Não dá pra ficar parado

Termocolor abre filial no Sul e dribla carência de mão de obra com automação
Termocolor abre filial no Sul e dribla carência de mão de obra com automação

Desde a petroquímica até a transformação de plástico e indústrias finais, volta e meia ecoa na mídia o argumento, brandido em particular em momentos de crise, da relevância sócio-econômica desses setores em razão da massa de empregos diretos gerados. Ocorre, no entanto, que a produção inteligente vai enterrando esse discurso na manufatura em geral, a ponto de se dizer agora que planta atualizada é a que depende de cada vez menos gente e que quem merece o título de grande empregador são atividades de serviços. Com 40 anos de travessia em especialidades, a componedora Termocolor, controlada pela família Fantinati, aderiu à nova realidade fisgada pelo poder da digitalização fabril para lapidar a produtividade e contornar a escassez de pessoal para povoar o chão de fábrica. Diante da concorrência nacional maciça e de clientes de peso distantes de sua sede em Diadema (SP), a Termocolor também embarcou este ano na descentralização geográfica do negócio pela via dos locais incentivados, caso da filial de estocagem e vendas em Santa Catarina. Na entrevista a seguir, a diretora administrativa Roberta Fantinati detalha como sua componedora vem sendo repensada em linha com as mudanças nas forças que regem o mercado.

Roberta Fantinatti: centro de distribuição em Itajaí poderá abrigar fábrica.
Roberta Fantinatti: centro de distribuição em Itajaí poderá abrigar fábrica.

Quais os recursos e sistemas de gestão e/ou TI e/ou automação implantados na capacidade de 60.000 t/a masters da Termocolor para apurar o monitoramento do processo e torná-lo mais simples, flexível e produtivo?
Trocamos este ano nossos dosadores volumétricos por gravimétricos, o que melhorou muito o tempo de set up e liberação de máquinas. No campo das ferramentas, estamos em fase de implantação do EGA, um software de controle de produção em tempo real. Atua como sistema de monitoramento dos processos industriais, acompanhando as ocorrências no momento em que ocorrem e mensurando os indicadores de cada máquina. Os dados configuram o chamado KPI (Key Performance Indicator), indicador para se aferir e administrar o nível de desempenho de todos os estágios e facetas da manufatura. Também instalamos um software BI (Business Intelligence) que compila todos os dados buscados no sistema da empresa e disponibiliza um resumo dos resultados, facilitando assim as tomadas de decisões e contribuindo até na elaboração de custo de um produto especifico.

Como sua empresa enfrenta a notória escassez atual de mão de obra qualificada disposta a trabalhar na produção e P&D de indústrias como as de transformação e de beneficiamento de resinas?
Essa falta de mão de obra especializada nos empurra cada vez mais para a automatização e, com certeza, esse movimento será mais acentuado nos próximos 10 anos. Por isso, quando falamos em pessoa especializada, sempre começamos a busca por candidatos nos quadros internos. Se constatada a inexistência deles na empresa, partimos então para rastrear alternativas no mercado.

Numa estimativa com base na média, qual porcentagem caiu o efetivo de operadores que a Termocolor dispunha no chão de fábrica há 10 anos em relação à quantidade de hoje em dia, em razão do avanço da automação/digitalização dos processos? E mais: qual etapa da sua produção deve acusar avanço mais intenso da automação este ano?
De 2014 a 2024, houve redução de 20% da mão de obra direta. Nos últimos anos, investimos em máquinas modernas e maiores; desse modo, em número de linhas temos agora menos do que tínhamos em 2014 com uma produção maior e efetivo menor de pessoal. Hoje em dia, as etapas da nossa operação que acusam redução mais intensa da intervenção humana são as da aprovação do material, a cargo de softwares, e o contingente de extrusoras, equipado com alimentação automatizada.

Quais as medidas adotadas ou planejadas para a Termocolor reagir ao impacto da concorrência nacional movida por masters commodities de cores e aditivos produzidos na Zona Franca?
Definimos em nossa política de atuação não participar do mercado de commodities, tanto que hoje temos clientes na Zona Franca de Manaus, mesmo com a presença de componedores locais. Preferimos trabalhar produtos diferenciados, nichos evitados pela maioria dos concorrentes devido à complexidade para aprovar os materiais e manter o padrão de fornecimento.

Qual a possibilidade de a vantagem dos incentivos fiscais e importações pelo porto livre tornar Manaus um peso-pesado da produção nacional de masters convencionais de prateleira, que não exigem suporte ao cliente ao vivo?
Este é o diferencial da Termocolor – o suporte ao cliente do início ao fim. Não trabalhamos com itens de prateleira e, quando o transformador necessita de um atendimento técnico sem similar na praça. É aí que nós entramos em cena. Não vendemos produtos, mas um serviço/solução, um trabalho que nos exige acompanhar a produção do cliente e mapear os potencias riscos e oportunidades caso a caso, comparecendo ao final do processo com materiais que auxiliem e facilitem a moldagem do produto acabado em vista. Cada cliente tem uma particularidade, por isso não podemos colocá-los todos na mesma cesta oferecendo o mesmo masterbatch. Temos, é lógico, clientes usuários do mesmo masterbatch (padrão) mas cada qual tem uma subtonalidade particular e a leitura colorimétrica demonstra seus De (variação considerando todo os eixos de cores) e Db (variação média da cor no eixo amarelo e azul) diferentes. Os resultados obtidos na leitura do colorimetro mostram que, quanto menor essas variações, mais próximo da cor padrão você estará. Mas esses valores podem variar de acordo com injetora ou extrusora utilizada no processo de produção da peça.

Masterbatches: Termocolor baixa prazo para desenvolvimentos enquanto expande portfólio de soluções.
Masterbatches: Termocolor baixa prazo para desenvolvimentos enquanto expande portfólio de soluções.

Como anda seu plano de montar plantas filiais em locais incentivados no Rio, Minas e Santa Catarina?
Abrimos em agosto a filial de Santa Catarina, para atender os clientes locais com estoques estratégicos e um lead time menor. A propósito, o Sul representa 20% das vendas anuais da Termocolor. A filial fica num centro logístico em Itajaí e, se tudo correr nos conformes, a produção de masters ali partirá no segundo semestre de 2025. Primeiro a gente põe o pé e depois a cabeça.

Como a Termocolor tem lidado com o encarecimento, baixa disponibilidade de navios e prazos maiores de entrega de resinas e insumos químicos importados da Ásia, devido ao frete marítimo obstruído por guerra no Mar Vermelho?
Temos mantido as importações e sofrendo, como o resto do mercado, com alta de fretes e atrasos de entrega. Mas temos muito parceiros locais, que nos fornecem matéria-prima para, no final, os clientes não serem prejudicados. Praticamos uma política de suprimento na proporção 30/70. Ou seja, uma parcela de 30% da matérias-primas é importada; apenas o que não tem produção nacional é comprado no exterior. Com essa gestão de risco, os clientes não ficam sem nossos produtos.

Quais as melhorias em equipamentos e atendimento implantadas este ano para reduzir o lead time para aprovação de cores sob encomenda?
Nos últimos dois anos, aumentamos a força de vendas e, em decorrência, tivemos que ampliar a capacidade de desenvolver produtos e racionalizar atividades para acelerar a validação em nossa produção via diminuição de set up. Para abreviar o processo, investimos num software de aprovação de cores. Como elevamos o número de itens produzidos, conseguimos manter o lead time de 7 dias úteis; sem essas medidas, ele teria dobrado.

Nos últimos três anos, plástico pós-consumo reciclado (PCR) passou do estrelato ao sofrimento de ter seu mercado e rentabilidade atacados pela resina virgem mundialmente superofertada a preços próximos do material recuperado. Esse cenário atenuou a intensidade dos seus desenvolvimentos e lançamentos para PCR ou para reciclagem de resina virgem?
Sim e muito, pois quando oferecemos PCR aos clientes, eles em geral acabam associando sustentabilidade com redução de preço. Na maioria das vezes, isso não ocorre com o PCR de qualidade, por isso continuamos com a linha de produtos em PCR mas com apelo em sustentabilidade, repetibilidade, homogeneidade e constância de cor lote a lote, o que permite reduzir o setup de máquina do transformador, estabilização de cor e, por extensão, diminuir o scrap no processo.

Tem crescido o desenvolvimento de embalagens rígidas com teores de PCR. Quais as inovações em seus masters para assegurar a coloração em vista e sua durabilidade nesses recipientes?
Promovemos anualmente o lançamento de cores/tendências para o período seguinte. Este ano oferecemos aos clientes de embalagens masterbatches de PCR na linha de cores/tendência 2025 aliados a aditivos para alongar a durabilidade da coloração.

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