Mais do que mil palavras

Fábrica nova que a Honda mantém fechada diz tudo sobre o mercado de peças técnicas
Honda em Itirapina: sem data para começar a produzir.

O destino das peças técnicas injetadas se bifurca em componentes automotivos e para eletroeletrônicos. As duas estradas andam intransitáveis devido ao deslizamento de encostas provocado pelo temporal na economia. É um enrosco federal para um setor onde a razão de viver alia as vendas e a obsessão por formulações capazes de desbancar materiais concorrentes com vantagens de custos e performance. Não é fácil manter o astral nas alturas nessa conjuntura, como insiste Jane Campos, diretora da Radici no Brasil, componedora de poliamidas (PA) em Araçariguama, interior paulista. “Crises são boa oportunidade para desenvolver produtos e clientes”, ela sustenta. “São a brecha econômica para empresas empenhadas em aumentar sua fatia de mercado e, na busca desesperada de redução dos custos, elas se abrem a novas ideias, produtos e fornecedores, como ilustra aliás o interesse em alta por substituir metal por plástico, em especial no setor automotivo”.

O discurso de Jane segue a modulação apropriada para não deixar o moral da tropa cair em situações de enrascada, mas essa oratória hoje pede o acompanhamento de ansiolíticos e antidepressivos para os ouvintes da cadeia das peças técnicas. O diabo é que o evangelho da fibra & otimismo pode animar, mas não muda números. Radares setoriais estimam a capacidade instalada da indústria automobilística na faixa de 5,3 milhões de veículos e a produção, declinante desde 2014, deve rondar 2,2 milhões de unidades este ano. Fala por si a segunda planta no país da Honda, que negou entrevista. A construção em Itirapina, interior paulista, terminou em 2015 mas o desmaio da demanda mantém fechada a fábrica zero bala, sem data para partir. A calculadora da consultoria McKinsey condiciona um delirante crescimento de 10% ao ano nas vendas de carros para esse protegidíssimo setor, dono de 5% do PIB, ocupar 80% de sua capacidade. Na mesma clave, fontes como a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) calculam em 50% a queda nas vendas de autopeças nos últimos dois anos.

A zika do legado de Dilma também infesta o outro oásis para peças técnicas. Na esfera dos eletroeletrônicos, a entidade Eletros não quis falar alegando desconhecer a capacidade, produção e vendas do setor que representa. Mas a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) estarreceu a praça com dados que tacou no ar. De janeiro a julho último, a produção caiu 17% versus mesmo período em 2015 e, nos 12 meses a partir de julho de 2015, o recuo chegou a 21,1%. A Abinee antevê para este ano produção industrial 7% abaixo da registrada em 2015. Eletrônicos, por sinal, abocanham 27% do faturamento do Polo Industrial de Manaus (PIM), estima a Superintendência da Zona Franca. Em 2015, a receita do segmento de eletrônicos alcançou R$ 23,3 bi ou 18% inferior ao saldo anterior e, de janeiro a maio passado, o faturamento compilado de R$ 7,8 bi ficou 15,9% aquém do mesmo período em 2015. No mesmo bojo, prevê-se que a produção nacional de TVs totalize 9,5 milhões de unidades em 2016. O menor nível desde 2010.
As reações a essa sangria nos balanços e a torcida por dias melhores dão o tom das reportagens a seguir.

controleA mão que tem o controle

Confiança reaquecida do consumidor areja o astral da indústria de ar condicionado

Com a subida na temperatura nos termômetros e no humor do mercado, a partir da saída de Dilma, a indústria de ar condicionado se anima com possível luz no fim do túnel. Seus últimos balanços têm espelhado a anemia viralizada nas vendas de eletroeletrônicos e, na ponta, ela ricocheteia nas peças técnicas injetadas. Em 2015, a receita do segmento vergou 8,3% e a produção caiu 11,3% frente a 2014, sem reação visível na primeira metade de 2016, atesta a consultoria GFK Brasil. Se El Niño não fizer das suas, o ingresso nos meses mais quentes e a isca dos lançamentos atirada pelo setor de climatização, alguma coisa pode esquentar na relação entre a indústria e o varejo no final do ano. Uma referência dessa torcida organizada é a Midea Carrier, que uniu este ano, também em reação à conjuntura adversa, as forças de suas marcas independentes de ar condicionado e climatizadores: Springer e Midea. Na entrevista a seguir, o gerente de marketing Maurício Portella explica a constituição da linha Springer Midea, aborda o impacto da crise em seu setor e por que, apesar de tudo, ela não corrói a magnitude do mercado brasileiro.

Portella: muito espaço para as vendas aumentarem.
Portella: muito espaço para as vendas aumentarem.

PR – Segundo entidades do setor, a produção de ar condicionado caiu 11,3% em 2015 e, em janeiro de 2016 versus janeiro de 2015, a produção do modelo split caiu 68,3% e a do aparelho de janela, 75,3%. Como a recessão não sinaliza arrefecimento este ano, quais os prováveis efeitos desse declínio sobre as expectativas de vendas da Midea Carrier?
Portella – Nosso segmento, assim como os demais bens duráveis, sentiu um impacto considerável da situação econômica brasileira. Porém, o trabalho de casa foi feito pela indústria e varejo e estamos todos entrando confiantes e preparados em mais uma temporada de verão. No âmbito da minha empresa, sabemos que nossa nova marca para climatização residencial Springer Midea vai trazer ainda mais força junto aos consumidores. Como outros setores, a indústria de ar condicionado brasileira teve de fazer ajustes para manter a sustentabilidade de sua operação. Na Midea, reduzimos mão de obra e adequamos a linha de produção à nova demanda do mercado. Além disso, definimos um novo plano estratégico para preparar a empresa para a retomada da economia, prevista por alguns para 2017.

PR – Movimentos como a união de marcas realizada por Springer e Midea podem ser lidos como uma reação a este quadro negativo pela consolidação de forças?
Portella – Sim, com certeza. O momento econômico pede definição de novas estratégias. Desde a assinatura do contrato de joint-venture entre a Midea e a Carrier, em 2011, mantivemos as marcas de maneira independente e até mesmo concorrendo entre si no segmento de climatização. Entretanto, percebemos que, para o mercado nacional, seria mais interessante contar com um diferencial competitivo focado nas necessidades dos consumidores.Por isso, resolvemos unir a tradição da marca Springer à liderança e inovação da Midea no desenvolvimento de produtos para climatização residencial. Assim, esperamos atender melhor as demandas do setor, mantendo a Midea como marca mãe, com suas submarcas de eletrodomésticos/eletroportáteis Midea Practia, Midea Liva e Midea Desea, já disponíveis no mercado com portfólio de cozinha, adegas e cervejeiras (entre outros) e a submarca Springer Midea para climatização residencial, com condicionadores de ar e climatizadores.

PR – Quais alternativas enxerga ao alcance dos fabricantes de ar condicionado para que possam fazer frente a esta conjuntura retraída e instável?
Portella – Hoje em dia, o maior empecilho para o crescimento do mercado é a dificuldade vivida pela economia; isso afetou diretamente a renda das famílias. Mas o país permanece um ótimo mercado para o segmento. É o quinto do mundo para ar condicionado residencial e o maior mercado de splits na América, maior até do que os Estados Unidos, por exemplo. Resultado da crise, o número de novas residências e o crescimento do mercado de climatização sentiram um impacto significativo. Mas trata-se de um baque temporário, considerando-se que menos de 20% das residências no Brasil têm ar condicionado em casa – ao contrário dos mais de 80%-90% em países desenvolvidos. Portanto, ainda temos muito espaço para crescer, e a Springer Midea vai buscar preencher este potencial para expandir junto com o nosso mercado.

PR – Quais as principais ações concretas tomadas pela Midea Carrier para fazer frente à crise?
Portella – Estruturamos nosso plano de expansão considerando o atual cenário econômico. Vamos entrar definitivamente no segmento de linha branca e alcançar novos consumidores.Para isso, estamos reestruturando nossos departamentos, a exemplo do pós-vendas. O objetivo é ampliar de 600 para 800 pontos a nossa rede de atendimento de assistência técnica até o fim do ano, capacitando-os com treinamentos e certificações trimestrais, presenciais e a distância, por vídeo aulas. Também iniciamos em setembro o projeto denominado ‘Jornada do Consumidor’. Consta de um acompanhamento passo a passo do atendimento ao cliente que abrir um chamado conosco através da Central de Relacionamento. A cada evolução, o consumidor será comunicado através de SMS, e-mail ou ligação, até a resolução do caso, processo finalizado com uma pesquisa de satisfação. Até o fim de 2016 serão investidos mais de R$ 12 milhões no desenvolvimento de produtos e ações de trade marketing nos pontos de venda.

PR – O anunciado ingresso da Midea Carrier em novos produtos da linha branca seria uma forma de diminuir a concentração do foco no segmento de climatização residencial e, ao mesmo tempo, aumentar as vendas e diversificar os campos de atuação da empresa?
Portella – Sim, já a partir deste semestre vamos incrementar o portfólio de linha branca em 51%. O objetivo é fortalecer a marca Midea mediante a entrada em novas categorias de produtos, como panelas elétricas, aspiradores de pó e lava e seca. A meta é de, em três anos, estarmos entre os principais players de eletrodomésticos do país.

PR – Onde serão produzidos os novos eletrodomésticos e quando entram no mercado?
Portella – Alguns produtos serão trazidos da fábrica da Midea na China, mas serão especialmente desenvolvidos para o consumidor brasileiro. No momento, nossas duas fábricas aqui têm focos de atuação diferentes. Sai de Manaus toda a nossa produção de condicionadores de ar residenciais (tipo Split e Janela), microondas e produtos para climatização comercial leve. Por sua vez, a fábrica de Canoas (RS) continua dedicada às linhas de climatização comercial para grandes obras, com tecnologia diferenciada e projetos especiais.

carrinhoO carrinho aguarda o toque

Calmaria no polo de Manaus tira da tomada a injeção de componentes

Eletroeletrônicos mobilizam 27% da receita do maior núcleo de fabricantes do setor no país, o Polo Industrial de Manaus (PIM, ex-Zona Franca). Nos últimos dois anos, o noticiário sobre ele tem sido dominado pelo efeito cascata, na economia e nos postos de trabalho, por revezes como a descida na ladeira sentida nas linhas branca, cinza e marrom, a exemplo das compras de TVs para assistir as Olimpíadas do Rio terem perdido de 7×1 para a saída dos aparelhos na Copa do Mundo de 2014. “A crise deste ano é a pior de todos os tempos para o PIM devido ao percentual de queda no volume de produção”, avalia Mariana Barrella, diretora da Tutiplast, maior transformadora de peças injetadas da Zona Franca. “Segmentos como eletroeletrônicos fecharão 2016 com redução nos volumes fornecidos de quase 30% perante 2015. Em condicionadores de ar, tivemos clientes que suspenderam a produção por mais de 90 dias e outros que voltarão a operar somente em 2017”.

Eletroportáteis: câmbio favorece produção local.
Eletroportáteis: câmbio favorece produção local.

Fundada e presidida por Cláudio Barrella, pai de Mariana, a Tutiplast já viu de tudo em matéria de crise em 23 anos de estrada. Figurou, inclusive, entre os primeiros transformadores de peças técnicas para motos montadas em Manaus. À sombra desse cartão de crédito platinum, Cláudio, Mariana e o gerente comercial Cleber Komeda enxergam impactos distintos da recessão nos dois campos cobertos pela transformadora. “O segmento de eletroportáteis, como secadores de cabelos, ainda está muito ligado a importações; nem todos os aparelhos ofertados são fabricados aqui”, explica a diretora. “Trata-se, portanto, de um segmento bem penalizado com a alta do dólar, o que forçou algumas empresas a investirem na manufatura local, favorecendo por extensão os fornecedores locais de componentes e a própria competitividade dos nossos eletroportáteis em mercados abastecidos exclusivamente pelos chineses. Alguns clientes nossos estão exportando para a Argentina e México”. Por essas e outras, deduz Mariana, o dólar é o senhor do futuro dos eletroportáteis brasileiros, segmento visto por ela como o mais vulnerável à crise entre os atendidos pela Tutiplast.

Por sua vez, o flanco dos eletroeletrônicos ganha dos eletroportáteis em estabilidade, considera Mariana. “TV, por exemplo, é paixão do brasileiro e os fabricantes já consolidaram a manufatura local”. Óbvio que mais de dois anos de empobrecimento e desemprego baixaram o volume de produção de eletroeletrônicos, ela concorda. “Mas esses produtos não são tão sensíveis à variação cambial, pois, se o dólar subir, esse custo será repassado ao consumidor”.

Radici: o mercado é para quem tem jogo de cintura

“Autopeças detêm 35 das nossas vendas”, situa Jane Campos, diretora da Radici Plastics Brasil, pêndulo dos componedores de poliamida (PA). “Sentimos a queda da produção de carros desde 2015, mas conseguimos compensá-la com exportações para o restante da América Latina e com a presença em outros campos de PA, com destaque para embalagens alimentícias e componentes do setor elétrico”. Entre os destaques do balanço de 2016, Jane destaca linhas de compostos de PA 6, 6.10 e 6.12 e formulações antichama. Do portfólio dos materiais de ponta da matriz italiana da Radici, ele ressalta os diferenciais das linhas HHR e XTREME, respectivamente resistentes a 210ºC e 230ºC. a série de compostos de fibra longa Radistrong e o lançamento da poliftalamida (PPA) Radilion Aestus T, acenando com a resistência a altas temperaturas condizente com aplicações como componentes de motor turbo e peças técnicas de boa estabilidade dimensional.
Na contramão do freio generalizado nos investimentos industriais, Jane programa para 2017 a compra de mais uma extrusora para sua unidade de beneficiamento em Araçariguama, interior paulista. “Também receberemos uma nova ensacadora automática Coperion e substituiremos os silos homogeneizadores por modelos adquiridos da Zeppelin”, ela arremata. Os concorrentes DSM e Solvay negaram entrevista.

Perdas e ganhos
A Tutiplast passa o arado em duas pastagens para navegar entre os destroços da economia pós-Dilma. “Estamos voltados para a aquisição de concorrentes e a ampliação da nossa presença em outros Estados”, estabelece Mariana. Do discurso à prática, a Tutiplast virou a nº1 em capacidade de injeção da região norte, assegura Mariana, mediante a compra da rival Springer Plásticos da Amazônia em março passado. Um mês depois, embolsou a baiana Norplast, dedicada a autopeças para as fábricas da Fiat e Ford no Nordeste.
O acerto da estratégia ensaia aparição no próximo balanço. Sem incluir no cômputo a duas indústrias incorporadas, Mariana acha muito ruim a receita da Tutiplast no primeiro semestre. “Caiu 35% perante o mesmo período em 2015 e a expectativa é fechar 2016 com queda de 25% no faturamento, a reboque da redução média de 30% a 40% nos volumes de produção dos clientes”. Esses estragos foram atenuados nos resultados da Tutiplast, explica a dirigente, em razão da conquista de novos nomes para sua carteira e do aumento da participação da empresa nas entregas a outros clientes. “Mas se computarmos o faturamento conjunto da Tutiplast, Springer e Norplast, cresceremos em torno de 15% este ano”, ela projeta. O próximo passo, ela adianta, é buscar as sinergias para calçar a expansão do grupo. “Assim, os investimentos agendados para 2017 serão pontuais e visam incrementar o nível de automação das duas empresas adquiridas”.

DuPont surfa na nacionalização de peças

Autopeças abocanham a parte do leão do mercado de resinas nobres. Há três anos, a zika na economia derruba a produção de veículos no Brasil. Mas a fraqueza no geral não mata as oportunidades de ganhos no particular. A DuPont Performance Materials reza por esse evangelho. “Embora afetados pela crise em campos como o automotivo e linha branca, os plásticos de engenharia têm substituído materiais como metais em novas aplicações, a ponto de aumentar o fluxo de nossos projetos nesse momento”, pondera Augusto Dornelles, gerente de contas estratégicas na América do Sul.
Especialidades trazidas pela DuPont, caso do poliacetal Delrin, poliamidas Zytel e o ionômero Surlyn, têm sua receptividade no Brasil ampliada a reboque do esforço das empresas por substituir componentes importados a dólar alto. “Isso tem levado grande parte das empresas locais ao desenvolvimento de alternativas domésticas para baixar custos de produção”, percebe Dornelles. Ele se aferra à indústria automobilística, hoje de ossos à mostra, para rechear seu argumento com aplicações nacionalizadas como hélices e módulos de ventilação, capas de radiadores e tampas de motores, inclusive para o mercado de reposição.

Devagar com o andor
Na selfie do momento, a Tutiplast, em isolado, opera 181 injetoras com forças de fechamento entre 58 e 1.600 toneladas. “Fechamos 2015 com ocupação média de 65%, índice hoje na faixa de 50%”, insere Mariana. Na calculadora do presidente Cláudio Barrella, suas três empresas hoje transformam cerca de 800 t/mês, escoradas em capacidade para injetar mais de 1.200 t/mês.
Em Manaus, a Tutiplast conta com a escora de sua ferramentaria, para manutenção e ajustes nos moldes adquiridos, e dos préstimos de uma operação certificada pela ISO TS 16949. Entre os ases tirados da manga, Mariana, Cláudio e Komeda apontam para as linhas de solda a laser, a célula de pintura com ambiente controlado (sala limpa) e o laboratório de metrologia. O futuro, eles concordam, está no investimento em automatizadas células de injeção, com softwares e periféricos integrados, no rumo do preço menor e qualidade melhor. “Firmamos parceria com a Universidade do Estado do Amazonas para desenvolver um sistema capaz de integrar a documentação técnica e controle estatístico do processo ao monitoramento on line da produção”, informa Mariana. Chegaremos à patente em breve”.
Em seu assédio das linhas branca, cinza e marrom, a cadeia de plásticos de engenharia injetados volta e meia alardeia emboscadas para surrupiar aplicações do metal. Mariana recomenda que se vá devagar com esse andor. “O ponto crucial é o custo final de cada peça, mas, falando sinceramente, as empresas no Brasil ainda estão reticentes quanto a mudanças drásticas nos seus eletrodomésticos e eletroeletrônicos”.
No leme da Springer Plásticos, nova controlada da Tutiplast, o diretor Orlem Pinheiro de Lima endossa o ponto de vista de Mariana Barrella. “Este movimento é cíclico e sempre existiu”, constata. “Em determinados momentos, a queda do preço internacional leva os insumos métalico-ferrosos a desenvolvimentos para destronar o plástico em componentes injetados para autos e eletroeletrônicos. E vice versa”.

Ar condicionado chinês
Fundada há 41 anos, a Springer encarou poucas e boas. Entre guinadas no rumo e fissuras nos balanços, Pinheiro lembra crises do petróleo, mexidas no perfil da ex-Zona Franca e os reflexos de divisores de águas da tecnologia, a exemplo da substituição dos gabinetes pesados dos finados aparelhos de tubos pelas finas molduras de menos de um quilo das TVs LCD. “Mas nada bate a recessão atual, pois paralisou o país ao atingir o tripé da economia, finanças e política, por má gestão dos entes públicos”.
O carro-chefe da Springer, distingue o diretor, são as peças para motos.Os degraus abaixo são ocupados por componentes para eletroeletrônicos, automação e linha branca. “Não há setor imune à crise, mas os mais afetados foram o de duas rodas, com queda média de 30% devido à restrição de crédito, e o de ar condicionado, prejudicado também pela concorrência chinesa”, avalia Pinheiro. Por tabela, ele define, 2016 é um ano de sobrevivência para a Springer. “Estamos cortando gastos, remodelando a estrutura fabril e prospectando clientes em outros Estados”.

Styrolution se dá bem atrás das grades

As especialidades estirênicas da Ineos Styrolution se espraiam por aplicações médico-hospitalares, embalagens de alimentos e componentes de eletrodomésticos. Mas como quem foi rei nunca perde a majestade, não é o fato de as montadoras hoje operarem abaixo de 50% de sua capacidade que tira o charme do setor automotivo do Brasil aos olhos da petroquímica alemã. “Apesar de tudo, alavancamos o pipeline de projetos de desenvolvimentos, mediante suporte técnico comercial, a ponto de mantermos o volume de vendas de materiais na conjuntura atual do país”, constata Paulo Motta, diretor da Ineos Styrolution para a América do Sul.

Referência nesse sentido, ele solta, é uma tecnologia iniciada na Europa pela Ineos na garupa da Mercedes Benz e debutante no Brasil pelas mãos da GM. “Trata-se do uso de hot stamping nas grades injetadas frontais, gerando acabamento similar ao cromado em diversas cores, além de simplificar a montagem da peça e reduzir seus custos de processo e ferramental”, descreve Motta. O emprego de hot stamping dispensa a pintura ou cromação posterior, pois envolve a aplicação de adesivo sobre a grade frontal”, detalha o analista de vendas e marketing Daniel Lagares. “Com isso, não há perda de produto e elimina-se a etapa de mascaração da peça e o recobrimento com película de cromo metálico”. Por aqui, a GM transpôs este avanço, já em uso em autopartes internas em montadoras locais, para a grade frontal externa da S-10, empregando hot stamping da Kurz do Brasil na peça. É injetada pela própria GM com o copolímero de acrilonitrila estireno acrilonitrila (ASA) Luran® S 777K UV BK61066GM, informa o executivo. Motta acrescenta que Peugeot e Renault também recorrerão a esta tecnologia em novos projetos no Brasil.

Motta também espera o desembarque no Brasil de uma especificação conquistada pelos estirênicos Ineos Styrolution na matriz francesa da Peugeot: a grade frontal do modelo 308. O material selecionado para injeção, distingue o diretor, foi o ASA Luran® 778T, de alta compatibilidade com aplicação de hot stamping. Para o quadro da mesma grade, insere o diretor,a Peugeot elegeu o copolímero de acrilonitrila butadieno estireno (ABS ) Novodur P2MC, movida pelo plus dado à estabilidade dimensional e resistência ao impacto e ao calor.

47% de ociosidade
Entre as despesas a salvo da guilhotina, Pinheiro mantém de pé os investimentos este ano no incremento da automação do processo e na capacitação da mão de obra. A crise deportou à Sibéria o plano de trocar uma injetora de grande porte e do aporte de recursos em CNC para a ferramentaria da Springer, dedicada a moldes pequenos e a reparos nas ferramentas de clientes. “São investimentos sem concretização prevista para 2017 e tudo dependerá do comportamento do mercado”, condiciona o executivo.
A Springer roda com 36 injetoras munidas de sistemas híbridos e com forças de fechamento na janela de 90 a 1.250 toneladas, um parque industrial com idade média de cinco anos, situa Pinheiro. A depender de fatores como o mix de peças geradas, ele estima a capacidade instalada no patamar de 950 t/mês. “Em 2015, considerando as horas disponíveis para apenas dois turnos, o índice de ocupação foi da ordem de 53%”. Para este ano, Pinheiro projeta declínio na média de 30% no faturamento da Springer contra 2015. “Consequência das circunstâncias do mercado e da escassez de linhas de financiamento para o consumidor final”, atribui.

Toshiba: isso é que é uma performance eletrizante

No momento, em torno de 50 injetoras elétricas da Toshiba Machine rodam no Polo Industrial de Manaus (PIM), estima Hércules Piazzo, diretor comercial da Hercx, agente exclusiva da grife japonesa. “Este efetivo deve corresponder a 20-30% do parque local de injeção elétrica”.  O representante espera fechar o exercício nublado de 2016 com o mesmo número de linhas vendidas no ano passado, sendo boa parte delas endereçadas a peças técnicas, exclusive autopartes.
Para o reduto de peças técnicas, Piazzo confia na receptividade às suas  compactas injetoras EC-SXII. Além dos clássicos predicados dos modelos 100% elétricos, caso da economia energética, precisão, zero óleo no processo e menor consumo de graxa lubrificante, o representante  empunha avanços recentes como o visual repaginado, a velocidade do  comando Injectvisor V50, o espaço maior entre as placas e a diversidade de diâmetros de rosca e perfis.

Carma dos bens adiáveis
Nesses mais de dois anos de recessão no lombo, o PIM pena pelo seu carma carregado de produtos chamados em economês de bens adiáveis, analisa Luiz Antonio Pastore, presidente da PAM Plásticos, transformadora na reta de completar 35 anos de estrada em 2017. “Seja pelo desemprego, inflação ou desordem na economia, em períodos de crise há perda do poder aquisitivo e se adia então as compras de motos e eletroeletrônicos que identificam o PIM”, ele argumenta. A propósito, encaixa, em proporção à massa de 12 milhões de desempregados no país, Manaus sempre exibe uma taxa maior de pessoas sem trabalho, “exatamente pelo tipo de produto ali fabricado”, assinala o industrial.

O portfólio de injetados da PAM prima pela abrangência e concentra o atendimento nos fabricantes do PIM. Envolve gabinetes e molduras para TV e monitores, peças para motos e ar condicionado e componentes de fontes de alimentação (carregadores) para informática e telecom e itens de setup box. Ou seja, aparelhos como modens e switches, para conversão do sinal a cabo ou de satélite ou do sinal analógico para digital. “Nosso esforço é buscar competir com as peças plásticas importadas; muitas dessas compras externas são permitidas pelo Processo Produtivo Básico (PPB) determinado para o PIM pelo governo”, esclarece Pastore. A crise deixa com ferro em brasa a sua marca todos os campos cobertos pela PM, ele constata. Sem soltar projeções de faturamento, ele dimensiona o baque sentido no bolso com a queda de 40% no índice de ocupação da sua fábrica entre 2014 até hoje. O percentual ajuda a explicar a prensagem dos gastos. “2016 tem sido um período de pouquíssimos investimentos, exceto para aqueles estritamente necessários à nossa atividade”.

Romi: sem sufoco em peças técnicas

Para a Romi, nº1 nacional em injetoras, a transformação de peças técnicas tem atravessado 2016 entre perdas e ganhos. “A venda de carros caiu com força, mas o setor demandou novas injetoras para atender a projetos de facelift em desenvolvimento durante a retração atual”, contrapõe Wiliam dos Reis, diretor da unidade de negócios de máquinas para plásticos. No arremate, ele sublinha que a Romi também encontrou um refúgio do chororô nas montadoras na demanda por injetoras por parte de indústrias fora da raia das peças técnicas, como fabricantes de embalagens e utilidades domésticas em busca de trunfos como a economia de energia.

Na esfera das peças técnicas, especifica Reis, seus carros-chefes são as injetoras EN de 70 a 1.100 tioneladas e munidas de acionamento hidráulico por servo-bomba. Entre os aprimoramentos recentes nesta série, o diretor ressalta o super veloz comando CM20, com interface gráfica multitouch de 19” fullHD. “A programação é fácil e a plena conectividade possibilita o acesso do CM 20 via browser, tablets, smartphones, sistemas MES e serviços remotos”, complementa o executivo.

Risoto com espaguete
O parque fabril da PAM é puxado por 60 injetoras hidráulicas e Pastore se abstém de calcular a capacidade instalada alegando singularidades como o fato de ter peças de 90 gramas injetadas em máquina de 1.400 toneladas. “Na média atual, a fábrica consome 450 t/mês de resinas”. Na retaguarda, ele, destaca a modernidade de sua ferramentaria, focada na manutenção e ajustes nos moldes entregues por clientes, a maioria proveniente da China. “Atingimos ciclos de injeção inimagináveis no passado utilizando moldes com 60 zonas (hot runner) controladas e 24 pontos de injeção com necessidade de controle sequencial e sistema heat/cool”, ele conta, à guisa de referência de atualização tecnológica.

Pavan Zanetti: injetoras são negócio da China

Atuante na revenda de injetoras chinesas, a Pavan Zanetti enxerga o reduto de peças técnicas, exclusive autopartes de maior envergadura, como quintal de máquinas menores e médias. Nesse compartimento, a empresa põe no balcão modelos hidráulicos da sérieHXF de 160, 220, 260, 320 e até 380 toneladas de força de fechamento. “Devido à flexibilidade de sua estrutura, essas injetoras admitem trabalho com moldes utilizáveis em máquinas de 100 a 500 toneladas”, abrange Antonio Dottori, integrante da equipe comercial da empresa.

Entre os atributos dessas injetoras importadas, operação hoje encarecida pela alta do dólar, Dottori distingue o recurso do servo-motor e a precisão nos parâmetros de fechamento e no trabalho com materiais de alta fluidez.

Por sinal, rememora Pastore, a PAM assina vários marcos do plástico no PIM. “Fomos a primeira empresa em Manaus a ter injeção a gás, a utilizar moldes com vapor e a dispor de célula integrando injeção, pintura e montagem”, ilustra Pastore. Com o barateamento das soluções de TI, ele pondera, é enorme a possibilidade de a transformação de plástico chegar à plena interligação e monitoramento on line embutidos no conceito de vanguarda Indústria 4.0. No Brasil, esse sonho hoje esbarra na impossibilidade da mistura do que Pastore chama de risoto com espaguete – a capacidade de investimento e a economia no caos. “O país tem de encontrar um novo caminho, definir o papel da indústria e o que se espera dela. Demos um primeiro passo com a mudança do governo.Vejamos o que vem pela frente”. •

Compartilhe esta notícia:

1 Comentário

  • Excelente matéria sobre o PIM mercado este que conheço deste os primórdios de 1980 com muita versatilidade de mudanças em todo ao seu parque industrial em função das alterações muitas vezes rápidas nos seguimentos eletroeletrônicos e a pressão de importação de produtos asiáticos com custos muito baixos.

Deixe um comentário