“Em 2014, o déficit na produção de polietileno(PE) representou 67% da demanda mexicana total e se espera uma queda considerável desse índice com a entrada da Braskem Idesa”, atesta Pedro Joaquín Coldwell, Secretário de Energia do México. Além da melhora na balança comercial do polímero e da geração de riqueza e emprego, o complexo de eteno/PE em Veracruz tem um peso institucional singular para o governo do presidente Enrique Peña Nieto. Ele condensa e irradia o espírito e a prática da torrente de reformas que estão mudando a cara do país mediante seu embarque na economia de mercado.
O ponto de partida dessa metamorfose aflorou em 2014, nas vestes da reforma do setor de energia, uma pá de cal no septuagenário monopólio da estatal Pemex.” No passado, ela tinha de dar conta de tudo e sozinha”, explica Coldwell. “Se não conseguisse, ninguém mais poderia fazê-lo”. No primeiro trimestre de 2013, por exemplo, o preço médio da tarifa mexicana de eletricidade superava em 73% o praticado nos EUA, compara o dirigente. “Se computado o subsídio da nossa tarifa, ela ainda era 25% mais cara que a norte-americana no mesmo período”. Premido pela falta de competitividade e de recursos públicos, o governo partiu para estruturar a reforma através de ajustes constitucionais, dispositivos legais e no aparato regulatório. No âmbito dos hidrocarbonetos, palco da Braskem Idesa, o Secretário explica ter sido decidido atrair tecnologias de ponta, aumentar a produção nacional desses insumos e facilitar a exploração em águas profundas e fontes não convencionais. “A partir da reforma energética”, ele acentua, “qualquer empresa poderá pleitear permissão do governo para as atividades de tratamento e refino do petróleo; processamento do gás natural e transporte, estocagem, distribuição e remessa de gasolina, diesel e GLP”.
Na raia da eletricidade, foi acordada a criação de um mercado disputado em pé de igualdade por empresas estatais e privadas, a concessão de estímulos a energias limpas e apoio em favor da competência para se ofertar eletricidade a preços competitivos. Por essas e outras, intercede Coldwell, de novembro de 2014 a novembro de 2015 a tarifa de energia elétrica industrial já caiu de 25% a 35%, enquanto a comercial despencou de 9,6% a 22%. Na categoria residencial, ele completa, a tarifa para moradias de alto consumo recuou 9,6% e, nas de baixo dispêndio, a queda aferida foi de 2%. De certa forma atrelada à eletricidade, outra guinada empreendida pela reforma energética é o plano de aportar US$ 14 bi para ampliar em 84% (mais 10.000 km), até 2018, a rede mexicana de transporte de gás natural trazido dos EUA. Para o período 2015-2019, segue Coldwell, está programada a materialização do programa de desenvolvimento do setor elétrico. Trata-se da expansão da rede por projetos de transmissão, um acréscimo de quase 25.000 km estimado em US$ 13,4 bi, ele calcula.
Alejandro Martínez, diretor geral da Pemex-Transformação Industrial, sintetiza assim a metamorfose de sua empresa provocada pela reforma energética. “Trata-se da transição de um monopólio estatal para uma empresa produtiva, passando de administradora de ativos a administradora de negócios”. O antigo foco nos volumes, observa, foi substituído pelo viés econômico. Na mesma trilha, os preços administrados (fixados pelo governo) para produtos de gás natural e petróleo cedem lugar aos preços determinados pelo mercado. A tiracolo dessa nova cultura corporativa, diversas ações de peso começam a aflorar. Por exemplo, aponta Martínez, a partir de 2016 serão abertas as importações de propano e butano e qualquer marca de gasolina poderá ser vendida nos postos do país. No período 2016/2017, assinala o diretor geral, os preços de butano e propano serão regulados pelo mercado, tal como os preços da gasolina a partir de 2018. Em questão de dois anos, serão franqueadas as importações mexicanas de gasolina e diesel e, de 2018 em diante, qualquer companhia poderá processar óleo e gás no país.
Martínez arredonda em US$ 49 bi o mercado mexicano de produtos de óleo e gás, a exemplo de gasolina, diesel, asfalto, GLP e petroquímicos, cuja participação neste montante ele orça em US$ 1.76 bi. Na foto do momento, expõe, o México acusa déficit no consumo de vários derivados de alto valor agregado. É o caso do índice de 48% aferido este ano nas importações de gasolina; de 38% nas de petroquímicos e de 27% nas de gás natural. Escorada nos trunfos de sua infraestrutura em produção e logística (seis refinarias, nove centros processadores de gás e dois crackers petroquímicos), a Pemex agora acena para o capital privado como o caminho para sua competitividade e crescimento a cavaleiro de um mercado com viés de alta. “Para o próximo quinquênio, esperamos um crescimento à média de 3% anuais na demanda de produtos de petróleo e gás natural”, projeta Martínez.
A reforma energética, enxerga o dirigente, estabelece pelo menos três frentes para a Pemex içar as velas. “Queremos capturar as oportunidades mais rentáveis mediante associações com terceiros, melhorar a liquidez da empresa com desinvestimentos (monetização) e contratar serviços para as operações vistas como secundárias”. Com esse balizamento, ele amarra, a Pemex pretende se firmar como parceiro confiável e atraente para a iniciativa privada. “Buscamos sócios potenciais para atividades fora do nosso negócio principal, contemplando-as com qualidade e custo melhor numa relação ganha ganha de longo prazo”, delimita Martínez.
O PIB do México, estimado em US$ 1,283 tri, deve crescer 2,3% este ano e 2,8% no próximo, situa Beatriz Leycegui, dirigente da consultoria SAI e ex Subsecretária de Comércio Exterior. Uma vez completadas as reformas energética, educacional, trabalhista, financeira e nas telecomunicações, ela antevê salto de 4,92% no PIB mexicano de 2018. Na retaguarda dessas expectativas, Beatriz distingue o magnetismo exercido sobre investidores por ímãs como a estabilidade econômica e os salários mexicanos. “Este ano eles estão 9% abaixo da China”, ela compara, assinalando o efetivo atual de 52 milhões de pessoas no mercado de trabalho. Além do bilhete sorteado em logística que é a vizinhança com os EUA, o poderio da sedução mexicana é alimentado pela extensa rede de tratados de livre comércio, credenciais globais a exemplo de oitavo produtor de veículos e, no âmbito das exportações, o país é o nº1 em TVs de tela plana e nº3 em embarques de produtos de TI, cita a analista, arrematando com o custo local de energia. “Entre 2004 e 2014, os custos de gás natural caíram entre 25% a 37% no bloco Nafta e subiram 98% no resto do mundo”. •