila preocupações para indústria química mundial (extensivas a PE) despertadas pela letargia econômica da China. Ele admite a possibilidade de o país entrar em recessão no ano que vem e nota que a enfraquecida demanda doméstica terá o condão de intensificar o ímpeto das exportações chinesas de químicos num momento em que, para conter esses desembarques rivais da produção local, vários países (como o Brasil) erguem barreiras tarifárias protecionistas. Hodges também julga que o crescimento moderado previsto para o PIB da China até segunda ordem deverá piorar a pressão global sobre o descompasso entre a capacidade e demanda de químicos, uma cruz que pesa – e como – nas costas de PE.