Negócios à parte

Recicladora Barreflex manda bem por não ser gerida como desdobramento da indústria do seu controlador
Fernandes: reciclados acenados para masters, compostos e micronizados.
Rafael Fernandes
Fernandes: reciclados acenados para masters, compostos e micronizados.

É corriqueiro encontrar no Brasil transformadores de plástico com braço estendido em redutos como a produção de masters e compostos ou a revenda de resinas. No entanto, apesar do charme da pegada ecológica e do aparente conhecimento do ramo por essas empresas, são de se contar nos dedos as indústrias dispostas a diversificar sua atuação investindo na reciclagem. Peso pesado em flexíveis, a SR Embalagens é uma dessas exceções e sete anos de ativa atestam que a sua recicladora Barreflex foi feita para durar. “Apesar das dificuldades do mercado, continuamos a crescer com percentual de dois dígitos nos últimos anos e esperamos crescer 15% no período atual”, adianta sem soltar cifras Rafael Fernandes, gerente administrativo dessa recuperadora de aparas industriais.

Em 2010, repassa o executivo, a Barreflex partiu nas dependências da sede da SR Embalagens em Barretos, a oeste de São Paulo, com uma capacidade de reciclagem projetada em 100 t/mês. “Hoje em dia, com uma fábrica filial em Sumaré, interior paulista e outra em Barra Mansa, no Estado do Rio de Janeiro, nossa capacidade totaliza 1.000 t/mês”. Fernandes salienta ser pequena, na conjuntura atual, a participação do grupo SR no suprimento de aparas para a Barreflex. “Aumentamos os volumes através da captação do resíduo em transformadores e na prestação de serviços de reciclagem, entre eles os processos de logística, gestão, moagem, extrusão com até duas degasagens, granulação (alimentação forçada) e dupla filtragem”.

A Barreflex surgiu dentro do grupo SR, conta Fernandes, devido a uma demanda de gestão e destinação correta das aparas de filmes produzidos na matriz em Barretos. “Além de reaproveitar o refugo do grupo, já pretendíamos sete anos atrás ampliar o negócio incorporando mais fontes e mercados e indo além dos limites da reciclagem de poliolefinas, como ilustra hoje nossa atividade de reaproveitamento de poliamida têxtil”, assinala o executivo. Assim, à margem dos solavancos e voos de galinha da economia, foram injetados recursos na expansão e modernização do parque industrial, a ponto de contemplar a recicladora com credenciamento pela ISO 9001 e ISO 14.000. “A onda leva quem fica parado”, pondera Fernandes, para justificar a compra de linhas de granulação e a montagem da filial em Sumaré. “Investiu-se em extrusoras que operam integradas a sistemas de moagem e alimentação e capazes de processar desde poliolefinas, poliamidas e polipropileno biorientado a ráfia, nãotecido e laminados”, ele salienta, situando em cinco anos o retorno desse aporte de recursos.

Três anos a fio de recessão elevaram a ociosidade no setor transformador, afetando drasticamente a geração de aparas e sua disponibilidade na praça, concorda Fernandes. “Por determinado período, isso inflou o preço da sucata de melhor qualidade, mas, em contrapartida, o mercado não absorveu os reajustes nas resinas recicladas”. A Barreflex tem reagido ao quadro, prossegue o gerente, distinguindo seus produtos pela rigidez do controle de qualidade. “Para nossos clientes de serviços, exploramos o processamento de estruturas multicamada e investimos em máquinas para processar borras e peças de maior envergadura, como painéis e para-choques”. Outro ás na manga da recicladora é a ênfase na automação e comunicação das linhas ao longo do processo. “Na chegada, o refugo é classificado por tipo e cor e a esteira o conduz à moagem e, a seguir, para extrusoras munidas de alimentação forçada, eliminando a etapa de aglutinação”, descreve Fernandes. “Na extrusão, os materiais são derretidos e submetidos a várias degasagens, para eliminação de voláteis, sendo então filtrados, granulados e ensacados”.

Apesar do azul dos números da Barreflex, Fernandes digere com reservas a entrada de um transformador de médio porte para cima na reciclagem de aparas. “Acho que não valerá a pena em função da escala”, ele pondera. “Antes de tomar a a decisão de esticar o braço na atividade, o transformador deve entendê-la não só como uma solução para o resíduo que gera internamente, mas como um negócio que demanda gestão, estratégia, investimentos, ganhos de escala e pessoal capacitado”. Conforme repisa, além de tomar tempo e depender de tecnologia, o empreendimento em reciclagem sai fora do negócio por vocação do transformador. Para quem entra no ramo e é surpreendido por esses obstáculos, a saída de melhor custo/benefício é a terceirização da reciclagem, opina o gerente administrativo da Barreflex.

No momento, a Barreflex volta os olhos para mercados ainda pouco explorados para seus reciclados como compostos, masters e micronizados para rotomoldagem, informa Fernandes. Entre os investimentos a curto prazo, despontam um novo laboratório de ensaios e a produção de compostos de polietileno reciclado. “Até aqui nossa especialidade são reciclados, em especial tipos coloridos e cristal de polietilenos lineares e de baixa densidade, destinados a filmes”, ele destaca. Em paralelo, Fernandes confirma haver interesse em fincar filiais da Barreflex em outros locais de alta incidência de aparas industriais, como a Serra Gaúcha ou Manaus. “A gestão local de aparas reduz o custo logístico e, foi, aliás, a motivação para instalarmos em 2016 uma unidade de reciclagem em Barra Mansa”. •

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