O contágio da produção

A indústria do plástico reage ao baque da recessão causada pela pandemia

Se há um profissional com medo de levar o bilhete azul na volta ao batente após a pandemia, é o analista de planejamento estratégico. Afinal de contas, todos os métodos e ferramentas empregados no meio empresarial para tecer previsões foram demitidos pela covid-19 ao botar o mundo de cabeça para baixo. Desde março, os acatados relatórios Platts sobre preços semanais de resinas marcam por um tom monocórdio para a América Latina: cotações em regra estabilizadas, importações refreadas, distribuidores e traders com estoques abarrotados e indústrias de transformação operando com baixa ocupação ou aguardando o fim de quarentenas e lockdowns para voltarem a produzir na medida do possível permitido pela conjuntura recessiva, com mudanças no quadro vislumbradas só a partir de 2021.

“Neste momento de incertezas, trabalhamos com um modelo para desempenho da atividade econômica em U, pelo qual após forte queda teremos estagnação na base até o surgimento de formas de conter o vírus, vindo então o retorno ao ‘novo normal’”, pondera José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast). “Desse modo, observaremos uma retomada da atividade não tão vigorosa, mas rumando aos níveis anteriores da produção”.

A unanimidade das instituições internacionais calcula um PIB deficitário para o Brasil este ano, complementando um quinquênio de desempenho raquítico desse indicador. FMI e Banco Mundial, cita Roriz, situam ao redor de 5% o recuo do PIB brasileiro no exercício atual. “Para 2021, o FMI confia em crescimento de 2,6% e o Banco Mundial, de 1,1%”, assinala Roriz. “Com base nesta sinalização, a Abiplast projeta queda de 4,5% nas vendas de transformados versus 2019”.

Rogério Mani, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Plásticas Flexíveis (Abief), acha que seu segmento cresce ao redor de 2% em meio à sinistrose deste ano. “Fazer previsões no Brasil não tem sido tarefa fácil, mas sou otimista e, assim, acredito nos efeitos para a indústria de flexíveis causados pelas mudanças de hábitos da população. Além do mais, estamos ligados aos segmentos de produtos essenciais, menos lanhadas pela crise, como alimentos e artigos de higiene e limpeza”. Pesquisa encomendada pela Abief para a consultoria MaxiQuim, constata alta no consumo do primeiro trimestre de itens como sabonetes e alimentos como arroz, feijão, macarrão e molhos, nas pegadas do aumento do preparo de refeições em casa, sob isolamento horizontal.

De janeiro a março último, a produção/venda nacional de embalagens flexíveis emplacou 487.000 toneladas ou 1,6% acima do mesmo período em 2019, enquanto o consumo aparente avançou 1,3% no mesmo comparativo, acumulando 474.000 toneladas no primeiro trimestre de 2020. Quanto às exportações, a MaxiQuim dimensiona em 27.000 toneladas o volume embarcado nos três meses iniciais deste ano ou 5% a mais que o saldo do mesmo período no exercício anterior. No pano de fundo, o setor roda com capacidade anual aproximada de 2.8 milhões de toneladas, na aferição de 2019, providas por um contingente de 3.500 indústrias. Pela régua da quantidade de empregados, o efetivo é segmentado em 51% micro-empresas; 36% pequenas; 11% médias e 2% grandes.

Polietileno (PE) e polipropileno (PP) compõem os termoplásticos mais consumidos e, no caso do Brasil e América do Sul no plano geral, um sinal da gravidade da recessão é a produção local de polietileno de baixa densidade (PEBD) apontada por fontes como o Platts como insuficiente para atender a enfraquecida demanda no primeiro trimestre. “A oferta de PEBD (do Brasil e Argentina) diminuiu mesmo no primeiro trimestre e não há qualquer previsão mais sólida de normalidade no suprimento”, confirma Mani. O hiato entre oferta e demanda do polímero no Mercosul tende a evidenciar-se com a paralisação, anunciada ao final de abril, do complexo argentino de 660.000 t/a de PE da Dow, com potencial para prover 95.000 t/a de PEBD.

“Não acreditamos em insuficiência de PEBD na América do Sul, região regularmente suprida pelas plantas locais e importadores”, comenta Fabio Santos, diretor de estratégia de produto, comunicação e serviços da Braskem, único produtora de poliolefinas no país e à frente de uma capacidade de 950.000 t/a de PEBD. “É fato que a demanda sul-americana por PEBD tem sido uma surpresa positiva, embora esperada até certo ponto, pois sua substituição pela resina linear (PEBDL) não transcorre hoje no ritmo de anos passados”, ele considera. “A curto e médio prazos, os impactos da covid -19 sobre a demanda e a entrada de novas unidades devem ampliar a oferta mundial de PEBD”.

A voz corrente entre os analistas, caso do Icis, aposta na produção global de PE com reduzidos índices de ocupação até dezembro próximo, enquanto novas capacidades da resina em campo depararão com demanda arrefecida na maioria dos setores finais usuários de PE para suas embalagens. Na primeira fase emergencial da pandemia, segundo avaliação do Icis, enquanto lockdowns e problemas de frete limitaram o suprimento internacional de PE em alguns casos, o movimento para determinadas aplicações do polímero, principalmente em embalagens, a exemplo do álcool em gel e saneantes, acusou superaquecimento pontual. Na segunda fase, a expectstiva do Icis é de que a demanda atenuada promova o gradual retorno ao quadro pré-vírus de intenso excedente global de PE. A procura por embalagens de alimentos, para uso médico hospitalar e para produtos de consumo não duráveis ainda estão favorecendo as vendas de PEBD e PEBDL. Mas a intensidade da procura de resinas para essas aplicações vem esmorecendo, sustenta o estudo do Icis. O comércio exterior de PE vai encolher sob retração global, reitera o mesmo levantamento, sem perspectivas de crescimento para a demanda da resina este ano na América Latina e Europa.

Porto inseguro
“Estamos sob uma tempestade perfeita e tudo o que prevíamos e planejamos foi por água abaixo com a pandemia”, lamenta Leonardo Gonçalves, diretor da importadora catarinense Eixo Snetor. Um exemplo da reviravolta, ele confirma, é o aumento de containers de polietileno (PE) e polipropileno (PP) não retirados dos portos porque os clientes dos importadores cancelaram os pagamentos, devido ao dólar alto e volátil e em razão de o preço acordado para o embarque da resina no exterior resultar mais caro que a cotação do material em vigor na sua chegada ao Brasil. Por causa disso, a imagem de confiabilidade dos importadores brasileiros tem se esfarelado aos olhos dos fornecedores internacionais. Gonçalves também reconhece que, penalizados por esses calotes, importadores têm procurado atenuar o prejuízo ofertando na praça, a preço spot equiparável ou inferior ao da resina nacional, lotes de PP e PE deixados por seus clientes nos portos do Brasil. Na voz corrente dos analistas, se essa situação perdurar no ambiente recessivo após a pandemia, é preocupante o risco de ela contribuir para uma degradação dos preços e margens das resinas nacionais, já abalroados pela crise aqui e lá fora.

No âmbito do Brasil, Fabio Santos acha prematuro delinear como a demanda de PP e PE será impactada pela crise, inclusive pelo fato de ambos os polímeros transitarem por redutos de produtos finais essenciais, menos abalroados pela recessão, e de bens duráveis, entre os quais o diretor da Braskem destaca o setor automotivo, de infraestrutura e construção civil entre os mais penalizados. “A crise deverá encolher de 5% a 10% o mercado interno de PP e PE este ano”. Para PVC, polímero do qual a Braskem é o maior produtor no Brasil, Santos projeta, no cenário mais realista, recuo este ano de 5% a 10% para o consumo interno do vinil e de15% a 20% no cenário mais pessimista.

PVC depende de forma visceral da construção civil, setor flagelado pela recessão instaurada pelo corona com a extrema redução de lançamentos prediais e com o empobrecimento abrupto do consumidor de materiais para reformas residenciais. A relevância das obras de saneamento para o consumo brasileiro de PVC tende a se eternizar como uma nota de rodapé, dada a insegurança regulatória que afasta investidores e o reconhecimento de que o governo está quebrado, conforme declarou o Ministro da Economia. Alexandre de Castro, diretor comercial para PVC da Unipar, produtora da resina no Brasil e Argentina, confirma a expectativa de queda na demanda e, para minimizar o impacto, informa que sua empresa trabalha em conjunto com clientes, em especial os produtores de artefatos para aplicações fundamentais no período de pandemia, caso de artigos médico hospitalares. Castro também sublinha que a momentânea parada do complexo petroquímico da Dow na Argentina não afetou o contratado abastecimento de eteno para a planta de PVC da Unipar no país.

Como PVC, poliestireno (PS) também estrebucha na crise com o agravante de suas vendas dependerem de poucos mercados, todos eles sensíveis à pandemia. Em bens duráveis, constam os eletrodomésticos, puxados por geladeiras. As demais frentes decisivas para PS alinham descartáveis e embalagens de uso único, entre elas potes para lácteos como iogurtes, alimento listado como supérfluo. “Não dá para prever o patamar dos assim que encontrarmos o ‘novo normal”, julga Cláudio Rocha, diretor da Innova, produtora do polímero estirênico em Manaus (AM) e Triunfo (RS). “A situação é absolutamente incerta e projetar qual o cenários mais plausível, entre o pior, satisfatório e o otimista, é puro exercício de adivinhação momentânea”. Marcelo Natal, diretor comercial para estirênico da Unigel, também não entrevê escapatória de descida nas vendas de PS este ano, a partir do movimento presenciado em março e abril. “Arriscando um palpite, num cenário positivo nossas vendas cairão 10% em relação ao projetado para o ano; já num cenário rigoroso, a queda poderia rondar a faixa de 25%”.

PET também está mal das pernas. Do observatório da MaxiQuim, os consultores Maurício Jaroski e Marta Loss Drummond dimensionam as agruras do poliéster este ano. “O consumo da resina deve cair 3,6% perante o balanço de 2019”, eles calculam. “Afinal, a indústria de bebidas está sendo castigado pela crise e suas vendas este ano devem diminuir mais de 5% em relação ao período anterior. O primeiro trimestre de 2020 não foi bom e o segundo deve fechar pior para este setor”. No âmbito dos alimentos, seguem Maurício e Marta, o consumo de PET deve manter-se estável este ano versus 2019. “Alguns alimentos supérfluos serão comprados em menor volume, enquanto produtos de cunho essencial, como óleo vegetal, devem desfrutar um incremento, com mais pessoas cozinhando em casa”. Levantamento feito pelo instituto de pesquisas QualiBest entre 2 e 6 de abril com 1.086 entrevistados atesta que, a cada 100 consumidores, 74 sentiam-se mais protegidos da pandemia cozinhando em casa. Retomando o fio, os dois analistas da MaxiQuim inserem que as embalagens de PET em produtos de limpeza caminham para fechar o ano com expansão da ordem de 2%. “Mas os bons resultados de setores como este não devem compensar, para o movimento geral de PET, os indicadores ruins esperados para as vendas de bebidas”.

De máscara na boleia

A estrada ficou bem mais sinuosa para os distribuidores de resinas

“Apesar da crise gerada pela covid-19, nossos distribuidores mostram que a gestão comercial e financeira desenvolvida nos últimos anos permitem a continuidade das operações sem restrições quanto à disponibilidade de produtos, serviços e crédito para os clientes parceiros”, assinala Allan Cury, diretor do negócio de clientes regionais e distribuição da Braskem, único produtor no país de polietileno (PE) e polipropileno (PP), as resinas que dão as cartas no varejo do plástico. Pelos seus cálculos, a rede de cinco distribuidores responde por volta de 10% das vendas internas de poliolefinas da empresa. Para Cury, a hipótese de a recessão encolher o quadro de transformadores menores, atendido pela distribuição da Braskem e revendas autônomas, não deve tornar o varejo de PP e PE pequeno em demasia para continuar sendo abastecido pelo time de agentes da petroquímica, constituído por três distribuidores de alcance nacional e dois de porte menos abrangente. “Acredito que nossa distribuição cresça sobre as demais fontes supridoras do varejo, com base na garantia de procedência e qualidade de um portfólio completo de grades e na segurança fiscal de suas transações”.

Além dessa consistência, os distribuidores foram incluídos entre os contemplados pela empresa com uma expansão das modalidades de financiamento. “Liberamos uma linha adicional de R$ 1 bilhão ao custo de 100% do CDI para todos os clientes adimplentes e com crédito aprovado para a compra de nossos produtos “, explica Cury. “O acesso está limitado a R$1.2 milhão por cliente e ele poderá utilizar essa linha, disponível por 90 dias, para comprar volumes adicionais com maior flexibilidade nos prazos de faturamento dos seus pedidos. Na esfera dos distribuidores, cabe a eles definir a forma e critérios do repasse desta linha de crédito a seus clientes”.

Âncora da rede de distribuidores da Braskem, a Activas não teve dificuldades em passar, por força da quarentena, da marcação ao vivo para o monitoramento virtual do mercado em razão dos intensos investimentos feitos na informatização das operações. “Nossos servidores estão na nuvem, permitindo aos funcionários trabalhar em home office e atender em média 1.500 clientes por mês como se estivessem na empresa, sem o menor comprometimento no atendimento comercial, administrativo e logístico”, sublinha o presidente Laércio Gonçalves. Na esfera do crédito, ele assinala que a Activas sempre foi adepta da oferta de uma diversidade de opções. “Por exemplo, somos parceiros da fintech Weel, que proporciona antecipação de recebíveis e pagamento de fornecedores dos nossos clientes”, ele disntingue. “Já o cartão Actcard permite o parcelamento do pagament acima de 30 dias em quatro ou até sete vezes”.

Amanda Mayer, responsável pela assistência técnica da Activas, tem percebido a influência da pandemia nos pedidos de atendimento. “Tem aumentado a procura por indicações de resinas destinadas a itens médico-hospitalares, caso de máscaras, nãotecido meltblown, aventais ou seringas”, assim como para o envase de álcool em gel. Uma surpresa foi a participação mais ativa do mercado de impressão 3D, puxada pela produção de viseiras e peças de reposição para equipamentos de hospital”, ela descreve. Entre as consultas mais complexas recebidas, Amanda distingue as solicitações para especificar resinas para respiradores.

Injeção de ânimo
A crise não tem precedentes mas, passada a zona de turbulência, as empresas procurarão, sob a retomada, recuperar o tempo perdido e estarão demandadas por um mercado até então reprimido. É este o cenário desenhado por Paulo Carmo, gerente da unidade de negócios de embalagens no Brasil da canadense Husky, joia da coroa mundial em injetoras de pré-formas e tampas, para interpretar o interesse mantido aceso entre clientes por máquinas que aliem economia de energia e matéria-prima. “Apesar do peso do investimento inicial nessas soluções, o custo unitário do produto é o menor possível”, sustenta o executivo, enquadrando nesta moldura as linhas de máquinas HyPETHPP5e, HyCAP 4.0. e, desenvolvimento mais recente, a série NexPET. “Ela focaliza mercados de produtos especiais de tiragens médias, a exemplo de alimentos, fármacos e artigos de higiene e limpeza”, ilustra Carmo.

As regiões norte e nordeste, as mais vulneráveis do Brasil à passagem da pandemia, compõem o mercado na mira da Eteno, distribuidora da Braskem sediada em Pernambuco. “A grande capilaridade, fornecimento regular de resinas e acesso ao mercado financeiro têm nos mantido respirando durante essa crise”, considera o sócio e diretor Rodrigo Fernandes. “Mas para atravessar essa conjuntura nossa maior aposta é na capacidade de entender e propor alternativas aos problemas de cada cliente, em regra voltados para prorrogações de vencimentos, just in time com o estoque no distribuidor e apoio para chegar às instituições financeiras”. A propósito, Fernandes não digere a hipótese de a recessão empurrar o transformador do N/NE a buscar fôlego na informalidade. “Os programas de incentivos fiscais já configuram uma alternativa ao comércio marginal. Além do mais, a formalidade viabiliza o acesso a algo fundamental para a sobrevidas na crise: o mercado financeiro”, contrapõe o distribuidor. “Estamos munindo os clientes de informações para conseguirem superar este momento sem expor os negócios a mais riscos”.

A informalidade não é novidade no varejo nacional do plástico, mas a recessão afiada pela pandemia pode alterar-para melhor – este cenário, acredita Alexandre Pastro Alves, sócio e diretor da Krisoll, distribuidora de plásticos de engenharia. “Devido à maior necessidade de caixa em todas as esferas do governo, deve aumentar a fiscalização contra a sonegação”, ele argumenta. “Além disso, muitas empresas que se fizeram à custa da informalidade tendem a estar com mais dificuldades financeiras, pois o acesso ao crédito acaba muitas vezes comprometido pela falta de ‘faturamento’ declarado. Sem recursos próprios e financiamento disponível, a situação pode resultar num atestado de óbito para várias empresas envolvidas no mercado paralelo”.

Vencida a pandemia, analisa Alves, o varejo do plástico vai encolher em todos os segmentos. “Sob demanda retraída, sobreviverá quem tem conseguido trabalhar melhor suas condições financeiras, mesmo num cenário de faturamento menor e inadimplência maior, com ações efetivas para minimizar as perdas nas margens sem penalizar o atendimento prestado e qualidade dos materiais fornecidos”.

João Rodrigues, presidente da ThaThi Polímeros, agente autorizada de plásticos de engenharia, julga que os transformadores menores terão, como em crises passadas, de se amoldar aos obstáculos da conjuntura refreada após a pandemia. “Empresas que operam no regime tributário Simples Nacional acabam por embutir os impostos (IPI, ICMS, PIS/Cofins) em seus custos sem compensá-los”, ele observa. “A menos que sejam muito eficientes ou sacrifiquem as margens, podem ter uma via de escape na informalidade”. Na esfera da ThaThi, essa hipótese não suscita inquietação. “A maior parte do nosso faturamento provém de empresas médias e maiores operando em lucro real ou presumido; não temos estratégia específica para indústrias com perfil delineado por tópicos como baixos volumes e limitação de crédito”.

Os grandes desafios à frente da ThaThi, alinha Rodrigues, chamam-se inadimplência, redução drástica das vendas e estoques elevados. “Isto configura um coquetel terrível para toda a cadeia de fornecimento, exigindo determinado tempo para se compor uma relação estável com os elos da cadeia nesta conjuntura”. Muitos clientes da distribuidora pediram a protelação dos pagamentos e cancelamento de programações antecipadamente colocadas. “De uma hora para outra, alterou-se o planejamento traçado com meses de antecedência, pois nossas importações levam até 60 dias de viagem, fora o prazo de desembaraço alfandegário e o plano de produção da parte dos materiais que destinamos à produção de compostos”, coloca Rodrigues. “Tratam-se de operações ininterruptas, dependentes de fôlego financeiro e constante monitoramento dos exportadores, não havendo como cancelarmos importações em trânsito nem sua complexa logística de suprimento”. Em decorrência, o presidente da ThaThi prevê, entre os importadores, baixa movimentação dos estoques com os materiais recebidos ou em vias de chegar. A locomotiva das vendas de materiais da Thathi é a indústria automobilística, vindo degraus abaixo a linha branca, eletroeletrônica e materiais de construção. “É muito difícil que as vendas desses setores reacendam num piscar de olhos e, nesse ínterim, o pior cenário aponta para a quebra de empresas menos capitalizadas e mau geridas. No cenário mais otimista, haverá muito o que negociar com clientes inadimplentes para retomarmos os negócios”.

Até o divisor de águas da pandemia, a normalidade do varejo do plástico incluía o convívio com clientes de baixo capital de giro, investimentos moderados e pontuais e ínfima renovação do parque fabril, descreve Sérgio Salinas, gerente comercial e de desenvolvimentos da distribuidora Tecnomatiz, referência em plásticos em engenharia.

“Diante do abalo sísmico que estamos sofrendo, a dura realidade que se apresenta deve perdurar por tempo indesejável após a quarentena “, ele julga. “O momento nos pede o fortalecimento da estratégia de perenizar clientes, conciliando reciprocidade com iniciativas comercialmente construtivas para a nossa carteira. Afinal, o ciclo de alavancagem dos clientes pequenos foi rompido e a inadimplência atinge níveis destrutivos. Vale lembrar, porém, que as melhorias nascem das dificuldades”.

Salinas endossa a corrente que antevê a redução do consumo nacional de plásticos de engenharia, por imposição da recessão. “É menos bolo para os agentes autorizados dividirem com a concorrência das revendas independentes”, ele frisa. “Nessa disputa, os distribuidores oficiais têm mais chances de sobrevida devido ao que já construíram. Afinal, as aplicações de plásticos de engenharia demandam maior tempo de maturação. Desse modo, reitero aos clientes que utilizaram nossos valores em desenvolvimentos e no suporte técnico: estejam certos de que continuaremos juntos com vocês para um novo futuro após a pandemia”.

Essas cores não desbotam

Componedores concentram o foco na volta gradativa do consumo

A pandemia puxou o freio do consumo de bens duráveis e atiçou a procura pelos produtos essenciais. Em especial neste último reduto, onde imperam as embalagens plásticas, os masterbatches configuram um sensor dos rumos da economia sob a incontornável recessão pós-quarentena.

José Fernandes, diretor da componedora Cromaster, mantém o viés otimista na turbulência, apostando num cenário de satisfatório para melhor depois do isolamento social. Para ele, o pior cenário seria o do ingresso no segundo semestre com o mercado ainda parado. “A maioria das empresas não terá caixa para suportar a pressão dos custos da folha de pagamento e, no caso específico da Cromaster, teremos de adequar o quadro de pessoal a uma nova realidade, aliada à redução de estoques e negociações de prazos com fornecedores”. Fernandes engrossa o caldo dessa conjuntura com a hipótese de repiques do vírus prolongarem o isolamento social. “Aí haverá uma quebradeira geral de empresas”, prevê.

O cenário satisfatório visualizado pelo dirigente abre com o isolamento social flexibilizado a partir de junho, ensejando a volta do consumo, embora reprimido, e, por tabela, iniciando a movimentação dos estoques dos clientes da Cromaster. “Aí retornariam os pedidos de concentrados para mercados importantes, como as indústrias de cosméticos, brinquedos e utilidades domésticas”, ele ilustra. “Nesse caso, as empresas teriam tempo para uma recuperação mínima de caixa este ano”.

Retorno imune a vírus
A despeito de todos os desafios colocados pela pandemia e recessão, a indústria investe quando enxerga oportunidades e em ativos cuja qualidade garanta um retorno interessante”, vaticina Ricardo Prado Santos, vice presidente da Piovan, tinto nobre italiano em periféricos. “Ainda do lado positivo, a conjuntura de juros baixos torna a atividade industrial uma opção mais rentável do que deixar o dinheiro no banco, o que deverá reverter para um fluxo natural de capital para a transformação, a reciclagem e o setor plástico como um todo”. Além do mais, arremata o dirigente, esses investidores têm a seu dispor equipamentos de ponta montados no Brasil e sem risco cambial embutido em sua compra.

Como referências dessa excelência tecnológica, Prado destaca do portfólio da Piovan a alta procura no Brasil por três famílias de equipamentos montadas na filial do grupo na Grande São Paulo: sistemas de refrigeração e dry coolers; dosadores volumétricos e gravimétricos e, por fim, os sistemas centralizados de automação. “Asseguram ao transformador uma operação confiável e de baixo custo, devido em especial à redução da variação do processo, com consequente diminuição de perdas”, completa o dirigente.

O melhor dos mundos, expõe o componedor, seria o mercado reabrir com surpreendente pique ao final do primeiro semestre, “viabilizando na metade final do ano uma boa recuperação para os clientes e, por extensão, para nós”, completa Fernandes. “Seria um quadro em que ações do governo manteriam um poder mínimo de compra durante a retomada e, na esteira, o aumento rápido das vendas poderia até levar as empresas a recontratarem a mão de obra dispensada sob o mercado paralisado na quarentena”.

Sob a euforia com uma expansão acelerada em 2019, Wagner Catrasta, gerente comercial da componedora Termocolor, acalentava como balanço ideal para 2020 um aumento de 30% sobre o faturamento do ano anterior. Conforme nota, a empresa ainda não revisou a meta pincelada no azul pré-pandemia, mas o isolamento social instaurou uma defasagem de pelo menos três meses, uma perda de vendas que ele julga impossível de recuperar até dezembro. “Nesse contexto, um saldo satisfatório seria atingirmos 60% da meta de incremento original”, ele avalia. “Desse modo, fecharíamos 2020 com um crescimento vegetativo, mas sem queda nos resultados”.

O corona bagunçou de tal forma a metodologia das projeções que impôs a necessidade de uma análise quase diária dos cenários de expectativas, constata Elisangela Melo, gerente nacional de vendas da componedora Procolor. “Entregamos o crescimento esperado nos indicadores definidos para o primeiro trimestre”, ela conta. “Mas tudo entrou em revisão desde abril e começamos a trabalhar na previsão de vendas diária, semanal e, na melhor hipótese, mensal.”

Para Elisangela, o pior cenário é o desenhado por uma segunda onda da pandemia conjugada com recessão nacional e mundial, com efeitos no desemprego recorde e maior perda do poder aquisitivo das famílias. “Nesse contexto, bens duráveis no quais nossos masters têm boa participação, caso da linha branca, setor automotivo e até brinquedos, ficariam bem comprometidos”. O cenário satisfatório, ela prossegue, seria marcado pela abertura gradual do comércio, suscitando a retomada das fábricas. “Aqui temos uma boa perspectiva para alimentos essenciais, mas com alguma reação na esfera dos supérfluos, e produtos de limpeza e higiene pessoal devem continuar demandando, tal como agrofilmes, brinquedos e cosméticos; um quadro positivo para nossos concentrados especiais”. No arremate, Elisangela sumariza o cenário ideal naquele em que todos os setores levitariam sob recuperação de bate-pronto, “inclusas a indústria automobilística e a construção civil, paralisadas durante o isolamento social”.

As especialidades são o centro das atenções da Multicolor, com incursões casuais na seara dos masters commodities, explica o CEO Rafael Tronco. Com base neste perfil, ele pondera que o pior cenário na recessão pós-corona seria a empresa ter de migrar seus esforços para o super concorrido segmento de masters de baixo retorno,“para tentar manter ativa a estrutura da corporação”, ele argumenta. No cenário satisfatório, ele insere, a Multicolor manteria este ano o patamar de vendas alcançado em 2018 e 2019. “Não haveria crescimento nem retração, possibilitando uma operação financeira saudável e sem prejuízos relevantes”, julga Tronco. Já o paraíso na terra seria a receita da Multicolor engordar 10% no exercício atual, tal como o CEO acalentava antes de o corona botar o mercado numa barafunda.

João Ortiz Guerreiro, diretor presidente da componedora Aditive, dimensiona o estrago causado pela economia contaminada pela covid-19 com a previsão de queda de 20% no seu volume de vendas este ano versus 2019. “Entretanto, o desempenho de novos produtos, como o master de aditivos antimicrobianos Zinc Tech, deverá possibilitar que o faturamento total da Aditive feche estável em relação ao ano passado”. •

 

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