Nos EUA, os preços do petróleo em queda livre contagiam as resinas virgens a ponto de torná-las mais baratas que as recicladas e o resultado é a quebra de diversas recicladoras. Corte para o Brasil: a Petrobras ignora a superoferta mundial do óleo e mantém o o Brasil escravizado à gasolina mais cara do mundo, mas a produção nacional de veículos caiu 25% em 2015 e esse recuo faz estragos no negócio de reciclar plásticos de engenharia. “Foi a maior causa da diminuição desse tipo de refugo na praça, junto com o fato de empresas dos mais diversos segmentos terem passado a moer suas aparas de primeira moagem e misturá-las com material virgem para reúso”, atribui Rubens Girardi, presidente da Recomplast, fera na recuperação de resinas nobres em sua fábrica em Santana do Parnaíba, Grande São Paulo. “Nesse setor, o produto de menor redução de volume disponível no mercado foi a sucata pós consumo, por ser material mais difícil de processar, dependente de mais mão de obra e sua mistura com plásticos virgens embute o risco de contaminações”.
Apesar dos pesares e pesadelos, a Recomplast se safou de 2015 com aumento da carteira de clientes. “A alta dos preços impulsionou o aproveitamento de reciclado em empresas usuárias do material de engenharia virgem, uma substituição possível a depender do segmento em questão”, esclarece o reciclador. Essas indústrias também passaram a usar mais seu próprio refugo, ele ressalta. “Por exemplo, o setor automotivo é a maior fonte de captação de refugos de plásticos nobres para reciclagem e, com as várias paradas na produção de veículos, caiu no ano passado o volume de reciclado nos nossos estoques”. Para este ano, prevê, a situação caminha para piorar, na garupa do desemprego e inadimplência superlativos.
Para levar o barco no nevoeiro, a Recomplast trata de corresponder à demanda desencavando mais fontes de material semiacabado (moído) para segundo uso. “O problema é o encarecimento do produto e a dificuldade para repassar de imediato o reajuste”, levanta o reciclador. Mas foi assim que aumentamos em 20% o volume de vendas, abastecendo novos clientes que passaram do plástico virgem ao nosso reciclado para baixar custos”. Girardi solta uma referência prática do aumento da procura por plástico de engenharia reciclado. “Uma indústria de eletrônicos dispunha de uma carcaça preta cuja especificação original de material apontava para copolímero de acrilonitrila butadieno estireno (ABS) virgem com acabamento texturizado”, exemplifica o dirigente. “Mediante ajustes no molde de injeção, essa empresa trocou o ABS importado pelas compras atuais de 10 t/mês do nosso composto de polipropileno (PP) preto com 30% de carga mineral”. Antes da recessão e do dólar a R$4,00 resoluções desse tipo eram impensáveis, considera Girardi. “O valor das resinas importadas subiu tanto que mesmo os transformadores mais céticos e relutantes ao emprego de reciclado passaram ao menos a experimentá-lo na produção, um ponto para nossas vendas”.
Em Santana do Parnaíba, a Recomplast opera com frota própria e roda sua capacidade estimada em 250 t/mês de reciclados de engenharia, escorada numa infra onde destacam-se duas extrusoras do tipo cascata munidas de peneiras vibratórias, três moinhos com potencial individual de 500kg/h e uma retaguarda de automação formada por ensacadeiras, aquecedores e alimentadores. Com 15 anos de janela, Girardi encara com preocupação a necessidade de conciliar o incremento da automação em seu ramo, uma tendência mundial, com a realidade do mercado, a seu ver bem longe da imagem de excelente negócio para se investir transmitida pela mídia inebriada com o charme da sustentabilidade. “Além da conjuntura que se sabe, o contingente de recicladores aumentou de forma absurda nos últimos anos, enquanto a quantidade de sucata tem diminuído nos geradores”, ele pondera. O xis da questão para se manter uma recicladora com estrutura atualizada para dar conta do recado, desde a coleta do refugo à entrega do recuperado para a injetora do cliente, são os custos desmedidos da atividade industrial aos impostos. Outro susto nas intenções de investimento tecnológico, ele acrescenta, é dado pelo descompasso existente entre uma sucata industrial de alta procura e por isso mesmo, vendida à vista, e o seu reciclado com venda faturada para além de 30 dias na grande maioria das vezes. Um jogo duro para a automação equilibrar. •