Na torcida pela virada

Produção nacional de carros anda baixa, mas o potencial do mercado não cai, na visão da componedora Mitsui Prime
Produção nacional de carros anda baixa, mas o potencial do mercado não cai, na visão da componedora Mitsui Prime

Nos últimos 10 anos, o mercado nacional para injetoras presenciou a indústria de embalagens assumir a dianteira nas compras, destronando a indústria automobilística, efeito ainda em vigor de uma produção de autos considerada mirrada e ruinosa perante o gigantismo da capacidade instalada. Em contrapartida, acontece a entrada no país da montadora chinesa, investindo pesado para inaugurar na fábrica na Bahia a montagem nacional de carros híbridos e elétricos. Entre a imagem do copo meio vazio e meio cheio, a Mitsui Prime Advanced Composites do Brasil, dínamo em compostos de PP, opta pela segunda opção, defensora da visão, para o mercado automotivo brasileiro, de um diamante bruto pronto para ser lapidado pela melhora do poder aquisitivo, argumenta confiante nesta entrevista Celso Ferraz, diretor da componedora sediada na Grande São Paulo e controlada pelo globalizado grupo japonês Mitsui Chemicals, com braço estendido na petroquímica.

BYD começa em breve a montar carros elétricos em Camaçari. Como a Mitsui enxerga o espaço para seus compostos de PP nesta montadora para itens como os do sistema de resfriamento, peças frontais e compartimento da bateria?
A eletrificação dos carros pode abrir oportunidades em novas aplicações ou mesmo acelerar o foco na redução do peso das peças automotivas, à medida em que as especificações vão sendo aprimoradas ou redesenhadas. Estamos atentos aos movimentos globais e a todas as oportunidades geradas para suportar quaisquer necessidades locais demandadas por clientes existentes ou que estão chegando.

Nos últimos tempos, o Brasil tem produzido por volta de 50% da capacidade instalada de suas montadoras, da ordem de 4.5 milhões de veículos novos. Como esse quadro tem impactado no desempenho da Mitsui aqui e quais outros mercados tem explorado mais a fundo para contrabalançar a performance dos autos novos?
A capacidade instalada de carros no Brasil excede – e muito – a demanda atual e ainda serão necessários alguns anos para chegarmos ao volume de 2.8 milhões carros produzidos em 2019. Talvez este número venha a ser alcançado entre 2027 ou 2028. Isso significa que retrocedemos uns oito ou nove anos desde a pandemia, em 2020. Também não podemos esquecer que já produzimos mais de 3.5 milhões de veículos em 2013. Esses indicadores reforçam que temos um elevado potencial na América do Sul, porém as oscilações e enfraquecimento das economias na região tornaram o carro um ativo mais caro e distante de ser adquirido pela imensa maioria dos brasileiros. O que não significa que o mercado estagnou ou não vai crescer. Ao contrário, há um enorme potencial, principalmente porque ainda temos um carro para cada cinco habitantes, ainda muito distante da situação dos países mais desenvolvidos. Hoje, porém, a curva do crescimento do mercado de autos acena para um viés mais moderado e modesto, ao menos algo acima do PIB.
Diante da veloz e constante evolução tecnológica que o setor de mobilidade vive, novas soluções vêm sendo empregadas e isso abre um horizonte muito promissor para introdução de produtos mais técnicos, atualizados e de cunho sustentável, ajudando a impulsionar a eficiência energética e descarbonização com maior conforto e bem-estar ao consumidor final. A Mitsui Prime está totalmente comprometida e engajada com este propósito e não mede esforços para levar a melhor solução às novas demandas. Por mais que a produção brasileira de carros esteja hoje reduzida a faixa anual de 2.3 milhões de unidades, oportunidades são sempre lançadas e motivam o esforço constante da Mitsui Prime para crescer e melhorar sua atuação.

Como sua empresa tem absorvido e lidado com o encarecimento, baixa disponibilidade de navios e prazos maiores e incertos de entrega de insumos importados da Ásia, culpa do frete marítimo desde 2023 obstruído por guerrilha no Canal de Suez?
A atual situação logística na Ásia e a guerra no Mar Vermelho têm provocado elevações dos fretes daquela região que, de uma forma ou outra, tem aumentado os custos de alguns insumos, incorrendo por tabela em aumento de preços na cadeia automotiva. Porém, o impacto no nosso negócio no Brasil não tem sido tão acentuado, haja vista a predominância do abastecimento local em nossa política de suprimentos. Entendo que os valores devem ser paulatinamente reduzidos à medida em que melhorar o balanço das operações logísticas na Ásia, a exemplo da equalização das ofertas de navios e espaços para os contêineres.

Quais os compostos da Mitsui destaca entre os tipos introduzidos recentemente no setor automotivo do Brasil em itens de segurança e peças aparentes e estruturais?
Nosso grupo tem vocação para desenhar produtos técnicos destinados as aplicações de segurança, tal como as relativas a peças aparentes ou mesmo com fins estruturais. Nossos desenhos são únicos e direcionados as necessidades de cada sistemista, quer seja para expansão de compostos sobre sucedâneos metálicos ou mesmo plásticos correlatos. Avançamos muito nestes quesitos globalmente, a exemplo de PP com fibra longa colorida para peças aparentes, compostos translúcidos, black piano e de visual metálico, entre outras inovações passíveis de utilização a curto prazo por aqui.

Como a Mitsui avalia as oportunidades para compostos para o setor automotivo brasileiro contendo mistura com a resina virgem?
A descarbonização é compromisso global do nosso grupo e no Brasil não é diferente. Um dos importantes tópicos neste processo é o uso de plásticos pós-consumo reciclados, pois contribui de forma significativa para a redução da pegada de carbono. O tema ganha corpo dia a dia no mercado automotivo brasileiro. Sua expansão será ditada pela viabilidade técnica, regularidade de fornecimento e garantia da qualidade, à medida em que haja evolução e controle eficiente da cadeia de abastecimento – desde a coleta à compostagem final. Nesse sentido, o trabalho mundial da Mitsui Chemicals está mais avançado em algumas regiões, com aprovações e fornecimento de compostos contendo PCR para componentes de interiores, por exemplo. •

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