Em setembro de 2015, durante o já tradicional seminário “Competitividade: O Futuro Perfil da Transformação Brasileira de Plásticos” fizemos um debate sobre como a indústria 4.0 ou manufatura avançada promoveria um salto de produtividade na atividade fabril mundial. Na ocasião, concluímos que a atenção a essas tecnologias de digitalização do processo de manufatura e serviços atrelados seria determinante para manutenção dos empreendimentos e competitividade da indústria de transformados plásticos nos próximos anos.
Um ano depois, já vemos uma série de aplicações práticas apontando como o uso de tecnologias pode revolucionar a produtividade das empresas do plástico. Podemos citar sensores de controle do processo por peso e som que definem o peso do molde e ajustam a temperatura, a quantidade de água, o resfriamento, a precisão do parafuso e a força da garra dos robôs. Como se isso não bastasse, eles programam a manutenção do molde caso sejam identificados padrões diferentes no som emitido pela ferramenta durante o processo. Tudo isso pode ser controlado por um gestor via um aplicativo no celular que pode intervir e solucionar on line problemas detectados na manufatura.
Sondagem sobre a indústria 4.0 empreendida pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) distingue o setor de transformados plásticos figure entre os que mais recorrem a tecnologias digitais em processos. O levantamento também observa que o avanço da indústria 4.0 no Brasil depende de maior conhecimento por parte das empresas sobre ganhos como o de produtividade advindos de tais tecnologias, ainda utilizadas de forma incipiente por grande parte das companhias locais.
O conceito da indústria 4.0 vai além da automação e otimização de processos produtivos, pressupondo mais interconexão de negócios entre a cadeia, a redução do tempo entre desenvolvimento de produtos e sua implementação no mercado. As mudanças também contemplam maior foco na análise de dados para identificar oportunidades e novos modelos de negócios. Tal expansão do conceito mostra a indústria cada vez mais demandante de serviços tecnológicos e não mais apenas de máquinas, equipamentos e insumos tradicionais.
É com essa visão, por exemplo, que a Feiplastic 2017, feira oficial do setor de transformados plásticos, vai agregar o enfoque de serviços e soluções a serem incorporados ao processo produtivo de forma a apresentar às empresas o estado da arte nessa frente tecnológica. No momento, Estados Unidos e Alemanha protagonizam esse movimento estratégico. Ele está alinhado ao renascimento da manufatura para combater o desemprego e a ameaças à liderança dos dois países em P&D. A indústria 4.0 também converteu- se em prioridade para nações como Japão, Coréia do Sul, França, Reino Unido, Dinamarca, Finlândia, Holanda, Suécia e a China. Esta última, por sinal, vem aderindo ao conceito de forma agressiva, mediante ações como a compra do controle de referências alemãs em tecnologia como o KraussMaffei Group, adquirido pela corporação ChemChina.
Qual será a reação do Brasil à indústria 4.0? O momento é decisivo para o país se inserir nas cadeias globais de valor. Para tanto, porém, é preciso definir uma estratégia de política industrial muito clara e a revisão dos seus instrumentos. Entre eles, a redução das barreiras tarifárias para que possamos incorporar estas tecnologias na cadeia; treinamento e qualificação de mão de obra com conteúdos mais atualizados; normas que contemplem outras formas de relação capital/trabalho; incentivo à P&D e facilidades na promoção de joint ventures para desenvolvimento nacional.
Em suma, dependemos da garantia de um ambiente de negócios favorável e previsível. Do nosso lado, como empresários, precisamos nos apressar e deixar de lado a avaliação míope de que a indústria 4.0 é uma realidade distante daqui pela disposição de “correr o risco” do sucesso na empreitada de embarcar nessa nova era tecnológica. •
José Ricardo Roriz Coelho é presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast)