PET é o melhor embaixador que o plástico poderia almejar nos domínios da economia circular. Suas credenciais estendem-se desde a substituição de metal e vidro no envase de uma infinidade inesgotável de líquidos até o pioneirismo, entre polímeros, em obter grau alimentício para sua resina mecanicamente reciclada, pela via bottle to bottle. O poliéster é notório também pela vocação para corresponder em cheio à tábua de mandamentos do desenvolvimento sustentável: repensar, reutilizar, reciclar e reduzir o peso das embalagens. Mentora dessa cultura em PET e PEAD soprado no Brasil, a transformadora Brasalpla, controlada do grupo austríaco Alpla e com plantas em três regiões do país, é das mais ativas indústrias empenhadas em transpor ao mercado interno os movimentos de vanguarda globais em PET e PEAD alinhados com a circularidade. Este compromisso ambientalista da Brasalpa e seus gols de placa dão o tom da seguinte entrevista exclusiva do seu diretor comercial Patrick Gulli.
Alpla América do Sul, Brasalpla inclusa, atua em embalagens de cosméticos, bebidas, agroquímicos, alimentos, limpeza doméstica, lácteos, óleos lubrificantes e fármacos. Durante o primeiro semestre, sob economia retraída, quais os segmentos que demandaram no Brasil mais desenvolvimentos em suas embalagens?
O enunciado da pergunta está correto. É importante destacar que nosso segmento de ingresso mais recente é o agroquímico, para o qual já desenvolvemos uma bombona de 20 litros de alta tecnologia. Esse reduto vem demonstrando uma demanda por inovações e a implementação de embalagem de ponta no campo representa um avanço significativo na melhoria da qualidade do produto e sustentabilidade. Essa integração recente de embalagens de última geração com o agronegócio evidencia seu compromisso de oferecer maior valor aos consumidores e atender às demandas do mercado em constante evolução.
Num ambiente econômico desafiador, como o do primeiro semestre, observamos alguns segmentos que mostraram uma demanda maior por inovações aqui no Brasil. Por exemplo, o e-commerce e varejo online. Com o crescimento contínuo do comércio eletrônico, empresas que atuam nesse segmento têm buscado ativamente soluções inovadoras para aprimorar a experiência do cliente, otimizar a logística e agilizar as operações. Vale assinalar também o foco da indústria de higiene e limpeza em embalagens mais sustentáveis. À medida em que as preocupações ambientais ganham destaque, ocorre um aumento na procura por soluções de embalagens sustentáveis principalmente no âmbito de produtos de cuidados pessoais e limpeza doméstica. Empresas que oferecem opções de embalagens ecológicas e recicláveis têm se destacado e observado uma demanda crescente por essas soluções. A propósito, a indústria de alimentos e bebidas também sobressai nesse quesito do interesse por inovações, mantendo-se resiliente às flutuações econômicas e buscando embalagens que prolonguem a vida útil, melhorem a segurança do produto e ofereçam conveniência aos consumidores, como recursos de fácil abertura ou opções de controle de porções. Entre os campos promissores, estamos analisando as oportunidades nos setores de saúde e farmacêutico, pois exigem constantes melhorias nas embalagens para garantir a integridade e inviolabilidade do produto e maior segurança para os pacientes. Além disso, a indústria farmacêutica costuma ser pioneira na adoção de novas tecnologias e materiais de embalagem.
Dos segmentos citados na resposta acima, quais deles mais demandaram no Brasil aumentos no fornecimento de embalagens pela Brasalpla no primeiro semestre?
Dois deles experimentaram uma demanda significativa por quantidades maiores no primeiro semestre. Um deles é o setor de higiene e limpeza e sua tendência de crescimento nos volumes reflete sua resiliência e capacidade de atender com alta qualidade às necessidades e preferências em constante evolução dos consumidores. O outro destaque em nossa carteira é a indústria de alimentos e bebidas, cuja demanda progride de forma contínua, indicando forte inclinação dos consumidores por uma ampla variedade de opções. Essa trajetória ascendente nos volumes ressalta a capacidade da indústria em se adaptar aos mutáveis gostos e preferências do público.
Brasalpla opera plantas em Pernambuco, Rio, São Paulo e Mato Grosso do Sul. Em São Paulo uma das unidades é do tipo in-house. Quem é o cliente parceiro?
Nossa planta In-house em São Paulo é uma operação com a L´Oréal. Foi implantada em 2011 e, desde então, temos produzido embalagens de PEAD e PET para algumas das principais marcas da companhia, tais como Elseve, Niely e Imedia Excelence. Temos uma perspectiva de crescimento dessa atividade, em particular na questão de sustentabilidade, pois pretendemos expandir a produção de frascos com resinas recicladas. No momento, 100% das embalagens PET ali produzidas contam com material reciclado na sua composição e está em curso o desenvolvimento para a aplicação de resina recuperada nos recipientes de PEAD.
Alpla atua há mais de meio século na América do Sul. Por quais motivos até hoje só conseguiu implantar uma operação in-house no Brasil, maior mercado da região?
Na realidade, temos duas operações in-house no Brasil: a parceria há 12 anos com a L´Oréal em São Paulo e a fábrica na ativa desde 2016 no complexo da Femsa, engarrafadora da Coca-Cola, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul.
A propósito, das 190 fábricas que a Alpla possui globalmente, 68 são in-house. Em geral, operações desse tipo são bastante instigantes, em especial quando o cliente já possui uma solução bem estruturada, própria ou com terceiros. Podemos dizer que os principais desafios para se conquistar um cliente neste formato no Brasil estão relacionados à disponibilidade de infraestrutura, flexibilidade na fábrica do parceiro e competição de players locais e internacionais. A disponibilidade de infraestrutura, espaço físico, é fundamental para operações eficientes. Tal como a flexibilidade dentro da fábrica do cliente para receber um novo modelo de abastecimento de embalagens. Além disso, temos no Brasil muita concorrência, o que demanda ainda mais criatividade, diferenciação e posicionamento estratégico. Estamos comprometidos em enfrentar este cenário aproveitando nossa expertise, soluções inovadoras e abordagem centrada no cliente para estabelecer parcerias de sucesso.
Quais os mais recentes avanços em embalagens da Brasalpa introduzidos no mercado interno que estão alinhados com as seguintes diretrizes da sustentabilidade: redução da gramatura/peso, reúso da embalagem, reciclabilidade e emprego de biomateriais?
Aqui vão, por tópicos, alguns exemplos de como esses princípios de sustentabilidade são aplicados.
*Redução de peso: desenvolvemos embalagens mais leves, utilizando materiais inovadores que reduzem a quantidade de recursos necessários para produção. Exemplo recente: a loção hidratante “Natural & Essencial” de 200ml da Nivea, com 50% menos plástico. Essa embalagem passou de 22 para 11 g. Além da leveza, ela proporciona ao consumidor o recurso do sistema ‘roll up’, processo que permite ao usuário enrolar o frasco devido ao design do fundo e seu peso ultra leve. Dessa forma o consumidor consegue utilizar todo o conteúdo da embalagem, e ainda otimiza espaço na reciclagem.
*Reutilização: produzimos embalagens duráveis e projetadas para reúso, evitando o descarte precoce e reduzindo o consumo de materiais. Exemplo: o Omo refil para diluir da Unilever. Neste produto o consumidor reutiliza a embalagem de 3L e compra o refil para diluir de 500ml.
*Reciclabilidade: utilizamos materiais amplamente aceitos nos sistemas de reciclagem. Isso facilita a transformação das embalagens em novos produtos e promove a economia circular. Dispomos no portfólio de vários produtos cujos frascos que levam 100% de resina reciclada. Alguns deles são os xampus e condicionadores Seda e o amaciante Comfort. ambos Unilever. Em PET 100% reciclado temos as embalagens de xampus e condicionadores Elseve, da L´Oréal, e os cremes hidratantes Todo Dia da Natura.
*Biomateriais: exploramos o uso em embalagens de materiais como plásticos derivados de fontes renováveis, com menor pegada de carbono e degradação natural, reduzindo o impacto ambiental. Na Europa, a Alpla lança uma geração de cápsulas de café recicláveis e biodegradáveis para a marca alemã Blue Circle, à base de material orgânico derivado de fonte não prejudicial à produção de alimentos ou rações. As cápsulas oferecem propriedades de barreira aprimoradas. O sistema certificado consiste em uma cápsula e uma folha de vedação, minimizando os efeitos sobre o café envasado e a migração do seu aroma para o ambiente.
Alpla é referência internacional na reciclagem de PET e PEAD, com plantas no México, Europa, Tailândia e, em 2025, na África do Sul. Por que até hoje a empresa, se mantem ausente da reciclagem de PET no Brasil?
A descrição da presença mundial da Alpla em reciclagem está correta; inclusive a companhia faz parte do “New Plastics Economy Global Commitment” (Compromisso Global da Nova Economia do Plástico ) liderado pela Fundação Ellen MacArthur. Para reforçar esta estratégia, nos comprometemos que todas as soluções de embalagem devem ser totalmente recicláveis até 2025. O volume de materiais reciclados pós-consumo processados deve aumentar para 25% do uso total de material até este momento. A Alpla tem disponibilizado €50 milhões por ano para expandir as atividades na reciclagem, e parte desse investimento contempla novas fábricas dessa atividade no mundo. Quanto ao Brasil, ainda estamos avaliando o mercado para decidirmos se procede o projeto de uma fábrica de reciclagem. Estamos analisando cuidadosamente as oportunidades potenciais, os desafios e as implicações associadas.
Como a Brasalpla avalia movimentos internacionais de brand owners no sentido de eliminar rótulos e cores de frascos e garrafas em favor de facilitar a reciclagem dessas embalagens?
A remoção de rótulos e cores pode, sem dúvida, facilitar a reciclagem, especialmente em sistemas automatizados, tornando a identificação e classificação dos materiais mais simples. Isso, por sua vez, melhora a eficiência e qualidade do processo de reciclagem, resultando em materiais recuperados de maior qualidade. Essa abordagem também está alinhada às demandas crescentes dos consumidores e das regulamentações ambientais. Cada vez mais, os consumidores buscam embalagens sustentáveis e estão dispostos a apoiar empresas que adotam práticas de reciclagem eficientes. Além disso, muitos países e regiões estão implementando regulamentações mais rigorosas para promover a reciclagem e reduzir o desperdício. Estamos cientes dessa tendência que, aliás, vem se tornando realidade em alguns segmentos e reconhecemos a importância de considerar vários fatores relacionados a ela. Primeiro, é essencial avaliar a viabilidade técnica da remoção de rótulos e cores dos frascos e garrafas, levando em conta se essa medida compromete ou não a funcionalidade e integridade do produto. Além disso, é necessário analisar se as tecnologias de identificação e informações do produto podem ser adequadamente incorporadas de outras formas, garantindo que as informações essenciais continuem disponíveis para os consumidores. Outro aspecto relevante: a aceitação e preferência do consumidor. É fundamental compreender os impactos que a ausência de rótulos e cores nos frascos e garrafas podem ter sobre a percepção do público, acostumados a associar esses elementos à identificação e comunicação dos produtos.
Quais as ações adotadas pela Brasalpla para uma destinação correta das aparas industriais geradas em suas linhas de produção de embalagens de PET e PEAD?
Para garantir uma destinação adequada das aparas industriais geradas em nossas linhas de produção, implementamos uma série de ações estratégicas. Nossa abordagem busca continuamente minimizar a geração de refugos por meio de práticas de produção eficientes e otimização de processos. No entanto, caso ocorram aparas, adotamos as seguintes medidas:
*Reciclagem por parceiros especializados – Estabelecemos parcerias com empresas selecionadas com cuidado, dedicadas à reciclagem de plásticos. Enviamos as aparas a elas para processar e reciclar esses materiais de maneira adequada.
*Reutilização – Sempre que possível e dentro dos padrões de qualidade estabelecidos, realizamos o reúso interno das aparas. Dessa forma, integramos esses materiais em processos adicionais de fabricação, permitindo a sua recuperação do material e reduzindo a quantidade de resíduos gerados.
*Revenda seletiva – Em determinadas situações, quando as aparas industriais apresentam qualidade e características adequadas para usos específicos, optamos pela sua revenda para empresas que as utilizam como matéria-prima secundária. Essa prática contribui para a economia circular, promovendo o aproveitamento dos recursos e prolongando seu ciclo de vida útil.
A única embalagem flexível no mix da Brasalpla é a linha de bisnagas. No Brasil, embalagens flexíveis pós-consumo são pouco valorizadas pelos catadores e são menos submetidas à reciclagem mecânica devido ao processamento mais complexo. Quais as saídas sugeridas para estimular a coleta e simplificar a reciclagem das bisnagas que a Brasalpla fornece?
Nosso foco principal está nas embalagens rígidas, embora também ofereçamos uma bisnaga produzida com a tecnologia extrusion blow molding (EBM) e de reciclagem simplificada, pois produzida com um único material (polietileno).
Entendo que para estimular a coleta e simplificar a reciclagem das bisnagas e outras embalagens flexíveis no Brasil, algumas soluções viáveis são a educação e conscientização dos consumidores sobre a importância da coleta seletiva e reciclagem. Na mesma trilha, influem as melhorias no design das embalagens para facilitar a reciclagem; Parcerias com cooperativas para fortalecer a coleta e o processamento dos resíduos e o investimento em tecnologias avançadas para aumentar a eficiência na reciclagem dos materiais. •