Itália volta a adiar cobrança de imposto ambiental

Taxa agendada para este ano foi reagendada para 2026
Itália: reciclagem abalada pela postergação do tributo para embalagens de plástico virgem.
Itália: reciclagem abalada pela postergação do tributo para embalagens de plástico virgem.

“As pessoas só enxergam o que preferem enxergar”. O escritor Michael Lewis cunhou essa máxima ao narrar o atrativo do ilusório ganho na moleza exercido pelas criptomoedas. A frase pode ser transposta de mala e cuia para a manifestações de fé cega e politicamente correta na proteção ambiental. A dura realidade existente no outro lado do balcão dá as caras no adiamento, pelo governo da Itália, da cobrança do imposto de € 450/t de embalagens de plástico virgem, prevista para vigorar em julho deste ano e agora reagendada para o mesmo mês em 2026.

Pela sétima vez, o parlamento italiano protelou a estreia da tarifa. Matt Tubold, analista senior de reciclagem da consultoria Icis em artigo no site Sustainable Plastics, percebe nas entrelinhas da repetida postergação que muitas marcas e fabricantes de produtos finais da União Europeia (UE) são, na verdade, pautados bem mais por leis que pelo comprometimento com a sustentabilidade se o assunto é o aumento do uso de resina reciclada em embalagens plásticas. Devido a esta atitude zero altruísta na ponta da cadeia, Tubold deduz no artigo que empreendimentos  relativos à   reciclagem (mecânica e química)  tendem a ser engavetados na Itália e a inclinação, movida pelo preço em conta, pelo emprego da abundante resina virgem em detrimento da recuperada menos ofertada, caminha para expansão

Essa saia justa não é exclusividade italiana. No Brasil, recicladores  também se ressentem da preferência  generalizada entre indústrias finais –inclusive múltis de alimentos, cosméticos e produtos de limpeza que se acham o máximo em sustentabilidade- por utilizar o super ofertado plástico virgem em suas embalagens devido ao preço competitivo com reciclado e ausência de obrigação do uso de teores deste material. A propósito, conforme o consenso na mídia global, a prevalência de partidários da extrema direita menos engajados nas pautas ambientais, ultra em linha com o pensamento do candidato Trump às próximas eleições presidenciais nos EUA, periga botar no modo pause o afã até aqui demonstrado pela zona do euro em combater as mudanças climáticas, a produção de energia fóssil e a poluição plástica.

Tubold fecha seu artigo com esta descoberta da pólvora: “enquanto os consumidores focarem a redução do custo de vida e as companhias o aumento das suas margens comprimidas, o investimento na reciclagem e o esforço para baixar o consumo do plástico virgem ficarão relegados ao segundo plano”.

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