2024 não foi, no plano geral, um ano exuberante para plásticos flexíveis no Brasil. No entanto, os balanços indicam que, mesmo atormentado pela enchente recorde no Rio Grande do Sul, o agronegócio mandou bem entre os segmentos de filmes no ano passado e tem tudo para reprisar a proeza este ano. O cruzamento de dados contempla a agricultura com 12% do mercado de flexíveis em 2024, mobilizando 288.000 toneladas. Trata-se de um volume inimaginável poucos anos atrás e coloca este segmento em terceiro lugar no ranking dos maiores redutos consumidores de plásticos flexíveis no país, ultrapassando pilares no gênero como os segmentos de bebidas, higiene pessoal e limpeza doméstica. À parte o agronegócio ser o motor do PIB, conta muito pontos nessa arrancada dos filmes para o chamado cultivo protegido a participação, nos bastidores das formulações, de aditivos cada vez mais burilados para corresponder às expectativas de rendimento crescente das películas no campo. Este panorama entusiástico é descerrado na entrevista a seguir de três experts no ramo: Roberto Castilho, diretor de negócios da LyondellBasell; Flavio Salazar, gerente de contas especiais da componedora Termocolor, e Daniella La Torre, especialista técnica em soluções para plasticultura da Basf na América do Sul.
Quais os avanços e desenvolvimentos mais recentes de sua empresa em soluções (masters, aditivos etc) para aumentar a produtividade e conservação/vida útil dos filmes de estufas, mulching e silos plásticos?
Roberto Castilho: Para filmes de estufas desenvolvemos o master Polybatch SACT67 estabilizador UV. Ele previne a degradação prematura em razão da exposição à luz UV, com resistência superior à presença de defensivos agrícolas: concentração máxima de 3.000 ppm de enxofre, 200 ppm de cloro e 50 ppm de ferro (sendo o máximo 1.000 ppm de enxofre por ano, total de 3 anos). Temos várias outras versões desse concentrado, para necessidades específicas.
Para mulching, introduzimos o concentrado Polybatch LLUVS 34X estabilizador UV. Ele impede a degradação em razão do stress térmico, exposição à luz UV e presença de defensivos agrícolas. Apresenta concentração máxima de 3.000 ppm de enxofre, 150 ppm de cloro e 50 ppm de ferro.
Para silo bolsas, temos soluções feitas sob encomenda, combinando dióxido de titânio com tratamentos superficiais para resistir às intempéries e estabilizadores UV’s com maior ou menor resistência a agroquímicos, conforme a maior ou menor exposição. Essas soluções também podem ser utilizadas para bale wrap ou silos para enfardamento de feno.
Flavio Salazar: A Termocolor trabalha com aditivos UV especiais de alta resistência a agrotóxicos e com formulações desenvolvidas sob demanda que proporcionam menor arraste de água em processos que exigem a passagem do filme no resfriamento.
Daniella La Torre: Nossa solução mais recente é o aditivo Tinuvin® NOR® 211 AR projetado especificamente para agrofilmes dependentes de alta resistência a ingredientes perigosos de defensivos. Ele permite a produção de filmes mais duráveis, otimizando o uso de polímeros e facilitando a reciclagem. A proteção proporcionada por este aditivo garante também a preservação das propriedades mecânicas e ópticas dos filmes.
Por sinal, a linha Tinuvin® NOR® HALS (Hindered Amine Light Stabilizers) representa um salto em relação aos estabilizantes convencionais. Eles atuam neutralizando as reações em cadeia que levam à degradação do polímero, protegendo os filmes contra radiação UV intensa, stress térmico e a ação de produtos químicos perigosos. Isso se traduz em maior durabilidade dos filmes, reduzindo a necessidade de substituições frequentes e os custos associados.
Retomando o fio do aditivo Tinuvin® NOR® 211 AR, reitero sua resistência superior aos produtos químicos inorgânicos, como enxofre e cloro, prolongando a vida útil dos filmes em ambientes agressivos. Garante a estabilização de luz e calor protegendo o polímero da degradação causada pela radiação UV e stress térmico, preservando os atributos mecânicos e ópticos. No mais, este aditivo pode ser utilizado em ampla gama de aplicações agrícolas, incluindo filmes de estufas, mulching e silagem.
É crescente o uso de teores de enxofre e cloro em fungicidas e pesticidas. Quais as novidades em soluções de sua empresa para aumentar a resistência e durabilidade dos agrofilmes a esses insumos químicos ácidos?
Roberto Castilho: Desenvolvemos novas soluções para aumentar a resistência e durabilidade dos agrofilmes, a exemplo dos produtos indicados na questão anterior, em razão da tendência do mercado quanto ao aumento da concentração de enxofre e cloro nas lavouras.
Flavio Salazar: O know-how de fórmulas com pigmentos e aditivos que não reagem a estas substâncias é essencial para o lavrador não ter problemas de degradação do filme. Por causa disso, a Termocolor trabalha focada nos requisitos desse cliente com soluções tailor made.
Daniella La Torre: A Basf é pioneira na tecnologia NOR® HALS, que oferece resistência superior aos agroquímicos em comparação com os estabilizantes HALS convencionais. Em desenvolvimentos mais recentes, aprimoramos a estrutura molecular dos estabilizantes NOR® HALS para aumentar sua resistência à degradação causada pelo enxofre e pelo cloro. Realizamos testes rigorosos em nossos produtos para garantir sua eficácia na proteção de agrofilmes expostos a altas concentrações de enxofre e cloro.
Nossa tecnologia NOR® HALS oferece resistência superior aos agroquímicos, incluindo enxofre elementar e produtos de desinfecção. O aditivo Tinuvin® NOR® 211 AR, citado anteriormente, foi submetido a um estudo de intemperismo artificial de contaminação por enxofre no qual ele demonstrou sua capacidade de melhorar a vida útil do filme com menor dosagem comparado a outros produtos do mercado.
Outro destaque do nosso portfólio, o aditivo Tinuvin® NOR® 356 AR é um estabilizante especialmente eficaz na proteção de filmes para cultivo protegido em contato com enxofre elementar e compostos aprovados para agricultura orgânica. Ele garante a durabilidade das películas, permitindo aos agricultores utilizarem práticas de manejo integrado de pragas e agricultura orgânica sem comprometer a integridade de seus materiais plásticos.
Como seus produtos podem contribuir para evitar a deterioração de agrofilmes em termos de resistência à punctura, ao rasgo e de barreira ao oxigênio?
Roberto Castilho: Temos resinas especiais como Adflex Q 100 F, que aumenta as características mecânicas, como resistência à perfuração e permite redução da espessura do filme. Esse produto também pode ser utilizado em baixo percentual como um modificador em geomembranas, evitando o stress cracking, problema que poderia comprometer a integridade estrutural dessas barreiras poliméricas.
Outra resina especial é Lucalen A 2540 D, polietileno de baixa densidade (PEBD) contendo acrilato de n-butila como comonômero. Desenhado para produção de agrofilmes como os de estufas, este grade provê excelente tenacidade, bem como resistência a perfurações, rasgos e a raios ultravioleta.
Como barreira ao oxigênio para mulching e silo bolsas, temos como novo desenvolvimento Polybatch BAR, concentrado que substitui o copolímero de etileno e álciool vinílico (EVOH) na proporção de 1 para 1. Umas das vantagens desse master é a possiblidade da estrutura do filme poder ser reciclada como estrutura monomaterial.
Flavio Salazar: Com relação à resistência à punctura e ao rasgo, há possibilidades de, tal como alguns polímeros, determinados aditivos melhorarem esta propriedade. Com relação ao oxigênio trabalhamos com aditivos de barreira ao gás. É o caso de sequestrantes de oxigênio, pois ‘capturam’ o gás que entra no agrofilme, impedindo seu contato com o cultivo, ou de polímeros especiais que funcionam como barreira física à entrada do oxigênio.
Daniella La Torre: Os aditivos da Basf desempenham papel fundamental na preservação das propriedades mecânicas e de barreira dos agrofilmes. Os estabilizantes de luz e calor protegem o polímero da degradação causada pela radiação UV e stress térmico, fatores que podem levar ao enfraquecimento da estrutura do filme e à perda de resistência mecânica. Ao prevenir a degradação, nossos aditivos ajudam a manter a integridade da película, tornando-a mais resistente a perfurações e rasgos.
Filmes de estufas devem oferecer transmissão de luz e resistência mecânica com espessura reduzida. Filmes de mulching devem oferecer resistência ao rasgo com menor espessura. Filmes para silos aliam propriedades mecânicas, barreira oxigênio e barreira a insetos, roedores e pássaros. Como e com quais produtos mais recentes sua empresa tem procurado contribuir para essas expectativas de performance dos agrofilmes?
Flavio Salazar: Com relação à mecânica do filme, a Termocolor atua em parceria com os clientes com fórmulas para evitar a degradação do material, como os aditivos a exemplo de antioxidantes e tipos anti UV. Quanto à impermeabilidade ao oxigênio, conforme já mencionado, o trabalhamos com aditivos de barreira física e materiais sequestradores do gás. Para repelir insetos nos agrofilmes, recorremos a materiais auxiliares que os afugentam por cor ou odor.
Daniella La Torre: A Basf compreende as demandas específicas de cada tipo de agrofilme e oferece soluções sob medida para atender a essas necessidades, conforme particularizado da seguinte forma:
Filmes de estufas – Estabilizantes de luz da Basf, como o Tinuvin® NOR® 211 AR, permitem a produção de filmes mais finos e leves, sem comprometer a resistência mecânica e a transmissão de luz. Isso se traduz em economia de matéria-prima, redução de custos de transporte e instalação e melhor aproveitamento da luz solar para o desenvolvimento das plantas. A Basf oferece soluções que garantem a transmissão de luz e a durabilidade dos filmes de estufa, mesmo sob exposição a pesticidas. Nossos estabilizantes de luz de alta performance protegem o polímero da degradação causada pela radiação UV e pelos defensivos, evitando o amarelamento e perda de transparência do filme e garantindo a transmissão de luz necessária ao crescimento dos hortifrútis.
Filmes de mulching – A tecnologia NOR® HALS garante a resistência ao rasgo necessária para filmes de mulching. Isso facilita a aplicação e o manuseio dos filmes.
Filmes para silos – Nossos aditivos melhoram a resistência mecânica, à a luz e a eventuais agroquímicos. Isso garante a conservação da qualidade da forragem, reduzindo perdas e aumentando a eficiência.
A pressão exercida por flexíveis movidos apenas a preço sobre lavradores em regra descapitalizados e de escasso acesso ao crédito hoje dificulta ou não o desenvolvimento e oferta de agrofilmes de alto padrão?
Roberto Castilho: Existem normas a serem seguidas e, como vice-presidente do Comitê Brasileiro de Desenvolvimento e Aplicação de Plásticos na Agricultura (Cobapla), defendo que essa regulamentação seja respeitada. Além disso, temos trabalhado no desenvolvimento de um selo que certifique os materiais plásticos destinados à aplicação na agricultura.
Flavio Salazar: Sim, dificulta, pois agrofilmes com formulações de matérias-primas de baixa qualidade tendem a deprimir os preços do mercado e, em consequência, isso favorece a guerra comercial centrada em preços e na qual a excelência do produto é jogada para segundo plano.
Daniella La Torre: A pressão por baixo custo pode ser um desafio para o desenvolvimento e a oferta de produtos de alto padrão. Muitos agricultores, em particular os de menor porte, priorizam o preço inicial em detrimento da qualidade e da durabilidade, o que pode gerar um ciclo vicioso de baixa produtividade e altos custos de substituição. No entanto, acreditamos ser possível conscientizar estes usuários de agrofilmes, demonstrando os benefícios a longo prazo dos materiais de alta qualidade. Investir em produtos de performance superior pode gerar economia a longo prazo, além de aumentar a produtividade e reduzir o impacto ambiental.
Pela lente da Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Plásticas Flexíveis, agrofilmes são o segmento de flexíveis com demanda de maior crescimento no Brasil nos últimos anos. Como o agronegócio sempre foi o motor do PIB, como justifica o fato de apenas no plano mais recente a procura por agrofilmes ter se destacado pelo crescimento?
Flavio Salazar: O crescimento dos filmes plásticos no agronegócio no Brasil é impulsionado por sua capacidade de aumentar a produtividade, reduzir custos e perdas, e promover a sustentabilidade, além da constante busca por soluções tecnológicas e inovadoras. Exemplifico com os silos bolsas; estão crescendo no Brasil devido à alta demanda por armazenamento de grãos e à falta de infraestrutura para estocagem. Trata-se de solução flexível para estocagem, de baixo investimento e facilidade de uso.
Daniella La Torre: O recente crescimento da demanda por agrofilmes no Brasil reflete uma combinação de fatores. A crescente incidência de eventos climáticos extremos tem levado os agricultores a buscar soluções para proteger as lavouras, entre elas os agrofilmes, impulsionando sua demanda para diversas aplicações, como estufas, mulching, silagem e proteção de frutas. Com os avanços tecnológicos, o desenvolvimento de novos materiais e aditivos tem permitido a produção de agrofilmes mais eficientes e duráveis, capazes de atender às demandas específicas de cada cultura. Por sinal, vemos que os agricultores estão cada vez mais conscientes dos benefícios do uso de filmes agrícolas, como o aumento da produtividade, a redução do consumo de água e a proteção contra pragas e doenças.
Como a incidência de extremos climáticos no campo tem influenciado o desenvolvimento de agrofilmes e quais as soluções mais recentes de sua empresa que contribuem para a necessidade dessas melhorias nas películas?
Roberto Castilho: De forma geral, essa pergunta foi respondida nas questões anteriores. Em suma, nossos materiais correspondem a essas expectativas aprimorando as propriedades mecânicas do filme e aumentando sua resistência aos defensivos, em decorrência do uso de maiores concentrações de enxofre e cloro.
Flavio Salazar: Destaco, como avanços da Termocolor influenciados também pelos extremos climáticos, as formulações contendo antioxidantes, para evitar a oxidação do polímero no processo e no campo, e aditivos que impedem a quebra da cadeia dos polímeros por incidência da luz ultravioleta (UV).
Daniella La Torre: A Basf tem respondido a esse desafio com inovações em aditivos visando maior resistência à radiação UV. Tratam-se de estabilizantes de luz que protegem os filmes da degradação causada pela radiação UV intensa, prolongando a vida útil das películas e mantendo suas propriedades mecânicas. Também desenvolvemos aditivos que aumentam a resistência dos filmes a altas temperaturas, evitando a deformação, e promovem melhora nas suas propriedades mecânicas. Isso torna os filmes mais capazes de suportar ventos e chuvas fortes. •