“Novos investimentos na reciclagem de PET devem ser anunciados este ano”, acena Auri Marçon, da Abipet

As expansões seguem nos planos apesar das limitações da coleta seletiva pública
As expansões seguem nos planos apesar das limitações da coleta seletiva pública
As expansões seguem nos planos apesar das limitações da coleta seletiva pública.
Apenas no compartimento das garrafas, o consumo nacional de PET virgem saltou cerca de 100.000 toneladas e o do poliéster reciclado (rPET) cresceu 200.000 em 2024. A expansão tem mérito redobrado por transcorrer em meio aos sacolejos nos preços e spreads do excedente global de petroquímicos e estímulos como o espaço para a resina recuperada pós-consumo, alargado no Brasil pelo engajamento de brand owners em compromissos ambientalistas. Na animadora entrevista a seguir, Auri Marçon, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet) comenta o desempenho da cadeia do PET no último período e deixa claro que os investimentos em curso na reciclagem da resina grau alimentício no país refletem a expectativa de homologação este ano do uso de teores do material recuperado em embalagens e na ampliação do efetivo de centrais de triagem de resíduos para respaldar ascensão de rPET no país.
Auri Marçon: mercado brasileiro de PET virgem para garrafas ultrapassou 810.000 toneladas em 2024.
Auri Marçon: mercado brasileiro de PET virgem para garrafas ultrapassou 810.000 toneladas em 2024.

Em 2024, o Brasil importou 150.918 toneladas de PET virgem ou cerca de 15% da sua capacidade do poliéster, cuja demanda interna beira 600.000 t/a. O volume importado também supera as 88.823 toneladas exportadas pelo Brasil no ano passado. Qual a justificativa para importação tão expressiva de um material com capacidade doméstica de sobra?

Precisamos fazer algumas ponderações sobre o total das importações de PET reportadas nos sistemas (de monitoramento de comércio exterior) do governo. Precisamos levar em conta que existem polímeros de poliéster para uso têxtil e para algumas aplicações especiais, como filamentos industriais e pneus, peças técnicas etc. Além disso, precisa ser considerado que entra no Brasil muito mais pré-forma importada do que resina. Isto posto, o total de resina PET e pré-formas que entrou no Brasil em 2024 é bem próximo de 200.000 toneladas. Embora as importações de resina virgem tenham crescido em 2024, ainda são menores do que no passado. Dessa forma, não podemos dizer que foram tão expressivas, até porque parte desse volume é preenchida por operações de empresas que também produzem no Brasil. No entanto, por questões operacionais (tipo de resina, paradas para manutenção etc), essas companhias preferiram trazer material de suas unidades em outros países.

Como avalia o impacto, nos preços de tipos nacionais de PET virgem, da alíquota tarifária de 25% vigente desde agosto de 2024 para grades importados? Acha que ela deve ser renovada em outubro de 2025, inclusive para os EUA, num ambiente dominado pela aversão de Trump a guerras e ameaças tarifárias daqui por diante?

Eis uma resposta pragmática: por questões estatutárias, a Abipet não monitora preços e, infelizmente, não podemos avaliar a pergunta por este ângulo. Mas, seguem adiante os dados sobre volumes importados. Em 2024, o mercado brasileiro de embalagens PET recebeu mais de 200.000 toneladas de material importado e, nos últimos anos, isso tem significado entre 20% a 25% da demanda pelo produto. Em resumo, durante o verão atual, os volumes parecem normais para o período e, até onde pudemos avaliar, os modelos de precificação com base no comércio internacional não tiveram alteração. Para medir o impacto devido apenas ao incremento na alíquota é necessário mais tempo, visto que estamos atravessando só o primeiro estágio da sazonalidade. Ou seja, verão no Hemisfério Sul, com demanda alta, e inverno no Norte, que gera excedentes de produção pelo mundo. Além disso, tivemos momentos complicados no câmbio, que também mexem com as importações. No fim do verão começam os ajustes de estoque e isso pode mudar a situação.

Então, como aferir, de forma satisfatória, os pontos mais vulneráveis da indústria brasileira de PET diante do cenário internacional?

Aí vão algumas reflexões interessantes para o setor de embalagens plásticas. Além de servir como arrecadação para a receita do governo, as alíquotas de importação corrigem desajustes e equilibram o comércio exterior. Sendo assim, uma questão mais pragmática seria: onde está o desequilíbrio na cadeia do PET e até de outros plásticos, que tanto impacta a competitividade do produtor nacional? No preço do gás ou da nafta? Do paraxileno ou ácido tereftálico purificado (PTA)? Na cadeia do eteno/etilenoglicol? Na resina PET? Na fabricação de pré-formas e garrafas? Pois bem, com uma base de matérias-primas bem mais caras em relação ao resto do mundo, principalmente gás e nafta, quando se compara a países asiáticos ou do tratado EUA/Canadá/México, não dá para resgatar a competitividade espremendo o custo dos transformadores e dos fabricantes de resina. Essa discussão é uma perda de tempo. Considerando todos os elos da cadeia produtiva, decerto estes dois – resina e pré-forma – não estão entre os mais lucrativos. No caso do PET, o setor é estável, com distorções periódicas temporárias para um lado e outro, e isso acontece nos últimos 30 anos. Torço para que estes dois elos intermediários se tornem cada vez mais unidos para que possam se defender das intempéries externas e dos extremos do supply chain.

Por que, em especial desde 2024, sumiram as notícias de investimentos em novas fábricas e recicladoras bottle to bottle (BTB) no Brasil?

Penso que as notícias não sumiram, mas talvez estejam apenas escondidas. Grandes recicladoras de PET do Brasil fizeram ampliações em suas linhas, sem necessariamente anunciar novos sites. Empresas como Cirklo, Engepack, Indorama e Valgroup fizeram ou estão fazendo investimentos em aumento de capacidade de suas linhas. Temos notícias de que novos investimentos devem ser anunciados em 2025, mas a divulgação é de competência dos acionistas que decidem quando tornar público. O grande desafio para a reciclagem de PET no Brasil não são os investimentos, mas, sim, a limitada coleta seletiva pública que causa restrição ao abastecimento das recicladoras. Levantamento anual da Abipet, o Censo da Reciclagem de PET (período 2024) está em curso nesse momento, mas não precisamos aguardar o resultado para dizer que a principal reclamação dos recicladores é a ociosidade em suas linhas, exatamente pela escassez de matéria-prima, ou seja, coleta. Cerca de 90% de todo o PET coletado no Brasil acontece graças ao trabalho de catadores, que atuam através de sucateiros ou em cooperativas. Infelizmente, nada muda com relação à coleta pública. Este, sim, é o verdadeiro limitador do crescimento da reciclagem de PET no Brasil.

Qual a produção de PET grau virgem e a demanda de PET reciclado no Brasil em 2024?

O mercado brasileiro de PET virgem para garrafas ultrapassou 810.000 toneladas, demonstrando um crescimento que superou 13% em relação a 2023. Não só a demanda, mas a produção de RPET cresceu em 2024. O nosso Censo da Reciclagem e os números detalhados de todo o setor serão apresentados no PETtalk 2025 – Conferência Internacional do PET, agendada para 24 de março no Hotel Grand Hyatt, em São Paulo. Numa prévia realizada no final de 2024, identificamos que a quantidade de rPET usada em novas garrafas já está muito próxima de 200.000 toneladas.

Com Trump apoiando a energia fóssil e dando as costas à energia limpa, o que se pode esperar para rPET no mundo e no Brasil em 2025?

Acreditamos que a demanda do rPET está fortemente ligada à meta das empresas com relação ao conteúdo reciclado, que deve se tornar lei a partir da publicação do Decreto de Logística Reversa dos Plásticos, esperada para este ano. Atravessamos 2024 com demanda alta do rPET, mesmo com preços de 20% a 30% mais caros que o material virgem. A maioria das grandes empresas que consomem rPET grau garrafa mantém projetos de longo prazo e devem mantê-los. De qualquer forma, temos que esperar um pouco mais para ver quem está do lado ambientalmente correto e quem não está.

Com o governo mantendo o hábito de postergar a abolição dos lixões e implantação da coleta seletiva em troca de aterros sanitários, o que se pode esperar para a contribuição ambiental de PET em 2025, à medida em que se aproximem as eleições brasileiras de 2026?

São mínimas as nossas expectativas de que o setor público venha melhorar o serviço de coleta seletiva e recuperar quantidades robustas de garrafas pós-consumo que hoje estão sendo enterradas em lixões. Temos esperança que os modelos de centrais de triagem possam crescer e evitar que o material reciclável seja enterrado.

O setor do PET continuará contribuindo, como sempre fez, gerando emprego e renda em diversos elos da cadeia de valor, onde uma parcela de cerca de 40% dos mais de R$ 3,2 bilhões de faturamento do setor de reciclados fica no primeiro elo da cadeia. Ou seja, sucateiros, catadores, cooperativas. Esta é a forma como o setor industrial sabe colaborar. Não temos experiência em coleta pública ou em programas de comunicação, mas, sim, em tecnologia e muito trabalho nas atividades industriais.

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