Malhando no kit saúde

O consumo de água engarrafada está bombando e as embalagens contam muito para ele chegar à melhor forma

Nada é preto no branco e a verdade mora nas nuances, ensinam a vida e as pesquisas de mercado. Dos bastidores da transparência da água mineral, um jardim em flor para PET em garrafas e para polipropileno (PP) em garrafões e tampas, vem à superfície um aparente paradoxo captado no levantamento sobre o setor recém saído do pipeline da consultoria Euromonitor International. É o seguinte: o percentual (acima de 80%) de entrevistados do Brasil que consideram água mineral crucial para a saúde nos eixos bate os indicadores de países como os do Oriente Médio, EUA e México. Mas o mesmo estudo, ora vejam, constata que a relação do brasileiro com a água engarrafada é de necessidade, não de desejo.
Tem mais: o consumo do líquido no México (per capita de 170 l/a) galopa léguas à frente do Brasil (per capita aquém de 50 l/a), os dois países puxando o comércio varejista de 4,4 bilhões de litros na América Latina em 2016. Por aqui, aliás, água sem gás banha mais de 90% do mercado, enquanto na vizinha Argentina o tipo com gás predomina. No varejo brasileiro, esquadrinha a Euromonitor, o canal supermercadista abocanha cerca de 45% das vendas de água mineral, seguido pela venda direta, com perto de 40% e, estrela do comércio de bens primários em três anos de crise, o atacarejo pega a lanterna, embolsando a parte minoritária restante. Ao juntar esse quadro à hiper pulverização de indústrias de água mineral no país, o estudo da Euromonitor enxerga um imperativo para as marcas na diferenciação de sua identidade, uma exigência que ricocheteia no desenvolvimento, em especial, das garrafas e galões intermediários. Nesta entrevista, Angelica,Salado, analista sênior de pesquisa da Euromonitor, interpreta as principais conclusões da varredura realizada no mercado brasileiro de água mineral.

Angelica Salado Euromonitor
Angelica Salado: vendas de água no canal
atacarejo devem abocanhar fatias do
supermercado e vendas diretas.

PR – Por que o brasileiro, segundo pesquisa da Euromonitor sobre o mercado de água mineral, supera a média global na busca de maneiras para simplificar a vida e experimentar novos produtos?
Angelica Salado – Não existe uma explicação única e objetiva; é resultado de uma série de atributos. Apesar do cenário recessivo nos últimos dois anos, o Brasil viveu quase uma década de crescimento contínuo do PIB e do poder de compra das famílias, em particular da classe média. O brasileiro tornou-se mais aberto à experimentação de novos produtos e diversas categorias de artigos antes ausentes de suas cestas de compra foram incorporados. Quando olhamos para o mercado de bebidas frias, por exemplo, essa tendência é ilustrada quando falamos em sucos, energéticos e chás prontos. Com o choque da crise, ocorreram várias mudanças significativas na dinâmica das famílias, caso de muitas mulheres entrando/retornando ao mercado de trabalho como forma de complementar a renda do lar e, portanto, passando menos tempo dentro de casa. Nesse sentido, demanda-se produtos que foquem na conveniência e praticidade, especialmente para alimentos e bebidas, em intensidade superior à média global. Outros aspectos do quadro brasileiro de influência mais subjetiva nesta demanda incluem a deficiência do sistema de transporte público/privado. Ela ainda faz com que muitos brasileiros percam expressiva quantidade de horas em deslocamento e, portanto, busquem soluções de consumo que lhes economizem tempo.

PR – Por que o México lidera com tanta folga o consumo latino-americano de água engarrafada?
Angelica Salado – Embora os dados da Euromonitor para a América Latina indiquem para o México alto índice percentual da população com acesso à água potável, existe no país um aspecto mais subjetivo que influencia a demanda por água engarrafada: a confiança na qualidade da água. Observamos que, no caso do México, embora importantes avanços tenham sido feitos pelos órgãos públicos ao longo dos últimos anos para aumentar a qualidade da água oferecida em todas as regiões, nem sempre o consumidor percebe essas melhorias de maneira imediata. Nesse sentido, ele ainda tem ressalvas quanto ao que é oferecido pelo sistema público e prefere comprar sua água engarrafada.

PR – O tamanho da população e da renda média compõem a única explicação para o consumo brasileiro per capita de água engarrafada perder longe para o México, Argentina, Uruguai, Guatemala e República Dominicana?
Angelica Salado – Não. Em termos de renda média, o Brasil fica atrás de México e Argentina, com aproximadamente US$19.000 ao ano por lar, contra US$ 24.000 e US$ 25.000, respectivamente. Em termos de população, o Brasil tem quase o dobro de habitantes do México e acima do quádruplo da Argentina. Se tomados em isolado, estes dois fatores não justificam a discrepância no volume de água mineral consumido no Brasil em relação aos demais da América Latina. O grande fator limitante no consumo de água engarrafada no país é de cunho cultural. O brasileiro compra água por necessidade, não por desejo. Compra para poder cozinhar, cuidar da casa, lavar roupas, se hidratar, mas não porque ele deliberadamente escolhe consumir água engarrafada em relação a outras bebidas não alcoólicas, por exemplo. É uma clara oportunidade para a indústria alavancar o conceito e os benefícios da água engarrafada em detrimento de outras bebidas e, assim, fazer com que o consumidor decida ativamente por comprar o produto.

PR – Por que, em três anos de recessão e empobrecimento da população, o atacarejo é, na pesquisa da Euromonitor, o menor canal varejista para vendas de água engarrafada no Brasil, na mão oposta do que ocorre com os produtos da cesta básica?
Angelica Salado – Atacarejos representaram 15% do volume de água vendido em 2016 no varejo, contra 47% de relevância dos super e hipermercados e 38% da venda direta. Pode parecer pouco, mas vale lembrar que o boom dos atacarejos é movimento recente e grande parte das cidades brasileiras ainda não conta com lojas neste formato. De acordo com os números da Euromonitor International para o estudo anual de Retailing no Brasil, em 2016 um efetivo de 581 lojas de atacarejo respondia por 15% do volume consumido de água mineral contra 47% por parte de 3.185 super e hipermercados. A consolidação deste canal no mercado de águas foi bastante rápida e só não atingiu uma representatividade maior por conta da distribuição geográfica dessas lojas, ainda limitada. No entanto, esperamos que, ao longo dos próximos anos, o atacarejo continue ganhando relevância e conquistando clientes de super e hipermercados e, principalmente, da venda direta.

PR – Por quais motivos o consumo anual de galões intermediários de água deve crescer no Brasil a taxas anuais maiores que as dos grandes galões entre 2017 e 2021?
Angelica Salado – Em primeiro lugar, por questões de logística: o galão intermediário é mais fácil de carregar, de estocar nos lares ou nas geladeiras, de manusear, de servir. Em grandes centros urbanos, por exemplo, a segurança também passa a ser uma preocupação, pois os galões grandes em geral são entregues por venda direta e implicam que um entregador entre nos lares. Do ponto de vista dos varejistas, o galão intermediário configura uma opção interessante de oferta de produto, pois demanda um custo mais baixo de estoque, por tratar-se de embalagem menor que o galão grande, e com mais giro, crescendo em penetração nos principais canais, incluindo atacarejo. Além disso, em termos de design e desenvolvimento da embalagem da marca, o galão intermediário oferece aos fabricantes mais opções, pois todos os aspectos referentes aos galões de 20 litros são regulados pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Embora o galão de 20 litros mantenha sua relevância no mercado brasileiro, especialmente considerando-se que mais de 50% dos lares possuem algum tipo de filtro de água, acreditamos que uma oferta maior de opções de tamanho intermediário seja capaz de atender a novas demandas de mercado e de complementar o portfólio das empresas que comercializam água mineral engarrafada.

PR – Por que as oportunidades para diferenciar a embalagem são mais significativas na esfera dos galões intermediários do que na dos grandes galões?
Angelica Salado – O desenvolvimento das embalagens intermediárias – de até 10 litros – é mais aberto à criação, pois não é regido por nenhuma norma técnica em particular, ao contrário dos grandes. Isso abre espaço para os fabricantes trazerem, por exemplo, soluções em design e conveniência, por meio de alças, torneiras para dispensar o produto, formatos adequados para caber dentro de refrigeradores (considerando que a penetração de geladeiras com dispenser externo de água ainda é baixa no país).

PR – A pesquisa da Euromonitor menciona que a marca se perde na reutilização dos grandes galões. Por quais motivos?
Angelica Salado – Uma parcela considerável dos galões grandes, em particular de 20 litros, é vendida no sistema intercambiável. Ou seja, sem rótulos de marcas, apenas vazio, para que seja posteriormente retornável ao fornecedor de água e reenchido para o consumidor. Assim, o consumidor adquire muitas vezes um galão vazio e o seu fornecedor de água apenas o enche com a marca que dispõe no momento em seu estabelecimento – portanto, uma oferta de marcas sujeita a mudanças. O consumidor não tem como controlar qual marca de água está recebendo dentro do galão que adquire e as marcas assim se perdem durante as idas e vindas do galão. Em 2017, houve alguns casos emblemáticos de empresas que detinham a patente de galões exclusivos que estavam sendo reutilizados por marcas terceiras, sem autorização, pelo sistema não-intercambiável de distribuição de garrafões. Um exemplo é a marca Ouro Fino, detentora exclusiva dos direitos de uso do galão esverdeado com a marca em alto relevo. Uma decisão do Tribunal de Justiça do Paraná concedeu à empresa este direito. O galão exclusivo estava sendo usado por outras marcas, causando confusão para o consumidor final que se deparava com duas marcas distintas na embalagem. Além disso, como cada distribuidor de água tem seu próprio sistema de limpeza dos galões, quaisquer falhas na higienização poderiam ser atribuídas à empresa Ouro Fino mesmo que não tivesse sido a responsável por enchê-lo. A decisão trouxe mais segurança à marca e ao consumidor final.
Já nos galões não retornáveis, especialmente os de seis a 10 litros, a marca detém seu uso exclusivo, razão pela qual pode aproveitar elementos únicos da embalagem (design por exemplo) para reforçar sua imagem e se diferenciar. Também por isso os galões descartáveis constituem uma oportunidade tão interessante para construção de marca no setor de água mineral.

PR – Por que o Brasil é, em termos de marcas, considerado pela pesquisa da Euromonitor o mais fragmentado mercado latino-americano de água engarrafada ?
Angelica Salado – O Brasil possui um alto número de empresas regionais atuando no mercado de águas engarrafadas, decorrência inclusive da sua disponibilidade da água mineral , ao contrário de outros países da América Latina. Além do mais, por se tratar de produto com baixo preço médio, a distribuição nacional das marcas se torna um desafio logístico e encarecedor para o produto. As marcas que hoje conseguem atingir uma região mais ampla já possuem ótima estrutura de distribuição de outros produtos e/ou bebidas, de modo que as águas apenas “pegam uma carona” nessa facilidade. Mas, para as marcas menores, seria insustentável uma estrutura nacional de distribuição – o que abre espaço para a consolidação a nível local.

PR – Quais os caminhos para a indústria de água mineral inovar e diferenciar as garrafas sem onerar seu custo num mercado de marcas pulverizadas e centrado num consumidor de baixo poder aquisitivo?
Angelica Salado – Antes de tudo, é mais interessante pensarmos na diferenciação por meio das embalagens em um movimento de agregar valor ao produto e não de onerar seu custo. Estamos falando de trabalhar melhor os aspectos únicos das marcas, como um design diferenciado, e não de, necessariamente, trocarmos de material. Por isso, os custos imediatos não são tão inibitivos quanto parecem e podem, sim, ser revertidos numa melhoria da percepção de valor da marca. O desenvolvimento de uma identidade visual mais atraente para a marca e seus rótulos é outra saída inovadora de interesse, cujo custo pode ser diluído ao longo do tempo sem acarretar uma oneração ostensiva e imediata. É preciso pensar no resultado dessas iniciativas a longo prazo, como parte de uma estratégia de fortalecimento das marcas e não apenas como um aumento dos custos. Além disso, é comum observar diversos fabricantes reduzindo significativamente o peso de suas embalagens PET, em prol da eficiência de custos. Também pode ser uma saída para diferenciação do produto, mas é preciso sempre pensar na praticidade do consumo. Por mais que a iniciativa possa ser classificada como sustentável e proporcione economia significativa nos custos, nem sempre o consumidor estará pronto para esta nova embalagem e, em algumas regiões do país, nota-se inclusive rejeição às marcas que se valem desta solução. Uma pesquisa global com os analistas da Euromonitor International reevlou em 2016 que mais de 50% deles indicam a praticidade no transporte (portabilidade, resistência, evitar vazamentos) como um atributo decisivo na escolha das embalagens de bebidas. Nem sempre a solução imediata de alteração da embalagem é a melhor recebida pelo consumidor final e por isso pesquisas de mercado passam a ser cada vez mais relevantes.

PR – O estudo da Euromonitor sustenta que o consumidor brasileiro de água mineral cobra transparência e se preocupa com o impacto ambiental da embalagem pós-consumo. Como conciliar essa constatação com os índices altíssimos de descarte incorreto de garrafas vazias no país?
Angelica Salado – É um processo de conscientização a longo prazo e envolve variáveis distintas. O público está preocupado com o impacto ambiental do seu consumo e procura cobrar isso cada vez mais também das marcas que adquire, algo que se reflete em mudanças no padrão de compras. No entanto, nem sempre ele está ciente da melhor forma de descartar a embalagem de determinado produto ou, em muitas regiões do país, sequer tem acesso a canais de descarte adequados ou coleta seletiva, por exemplo. Nesse sentido, as marcas também podem ter um papel mais ativo quanto a “ensinar” o consumidor sobre como descartar – ou até mesmo reutilizar – uma embalagem, inclusive fortalecendo sua imagem quanto à sustentabilidade. O rótulo é um bom canal para estabelecer esta comunicação.

Quando processo rima com sucesso

As máquinas que matam a sede da produção das garrafas e garrafões

“O aumento no consumo brasileiro de água mineral tem impactado nossa operação por meio do crescimento de pedidos de projetos de design para baixar o peso das garrafas e estudos para ampliar as linhas de produção”, percebe Roberto Giampietro, diretor geral para a América do Sul da alemã KHS, metrônomo global das sopradoras de PET. Tanto agito, ele associa, tem a ver com as mudanças nos hábitos de consumo de água engarrafada na região sob sua alçada. “Em todo o mercado sul-americano, os grandes volumes concentram-se em garrafões de 10 e 20 litros, mas as alterações notadas no perfil da demanda prenunciam expansões significativas na participação das garrafas a médio e longo prazo”.

Em sua planta sede em Dortmund, a KHS forma opinião ao voar alto no sopro de PET. Giampietro comprova esse status com a introdução mundial em 2017 da tecnologia mediante a qual um protótipo de equipamento recebe a pré-forma e configura a garrafa diretamente através do enchimento do líquido. Vanguardismos à parte, o setor de água mineral inspira soluções da KHS pelo flanco da economia da embalagem para o envase de um líquido de baixo valor monetário. “Os principais custos de produção das garrafas de PET para água estão relacionados a seus insumos, a exemplo da participação em 70% desses gastos relacionada ao peso do recipiente”, atribui o dirigente. “Aqui no Brasil sempre houve um movimento nessa direção, por sinal acelerado nos últimos três anos como demonstra o emprego de garrafas para 500 ml de água pesando menos de nove gramas e sopradas em nossas linhas”.

Não é apenas o peso, mas o custo total da garrafa que move o ímpeto pesquisador da KHS, assinala Giampietro. “Nossa sopradora Blomax Série IV roda na faixa máxima de 2.500 garrafas/h por molde e, munida de forno com tecnologia NIR (Near Infra-Red), gera consumo energético 30% inferior ao de nossas séries anteriores”, ele ressalta. “O forno NIR permite a melhor distribuição da resina na pré-forma e possui dispositivos para a retirada de material nas proximidades do anel do gargalo dela”. Outro plus da Blomax Série IV atende por CleverLoc. “Trata-se de um recurso para fechar moldes com eficiência e segurança com menos partes mecânicas”, explica Giampietro. “Nessa máquina, por sinal, os fundos de moldes são desenhados para soprar com pressões reduzidas e seu sistema de resfriamento garante a excelência na distribuição de materiais com alta resistência, favorecendo assim a máxima redução possível do peso e do custo de produção da garrafa de água”.

O showroom da KHS exibe em pedestal, desde setembro último, a garrafa do projeto cognominado Fator 100. “Queríamos que cada grama de PET utilizada na garrafa tivesse a capacidade de armazenar 100 mililitros de água e, desse modo, uma garrafa de 500 ml deveria pesar cinco gramas”, conta Giampietro. Como este intento implicava um novo design da pré-forma, a KHS firmou parceria com a canadense Husky, papa da injeção de PET. “O resultado foi uma garrafa com parede inferior a 0,06 mm e, apesar da leveza, de surpreendente estabilidade no seu manuseio”, completa o dirigente.

Visão holística
O projeto Fator 100 brotou da receptividade a uma embalagem sustentável captada em pesquisa de opinião, observa Evandro Cazzaro, gerente geral da Husky responsável pela América Latina. “Visando a redução do impacto ambiental, Husky e KHS conceberam um processo de injeção e sopro do qual resultou numa garrafa leve, estável e de acordo com as exigências de top-loading para sua produção e transporte”, reitera o especialista. No âmbito da pré-forma, ele encaixa, seu tamanho pequeno e formato singular ensejaram um ciclo de injeção inferior a cinco segundos na plataforma HPP5 da Husky, composta de sistemas com total controle do fluxo do material ao longo do processo.

A garrafa do Fator 100, evidencia Cazzaro, simboliza os ajustes em curso na rota do mercado mundial de água mineral. “Novos hábitos de consumo ligados ao bem estar oferecem oportunidades de crescimento a bebidas não carbonatadas, como sucos, chás e águas ”, pondera o gerente geral. “Pesquisa recente da Euromonitor (ver à pág 22) aponta o brasileiro como o povo que mais considera a ingestão de água importante para a vida saudável”. Na faixa abaixo de 40 l/a, o consumo nacional per capita de água mineral é mirrado mesmo para os padrões latino-americanos. “O México domina a região com o índice pouco abaixo de 200 l/a e o consumo per capita da Argentina equivale ao triplo do patamar do Brasil”,compara Cazzaro. “Fica claro um enorme potencial para o segmento e o mercado brasileiro já se adapta a esse cenário com crescente variedade de marcas e produtos na qual as embalagens exercem um papel muito importante para estabelecer a diferenciação”. No embalo, Cazzaro salienta a arrancada das apresentações de cinco a sete litros (categoria dos galões intermediários, segundo a Euromonitor), a diversidade de alternativas espelhada nas águas saborizadas, a migração para gargalos específicos para águas e, entre os lances com tatuagem verde sustentável, a penetração de leves garrafas de meio litro e a substituição de copos com lacre por garrafas de 200 a 300 mililitros com tampas.

“Para se buscar pesos ultra-otimizados da embalagem, é vital uma visão holística da cadeia da água mineral , desde a resina adequada, geometrias da pré-forma e garrafa e tecnologias de injeção e sopro até as linhas blocadas de envase e os sistemas de manuseio, logística e estocagem no ponto de venda”, abrange o porta voz da Husky. Na raia da injeção, ele distingue, os sistemas HyPET HPP5 (High Performance) de sua empresa estão consagrados na produção de pré-formas de menor peso e espessura. “Além de maior pressão de injeção, esses sistemas são referência na geração de pré-formas devido ao elevado controle do processo e fluxo do material, integração total da célula, economia energética e emprego de moldes e câmaras quentes de ponta”, sublinha Cazzaro.

Combo dois em um
O vento a favor para água mineral, fervente na modalidade da injeção da pré-forma à parte do sopro da garrafa, também varre o flanco da tecnologia que integra os dois processos em um único estágio. Bússola dessa vertente de máquinas talhadas para tiragens menores e médias, a japonesa Nissei ASB desfruta passe livre em garrafas, galões intermediários e garrafões de 20 litros. “Por exemplo, para frascos de meio litro para água sem gás, nossas máquinas cobrem a janela de 1.000 a 9.000 garrafas/h e em breve chegaremos a 15.000/h”, assegura Renato Araujo, representante comercial da Nissei ASB Sudamerica para o norte e nordeste do Brasil.

O processo em um estágio é o passaporte para a fama da Nissei ASB, levado por uma série de máquinas para leves frascos cilíndricos, batizada com uma sigla muito em voga no Brasil: PF. “Injetada a pré-forma, sua temperatura distribui-se com homogeneidade pela parede, momento em que é feito um pequeno ajuste térmico para colocar o material no local devido e retirá-lo de onde não é necessário”, esclarece Araujo. “E como a pré-forma está quente, ela dispensa aquecimento a partir da temperatura ambiente e fica assim zerada nas garrafas a possibilidade de acúmulo de resina perto do ponto da injeção e da base do gargalo”. No processo em dois estágios, comenta o executivo, a pré-forma chega fria às lâmpadas de aquecimento. “Ela só a esquenta na parte externa da parede, de modo que a temperatura interna resulta inferior, dificultando a boa biorientação do processo de sopro”, observa Araujo. “Sem aplicação de nitrogênio, a tecnologia Nissei ASB proporciona frascos de resistência mecânica no mínimo 15% superior à de contratipos gerados em dois estágios, ou então, de outro ponto de vista, o processo em um estágio pode prover garrafas 15% mais leves que as obtidas pela via dos dois estágios com igual resistência.

Os mesmos predicados são transpostos das garrafas de água aos garrafões. “Trabalhamos para baixar o peso e aumentar a resistência do recipiente”, sintetiza Araujo. Conforme afiança, a produção de garrafões de PET (dominante nos chamados tipos de peso intermediários descartáveis) em um estágio tem munição para superar em qualidade o sopro por extrusão contínua de similares de polipropileno (PP) ou policarbonato (PC). “Por originar-se de uma peça injetada, o gargalo do garrafão moldado em linha Nissei ASB atinge a perfeição no acabamento, sem rebarbas ou ovalizações ou diferenças no padrão de lisura das paredes interna e externa”, enaltece o representante comercial. No sopro por extrusão contínua, ele sustenta, o acabamento interno mostra-se rugoso. “Dificulta a retirada eficaz de micro-organismos ali depositados e, a cada lavagem, a rugosidade se aprofunda”.

Araujo faz coro com quem atribui a celebrização da água mineral à reeducação nos hábitos de consumo ecoada no mantra da saudabilidade. “Nem por isso, os preços das garrafas subiram”, ele repara. “Ao contrário, as novas tecnologias geram embalagens de baixo peso e maior resistência mecânica, atributos que incidem no custo final do produto. Afinal, como é sabido, o conjunto integrado por frasco, tampa, rótulo e pacote mobiliza em média de 70% a 80% do custo da água mineral”.

Preço e ciclo baixos
Absoluta no trono das sopradoras nacionais, a Pavan Zanetti navega por água mineral com o pé em duas canoas: garrafões de PP, quintal da máquina HDL 20L, e garrafas de 310, 500 e 1.500 ml, palco da sopradoras automáticas de pré-formas Petmatic, acenadas para tiragens pequenas e médias. “ São dois os modelos desta série mais procurados pelas fontes de água mineral: 3C/2L sistema 5.000 e 5C/1L sistema 7.000”, estabelece o diretor comercial Newton Zanetti. “Eles produzem, respectivamente, até 5.000 e 7.000 garrafas de meio litro/h e atendem até o volume de 1,5 litro em tiragem proporcionalmente menor”. No embalo, Zanetti salienta trunfos da série Petmatic a exemplo do emprego de componentes nacionais de fácil reposição – comandos microprocessados Altus e servomotores Weg –, além da troca rápida de moldes, ciclos abaixo de três segundos e a possibilidade de automação na saída do recipiente rumo ao envase ou ao estoque. “Além do mais”, arremata, “por se tratarem de linhas elétricas/pneumáticas, trabalham isentas de óleo hidráulico”.

Na raia dos garrafões de PP, Zanetti frisa como diretrizes para a performance da linha HDL 20L a conciliação do valor do investimento com o baixo custo da produção. “Consta de uma sopradora concebida para ter o menor preço e consumo energético possíveis”, assinala o dirigente. “Entre seus recursos com esta finalidade, figuram o programador digital de espessura de 400 pontos, os cabeçotes com expulsão veloz do parison e a extrusora desenhada para o trabalho com PP e para assegurar o acabamento sem falhas cobrados para os garrafões”.

Cobiçada auréola verde

Como PET e PP navegam nas águas da sustentabilidade

Nestlé Waters e Danone, duas torrentes em água mineral, aliaram-se nos EUA à startup Origin Materiais para constituir em março último a joint venture NaturALL Bottle Alliance (NBA) com uma levada sustentável: produzir em escala comercial garrafas de PET derivado de biomassa (materiais biológicos orgânicos). A Origin já produziu amostras da embalagem com PET formulado em 80% com elementos de fontes renováveis e já está agendada para 2018 a partida, na californiana Sacramento, da planta da NBA apta a fornecer à praça, em estágio inicial, 5.000 t/a do poliéster contendo teor de 60% de biomassa. Hoje em dia, as tecnologias disponíveis viabilizam a geração de PET com 30% de biolinhagem, indicador que os porta-vozes da NBA almejam, mediante aprimoramentos no processo, elevar a 75% até 2020 e a 95% à entrada de 2023.

PET é composto por dois ingredientes: ácido tereftálico purificado (PA), com participação de 70% na formulação, e monoetileno glicol (MEG), com os 30% restantes. Até hoje, apenas MEG pode ter produção comercial fundeada em biomateriais. Nos idos de 2008, por falta de competividade em escala e rota tecnológica, a Braskem fechou sua fábrica de PET no polo baiano de Camaçari. Pois o mundo gira e a Lusitana e roda e cerca de 10 anos depois ela volta a circundar o poliéster através de parceria com a dinamarquesa Haldor Topsoe, verbete em catalisadores, com foco no desenvolvimento de MEG a partir de matéria-prima renovável, o açúcar. O anúncio da joint venture, disparado em 10 de novembro, embute o compromisso de partir em 2019 uma planta piloto do bio MEG num processo de conversão em duas etapas não explicitadas. “Trata-se de tecnologia inovadora no gênero, concebida em laboratório e a unidade de demonstração é etapa necessária para validar, ao longo de um ano, os parâmetros da industrialização e assim fundamentar o projeto e montagem de uma fábrica comercial”, justifica Gustavo Sergi, diretor de Químicos Renováveis da Braskem.

A tecnologia gestada em caráter experimental, assinala o executivo, envolve a conversão direta de açúcares e obtém altos rendimentos na produção de MEG. “Além disso, o processo apresenta muito menos etapas reacionais e transferências de materiais que as alternativas existentes”. Sob o prisma do mercado em potencial, o diretor da petroquímica brasileira situa o movimento global de MEG acima de 25 milhões de toneladas. “Portanto, o desenvolvimento dessa tecnologia representará um passo importante na estruturação da química sustentável”, arremata Sergi.

Enquanto isso, aqui no Brasil a participação da garrafa de PET no mercado de água mineral é estimada ao redor de 21% por Theresa Moraes, gerente comercial da subsidiária da italiana M&G e, à sombra da capacidade instalada de 500.000 t/a em Pernambuco, maior produtora do poliéster grau embalagem no país. Theresa informa que sua resina não transita pelo segmento de garrafões retornáveis, mercado por ela considerado muito pulverizado e informal. Para a produção de água sem gás, o tipo mais consumido no Brasil, a M&G comparece com a resina Cleartuf ®. “Sua principal característica é o baixo teor de acetaldeído”, distingue Theresa.

Em sua selfie nos garrafões, polipropileno (PP) resplandece nas versões sopradas de 20 litros. “A resina apresenta bom comportamento para essa linha de produtos de maior espessura, garantindo o cumprimento do prazo de três anos de validade estipulado para os garrafões retornáveis pelo Departamento Nacional de Produção Mineral”, pondera Roger Marchione, diretor do negócio de PP da Braskem, única produtora da poliolefina no país. Na mesma trilha, ele salienta para os transformadores do segmento os atrativos do balanço entre rigidez e resistência ao impacto e a análise do custo da embalagem de PP versus o volume de água envasada. Entre as alternativas do cardápio da Braskem para os garrafões soprados, o executivo distingue a transparêencia e conjunto de propriedades da resina Prisma 6410.

Refestelado na dianteira nos garrafões retornáveis maiores, PP não ameaça PET nos recipientes abaixo de 10 litros, denominados galões intermediários pela consultoria Euromonitor International. “No sopro de embalagens descartáveis menores, PET provê características agregadoras de valor ao produto final, a exemplo de transparência, leveza, barreira a gases e resistência mecânica”. Mas o jogo vira para PP, ele encaixa, em outra vertente de embalagens one way de água mineral, também frequentada por poliestireno. “No compartimento dos recipientes com selo na borda (copos), PP segue competitivo em razão de atributos como boa selagem e o padrão de escalas proporcionado pela termoformagem perante o processo de injeção da pré-forma seguida de estiramento e sopro”, compara Marchione.

A Braskem assedia ainda o reduto de água mineral pelo flanco das tampas. Nesse caso, a bola da vez é polietileno de alta densidade (PEAD), material de praxe na injeção de tampas para garrafões de 20 litros, insere Marchione. “No mercado de tampas em geral ocorre a migração de PP para PE”, considera o diretor. “A tampa monobloco de PEAD elimina a necessidade da versão em duas peças a cargo da tampa de PP com liner de copolímero de etileno acetato de vinila (EVA)”. Nesse quadro, amarra as pontas Marchione, a Braskem põe no balcão, para injeção de tampas de segmentos como águas premium, os grades de PE GE7252XP, GE 7252XS, GE72NS e HD3403S. “Todos eles primam pela excelência em propriedades organolépticas e na resistência à fadiga sob tensão (stress cracking)”, finaliza Marchione. •

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