Nos últimos anos, o registro de saldo negativo nos balanços da construção civil tornou-se tão clichê quanto à notícia de que o Rio amanheceu sob tiroteio ou que o Brasil virou exportador regular de PVC desde que a recessão fez o consumo doméstico sentir sua mão pesada na nuca. No entanto, não há mal que sempre dure e, com os bons fluidos aspergidos pelo mercado de capitais na praça, em função da eleição de Jair Bolsonaro, começam a pipocar na mídia decisões de desengavetar investimentos por parte de empreendedores do naipe de construtoras e, mesmo o varejo de materiais de construção, tem servido de termômetro da moderada volta da confiança ao reduto de reformas residenciais. São boas novas aos ouvidos da Mexichem Brasil, demonstra nesta entrevista seu diretor geral Henio De Nicola. Braço local da corporação Mexichem, nº1 em materiais de construção na América Latina e cuja operação abriga atuação na petroquímica (PVC), a Mexichem Brasil preparou-se para a virada a caminho. Nesse ínterim, conforme assinala o dirigente, a empresa montou núcleo de inovação no interior paulista, trata de abrir caminho para seus dutos no setor de telecom e tem reiterado sua estratégia de sacudir o mercado com soluções sem similares locais para os setores predial e de reformas. Em suma, só falta a demanda fazer a sua parte.
Porta voz de 140.000 lojas do setor, a Associação Nacional dos Comerciantes de Materiais de Construção (Anamaco) projeta crescimento nas vendas de 6% a 7% este ano. Como avalia esta previsão com base nos cinco anos seguidos de resultados negativos da indústria da construção civil; alto nível de desemprego, crédito caro e de difícil acesso, retraimento de lançamentos prediais e poder aquisitivo para reformas residenciais afetado também pelo dólar volátil e encarecimento dos combustíveis?
Projetamos que, após viver seu pior momento, o setor de construção no Brasil amplie uma sinalização de retomada, ainda que discreta, no médio prazo. Ainda sentimos as consequências da falta de grandes obras de infraestrutura e de ações concretas dos agentes fomentadores desse setor para suprir o enorme déficit de residências no Brasil. Também sofremos ainda os efeitos da crise prolongada e de fatores prejudiciais pontuais, como a greve dos caminhoneiros. O alto índice de desemprego também afeta o nosso mercado, atrasando a decisão de investir em imóveis novos e em lançamentos de empreendimentos pelas construtoras. Um bom sinal é que o consumo das famílias tem melhorado de forma lenta, mas perceptível, porque o índice de reformas como alternativa à troca de imóvel tem aumentado com intensidade maior.
Como os incentivos ao uso mais racional de água e energia urbana têm se refletido este ano nas vendas de soluções da Amanco em desenvolvimentos para surfar nessa tendência?
Há mais de uma década oferecemos produtos que facilitam a vida dos clientes. É o caso do Super CPVC, tubo superior aos concorrentes devido à maior resistência à pressão e temperatura, o que alavancou muito nossas vendas, pois trouxe algo inovador ao mercado. Também introduzimos a linha Amanco Fire BlazeMaster®, referente a tubos e conexões utilizados na proteção contra incêndio em obras comerciais de risco leve. São os únicos produtos no gênero munidos no Brasil da certificação internacional UL FM, exigida pelas seguradoras e grandes construtoras.
No meio deste ano, iniciamos a produção da linha CPVC Corzan tubos, adaptadores, flanges, bucha de redução, joelho e luvas soldáveis etc, também superior aos rivais e voltada à condução de fluidos industriais e de mineração sob pressão.
Para completar, investimos no desenvolvimento do primeiro Centro de Inovação Mexichem (CIM) na América Latina, no interior da unidade em Sumaré (SP), e em iniciativas de IoT e de automação da força de vendas com objetivo de conectar a equipe, clientes e público interno em uma só plataforma de integração. Ou seja, agora todas as informações estão na palma da mão, dotando-nos de muito mais produtividade e agilidade nas tomadas de decisões.
No reduto predial, diversos concorrentes da Amanco têm estendido o braço em produtos de plástico visíveis no interior de residências, como torneiras e perfis de portas e janelas. Por que a Amanco não segue nesta direção? Entre os seus segmentos de atuação, qual o mais prejudicado pela economia nos últimos anos?
Não lançamos produtos apenas para competir com outros, principalmente se não estiverem no nosso horizonte de atuação. Somos uma empresa “Purpose Driven” cujo mostruário de soluções deve incorporar cada vez mais o novo, o simples, aquilo que vai facilitar de uma forma significativa a vida dos consumidores. Quanto à área ou segmento de produtos mais afetados pela duração da crise, aponto o setor de infraestrutura, por motivos óbvios.
Qual a possibilidade de Mexichem introduzir no Brasil produtos de suas marcas internacionais Wavin e Dura-Line, tal como já ocorre com Netafim e Amanco?
Já operamos no Brasil com a Dura-Line, desde abril de 2017, na fabricação de dutos e microdutos de polietileno para abrigar cabos e fibra óptica. A novidade tem como diferencial o uso da tecnologia silicor, um lubrificante que serve para “soprar” a fibra óptica, obtendo maior produtividade e menor risco de quebra na instalação. Outra característica benéfica é o fato de interferir menos na paisagem urbana e, assim, evitar o horror que deparamos nos grandes centros com o emaranhado de fios e cabos pendurados nos postes.
Além do mercado interno, a operação de Dura-Line no Brasil atende os mercados da Argentina, Paraguai e Uruguai. Isso ressalta a importância do Brasil na política de diversificação das áreas de atuação da Mexichem, pois a Dura-Line é líder mundial em dutos e microdutos para fibra óptica. Já com relação à Wavin, marca considerada a “Amanco europeia”, trouxemos para cá algumas inovações interessantes. Por exemplo, a linha Quickstream, sistema (sifônico) extremamente eficiente e veloz na coleta de águas de chuva, e a nacionalização de alguns produtos desenvolvidos no centro de tecnologia da Wavin na Holanda.
Quais as soluções do mostruário internacional da Mexichem, ainda inéditas no Brasil, com mais possibilidades de desembarque no mercado brasileiro a curto prazo, seja via produção local ou importações?
Como uma empresa “purpose driven“, posso garantir que estamos e estaremos trabalhando para lançar produtos que atendam aos anseios dos consumidores, com aplicação cada vez mais simples e prática, não importa se inicialmente importados ou com fabricação local. Temos ambas as possibilidades de competir. Além desses produtos, a intenção é desenvolver num futuro próximo um núcleo de soluções integradas, de forma a oferecer um pacote único sob marca e responsabilidade da Amanco, no qual uniremos a qualidade dos produtos com a dos parceiros e colaboradores na parte de instalação.•