Nos idos de maio de 2000, quando o grupo norte-americano Plastek partiu a fábrica erguida em Indaiatuba, interior paulista, a cultura da globalização na indústria brasileira de transformação de plástico mal extrapolava o setor automotivo. Daí o impacto então causado pela entrada em cena de um global player em moldes, injeção de tampas e embalagens, decoração e montagem de subconjuntos e à frente de um colar de clientes transnacionais de tirar o fôlego, a exemplo de Unilever, Nestlé, Colgate e Pepsico. Durante esses quase 20 anos de ciclotimias da economia brasileira, a subsidiária da Plastek se firmou assinando moldes com garantia de 2 milhões de ciclos de injeção/ano e por credenciais como a excelência na injeção hidráulica e elétrica, bicomponente e injeção/sopro sem (injection blow) e com estiramento (injection stretch blow). Este poderio recrudesceu desde o ano passado com a compra da rival brasileira Costapacking, sediada em Pirassununga, a cerca de 140 km de Indaiatuba. Nesta entrevista, Carlos Henrique Massarotto, vice-presidente da Plastek do Brasil, deixa claro que um projeto traçado sem retorno imediatista e o foco no diferencial da tecnologia em linha com clientes obcecados por reduções de custos e, nos últimos tempos, pelo engajamento na sustentabilidade, muniram a empresa de resiliência para absorver os solavancos da demanda e ampliar seu raio de ação no país.
A Plastek do Brasil anunciou a compra da Costapacking em 2018. De lá para cá, quais as vantagens desfrutadas com esta incorporação?
A aquisição dessa planta de embalagens em Pirassununga se deu por um movimento estratégico da Plastek: expandir a participação em alguns mercados nos quais já atuava, como prova o aumento de clientes obtido nos segmentos de produtos pessoais, de higiene e alimentos, e estrear em outros redutos, a exemplo de tampas para bebidas alcóolicas e sucos. Em termos de tecnologia, continua em curso entre as duas unidades uma grande interação e troca de expertise, em particular em termos de equipamentos de montagem e decoração de peças, moldes de múltiplas cavidades e células produtivas integradas. Vale acrescentar que, com a compra da planta da Costapacking, passamos a contar com duas ferramentarias, uma em cada fábrica, o que amplia a capacidade de atendimento e encurta o tempo de confecção de peças sobressalentes para os moldes, condição fundamental para uma boa produtividade.
O nome Costapacking permanece? E em quanto tempo espera o retorno do capital aplicado na compra da planta?
A Costapacking foi oficialmente incorporada pela Plastek do Brasil e tornou-se uma filial dela em Pirassununga. Portanto, sua razão social foi alterada. Quanto ao retorno do capital aplicado, óbvio que trabalhamos para que aconteça o quanto antes, mas sabemos que não será conseguido a curto prazo, considerando-se o período de baixa nas vendas nesses últimos anos. Porém, cabe ressaltar que, ao chegar ao Brasil em 2000, a Plastek tinha em vista estabelecer uma operação sólida e norteada por planos de longo prazo, daí os relevantes investimentos feitos aqui.
Em março do ano passado a unidade em Indaiatuba operava com capacidade aproximada de 12.000 t/a e a de Pirassununga, 10.000 t/a. Os números continuam válidos?
A queda do mercado tende a baixar os números. Hoje em dia, a Plastek transforma cerca de 11.000 t/a em Indaiatuba e 8.000 em Pirassununga. A ocupação dos dois sites também flutuou bastante nos últimos tempos, por conta de variações de demanda e por algumas transferências de equipamentos entre as duas unidades. No geral, hoje elas rodam com a média de 70% de ocupação
De 2018 para hoje, quais as principais melhorias introduzidas no parque das duas unidades?
Destaco a adoção cada vez maior de sistemas de inspeção eletrônica de qualidade de peças, automação nas etapas finais de linha e sistemas automáticos de apontamento de produção ligando os equipamentos (injetoras e linhas montadoras) diretamente ao nosso sistema MRP (Manufacturing Resources Planning/Planejamento de Recursos da Manufatura). No mais, merece menção a recente aquisição de injetoras 100% elétricas para atender novos projetos, visando melhorias de ciclo com redução no consumo energético.
De 2018 até o momento, quais os principais projetos com brand owners que envolveram a injeção de tampas e/ou embalagens com resina reciclada pela Plastek Brasil?
Hoje já temos embalagens aprovadas pela Unilever e em fase de desenvolvimento junto a clientes tais como Reckitt Benkiser e Procter & Gamble. Algumas dessas iniciativas estão na reta final da homologação e outras em fase inicial.
Seus projetos com injeção de resina reciclada envolvem exigências dos brand owners de que o reciclado seja originário de embalagens pós-consumo ou eles também admitem reciclado originário de aparas industriais?
Em regra, as solicitações dos clientes versam sobre utilização e testes de resinas PCR, ou seja, vindas do pós-consumo. Aí está o maior apelo mercadológico. Para determinados clientes e produtos utilizamos há algum tempo, sob as devidas homologações, um determinado percentual de resina regranulada e repeletizada intenamente junto com plástico virgem. Mas cada caso é um caso, depende muito do material e do mercado da embalagem em vista. Mas nossos testes e desenvolvimentos com resinas PCR têm sido satisfatórios com algumas restrições e limitações no processo produtivo. Para suplantar ou minimizar estas dificuldades, é fundamental um trabalho entre nós, os clientes e os fornecedores do reciclado e do masterbatch. Como se sabe, causam preocupação as corriqueiras variações de cor em lotes diferentes de um mesmo grade PCR.
Em 2020, a Plastek completa 20 anos de Brasil. Como avalia o crescimento de sua produção e market share nessas duas décadas?
Inauguramos em 2000 a planta em Indaiatuba para atender ao projeto de um cliente. Mas, como o objetivo da Plastek era de de vir para ficar, ela investiu à época muito mais capital e estrutura do que aquele primeiro fornecimento exigia e isto acabou por constituir um grande diferencial de competitividade. De lá para cá o desafio sempre foi abrir novas portas, clientes e mercados, convergindo para uma atuação bem diversificada – condição fundamental num cenário por vezes tão instável – e com participações significativas nos setores de produtos pessoais, higiene e limpeza, alimentos e, após a a incorporação da Costapacking, sucos e bebidas alcoólicas. Embora sem dados à mão de market share dos transformadores de plásticos no país, vejo hoje a Plastek nas primeiras posições entre os fabricantes de embalagens plásticas injetadas no Brasil e na América Latina.
Para 2020, alguns projetos de clientes começam a ser desengavetados e lançamentos inovadores, por ora confidenciais, estão a caminho e seus moldes já estão em construção. Isto é bom. •