Muito além da imaginação

A crise complica, mas não freia as grandes empresas em sua catequese do desenvolvimento sustentável. E o plástico é estratégico nessa tomada de consciência

“Plástico ganha cada vez mais importância como ameaça ambiental”, bradava na capa a edição de 20 de julho último do jornal Valor Econômico. Era a chamada para a matéria, transcrita da agência de notícias Reuters, a respeito de estudo publicado um dia antes nos EUA por professores das universidades da Califórnia e Georgia e um porta-voz da ONG Sea Education Association. Em suma, a pesquisa calcula em 8,3 bilhões de toneladas a produção mundial de plásticos desde 1950 e situa em 30% do total a parcela ainda em uso. Das restantes 6,3 bilhões de toneladas, as estimativas são de que cerca de 12% foram incineradas, 80% descartados no meio ambiente ou depósitos de lixo e 8% recicladas. Mantido o andar da carruagem, os autores preveem que mais de 13 bilhões de toneladas de sucata plástica estarão no meio ambiente ou repositórios de refugo até 2050. Ao longo da exposição,os pesquisadores martelam a tecla da preocupação com o fato de a maior parte do plástico ao léu não ser biodegradável e alertam que seu acúmulo é danoso para o ecossistema e que sua queima influi na mudança climática e afeta a saúde humana.

Como sempre nesse tipo de cobertura, a indústria plástica não foi ouvida nem se ouve um pio sobre quem, afinal de contas, faz o descarte incorreto. O martelar desse tipo de informação ajuda não só a explicar as deformidades na imagem pública do plástico, mas como volta e meia se recorre a esse noticiário para se tirar proveito pessoal em nome de um ardor ambientalista de fachada. Por exemplo, entre as reportagens a seguir, consta a matéria sobre dois projetos de lei, assinados por um senador e um deputado federal, que clamam pela proibição no Brasil do uso de poliestireno expandido (EPS) em embalagens de alimentos, aplicação ultra sancionada pela regulamentação técnica internacional. Os dois parlamentares redigiram os projetos sem cumprir a obrigação de formar juízo ouvindo antes as partes envolvidas, confirmam os porta vozes do setor de EPS.

O comportamento do setor plástico, atestam infinitos estudos de pesquisa de opinião, também influi na permanência das distorções em torno da imagem do plástico. À parte a falta de campanhas institucionais regulares e de longo alcance, um exemplo dessa inércia é o fato de nenhum entrevistado, quando indagado a respeito, ter uma sugestão para tirar da cabeça dos brasileiros a convicção de que embalagens flexíveis não são recicláveis. Apenas lamentaram a situação.

Do lado bom, diversas das reportagens à frente revelam a ascensão da reciclagem de plástico no Brasil e suas perspectivas azuis, a depender de esperados acertos setoriais com respaldo ministerial. Na mesma trilha, as matérias focalizando a ações de três gigantes das indústrias finais do país – Unilever, Natura e Danone – demonstram como as embalagens plásticas e seus resíduos servem de combustível a práticas sérias de sustentabilidade e economia circular. No entanto, para seus efeitos se disseminarem a contento na sociedade, ainda é preciso combinar com os russos. No Brasil de hoje, afinal, a causa do desenvolvimento sustentável esbarra em barreiras econômicas e jurídicas, caso do predomínio de prefeituras endividadas, da discórdia entre poder público e iniciativa privada em quesitos como custos de limpeza urbana e, por fim, fala por si o caixa na pindaíba do governo para tirar do papel as determinações da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), como o furadíssimo cronograma de fechamento dos lixões e abertura de aterros sanitários.
Seja como for, provam as próximas reportagens, alguma coisa já está em marcha. Menos mal.

Diamante bruto

Se o governo e a cadeia do setor se entenderem, a reciclagem floresce, condiciona o diretor da Neuplast

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Paulo Francisco da Silva
Silva: acordos viabilizarão cumprimento das metas da PNRS.

Apesar do torniquete da recessão, há razões para a indústria de reciclagem não baixar a crista. Pela bússola do perfil setorial 2016, compilado pela Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), recuperar plástico pós-consumo é negócio quente e a fervura não deve baixar, sustenta na entrevista abaixo um verbete do ramo, Paulo Francisco da Silva, diretor comercial da recicladora paulista Neuplast. Afinal de contas, em 10 anos o efetivo de municípios munidos de coleta seletiva saltou na faixa de 70: de 327 indústrias em 2006 para 1.085 em 2016. No embalo, o quadro de recicladoras de plástico saiu de 448 em 2007 para 1.080 em 2015 (98% micro e pequenas empresas). Em 2014, expõe o perfil, a produção de reciclados rondou 615.000 toneladas, aliás uma das justificativas para a Abiplast ter lançado em seu site o Banco de Resíduos Plásticos, plataforma de divulgação gratuita de refugos ofertados. Para o futuro do negócio resplandecer, os acenados acordos entre o poder público e o setor precisam sair de uma vez das tratativas para a canetada final.

PR – Como avalia o impacto de três anos seguidos de crise sobre a disponibilidade de aparas industriais para reciclagem, uma vez que os transformadores em geral operam com ociosidade alta desde 2015?
Silva – Esses três anos recessivos estrangularam a cadeia de fornecimento de aparas industriais, seja pela queda acentuada nos volumes produzidos que geraram menos aparas, seja pela necessidade premente da melhoria dos processos produtivos em geral. Tudo isso influiu para diminuir a geração das aparas ou as tentativas de sua reutilização. Tanto a oferta como a qualidade das aparas caíram de forma drástica.

PR – Qual a reação da cadeia plástica diante desse cenário na reciclagem?
Silva – Existe outro fator que impacta muito a indústria da reciclagem mecânica: a falta de comunicação entre os fabricantes de matérias-primas. Ou seja, o rol de fornecedores de aditivos que não levam em consideração que seus produtos têm data de validade e, cedo ou tarde, irão para aterros, meio ambiente ou reciclagem. Imagine o que é misturarmos, além de diferentes catalisadores oriundos de materiais fabricados em várias partes do mundo, todos os aditivos que eles trazem nas macromoléculas junto com masters contendo pigmentos de diferentes origens e harmonizar tudo isso para que o refugo plástico possa ser reutilizado com qualidade e repetitibilidade… É um trabalho para poucos e nos obriga a buscar soluções, a pesquisar muito sobre a cadeia petroquímica.

reciclagem
Reciclagem: setor contesta a identidade tributária.

PR – O balanço dos últimos três anos indica aumento, estabilidade ou redução de transformadores com braço estendido na reciclagem, seja de aparas ou de lixo plástico?
Silva – Os perfis setoriais 2015 e 2016 publicados pela Abiplast mostram uma curva crescente de recicladoras, dado confirmado pela adesão crescente aos sindicatos patronais. Em 2004, tínhamos 481 empresas registradas oficialmente, fechamos 2015 com 1.085 empresas e 2016 com 1080. A reciclagem é vista como o negócio do presente e do futuro. A propósito, esses indicadores evidenciam que qualquer situação de arrocho econômico traz em seu bojo a necessidade de o reciclador olhar para dentro do seu negócio – procedimentos, tecnologia, custos, mercado etc. Se essa leitura não for muito bem feita, a situação poderá levar a uma “limpeza” por eficiência no setor. Ou seja, uma troca de players. Saem os mais inflexíveis a mudanças; são afetados pelos que chegam com novos modelos de administração e tecnologia e uma visão mais abrangente do cenário interno e global.

PR – Quais as principais reivindicações dos recicladores em termos de tributação e normas técnicas?
Silva – O pleito mais importante é a questão da identidade própria, da famosa Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM). Do jeito que está, nos faz sermos olhados como uma petroquímica. O que obviamente não somos. Assim todos os possíveis benefícios que poderíamos ter em desoneração de folha, incentivos estaduais, federais e financiamentos a juros mais baixos, acabam sendo barrados por essa questão de identidade tributária. Hoje em dia, portanto, a reciclagem está atrelada ao NCM da petroquímica, indústria que, sistematicamente, vem criando muitas dificuldades para permitir isso com várias justificativas. Ainda em relação às expectativas dos recicladores, está em curso um forte trabalho da área técnica da Abiplast, na parte de normatizações, com vistas ao uso de materiais reciclados em licitações do governo federal.

PR – Como enxerga o potencial de crescimento para a reciclagem no país?
Silva – Se forem cumpridas as metas estabelecidas pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) relacionadas ao crescimento da coleta, reciclagem e reutilização do reciclado, ficaremos na desconfortável situação de não haver hoje no país capacidade de processamento suficiente para atender ao volume de produto previsto em lei. Considere agora os acordos que estão sendo fechados entre entidades de classe, o Ministério do Meio Ambiente e a Associação Nacional dos Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis. Uma vez assinados e protocolados, eles ganham força de decreto. Pronto. Teremos então um mercado suficiente para abrigar os atuais recicladores e os futuros e benvindos entrantes, pois teremos toda a cadeia entrelaçada e completa, desde a coleta e triagem das sucatas. Haverá melhora no processamento e na qualidade final do reciclado, em razão da menor mistura entre diferentes tipos de embalagens e materiais; maior volume disponível e logística mais acessível. Com isso os investimentos em tecnologia de ponta se farão presentes na cadeia como um todo.

Tomra Sorting: triagem automatizada se impõe na reciclagem

“Mesmo com a recessão aliada à crise política, devemos cumprir a meta projetada para este ano de vendas dos nossos sensores para triagem de resíduos plásticos”, sustenta Carina Arita, diretora comercial da Tomra Sorting Brasil. “Investimos há mais de seis anos no país, temos mais de 10 clientes recicladores locais e, no momento, trabalhamos projetos que consumiram mais de quatro a cinco anos e chegam agora à maturação”.
Entre as novidades no portfólio da fabricante escandinava, a executiva distingue o equipamento AUTOSORT Flake munido de sistema com reflexão de iluminação.”Visa ampliar o uso desse separador não apenas para escamas de PET, mas para ajudar recicladores de flakes de poliolefinas a atingirem um padrão Premium de qualidade”. Em paralelo, Carina destaca já comercializar no país os sensores AUTOSORT Black, destinados à separação de plásticos pretos.

Verde leitoso

Garrafa de PET virgem e reciclado flutua no mar de caixas cartonadas em leite longa vida

verde leitoso

A caminho dos três anos de gôndola, a garrafa de PET virgem combinado com reciclado está longe de esgotar seu poder de fogo para destacar a marca Jussara Max na nata do mercado brasileiro de leite longa vida (UHT). “Hoje estamos em quinto entre os líderes de vendas no país e acreditamos que a embalagem de PET nos possibilitará crescer 20% em volume e nos diferenciar ainda mais”, confia Messias Castro, gerente de marketing da Usina de Laticínios Jussara.

Messias Castro Jussara
Castro: embalagem impulsiona crescimento das vendas de Jussara Max.

Sua expectativa tem razão de ser. Basta um rolê pelo supermercado para confirmar o predomínio avassalador de leite longa vida envasado em caixa cartonada. De acordo com Castro, fora sua empresa, apenas outro concorrente recorre aos préstimos de PET. Trata-se do leite Shefa. “Mas há uma diferença”, intercede Alfredo Netto, diretor de compras da Plastipak Brasil, fornecedora das pré-formas das garrafas de Jussara Max. “A transformadora Logoplaste produz garrafas multicamada para a Shefa, enquanto as de Jussara Max são monocamada, o que facilita a reciclagem bottle to bottle e dispensa o uso de aditivos para prover a necessária barreira à luz”. Além disso, enfatiza, a garrafa de camada única zera riscos de delaminação, “capazes de de levar à diminuição da validade do leite UHT”, ele argumenta, reiterando que o interior branco do recipiente valoriza o leite e incute no consumidor a noção de um alimento premium.

O histórico revela que, em 2013, o mercado brasileiro de leite longa vida já era prezado por analistas como o nº1 do planeta. O consumo no país rondava então 6,3 bilhões de litros, contemplando a categoria de longa vida com 60% das vendas de leite,complementadas pelos nacos de 13% para o tipo pasteurizado refrigerado e de 27% para o tipo em pó. Em 2015, observadores situaram em 4% a subida nas vendas de longa vida versus 2014. Retomando o fio, Messias Castro calcula que o consumo nacional cresceu 1,5% em 2016 sobre o exercício anterior, alcançando a marca de 6,83 bilhões de litros. Em relação a este ano, sua avaliação é de que o primeiro semestre fechou estável e ele espera um aumento da ordem de 1,5% no movimento total da categoria de leite longa vida nesta metade final de 2017.

jussara
Jussara Max em PET: pré-forma de 29 g e 0,29 mm de espessura.

Em sua estratégia de marketing, a Jussara mantém um pé em cada canoa,.Tal como a rival Shefa, comercializa leite longa vida em PET e na caixa cartonada. “Pretendemos crescer nos dois formatos”, delimita Castro. “Cada embalagem atende a um perfil de público, com necessidades específicas, e há espaço para expansão em ambos os mercados”. No momento, indica, Jussara Max tem seu raio de ação no sudeste. “Cobrimos São Paulo e algumas regiões de Minas e Rio de Janeiro”, informa o gerente.

Alfredo Netto Plastipak
Netto: estrutura monocamada zera risco de delaminação da garrafa.

Em seu complexo em Patrocínio Paulista, a Jussara recebe as pré-formas da Plastipak e as submete, conforme foi divulgado na mídia, ao sopro da garrafa de um litro, envase e fechamento assépticos a cargo do equipamento Combi Predis FMa da francesa Sidel. Instalado no segundo semestre de 2014, ele começou operando com a embalagem de um litro e, mais tarde, com garrafas de 250 ml das bebidas lácteas Jussara Jump. Entre os pontos altos da tecnologia selecionada, destaque para a esterilização da pré-forma, logo antes do sopro, com peróxido de hidrogênio vaporizado. Conforme informado à imprensa, isso possibilita o trabalho com uma garrafa mais leve, pois não tem de suportar os rigores das condições térmicas da esterilização convencional do peróxido. Além disso, a esterilização a seco praticamente elimina, no processo, o consumo de água para enxaguar a pré-forma.

Alfredo Netto esclarece que, em sua unidade em Paulínia, interior paulista a Plastipak injeta em sistema a frio a pré-forma para a Jussara. “A garrafa de um litro pesa 29 gramas e sua espessura é de 0,29 mm”. Segundo foi divulgado à mídia, o processo envolve a injeção de uma pré-forma preta a seguir recoberta com PET branco, de modo a prover a embalagem da imprescindível barreira à luz. Netto assinala que sua companhia já fornece na Europa esse tipo de pré-forma monocamada para garrafas de leite UHT. “Estamos desenvolvendo essa embalagem com outros clientes no Brasil; não temos exclusividade com a Jussara”.
Para a sacada diferenciadora vingar como referência de sustentabilidade, a recicladora Global PET foi convocada. “Pesou na escolha a credibilidade dos nossos relacionamentos comerciais e a vocação para desenvolver soluções individualizadas de reciclagem”, justifica Irineu Bueno, sócio e diretor da recicladora a postos em São Carlos, no centro leste de São Paulo.“O projeto de Jussara Max não visa apenas proporcionar uma reciclagem nobre às garrafas monocamada,mas avanços em quesitos de sustentabilidade comom o fato de a Global PET utilizar apenas 280 ml de água por quilo de resina recuperada”, salienta o dirigente, acentuando uma conveniência logística. “Poucos quilômetros separam a região consumidora da planta de reciclagem bottle to bottle de PET (PET-PCR) a ser reutilizado pela Jussara em suas garrafas de leite longa vida”.

Irineu Bueno
Bueno: meta de elevar a 10% este ano o teor de reciclado no blend com PET virgem.

Bueno ressalta que a triangular de sua recicladora com Plastipak e Jussara beneficia, em particular, as cooperativas de catadores de sucata reciclável. “A Global PET manda seu caminhão para coletar o material selecionado e enfardado pelas cooperativas”. No consenso das projeções de Bueno, Netto e Castro, o teor de PET botle to bottle no blend com o tipo virgem destinado á garrafa branca de Jussafra Max pairava em 3% até o final de 2016. “O objetivo é elevar o teor a 10% até dezembro próximo”, prevê. Bueno acrescenta que a trajetória para viabilizar a reciclagem bottle to bottle para a Jussara foi eivada de complexidades. “Desde a moagem e lavagem asséptica à extrusão e pós-condensação dos pellets foram muito os ajustes para corresponder às características em vista para a embalagem”, observa. “Infelizmente, não posso descrever as soluções obtidas; seria entregar de bandejas dois anos de desenvolvimento aos concorrentes”.

Piovan: o bolso do reciclador agradece

Formadora de opinião em periféricos. A operação brasileira da italiana Piovan assedia o reduto de reciclagem pelas trilhas fora da esfera da lavagem. “À parte algumas aplicações de moinhosm, atuamos nesse caso no transporte, dosagem e condicionamento/secagem de materiais”, estabelece Ricardo Prado Santos, vice presidente da Piovan do Brasil. “Os ganhos para o cliente estão em geral ligados a aumentos de produtividade e redução de perdas de material e do gasto energético”, ele assinala. Como referências, Prado cita sistemas de controle de temperatura e dosadores gravimétricos que reduzem as variações ao longo dos processos de extrusão, injeção e sopro.
Esse portfíolio de avanços em equipamentos auxiliares está sendo revigorado pelo lançamento dos sistemas de alimentação Easy3. “Eles levaram à introdução de melhorias no traporte de materiais moídos e leves (baixa densidade aparente),como flakes originários de resíduos de garrafas PET ou da moagem de termoformados”, coloca Prado. Na esteira desse posicionamento, ele destaca a oferta de dosadores especiais para materiais leves, muito usados na extrusão de chapas termoformáveis, e a chegada de desumidificadores e cristalizadores aptos a realizar a secagem e condicionamento de polímeros de baixa densidade aparente.

Cerco completo

Ações sustentáveis da Braskem cobrem do descarte ao consumidor final

selecao

“A Braskem acredita que sustentabilidade é o caminho para toda empresa que deseja continuar no mercado e deve fazer parte das estratégias do negócio”. Balizado por essa declaração de princípios, Edison Terra, vice-presidente da Unidade de Negócio de Poliolefinas, Renováveis e Europa da corporação petroquímica nº1 do país, deixa patente na entrevista a seguir o ideário da empresa sobre desenvolvimento sustentável e uma profusão de ações que, na prática, vai muito além da referência ambiental da Braskem mais conhecida pela opinião pública, o polietileno verde.

Edison Terra
Terra: apoio à desoneração da cadeia do plástico reciclado.

PR – Os recicladores não se conformam com o fato de a resina reciclada ser gravada com a mesma NCM (Nomenclatura Comum do Mercosul) relativa a produtos petroquímicos. Assim, possíveis benefícios fiscais e de financiamento que eles poderiam dispor, ficam inacessíveis pela identidade tributária. Maior petroquímica brasileira e produtora das resinas mais recicladas, a Braskem considera procedente essa posição dos recicladores?
Terra – A Braskem está envolvida em discussões sobre esse assunto e entende que somente com incentivos teremos um aumento da taxa de reciclagem no Brasil. A desoneração da cadeia de plástico reciclado procede inclusive como estímulo a uma economia circular benéfica para a sociedade. Entretanto, a empresa acredita ser necessário estabelecer procedimentos e normas claros, que reduzam a informalidade da cadeia, apoiando o desenvolvimento de transformadores e recicladores e garantindo a procedência desses materiais reciclados para brand owners e consumidores. Na visão da Braskem, existem formas de se atingir o mesmo objetivo fora do âmbito da mudança de NCM, um processo complexo e com outras implicações, pois é utilizado para outras finalidades. É possível desonerar o processo de reciclagem através de redução de impostos de máquinas e equipamentos, da sua mão de obra, da prestação de serviços. Outra possibilidade é aumentar a regularidade da disponibilidade de resíduos para as cooperativas. Na maioria das vezes, este ainda é o maior gargalo dos produtores de reciclados.

Braskem Muzzicycle
Bicicleta Muzzicycles: quadro contém 30% de polímero recuperado.

PR – Poderia informar desenvolvimentos de embalagens norteados pela economia circular que contaram com a participação direta da Braskem e já subiram às gôndolas este ano ou devem subir em breve?
Terra – Em 2015, a Braskem lançou a plataforma Wecycle, iniciativa que busca a valorização de resíduos plásticos ao longo da cadeia produtiva, contribuindo com a reciclagem e o meio ambiente. Este ano, por sinal, foram lançadas na plataforma as primeiras resinas de polipropileno (PP) e polietileno (PE) a partir de conteúdo reciclado.
O Wecycle envolve a parceria com diferentes públicos de relacionamento do setor, como brand owners, transformadores e recicladores. Um dos parceiros é o Grupo GPA, maior empresa varejista do Brasil. Por meio da plataforma, ele vai reciclar até 60 t/a de plástico por ano para produzir embalagens do tira-manchas Qualitá, marca exclusiva comercializada nas redes Extra e Pão de Açúcar. A Braskem desenvolveu um grade de reciclado para atender à produtividade e qualidade em vista. Em cumprimento às legislações e exigências de sustentabilidade, as cooperativas e recicladoras envolvidas foram auditadas. Aliás, as cooperativas também fazem parte do ser+realizador, programa da Braskem que visa profissionalizá-las, ampliar a reciclagem de resíduos pós-consumo e desenvolver o trabalho de catadores.
Outro parceiro no Wecycle é a Muzzicycles, fabricante brasileira de tecnologia em plástico reciclado para quadros de bicicletas. Ela recebe plástico reciclado de cooperativas apoiadas pela plataforma e inseridas no programa ser+realizador. Cada quadro contém cerca de três quilos de plástico, dos quais 30% de material recuperado. Essa aplicação tem capacidade para utilizar 132 t/a de resina de conteúdo reciclado. A mistura do polímero virgem e reciclado garante bom desempenho mecânico da bicicleta.

PR – Braskem é petroquímica de alcance mundial e transpôs para o Brasil vários transformados bem sucedidos no exterior. Poderia dar exemplos de artefatos internacionais de PP e PE concebidos com base na economia circular e que a empresa considera que poderiam ser replicados aqui a curto prazo?
Terra – No mundo inteiro, soluções de economia circular específicas para a cadeia plástica ainda estão em desenvolvimento e, muitas vezes, vinculam-se às peculiaridades de cada região. Mas já existem produtos pensados para facilitar a destinação correta e a reciclagem, utilizando menos matéria-prima e um único tipo de material. Um exemplo é Hydrelio®, tecnologia de geração energética. Reciclável e com vida útil estimada em 25 anos, o produto é baseado na conversão de energia luminosa em elétrica, por meio de placas solares instaladas sobre flutuadores de PE.

Braskem Hydrelio
Hidrelio: placas solares sobre flutuadores de PE.

PR – Quais as mais recentes ações postas em prática pela Braskem para facilitar a reciclagem de embalagens contendo suas resinas?
Terra – Por exemplo, naquela parceria com o GPA, dentro da plataforma Wecycle, trabalhamos todo o ciclo do tira-manchas e concebemos um plástico reciclado de melhores características, caso da maior resistência ao stress cracking (fadiga sob tensão) ou a tensoativos (sabão, sabonete, amaciante).Ingressamos assim num mercado onde o reciclado pós-consumo pouco penetrava. A iniciativa utiliza materiais descartados nas estações instaladas em lojas das redes Extra e Pão de Açúcar e doados a seguir a a cooperativas parceiras do programa de logística reversa do GPA – o Novo de Novo. Depois de separado, o plástico é enviado a uma recicladora que fabrica a resina composta de 70% de material reciclado e 30% de PE virgem. Ela é vendida ao transformador incumbido da embalagem e envase do tira-manchas. Ainda no âmbito do Wecycle, a Braskem lançou duas resinas. Uma delas provém da reciclagem de refugo de big bags utilizados pela empresa e a outra é produzida a partir de sacaria descartada nos seus centros de distribuição.

Catequese sofrida

Indústria de EPS encara o desafio de se fazer ouvida (e compreendida)

sustentabilidade3Leis são como salsichas; melhor não saber como são feitas. Remonta ao século 19 este ditado de Otto Von Bismarck, mas ele estala feito novo em folha quando posto diante de dois projetos de lei (PL) para proibir poliestireno expandido (EPS) em embalagens de alimentos no Brasil. Um deles é assinado pelo deputado federal Antonio Goulart dos Reis (PSD-SP) e o outro pelo senador Davi Alcolumbre (DEM-AP). Ambas as propostas dormitam desde 2015 nas comissões de meio ambiente das duas casas, à espera do parecer dos relatores sem prazo fixado. Os dois parlamentares não quiseram falar a Plásticos em Revista.

Silvia Rolim
Silvia Rolim: políticos não admitem erros em seus PLs.

O texto do PL de Goulart, disponível no site da Câmara dos Deputados, é bem menos sintético que o de Alcolumbre e, por isso, deixa mais patente seu elo com a fabricação das salsichas aludida pelo chanceler alemão. Em sua argumentação, o deputado declara que a produção de poliestireno (PS) emite gases estufa, alheio ao fato de o polímero ser há bom tempo processado em circuito fechado nas plantas petroquímicas. Goulart também assevera que a liberação de eteno contido no artefato de isopor (EPS é assim mencionado pela marca da Basf nos dois PLs), quando em contato com líquidos quentes, e ressalta que o monômero é tóxico e cancerígeno, passando ao largo dos desmentidos contidos em vasta bibliografia técnica.

EPS
EPS em alimentos: regulamentação mundial aprova a embalagem sem restrições.

Silvia Rolim, assessora técnica da Plastivida, e dois titulares da Comissão Setorial de EPS da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Wendel Souza, diretor da Unigel e Attilio Contrini, diretor da Styropek para a América do Sul, concordam num ponto. Os dois parlamentares elaboraram os Pls sem fazer o dever de casa. Ou seja, cientes pela grande imprensa ou por assessores de ofensivas contra descartáveis de EPS no exterior, sentiram chão firme sobre o palanque para transpor a causa para o Brasil sem se dar ao trabalho essencial de ouvir as partes para construir com isenção um julgamento a respeito. O fato de o noticiário trombeteado na mídia incorrer na superficialidade ou sonegação de dados essenciais não costuma inibir os redatores de PLs, deixam claro Silvia e Ivam Michaltchuk, coordenador do comitê de EPS da Plastivida. “Há pouco mais de um ano, políticos desinfomados tentaram banir EPS em Nova York e, de fato, o veto vigorou por breve período”, rememora. “Mas um fabricante do material, vários recicladores e uma associação de restaurantes apresentaram as informações técnicas corretas sobre as vantagens de EPS e sua reciclabilidade para a Suprema Corte do Estado de Nova York que, assim convencida, reverteu a proibição e, após recurso da prefeitura nova-iorquina, revogou em definitivo a lei da proibição”. Arremate de Michaltchuk: “no Brasil, infelizmente, percebe-se nesse caso do PL o claro desconhecimento do tema pelo legislador”.

Contrini
Contrini: 20 recicladores significativos de EPS no Brasil

Miguel Bahiense, presidente da Plastivida, e Andrea Carla Cunha, diretora de assuntos técnicos da Abiquim, reiteram que a reação possível da cadeia de EPS passa pela disseminação pedagógica das informações de cunho mais técnico sobre o material em todos os flancos da sociedade, políticos inclusos, como ocorreu com os signatários dos dois PLs em foco. Para respaldar esse trabalho de catequese, a Plastivida distribui um encomendado relatório técnico de 36 páginas sobre a aplicação de EPS em contato com alimentos e esclarecimentos sobre a composição química e características técnicas de seus ingredientes, além de considerações cientificas sobre seu alinhamento com o controle ambiental. Assinado pelo Centro de Tecnologia de Embalagem (Cetea/Ital), o estudo esmiúça a regulamentação internacional, que franqueia sem objeções o uso do expandido em embalagens alimentícias e grifa a aura sustentável do material, assinalando sua contribuição para reduzir perdas de alimentos, proteger bens duráveis e para conservar, no transporte, produtos fármacos e médico hospitalares. Em complemento, o massudo relatório traz uma análise aprofundada da viabilidade da reciclagem mecânica de EPS, pormenorizando as etapas do processo e apontando as principais aplicações para o material recuperado e os desafios e dificuldades para a execução a contento do recolhimento do resíduo pós-consumo, sua separação na coleta seletiva e transporte, na operação de logística reversa. “Temos um trabalho cotidiano de formação de opinião pois um dos objetivos da Plastivida e seu comitê de EPS é modificar a relação das pessoas com os plásticos, o que só acontece mediante informação científica, correta e comprovada”, julga Michaltchuk.

IVAM MICHALTCHUK
Michaltchuk: claro desconhecimento do tema pelo legislador.

Depois de encaminharem os PLs e de seu conteúdo vir a público, o deputado Goular e o senador Alcolumbre foram procurados pelos porta-vozes do setor de EPS para tomar conhecimento das justificativas demolidoras do mérito calcado em achismos das duas proposições, confirmam Silvia e Andrea. Pelo consenso na Comissão Setorial de EPS da Abiquim, a milhagem gold acumulada por seus integrantes em encontros com parlamentares demonstra que eles jamais voltam atrás no posicionamento dos PLs que encaminham. Não admitem erro, mesmo quando confrontados com provas cabais em contrário. “O PL é ponto de honra para eles”, afirma Silvia, “e a hipótese de revogar o documento é inadmissível”. Se convencidos da falta de fundamentos técnicos nos argumentos do projeto, contam os membros das comissão, os políticos saem dele à francesa. Deixam a proposta em hibernação, à deriva, no modo pause em sua tramitação. Sem alarde e contestação, os PLs de Goulart e Alcolumbre ressonam há dois anos nos escaninhos das comissões de meio ambiente.

construcao civil
Construção civil: retração abala vendas do expandido como isolante térmico.

Enquanto isso, vida que segue na indústria de EPS. Apoiado nos indicadores colhidos no ano passado, Attilio Contrini, da Syropek, situa a atual capacidade instalada do material no país em 97.000 t/a, a cargo de quatro produtores locais. “No ano passado, a produção foi de 57.500 toneladas; as importações, 29.500 e as exportações, apenas 1.700 toneladas”, ele cita, arredondando o consumo doméstico em 84.000 toneladas no ano passado versus 92.000 em 2015. Para ilustrar o estrago aberto pela recessão, o diretor lembra que, em 2014, o mercado brasileiro do expandido rondava a marca de 107.000 toneladas. “O declínio entre 2014  e 2016 decorre da retração na construção civil, reduto do material como isolante térmico, e nas vendas de bens duráveis, como geladeiras, em geral entregues com proteção de EPS”, atribui Contrini.

Pelo flanco da sustentabilidade, o diretor encaixa que, no ano base de 2012, a geração de EPS pós-consumo alcançou 39.340 toneladas, das quais 13.570 foram recuperadas. O efetivo atual de recicladoras de EPS é estimado em 20 indústrias mais representativas. No processo de reaproveitamento, o resíduo do expandido ressurge na roupagem de PS reciclado. Entre os artefatos de segundo uso do material, constam pranchetas, réguas, solados, porta-retratos e molduras sob medida para políticos enquadrarem os projetos de lei de que tanto (e por vezes somente eles) se orgulham.

Quando menos é mais

A obsessão da Unilever em tornar suas embalagens mais leves e alinhadas com o meio ambiente

sustentabilidade2“Nós, da Unilever, temos um propósito simples: tornar a sustentabilidade parte do dia a dia de todos”. Essa síntese de Antonio Calcagnotto, vice-presidente de sustentabilidade e assuntos corporativos da operação brasileira modula o tom de um comprometimento mundial da corporação anglo-holandesa, pilar em bens de consumo à frente de marcas top of mind de alimentos, higiene e cuidados pessoais e artigos de limpeza. Entre os tópicos do plano de sustentabilidade do grupo, as embalagens utilizadas são referência-chave. Até 2020, a meta corporativa divulgada é de reduzir em cerca de 30% o peso delas mediante a criação de materiais mais leves, aperfeiçoamento da concepção estrutural e das matérias-primas, desenvolvimento de formulações concentradas e eliminação de embalagens desnecessárias. Nesta entrevista, Calcagnotto explica a estratégia e sua transposição para a realidade do Brasil.

ANTONIO CALCAGNOTTO
Calcagnotto: menos plástico nas embalagens de produtos concentrados e com refis

PR – Quais as novas ações de desenvolvimento sustentável da Unilever Brasil envolvendo suas embalagens plásticas de alimentos, produtos de limpeza e de higiene pessoal?
Calcagnotto – Nossa principal estratégia para reduzir o descarte de resíduos é gerar menos resíduo. Por isso, seguimos investindo em produtos concentrados e refis e no desenvolvimento de embalagens que usem menos plástico sem prejudicar sua qualidade para uso do consumidor. Embalagens de produtos concentrados, por exemplo, usam entre 37% e 47% menos plástico. Já aquelas com refis utilizam 70% menos plástico que a embalagem tradicional. O novo frasco de detergente 3L da marca Omo teve uma redução em peso de plástico de 8% comparado com o formato anterior, mantendo a mesma quantidade de produto. Isso também trouxe uma melhoria de 7,7 % em distribuição e na eficiência produtiva, com 50% de aumento de velocidade de linha. Ou seja, além de redução de resíduo sólido, há a diminuição de caminhões em circulação para distribuir esse produto. Nessa mesma trilha, cabem exemplos como o relançamento de toda a linha de xampus e condicionadores Seda em garrafas mais leves e totalmente recicláveis. Até o fim de 2016, tínhamos economizado quase 5.000 toneladas de plástico. Também relançamos os sachês de 550g de maionese Hellmann’s e Arisco sem bico plástico, garantindo economia de 36 t/a do material.

PR – Quais as propostas de iniciativas na mira da Unilever Brasil para facilitar o processo de reciclagem de suas embalagens plásticas?
Calcagnotto – Em relação às embalagens plásticas, o ponto de partida foi estabelecer metas. Anunciamos este ano o compromisso de ter 100% das embalagens de plástico recicláveis, reutilizáveis ou compostáveis até 2025. Também nos comprometemos a reduzir em um terço o peso das embalagens até 2020 (tendo como ano-base 2010) e aumentar no mínimo em 25% a utilização de plástico reciclado nas embalagens até 2025 (tendo como ano-base 2015). Também passamos a endossar e apoiar a iniciativa New Plastics Economy (Economia Nova de Plásticos) e nos comprometemos a publicar, até 2020, a “palheta” completa de materiais plásticos utilizados em nossas embalagens. Outro ponto importante foi o anúncio feito pela Unilever, no início do ano, da CreaSolv® Process.Trata-se de tecnologia desenvolvida em parceria com o Fraunhofer Institute for Process Engineering and Packaging IVV, da Alemanha, que possibilita a reciclagem de sachês. Ainda m fase de testes, CreaSolv® Process foi adaptada de um método utilizado para separar retardantes de chamas bromados dos polímeros em resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos. Durante o processo, o plástico é recuperado do sachê para depois ser usado para fabricar novos sachês para produtos Unilever – uma abordagem de economia circular completa.

PR – Quais as propostas da Unilever Brasil para evitar o descarte incorreto de suas embalagens?
Calcagnotto – A partir do momento em que disponibilizamos um produto, somos responsáveis por sua pegada ambiental de ponta a ponta – da produção da matéria-prima até o consumidor final, na casa dele. Para fomentar o descarte correto de resíduos, definimos uma política de identificação de nossas embalagens que facilitam a separação correta dos materiais na cadeia de reciclagem. Já trabalhamos com um plano de logística reversa muito antes da aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Atuamos tanto na redução da geração como em melhorias na destinação, envolvendo processos de reutilização e reciclagem.

PR – Poderia citar projetos com a presença da Unilever engajados nos princípios da PNRS?
Calcagnotto – Um exemplo é o projeto Estações de Reciclagem. A primeira estação de reciclagem GPA Unilever remonta a 2001 e, desde o início, teve a participação de cooperativas. Hoje temos um projeto robusto. Conta com 101 estações de reciclagem espalhadas por 23 cidades em cinco estados (SP, RJ, PR, GO e CE) e no Distrito Federal. Em 2016, o programa chegou à marca de 100.000 toneladas de resíduos coletadas e doadas a cooperativas de reciclagem. Outra referência é o projeto Dê a Mão para o Futuro: a Unilever também faz parte desse projeto de reciclagem setorial. Iniciado em 2006, ele já esteve em sete estados. O objetivo é desenvolver a cadeia de reciclagem em diferentes cidades, capacitando e profissionalizando a cadeia.

PR – Como o conceito de economia circular hoje influi no processo de desenvolvimento de embalagens da Unilever Brasil?
Calcagnotto – Embalagens de plástico têm um papel importante em tornar nossos produtos atraentes e seguros para os consumidores. Porém, entendermos que a redução do descarte de resíduos faz parte de nossa responsabilidade; apostamos na estratégia de gerar menos refugo pós-consumo. Desse modo, investimos no desenvolvimento de embalagens que usem menos plástico sem detrimento da sua qualidade.

PR – De quantos fornecedores de embalagens plásticas a Unilever Brasil hoje dispõe?
Calcagnotto – Considerando as diversas categorias em que a Unilever atua, hoje temos na base por volta de 70 fornecedores.

PR – Quais os critérios e exigências de sustentabilidade empregados na seleção deles?
Calcagnotto – Para se tornar um fornecedor Unilever é obrigatório apresentar o certificado de Responsabilidade Social. Ele garante que as políticas ambientais estão sendo cumpridas de acordo com a legislação vigente. Além disso, é necessário que o fornecedor treine seus colaboradores para que conheçam as principais leis locais e internacionais de respeito ao meio ambiente e que elabore um plano de negócios com objetivos e controles, permitindo assim entender e reduzir os impactos ambientais do seu processo. Os fornecedores são parceiros estratégicos para o desenvolvimento de inovações sustentáveis e disruptivas para nossas embalagens.

PR – Por que a Unilever Brasil não adota a oferta (já em vigor em mercados como a Alemanha) de creme dental diretamente em bisnagas no PDV, sem o envoltório do cartucho de papel kraft, em prol de justificativas sustentáveis como a economia nos custos de produção e racionalização no uso dos materiais no conjunto da embalagem?
Calcagnotto – A sustentabilidade faz parte do nosso modelo de negócios, das inovações de nossos produtos e contribui para atendermos as necessidades do consumidor, seja antecipando uma tendência ou adequando um produto a uma demanda regional. No caso do creme dental, implementamos recentemente este tipo de oferta em países como Dinamarca, Noruega, Suécia e Holanda. No Brasil, isso ainda está sendo avaliado.

Estar bem é fazer o bem

sustentabilidade4

“A Natura tem uma série de ações sustentáveis na área de reciclagem. Foi, por exemplo, pioneira no oferecimento de produtos em recipientes com refil, recurso que permite a fidelização do consumidor e, ao mesmo tempo, reduz o impacto ambiental pela menor utilização de material de embalagem. Além disso, em sintonia com a estratégia de utilizar materiais reciclados pós-consumo, a empresa evitou, no ano passado, o descarte na natureza de volume equivalente a 5,18 milhões de garrafas PET de dois litros. Em 2016, por sinal, foram usadas 243 toneladas de PET reciclado na produção de embalagens para linhas como Ekos, Séve e Natura Homem. Em frente: a empresa também viabilizou a reciclagem de vidro em quantidade equiparável a mais de 1,2 milhão de garrafas de 290 ml.

Keyvan Macedo Natura
Keyvan Macedo

A Natura tem focado o aumento do uso de materiais de menor impacto ambiental, como produtos da linha de perfumaria com vidro reciclado e a linha Ekos, que já conta com refil cujo frasco é de PET reciclado. À parte o uso de reciclados pós-consumo, a empresa investe no aumento do uso de polietileno (PE) verde, produzido a partir do etanol de cana de açúcar e com mesmo potencial de reciclagem que a resina tradicional, de fonte fóssil. Apenas na linha regular de cabelos Plant, o uso de PE verde evita a emissão de 802 toneladas de carbono por ano, redução de gases de efeito estufa comparável a 138 viagens de carro em volta da Terra.

As embalagens da Natura apresentam sinalização dos tipos de materiais e indica quais deles são recicláveis. Por sua vez os produtos possuidores de embalagem com refil acenam com uma conveniência de praticidade. Trata-se da sinalização para o consumidor guardar a embalagem e, na próxima compra, adquirir apenas o refil, obtendo assim um produto de mesma qualidade a preço menor. Além disso, quem comprar produtos pelo Rede Natura, o canal digital da empresa, consegue avaliar o impacto gerado por sua aquisição no meio ambiente. Ao fim da transação, ele recebe informações sobre conservação de floresta em pé e redução na geração de lixo causada pela manufatura daquele item, por exemplo.

O desenvolvimento da cadeia de uso de materiais reciclados, com estímulo de todos os elos, é parte importante dessa estratégia. A Natura participa, por exemplo, de um projeto setorial de mobilização feito em cooperativas de catadores para a coleta de embalagens descartadas, de modo a viabilizar e melhorar a cadeia de reciclagem. Ao usar materiais pós-consumo, a Natura fecha também o ciclo de reciclagem e estimula a demanda final por material reciclado, fortalecendo as cooperativas de catadores e diminuindo o impacto ambiental gerado pela produção de embalagens. Do total de embalagens produzidas pela companhia, 20% já são ecoeficientes, ou seja, têm 50% a menos de plástico na sua composição ou mais da metade dos materiais reciclados pós-consumo ou de origem renovável.

Além da preocupação com o ciclo de reciclagem das embalagens pós- consumo, a empresa desenvolveu uma calculadora de impacto ambiental. Ela auxilia os pesquisadores na etapa de concepção dos novos produtos ao permitir-lhes aprimorar as estimativas dos impactos ambientais dos doesenvolvimentos, contribuindo assim para elevar o índice de reciclagem. Além do tipo de material utilizado, as variáveis consideradas para análise desse índice são: decoração, tamanho das peças e possibilidade de sua desmontagem.

Um exemplo da preocupação com a melhoria do índice de reciclagem é no relançamento da linha Ekos. Além de aumentarmos o uso de PET reciclado de 50% para 100%, optamos por mudar o material da tampa. A mistura de alumínio e polipropileno (PP) cedeu lugar apenas ao polímero, de forma que a tampa possa ser reciclada após o descarte”.

Keyvan Macedo é gerente de sustentabilidade da Natura.

A missão é contribuir para uma vida melhor

Um modelo de negócio baseado no equilíbrio Entre ganhos econômicos e sociais

sustentabilidade“Estamos empenhados em valorizar cada gota de água ou leite ou cada grama de plástico”, enfatiza Ligia Camargo, gerente de sustentabilidade da Danone no Brasil. “A mudança sistêmica é fundamental para promover o crescimento sustentável dos negócios e preservar os ciclos de recursos naturais”. Nesta entrevista, a executiva transpõe para a vida real a filosofia de trabalho com que o grupo francês, totem global em iogurtes, tem se saído bem em conciliar a saúde das vendas com a das pessoas e do meio ambiente.

Ligia Camargo
Lígia Camargo: transformação de resíduos em recursos valiosos.

PR – Quais as novas ações de desenvolvimento sustentável da Danone no Brasil envolvendo suas embalagens plásticas?
Ligia Camargo – A Danone acredita que, toda vez que você escolhe algo para comer ou beber, está votando pelo mundo em que quer viver e sua jornada traz consistência neste discurso. A empresa nasceu para levar saúde por meio do iogurte, conduta pela qual construiu uma jornada sustentável. Em 1972, o CEO da companhia definiu o modelo de negócio como o equilíbrio entre ganhos econômicos e sociais e, em pouco tempo, definiu-se a missão da Danone: levar saúde por meio da alimentação ao maior número de pessoas. Com isso, os negócios de queijos, biscoitos e cerveja foram vendidos e uma empresa de nutrição infantil foi comprada. Em 2015, nosso CEO publica o Manifesto Danone, focado na promoção de uma revolução alimentar, expandindo o olhar da alimentação como ferramenta propulsora de uma transformação positiva na sociedade, em todos os elos do ciclo de vida. Em 2016, a Danone assinou um compromisso para tornar-se uma empresa B (movimento global que usa indicadores para certificar empresas com impacto social e ambiental positivo).

Quanto às iniciativas de desenvolvimento para embalagens, cabe citar que a Danone tem uma estratégia voltada para o ciclo de matérias-primas e plástico é um dos materiais em foco. Ela considera seu ciclo de vida e a reciclabilidade, tanto que a economia circular é tema já abraçado pela Danone, parceira da Ellen MacArthur Foundation para suportar os avanços neste território.

PR – Pode dar mais detalhes?
Ligia Camargo – Para o Grupo Danone, a chave para um futuro com embalagens mais sustentáveis está no uso de recursos renováveis e na transformação de resíduos em recursos valiosos. Queremos mudar para um modelo circular no qual a embalagem final descartada se torna matéria prima. Essa política baseia-se nos seguintes princípios:
Trabalhar o ciclo de vida da embalagem desde a origem de sua matéria-prima até o descarte final, garantindo um fechamento de ciclo.
Combinar melhoramentos contínuos com inovações.
Criar coalisões e parcerias para escalar soluções locais de gerenciamento de resíduos.

PR – Como esses critérios são transpostos para a operação no Brasil?
Ligia Camargo – Por aqui, tanto na divisão de Produtos Lácteos Frescos como na divisão de Águas procuramos melhorar as embalagens no que tange à sustentabilidade. Passamos a utilizar PET reciclado na garrafa de 2,25l da água mineral Bonafont. O chamado r-PET tem 25% de seu volume advindos do poliéster reciclado. Planejamos estender o uso de r-PET a outras embalagens de Bonafont. A melhoria de tecnologias e diminuição do peso nas nossas embalagens correspondem a uma redução, por exemplo, de 60% na quantidade de plásticos utilizados mensalmente para a fabricação de uma garrafa de água Bonafont Sport. Na divisão de Produtos Lácteos Frescos, desenvolvemos um projeto para retirar a pigmentação de cor branca dos garrafões (850g e 1250g) de Activia. Trocamos também nessa marca o sleeve de PVC em volta da garrafa pelo rótulo de PET.

PR – Quais as propostas na mira da Danone para facilitar a reciclagem de suas embalagens plásticas?
Ligia Camargo – O compromisso global do grupo em resposta aos desafios ambientais à frente das embalagens de alimentos e bebidas, – pois são consideradas um dos principais contribuintes para a poluição mundial de plásticos – envolve as passagem de uma economia linear para uma economia circular: minimizando o uso de recursos e avançando para produtos 100% recicláveis, emprego de recursos sustentáveis, criando uma segunda vida para todos os plásticos que consumimos e promovendo o engajamento de consumidores para incrementar a reciclagem. Nossa política de embalagens vai além de simplesmente mitigar os impactos ambientais das embalagens. Ela aproveita esta oportunidade para inovar e repensar o produto como um todo, co-construindo uma economia circular. Para apoiar os compromissos da Danone, desenvolvemos globalmente a PETER (em inglês, Packaging Eco-design Tool for Environmental Responsibility), ferramenta de análise do ciclo de vida. Como componente crucial do processo de design do produto, a PETER tem estes objetivos:
1. Otimizar o desempenho da embalagem com menos materiais para ajudar a direcionar o design para valorizar.
2. Desenvolver o conceito de “reciclável pelo design”.

PR – Na prática, o que essa ferramenta proporciona?
Ligia Camargo – PETER prevê o impacto ambiental das embalagens e calcula indicadores-chave, permitindo que os designers desenvolvam embalagens ecológicas inovadoras de acordo com quatro princípios: reduzir, substituir, reciclar e respeitar. A política de embalagens da Danone aplica os princípios do eco-design: integra os impactos ambientais de um produto desde o projeto inicial a todo o ciclo de vida. Seus objetivos são facilitar o uso de recursos sustentáveis e otimizar o peso do produto.

PR – Quais as ações da Danone para combater o descarte incorreto de suas embalagens no país?
Lígia Camargo – Contamos desde 2012, com o Programa Novo Ciclo, resultado de parceria firmada com a Fundação Avina, o Insea e o Movimento Nacional dos Catadores (MNCR). O Novo Ciclo busca o desenvolvimento de catadores de materiais recicláveis e a profissionalização do trabalho das cooperativas de reciclagem. Outro objetivo é garantir a logística reversa por meio da conexão entre as redes de cooperativas e as indústrias de transformação. Essa atuação começou por 23 cidades do sul de Minas. Desde 2016/2017 está expandindo para 59 novos municípios e 69 cooperativas e teve a inclusão de mais duas redes de cooperativas. Sua abrangência se estende agora à região metropolitana de Belo Horizonte e Vale do Paraíba, em São Paulo.

O conceito de economia circular influencia e centraliza o desenvolvimento de embalagens. A Danone trabalha com fornecedores na busca de soluções efetivas que transformem o processo, chegando a 100% do total de embalagens recicladas.

Wortex: reciclado com biotipo de resina virgem

Embora a transformação de filmes possa operar hoje abaixo de sua capacidade instalada, o setor continua a investir em maquinário cuja eficiência reverte em menos aparas geradas. A consequente redução de sua oferta tem levado recicladores a buscar equipamentos talhados para o desenvolvimento de novos tipos de reciclados,oriundos de refugo de flexíveis pós consumo. As duas frentes desse cenário animam Paolo De Filippis, diretor geral da Wortex, a lançar a compacta linha de reciclagem de filmes Challenger Recycler Conical 55mm Geração II. “Foi desenhada para trabalhar ao lado das extrusoras, permitindo o reaproveitamento imediato de aparas, refiles e bobinas de poliolefinas, evitando o transporte desses materiais a outros locais de estocagem, capazes de contaminá-los”, esclarece o dirigente. Por tabela, ele acena com a produção de um reciclado de baixo índice de degradação, mesma granulometria da resina virgem e em condições de ser remetida direto ao sistema de alimentação gravimétrico. “Laminados também podem ser processados nesse equipamento, desde que não precisem degasagem”, ele condiciona.

Além da economia energética e do baixo custo de mão de obra, Fillipis insere como diferenciais do lançamento uma produtividade acima da média aproximada de 90 kg/h/amp e o sistema todo automatizado. “Uma vez geradas as aparas, os operadores podem colocá-las no moinho da máquina, destinado a alimentar o silo que, por sua vez, tem como ser simultaneamente abastecido por bobinas fora de especificação”, acena o diretor geral”. Também é possível fazer o ensaque do material reciclado que, eventualmente, irá alimentar a extrusora principal”. Conforme ele reitera, o novo equipamento foi idealizado para o transformador do filme poder reciclar suas aparas com atributos de material virgem e baixo investimento.

PR – Quais os principais números do balanço do Programa Novo Ciclo?
Ligia Camargo – Até maio último, 60% das embalagens foram recicladas. Por sinal, o volume de reciclagem atingido é de 35.000 t/a. Quanto aos investimentos realizados, alcançaram R$ 13 milhões entre 2012 e 2016 e R$ 9 milhões formam reservados para 2017. As metas traçadas para o Novo Ciclo incluem a chegada à marca de 70.000 t/a no exercício atual, mudar a renda mensal média do catador de de R$ 465 para R$ 804 e mobilizar 1.700 catadores até 2019 – o censo de julho de 2017 aferiu 1.428. Com o Novo Ciclo, a Danone já combate o descarte incorreto de suas embalagens pelo consumidor por meio de quatro pilares:
Engajamento dos municípios no aumento da coleta seletiva.
Fortalecimento das redes de cooperativas.

Economia Circular: fechar o ciclo de reciclagem com foco em alguns materiais, mas não restrito a eles: PET, poliestireno e papelão. Para isso, o Novo Ciclo faz a conexão entre as Redes de Cooperativas e as indústrias de transformação, além de buscar inovação em cadeias desafiadoras como a de PS.
Preparando o Futuro – apoio às cooperativas em treinamentos e identificação de lideranças.
Para completar essa abordagem, a Danone tem trabalhado num ponto crucial para o sucesso da logística reversa: a Economia Circular. Significa fechar o ciclo dos materiais das embalagens, pois alguns deles ainda enfrentam desafios para encontrar mercado reciclador, em razão do baixo volume disponível para comercialização. Para isso, é preciso que o consumidor os separe corretamente, as cooperativas encontrem as demandas das recicladoras e que essa indústria desenvolva o mercado para reintroduzir o material nele.

PR – Com quantos fornecedores de embalagens plásticas a Danone Brasil opera?
Ligia Camargo – No momento são oito. Utilizamos a ferramenta SEDEX para garantir que os critérios de sustentabilidade dos nossos fornecedores estejam em linha com os requisitos da Danone.

PR – Como o conceito de economia circular influi no processo de desenvolvimento de embalagens da Danone Brasil?
Ligia Camargo – A Danone vem desenvolvendo parcerias no sentido de aumentar inovações nesse tema. Em janeiro passado, estabeleceu um compromisso com a Fundação Ellen MacArthur, dedicada a acelerar a transição para uma economia circular. A entidade colabora com empresas, governo e meio acadêmico para construir uma estrutura para uma economia que seja restauradora e regenerativa, desde o design do produto/embalagem. A Danone também será parceira da iniciativa New Plastics Economy dessa mesma fundação, alavancando a colaboração intersetorial para repensar e redesenhar o futuro dos plásticos, a começar pela embalagem. •

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